quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Sempre errado

Creio que, ao menos, posso ser chamado de estável e coerente.
Estável porque sempre sou o errado, isso é invariável. Todas as culpas do mundo são minhas, o senhor absoluto das mancadas, o paladino do equívoco, o campeão da ingratidão, falta de caráter, ausência, pouco caso, indiferença ou o que for.
Coerente porque, em uma postura consequente e óbvia permaneço - ao menos aos olhos da aterradora maioria - obrando abundantemente com todos.
Confesso que cansei.
Se minhas tentativas de remendar seja lá o que eu tiver feito saíram-se inócuas ou pífias - sempre a insuficiência - acredito que nada mais haja a fazer. Mesmo um delituoso contumaz pode se cansar de tentar se adequar aos altíssimos padrões que o mundo espera dele e simplesmente mandar tudo e todos às favas, recolhendo-se à um autismo confortador. Afinal, se a solidão tem um lado positivo é que jamais você decepcionará algum daqueles personagens cuja existência deve mesmo ser miserável, sofrendo a ininterrupta decepção dos meus erros que tanto os afligem.
Seja em casa, nas ruas, no banheiro ou no fundo do mar, sempre haverá alguem apontando o dedão acusativo para me lembrar que nada do que eu faça é suficiente ou certo de todo - sempre existe um "mas": "- está muito bom, 'mas'..." ou " - eu até te entendo, 'mas' você bem que podia ter feito..."
Vivo hoje em um mundo sem amigos, parentes ou conhecidos: afastei-me de todos, uns voluntariamente, outros à minha revelia me deram cartão vermelho de suas vidas. Mas, quer saber? Acho até bom, e as pouquíssimas almas que ainda penam com minha presença se tornaram não um refrigério para a solidão e sim mais um motivo de preocupação e ansiedade, já que todos os dias me pergunto: " - Será que é hoje o dia da decepção final?"
Viver sob este tipo de expectativa não dá certo. Já passei por isso e não pretendo repetir.
Entretanto, covarde demais para sair à francesa de mais uma rotina de decepções, deixo-me ficar - o mais inerte possível, tentando adiar a hora em que minha soberba competência em errar me tornará novamente uma ilha perdida no meio do nada.
Ando de saco cheio do julgamento alheio, ando de saco cheio da arrogância de gente que se acha no direito de apontar o dedão acusador se esquecendo de olhar para o próprio rabo.
Ando de saco cheio de gente generosa, sempre de braços abertos para mim, se eu reconhecer meus inúmeros erros, me retratar e procurar humildemente seus perdões - uma atitude que todos acham a mais correta. Mas só para mim, porque em nenhum momento passou pela cabeça de quem quer que seja fazer a mesma coisa: me procurar para entender ou pedir desculpas.
Mas como desculpas, se nessa peça meu personagem é sempre o errado?
Realmente, a vida dos outros deve ser muito fácil neste ponto, pois estar sempre certo é uma dádiva.
De difícil na vida dessa corja deve ser só mesmo os momentos em que, por educação, condescendência, grandeza e generosidade, se dignam em me conceder um minuto de atenção para ouvirem o que tenho a dizer.
Mas nunca passa da primeira sílaba. Mal intuem o que quero dizer e lá vem a acusação, prontinha e sob medida para os meus eternos erros.
Não sou Harry Potter, mas também aprendí uma palavra mágica e que é muito eficiente nestes casos: " - Vão todos à merda".
Da minha cadeira agora só saio quando alguém reconhecer que me deve.
E tenho dito.

Imprensa Marrom

A passeata dos sem-mil



E foi o que se viu, nesta ensolarada quarta feira em Cabo Frio: uma enorme massa humana, bilhões de pessoas indignadas com a insegurança que levou a féria do caixa, o relógio, as calças, cuecas e até o dinheiro dos royalties da cidade. Para protestar contra tudo isso que não está mais aí porque os ladrões levaram, os comerciantes da cidade fecharam suas portas e se esconderam atrás do balcão, amedrontados com a horda de possuídos que gritavam e berravam em busca da paz e silêncio.


A presença da polícia


Até mesmo o Cacique-Geral do Batalhão participou da marcha dos sem-nada-porque-levaram-tudo.
Irritado e indignado com os índices alarmantes de violência, o chefe dos policiais aderiu ao protesto já que o coitado mal pode sair às ruas pois, para sua defesa pessoal, só conta com duas pistolas Colt 45, uma Magnum 44, três escopêtas, um rifle Winchester papo-amarelo e 700 homens. Fontes próximas ao estrelado militar asseguram que ele suspirava pela volta dos bons tempos, tipo umas três ou quatro semanas atrás – ainda no comando do antigo cacique, que caminhava assobiando alegremente pela praia e assegurava que tudo em volta está deserto, tudo certo. Como dois e dois são cinco.

O mega evento fashion da semana


O jet-set cabofriense, os VIP's, a jeunesse dorée, o grand monde, gente que é notícia, todos, todos e todos os importantões compareceram ao protesto, buzinando de dentro de seus Cherokees, Pajeros e Land-Rovers blindados, numa clara demonstração de que as elites da terra são muito gente, entende? Os paparazzi, enlouquecidos, não tiveram mãos à medir para fotografar os mink coats, as estolas, os fraques, longos e casacos de pele, envergados pelos mega-miliardários da terra no clima antártico do interior dos automóveis refrigerados à whisky. Por falar em whisky, a única ausência notada foi a do empresário boteco-etílico-filantropo-jornalístico Odacir Gagau, que na última hora resolveu não comparecer pelo fato de não ter conseguido emprestado um desses celulares com câmera, para fotografar tudo para seu jornal.
Por outro lado – o lado de lá da praça, no cyber café – o blogueiro Obronho ressonava e apitava, demonstrando claramente seu apoio enérgico ao movimento.

Os advogados e a segurança pública


O presidente do Clube dos Causídicos (CC), Zbgniew Brzezynsky Stolyshnayakow da Silva, fez uma breve declaração de cinco horas e meia aos jornalistas, onde também expôs sua indignação contra as estatísticas de criminalidade falsificadas. Segundo ele, não é possível confiar em um documento que possui vícios de origem como “Hecho por la Secretaría de Seguridad del Paraguay”. Ele afirmou também que encaminhará os mesmos papéis viciados à rehab onde Odacir e Amy Winehouse estiveram até bem pouco tempo atrás, já que os documentos – pela grosseira falsificação que representam – dão uma baita dor de cabeça no dia seguinte.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Da barbárie à decadência, sem a civilização

Generalizando, o Brasil é um país que saltou sem escalas das trevas coloniais diretamente para a sordidez dos guetos superpopulosos urbanos. Mal comparando, seria ir de Xambiobá à Rocinha, sem jamais ter sido Nova York.
Cidades que experimentam este processo, seguem todas elas o mesmo ciclo: um povoado estagnado, sem horizontes nem atrativos maiores que os da natureza, repentinamente descobrem um Eldorado – riquezas naturais ou até mesmo a instalação de poderosa indústria.
E aí começa a corrida do ouro, desenfreada e sem critérios maiores que o crescimento desordenado, onde o que vale é ganhar dinheiro e votos à todo custo.
A busca pelo dinheiro traz, primeiramente, a mão de obra capaz e qualificada que a cidade normalmente não dispõe. São pessoas que já têm – e gastam – dinheiro, gerando uma súbita demanda de bens e serviços. Os habitantes locais, normalmente sem maiores qualificações que as recomendadas pelo caráter, tentam à seu modo participar do ganho geral oferecendo-se para serviços mais humildes, como domésticas, caseiros, pedreiros, etc. A solidariedade familiar também conta, e cada um dos nativos que possuem parentes em outras cidades – normalmente tão ou mais pobres que eles – tratam de chama-los para tentarem sua sorte também. E a propaganda boca à boca faz sua parte, gerando a explosão demográfica exponencial de pessoas – sem qualificação – em busca de sua pepita no enorme garimpo urbano em crescimento.
Estes recém chegados, despreparados e sem escolaridade, geram filhos e mais filhos, que não esperarão mais de 15 ou 16 anos até gerarem outros filhos da miséria – muito provavelmente pouco dispostos a aceitar a vida como ela se apresenta e assim a escalada do crime começa, como complemento à favelização urbana e de pensamento.
Já a busca de votos à todo custo é a mão sinistra que permite – por ação ou omissão – a favelização do antigo paraíso. É bom notar que a palavra “favelização” é utilizada neste texto tanto no sentido literal quanto no de empobrecimento geral: de perspectivas, de nível cultural, de relações sociais, etc. É o agente do Estado que fecha seus olhos à ocupação urbana desordenada, que não se preocupa com a educação formal pública, que desembocaria necessariamente em maiores ambições individuais e, portanto, na qualificação profissional. Em última análise, é o degenerado que desvirtua a polis – crendo que a miséria é útil como cabresto eleitoral e como mão de obra barata, um Frankenstein criado por ele e que cedo não se deixará mais dominar, respondendo à seu modo – ou à bala – as desigualdades sociais.
Pode até estar certo no que diz respeito ao pouco valor do suor de seus eleitores, mas erra feio quando acha que eles sequer chegarão a suar – pois ninguém dará ocupação, por mais humilde que seja, àquele que não consegue alcançar a tarefa oferecida.
E assim se forma a enorme rodoviária – no artigo em pauta pode ser chamada de Cabo Frio – onde governantes ineptos fazem esforços e ações vistosas mas sem nenhuma efetividade no que tange à qualificação profissional. Esforços e ações igualmente vistosos mas também inúteis podem ser observados no eloqüente silêncio dedicado à escalada das favelas, antro gerador de indignidade e crime, sintoma de doença de uma sociedade tipicamente industrial, coisa que Cabo Frio jamais chegou a ser.
E daí se observa o porquê do título: Cabo Frio saiu da pesca e das salinas diretamente para o desemprego em massa e comércio fechado por traficantes.
Foi o salto direto, sem escalas, da barbárie à decadência. E jamais tivemos o direito à civilização.

As razões que a razão desconhece

A substituição do alto comando da Polícia Militar, no Rio de Janeiro, é uma decisão político-administrativa a qual não cabem aqui maiores considerações, além da sempre presente expectativa de seus efeitos positivos.
O que chama atenção é o vício, a necessidade de demonstrar autoridade que leva os novos empossados da capital a sempre promoverem mudanças de comando nos batalhões do interior do Estado ou mesmo do município-sede.
Por mais que procuremos entender os motivos, a resposta sempre cai na constatação de que a política de segurança pública do Rio de Janeiro tem razões que sequer podem ser nomeadas como tal.
Não se trata de qualquer manifestação contra a chegada do novo comandante do 25º BPM, já que sequer o conheço, nada sei de seu trabalho e nada posso apontar de negativo ou positivo em seu trabalho e conduta.
O que causa pasmo é a já citada necessidade de impor autoridade, por parte do Comando no Rio de Janeiro. Esta necessidade se revela maior que a inteligência e tolerância de esperar que um coronel, recém-empossado (menos de três meses), demonstre seu trabalho. Pior fica a situação, resvalando a obscuridade da má-fé, quando relembramos suas declarações incisivas, a disposição de cabra macho demonstrada em atos e palavras que convergiram, inclusive, para uma tão esperada harmonia entre a Ordem dos Advogados, Polícia Civil e 25ºBPM.
Fica muito feio para nossos gestores estaduais a permissão para este aborto, que não apenas soa como a retirada de um militar inconveniente e que poderia de fato resolver o problema de segurança pública, como também impõe ao novo comandante uma responsabilidade muito maior e dobrada, já que a não obtenção de sucessos relativamente imediatos inevitavelmente será vista pela população como a evidência da malícia Estadual: retira-se o produtivo indesejado e coloca-se um menos capaz mas que atende a interesses excusos. Não é a primeira vez que algo assim acontece e basta relembrarmos o antigo coronel Lima Castro e o delegado Chernicharo que, juntos, fizeram uma das melhores duplas na direção da segurança pública cabofriense, sendo, apesar disso, inapelavelmente removidos e mantendo a espantosa rotatividade característica dos comandos da cidade de Cabo Frio.
O pior disso tudo é imaginar a espinhosa tarefa que o novo comandante do 25º terá, não apenas enfrentando uma criminalidade crescente, como também sendo obrigado a medir seus atos e palavras, para que a maldita política não jogue por terra sua reputação.
É assim que, por apenas um ato e pela mais abjeta vaidade, se lança por terra todo um trabalho sério e que – tudo indicava – produziria brevemente seus efeitos. É a imposição autoritária, vertical, cheia de si e que se acha plena o bastante para dispensar a espera prudente do resultado de um trabalho – trabalho este que, por parte destes superiores, não parece ter merecido o menor respeito.
Este é o país em que vivemos.
Este é um país que vai pra frente – ame-o ou deixe-o.

Diploma habilita mas não garante



A recente decisão do Supremo em extinguir a obrigatoriedade do diploma de jornalismo provocou uma enxurrada de comentários; muitos contra, poucos à favor, mas em sua maioria um amontoado de conceitos incoerentes, desconexos e – na melhor das hipóteses – pueris.
Por toda a imprensa é possível ler opiniões de leitores, supostamente uma boa parte deles jornalistas, indignados com a decisão. O próprio nível de argumentação e a quase nenhuma clareza na exposição das idéias já demonstram que as faculdades não tem realizado um bom trabalho.
Em seus arrazoados passionais, esses alguns transpiram muito mais a nítida intenção de queixa contra um rebaixamento em seu status profissional do que a real preocupação com a competência teoricamente proporcionada pela faculdade - mais questões de ego ferido do que real preocupação com mercado de trabalho, eis que nenhum patrão dará prioridade aos sem-diploma - só mesmo se tiverem muito talento - e é aí que reside o problema: medo do talento alheio.
Em sua maioria, bradam contra a extinção alegando a desproteção à que o profissional estará submetido, um empregado indefeso, à mercê dos caprichos de um patrão. É preciso lembrar que um diploma por si só não reivindica pisos salariais nem limites de horas trabalhadas. Para isso existem os sindicatos que, se tiverem juízo, sairão fortificados e com maior responsabilidade após a decisão judicial, já que se tornarão os catalisadores das reivindicações trabalhistas e – por que não? – da concessão ou não do registro profissional.
Um diploma, igualmente, não é um atestado de excelência profissional. Na febre acadêmica que varre o país desde a década de sessenta, o curso superior tornou-se o complemento natural do segundo grau. Carreiras técnicas, algumas muito bem pagas como a de soldador, foram esquecidas e desprestigiadas em favor da vulgarização de um nível que, atualmente, pouco tem de superior.
Milhares de recém formados saem das faculdades atualmente cometendo erros grotescos de português, incapazes de sequer concatenar um raciocínio e estes, tais como aqueles que aprenderam no dia a dia das redações, só crescerão profissionalmente na justa medida de seu talento – nem mais, nem menos. Quem não é humilde para aprender em uma redação – seja aluno de faculdade ou um simples foca – estará destinado à mediocridade, e todo seu extenso discurso de auto elogios, que certamente serão necessários, cairá no vazio de um profissional que não evolui pela antipatia que sua arrogância desperta. E isso vale para qualquer área.
O que se vê hoje nas redações se assemelha muito mais a um salão de cabeleireiros - palco de fofocas, intrigas e calúnias - onde se sobressai aquele (ou aquela, pela maioria feminina preponderante do ramo) que melhor orquestra sua panelinha e, de lá, lança suas infâmias contra os talentos que a ameaçam.
É preciso deixar bem claro que a decisão do Supremo não é contra as faculdades e sim contra a exigência do diploma. Bons alunos em boas faculdades continuarão fazendo o diferencial das empresas que os contratarem, da mesma maneira que aqueles agraciados apenas com talento e não com o grau, também continuarão a pesar no prato da balança.
É incoerência pretender que uma faculdade ensine talento ou instile o dom artístico, já que muito do jornalismo pode ser considerado como arte.
Mas o pior de todos os argumentos é crer ingenuamente que o bacharelado dará a ética, correção, honestidade e caráter, que é obrigação dos pais ministrar.
Mas nem todos os jornalistas - formados, veteranos ou mesmo estagiários - tem a sorte de terem mãe.

Diploma habilita mas não garante

A recente decisão do Supremo em extinguir a obrigatoriedade do diploma de jornalismo provocou uma enxurrada de comentários; muitos contra, poucos à favor, mas em sua maioria um amontoado de conceitos incoerentes, desconexos e – na melhor das hipóteses – pueris.

Por toda a imprensa é possível ler opiniões de leitores, supostamente uma boa parte deles jornalistas, indignados com a decisão. O próprio nível de argumentação e a quase nenhuma clareza na exposição das idéias já demonstram que as faculdades não tem realizado um bom trabalho.

Em seus arrazoados passionais, esses alguns transpiram muito mais a nítida intenção de queixa contra um rebaixamento em seu status profissional do que a real preocupação com a competência teoricamente proporcionada pela faculdade - mais questões de ego ferido do que real preocupação com mercado de trabalho, eis que nenhum patrão dará prioridade aos sem-diploma - só mesmo se tiverem muito talento - e é aí que reside o problema: medo do talento alheio.

Em sua maioria, bradam contra a extinção alegando a desproteção à que o profissional estará submetido, um empregado indefeso, à mercê dos caprichos de um patrão. É preciso lembrar que um diploma por si só não reivindica pisos salariais nem limites de horas trabalhadas. Para isso existem os sindicatos que, se tiverem juízo, sairão fortificados e com maior responsabilidade após a decisão judicial, já que se tornarão os catalisadores das reivindicações trabalhistas e – por que não? – da concessão ou não do registro profissional.

Um diploma, igualmente, não é um atestado de excelência profissional. Na febre acadêmica que varre o país desde a década de sessenta, o curso superior tornou-se o complemento natural do segundo grau. Carreiras técnicas, algumas muito bem pagas como a de soldador, foram esquecidas e desprestigiadas em favor da vulgarização de um nível que, atualmente, pouco tem de superior.

Milhares de recém formados saem das faculdades atualmente cometendo erros grotescos de português, incapazes de sequer concatenar um raciocínio e estes, tais como aqueles que aprenderam no dia a dia das redações, só crescerão profissionalmente na justa medida de seu talento – nem mais, nem menos. Quem não é humilde para aprender em uma redação – seja aluno de faculdade ou um simples foca – estará destinado à mediocridade, e todo seu extenso discurso de auto elogios, que certamente serão necessários, cairá no vazio de um profissional que não evolui pela antipatia que sua arrogância desperta. E isso vale para qualquer área.

O que se vê hoje nas redações se assemelha muito mais a um salão de cabeleireiros - palco de fofocas, intrigas e calúnias - onde se sobressai aquele (ou aquela, pela maioria feminina preponderante do ramo) que melhor orquestra sua panelinha e, de lá, lança suas infâmias contra os talentos que a ameaçam.

É preciso deixar bem claro que a decisão do Supremo não é contra as faculdades e sim contra a exigência do diploma. Bons alunos em boas faculdades continuarão fazendo o diferencial das empresas que os contratarem, da mesma maneira que aqueles agraciados apenas com talento e não com o grau, também continuarão a pesar no prato da balança.

É incoerência pretender que uma faculdade ensine talento ou instile o dom artístico, já que muito do jornalismo pode ser considerado como arte.

Mas o pior de todos os argumentos é crer ingenuamente que o bacharelado dará a ética, correção, honestidade e caráter, que é obrigação dos pais ministrar.

Mas nem todos os jornalistas - formados, veteranos ou mesmo estagiários - tem a sorte de terem mãe.

O que seria o último "Da Redação"

Uma nota:

O texto abaixo seria o último artigo da coluna "Da Redação", cujo nome passou a ser utilizado não mais para veiculação de sátiras livres e ferozes, sendo hoje espaço destinado à trivialidades.
O nome me foi - ao menos naquele veículo - expropriado, e o texto que se segue, censurado.
A coluna "Da Redação" voltará, tão feroz quanto antes, no novo jornal OPINIÃO, que será lançado em breve.

Ele voltou, o Boêmio voltou novamente!

É isso aí, caro leitor! Para horror e pasmo de nossos incontáveis cripto-admiradores e para pasto e gáudio dos verdadeiros amigos, nós voltamos!
Após um longo e tenebroso período de abstinência motivada por razões que fomos proibidos de falar, como sejam, os incontáveis processos que nos obrigaram a calar a boca sob pena de sermos chibateados no Pelourinho Municipal, a coluna mais badalada e cult de Cabo Frio retorna às bancas caroneada pela volta do melhor jornal da praça, para tormento dos encastelados no poder e seus serviçais da mídia – mais especificamente Odacir Gagau, é bom deixar bem claro porque o rapaz é doentinho, coitado, e pode não entender a indireta.
Aliás, é bom que se diga que nós – o “Da Redação” e o Lagos Jornal, as espinhas do robalo que o blogueiro Obronho engoliu e ainda se engasga – jamais nos prestaremos a ser alvo de piadinhas oriundas de uma libido defunta como a do rotundo senhor, que sugere nossa marca como o nome de um novo periódico da região. Calma Bloblonho, vai sobrar pra você também, chora não!
Que nossos desafetos não se enganem: mesmo que estejamos impedidos de citar os inúmeros processos de cala-boca movidos contra nós, voltamos com o mesmo ímpeto e verve de outrora. Não é porque os inúmeros processos que não podemos falar nos tiraram do circuito durante meses que enfiaremos o rabo entre as pernas, afinal os processos que nos calaram a voz e não podemos citar são apenas isso: processos que nos calaram a voz e não podemos citar.
Assim, esqueçamos os tristes e pífios processos que nos calaram a voz e não podemos citar e toquemos as bolas pra frente – no bom sentido, é claro – afinal de nada mais posso reclamar, eis que recuperei meu emprego, finalmente poderei pagar o aluguel do muquifo onde me homizio e já tardiamente darei entrada em minha bicicleta, já que um conceituado homem de imprensa como eu, apesar dos inúmeros processos que me calaram a boca e não posso citar terem me falido, não pode descer de seu pedestal e andar à pé.
Alvíssaras! Alegria! Homessa! Cáspita! Agora é hora de comemorar, abraçar os amigos e até os desafetos de estimação, como Odacir Gagau e Obronho (se eu tiver braços longos o bastante para sua circunferência), e danar a cometer os impropérios de sempre.
Nós somos a mosca que pousou em vossas sopas, encastelados no poder!
Mesmo com o porrilhão de processos que nos calaram a voz e não estou autorizado a citar, estamos de volta!
Nós voltamos! O boêmio voltou novamente!
Odacir, bota água no feijão e abre umas Brahmas!
Obronho, se ajeita!
Estamos chegando!

Ênio, a hiena-síndico




Fidélis, o gambá da mídia

Ideologia, eu tenho uma pra vender









Ênio, a hiena-síndico da floresta

Alavancando o turismo





Carêncio, o hipopótamo blogueiro

O blog



Imprensa Marrom

Michael não morreu!


Morreu Elvis Jackson!!
O mundo da música foi varrido pela notícia que devastou trilhões de fãs: a morte do Rei do Rock – ou Pop, sei lá, Michael Presley.
Mesmo com seu comportamento esquisitão, trancafiado e sempre mudando de forma tal qual um Transformer, o grande Elvis Michael conseguia manter um grande número de admiradores, boquiabertos com sua capacidade de inchar como um baiacu em seus shows da década de setenta em Las Vergas, emagrecer até afigurar-se uma gazela – como na gravação de seu clip na boca de fumo do Dona Marta – ou mesmo ao se rememorar toda a sua trajetória de artista político, ou seja, com inúmeras faces. Vejamos algumas:

A trajetória de Michael Presley
Jackson Presley começou como um pobre e louro motorista de caminhão em Memphis, Tennesse, que só queria gravar um disco de rock – ou pop, sei lá – para dar de presente à sua madrinha, Diana Ross. Tamanho foi o sucesso obtido com a música que ele, cada vez mais envolvido com a Black Music, morfou-se em um neguinho que, junto com seus irmãos gêmeos mortos prematuramente, tornou-se um “black singer”, ou seja, um cantor negro que estourou no mundo inteiro com seu grupo Jackson’s Five.
Entretanto seu pai, Coronel Parker – que o espancava e arremessava-o contra as paredes nas horas de folga – obrigou o já então mega pop – ou rock, sei lá – star a servir o Exército. E novamente Elvis Jackson começou a morfar, virando um afrescalhado mauriçola branquelo, sempre de shortinhos e colares hawaianos da Praia de Zuma, junto com Frank Avalon e Sandra Dee. E aí começou a decadência:

A decadência do Rei do Pop – ou Rock, sei lá
Deprimido e de cara quebrada pelas surras do pai, solitário após sua renúncia aos ideais comunistas, que ao menos permitiam que ele comesse criancinhas burguesas-decadentes-cooptadas-pelo-capitalismo-que-aceita-acordos-de-20-milhões-de-dólares-pra-fechar-o-bico, falido, gordo – ou esquálido, a depender do dia – e perseguido pela imprensa de escândalos, nada mais restou ao ex-Rei do Rock – ou Pop, sei lá – do que se empanturrar de analgésicos, remédios pra engordar, emagrecer, ficar preto, ficar branco, black or white yeah, yeah, yeah!, e ter como único passeio suas constantes visitas ao Tribunal e aos hospitais mais próximos.
E este foi o triste fim de Michael Presley, quando uma parada militar cardíaca impôs uma ordem unida aos seus pés.
O ex-Rei daquele monte de música iniciou agora sua última mutação, morfando-se em um saco de dinheiro para seus herdeiros, advogados e gravadoras.
Descanse em paz – mas não no Céu, que lá é cheio de anjinhos.

HinprenÇa Marrão

A jente num temo diproma ma semo bão


















A decisão do Supremo que extinguiu a obrigatoriedade do diploma de jornalismo é um apoio fundamental ao meu direito à livre-calúnia, livre-difamação e livre-escroqueria.
Fugi durante décadas dos bancos das faculdades para que eu não sofresse do processo de lavagem cerebral ao qual os alunos são submetidos. É um absurdo ver tantos jovens saudáveis só falando em ética, responsabilidade, imparcialidade e ir trabalhar na Globo. O nível superior não garante nada disso. Eu, por exemplo, que tenho Doutorado, Mestrado, Escolado, Pós Grado e mil anos de janela em Aluguel de Caneta nunca precisei de nada disso, pois em todos os processos que respondi estive impregnado de advogados berrando essas palavras em meus ouvidos. E a Globo cobrindo.



Proctologistas faturam com a decisão do Supremo
Uma enorme e intumescida massa humana de formados e formandos em jornalismo tem lotado os consultórios e as emergências dos hospitais da rede púbica em busca de sutura da extremidade terminal inferior do tubo digestivo, dilacerada pela introdução de dedos em movimento de rasgadura. Traduzindo, milhares de jovens estão em vias de perder o semestre por faltas, após enfiarem o dedo e rasgarem. Pagar uma baba durante cinco anos e depois não ser mais obrigatório foi demais. E agora?

A pergunta que não quer calar
É a pergunta formulada acima: e agora?
Quer dizer que agora qualquer um, só porque sabe escrever bem, tem estilo, sabe sintetizar uma bíblia ou analisar e discorrer sobre um telegrama, tem faro investigativo, curiosidade infinita, intui qual a pergunta que o entrevistado não quer responder de jeito nenhum e expõe tudo isso de uma maneira objetiva, concisa, limpa, com início, meio e fim – só por isso esse cidadão se arroga o direito de sair por aí tomando a vaga de jovens recém formados, impetuosos, cultos e que descobriram que o que faz um repórter não é só a curiosidade e o saber escrever? Isso é uma injustiça, afinal, pra escrever, ressuscita-se a figura do redator, se ele conseguir entender aquele texto que começa pelo fim e termina no meio, cheio de clichês, uns errinhos bobos de português (todo mundo erra, ora!) e frases à esmo. E ainda cria emprego!

Para cada ação, uma reação
Um movimento trabalhista provocado pela decisão do Supremo já está nas ruas. É uma reação contra o rebaixamento do jornalismo à segunda divisão escolar. Assim, após a criação do Curso Superior em Ciências Aeronáuticas (existe, acredite) – ou seja, piloto bom se forma na sala de aula e não com o manche na mão – outras categorias profissionais reivindicam agora a criação de seu curso superior específico. Eis alguns exemplos da lista:

Padeiro – Bacharel em Ciência da Panificação
Pedreiro – Doutor em assentamento de tijolos
Lavadeira – Graduação em Assepsia da Indumentária Pessoal e Doméstica
Bebum – Licenciatura em Degustação de Derivados Etílicos da Cana de Açúcar – já sindicalizado como Gerenciamento Avançado e Gestão Alcoólica Universal – GAGAU
Então, tá.

Imprensa Marrom

Mundos e afundos



Só um sub-desenvolvido, insensível para com os elevados e sublimes propósitos da arte pela arte – ou como diz o leão da Metro, “artis gratia artis” – poderia criticar o mecenato da administração ortopédico-stalinista-teocrática-municipal.
O afundamento da imagem de um Cristo transcende, em muito, a crítica mesquinha dos mal-amados de plantão que, como eu, não receberam nenhum capilé para falar bem do empreendimento submarino. O afundamento representa, de uma maneira concretista e sob uma ótica naif-cubista-expressionista-sorridente, tudo o que o poder público afundou nos últimos anos.
Se eles conseguem afundar um Cristo, naufragar os royalties do petróleo – que afinal veio do fundo do mar, mesmo – é moleza.


O realismo abstrato municipal
Ainda nessa onda artística que assola a Prefeitura, esta coluna se atreve a enviar sugestões de outros monumentos submarinos que poderiam ser erguidos – ou afundados, melhor dizendo – pelos próceres do soviet supremo da Avenida Assumpção:


AFUNDEB – O monumento ao FUNDEB afundado
Hidra da hidratação – Estátua em estilo grego clássico, representando a saúde submersa pelo mitológico Fauno, o ser lendário e saltitante que sorri para as virgens do templo enquanto mergulha os doentes no fundo do mar para a sua cura mística


Petrofundo – Esse é manjado. Animal da mitologia Santa-Helenística que representa os abismos que acorrentaram a hidra dos 500 milhões de cabeças reais.


As pulgas de Esculápio – Estátua que representa as penas infernais impostas pelo sádico e mitológico professor Horroreus aos seus pobres alunos.


Cadê o meu?
É assim que se promove a arte para o povo, caros desentendidos da erudição: raspa-se o tacho no supérfluo – tipo saúde, educação e segurança – e se enterra tudo (ou afunda-se tudo) na cultura para as massas. No caso, em forma de uma estátua que será contemplada pelos pobres e incultos mergulhadores que lá fundearem suas humildes lanchas de 53 pés ou seus simplórios veleiros transoceânicos de três mastros.

Imprensa Marrom

A bruxa está solta



Pela sacolésima vez foi substituído o comando dos Puliça Militar.
Ninguém consegue entender o porcausodiquê que tanto mudam os delegados e coronéis da cidade e já se especula que a segurança pública na Região dos Largos é uma grande festa de swing, onde o troca-troca é a tônica da coisa (no bom sentido, é claro).
O fato é que o governador espirra, troca-se o comando da PM. O secretário de Segurança corta o cabelo, troca-se o delegado. O Lula arrota, trocam-se os dois.
E assim, nesse troca-toca onde ninguém é de ninguém, o filho feio – batizado de Criminaldo – fica sem pai.


Bruxa 2
A verdade é que Cabo Frio ta ficando chato.
Odacir Gagau sumiu, perdoou e não se manifesta mais em suas tirinhas infames. Obronho amansou, e dormita – plácido e lascivo – no colo de uma loura espumante. E ambos sem nada a dizer, insinuar ou xingar.
Bons tempos quando os desaforos, infâmias, calúnias e injúrias eram ditas focinho à focinho – ou ao menos coluna à coluna.
Hoje grassa sem nenhuma graça, pela cidade, o novo esporte favorito das massas: a fofoca, intriga, maledicência e facada. Tudo pelas costas, que essa gentalha recente substituiu o talento pela manobra política.
Imprensa, hoje, tá de dar nojo.
Gagau! Obronho! Façam alguma coisa!


Bruxa 3
Parece que uma maldição se abateu sobre a cidade. Em pleno sábado, deveria estar escrevendo sobre o encontro de motos, vestindo o farrapo mais andrajoso, o casaco de couro mais oleoso e levando minha Monstra (é minha moto, nada a ver com familiares ou quaisquer espécies de teratologias sexuais) para passear.
Só que não dá. Ô cidadezinha chata, sem nada, nem perspectivas. Todo mundo duro, sem emprego, vida noturna chulé, vida diurna idem e uma pasmaceira que entedia até monge na clausura.
Anotem o que eu digo: acabando o Biker Fest e o Vôlei de Praia, no máximo quarta feira estaremos diante de um harakiri coletivo, onde uma população inteira – tal qual uma legião de lêmures – vai correr pro barranco do Morro da Guia e pular de lá, gritando de saco cheio.
É tédio pra ninguém botar defeito.
Vou me mudar, sabe?

Imprensa Marrom

Personagens folclóricos da imprensa












Se você leitor acredita que os personagens lendários da imprensa desapareceram com a ida do Gabeira para a Câmara, enganou-se.
A esquerda jornalística não morre nunca e bem aqui, em Cabo Frio, ostentamos dignos e bravos representantes desta facção (ui!), senão vejamos alguns deles:

Odacir Gagau
Conhecido empresário boteco-etílico-jornalístico, famoso pela sua oposição vagalume – se a Prefeitura anuncia, alisa. Se não, mete o pau – e pela sua atuação filantrópica, promovendo campanhas de cunho social como “Farinha Pouca Meu Pirão Primeiro”, “Natal Bom é o Pago Pelos Outros” e sua última criação, o “Projeto Cidade é uma Vírgula”, onde, segundo suas declarações inovadoras e expontâneas (ele tem horror a clichês), diz: “ – A nível de proposta, é um resgate da cidadania do meu fígado, que tem sido oprimido pelo preconceito cultural do sistema de cotas: dez por cento pra cerveja, dez por cento pro uísque e oitenta por cento pra cachaça é inaceitável, precisamos nos mobilizar a nível de consciência”, disse o prolixo bebum-midiático de São Traíres, antes de retornar para a Rehab, em companhia de Amy Winehouse e Keith Richards, seus chapinhas.


Obronho

Rubicundo blogueiro, um dos últimos remanescentes da vertente intelectual da “Critica pela Crítica”. Não promove campanhas sociais, não publica nenhuma notícia boa e muito menos apresenta qualquer sugestão para resolver os problemas que seu dedo rombudo tanto gosta de apontar. Acomodado em sua posição de pedra e sem perspectivas de um dia se tornar vidraça – nenhum governo aceitaria um azedume desses – gasta suas madrugadas em frente ao computador e seus escritos, dos quais emana o fedor inconfundível do enxofre daqueles que perderam o bonde da história. Mas, a verdade seja dita, todo o problema é que nosso provecto adiposo não pega ninguém desde que Getúlio era presidente. Carência, mesmo.

Imprensa Marrom

Dinheiro não é problema, é solução!


Pois é, caro amigo leitor: o Lagos Jornal voltou e nós, que éramos os inquilinos da coluna “Da Redação” bem que quisemos ocupar o mesmo espaço, mas com a alta dos aluguéis e a crise internacional não tivemos dinheiro sequer para pagar a kombi do carreto de nossos trastes. Vai daí que a única solução encontrada por nós, como vítimas do déficit habitacional que assola o país, foi a construção deste barraquinho aqui, de onde voltaremos – de braços e bolsos abertos – para nossos bilhões de leitores e leitoras por todo o planeta.


E por falar em dinheiro, onde anda você?
Acredite quem quiser, não é invenção nossa e deu no O Globo:
Município fluminense de Silva Jardim vai criar moeda local, o Capivari, para incentivar comércio
Sai o real e entra o capivari.
O governo do município de Silva Jardim, no Rio de Janeiro, decidiu criar uma moeda local, o "Capivari", para estimular o comércio local e ampliar a arrecadação de impostos, como noticiou a coluna Ancelmo Gois no GLOBO deste domingo. Cada capivari valerá R$ 1, mas, de acordo com o projeto, ainda em estágio inicial, as compras com o capivari terão um desconto de 5% a 10% sobre o valor que seria pago em real.
A preferência dos moradores de Silva Jardim pelo comércio de cidades vizinhas, como Rio Bonito, a 30 quilômetros de distância, chega até mesmo às compras de medicamentos e de jornais, segundo Marcelo Zellão, o prefeito autor da idéia.
- No dia do pagamento, os moradores vão gastar o salário nas cidades vizinhas, mesmo que os preços sejam iguais. Há uma cultura de que o que vem de fora é melhor. Queremos estimular a economia local, gerar empregos e aumentar a arrecadação de impostos - ressalta o prefeito.
Ainda não foi definida qual a imagem que ilustrará a nova moeda, mas, segundo o prefeito da cidade, será algo ligado ao meio ambiente.

Se a moda pega...
É impressionante a falta de visão político-financeira dos nossos administradores. Tivéssemos feito isso tempos atrás e Cabo Frio não estaria no buraco que se encontra atualmente. Resta, como esperança, que nossos vereadores se mobilizem e adotem o novo padrão monetário cabofriense, o “Dinêro”. Assim, cada “Dinêro” valeria 10 reais, e com poucos “Dinêros” construiríamos facilmente um “banêro”, por exemplo.

Em Búzios e Arraial
Mirinho bem que poderia já estar emitindo cédulas de “Brigites”, com o “Bardot” no lugar de centavos. Assim, as lojas de 1,99 venderiam à um brigite e noventa e nove bardots. Já Arraial, menos chique, teria de apelar para o “Xaréu”, com os centavos rebatizados de “usca”. Um xaréu e noventa e nove uscas? Usca!

Coleguinhas de imprensa
Saudades de você, Odacir... e de você também, Obronho. Breve nos falaremos.

domingo, 3 de maio de 2009

Amigo é pra essas coisas


Vida;
travessia por vezes longa, por vezes curta.
Saímos sem ensaio, à palo seco e à capela, carreira solo.
Erros, bordoadas, mancadas, ofensas.
Acertos, feitos, vitórias, realizações.
No meio disso, as gentes passam, os dias passam, a vida passa.
Mas os amigos - ou o amigo -
esse fica.

Para ele, lá vai:



Amigo é pra essas coisas

MPB 4

- Salve! Como é que vai...
- Amigo há quanto tempo...
- Um ano ou mais.....
- Posso sentar um pouco?
- Faça o favor.
- A vida é um dilema...
- Nem sempre vale a pena...
- Ah...
- O que é que há?
- Rosa acabou comigo.
- Meu Deus, por quê?
- Nem Deus sabe o motivo.
- Deus é bom!
- Mas não foi bom pra mim...
- Todo amor um dia chega ao fim.

- Triste!
- É sempre assim...
- Eu desejava um trago...
- Garçon, mais dois!
- Não sei quando eu lhe pago...
- Se vê depois...
- Estou desempregado.
- Você está mais velho...
- É!
- Vida ruim...
- Você está bem disposto...
- Também sofri.
- Mas não se vê no rosto.
- Pode ser...
- Você foi mais feliz...
- Dei mais sorte com a Beatriz!

- Pois é...
- Tudo bem...
- Pra frente é que se anda.
- Você se lembra dela?
- Não.
- Lhe apresentei...
- Minha memória é fogo...
- E o l'argent?
- Defendo algum no jogo.
- E amanhã?
- Que bom se eu morresse!
- Pra quê rapaz?
- Talvez Rosa sofresse...
- Vá atrás...
- Na morte a gente esquece!
- Mas no amor a gente fica em paz.

- Adeus.
- Toma mais um...
- Já amolei bastante.
- De jeito algum...
- Muito obrigado amigo.
- Não tem de quê.
- Por você ter me ouvido.
- Amigo é pra essas coisas...
- É.
- Toma um Cabral.
- Tua amizade basta.
- Pode faltar.
- O apreço não tem preço.
- Eu vivo ao Deus-dará!

O apreço não tem preço...
E eu vivo ao Deus-dará!

O apreço não tem preço...
E eu vivo ao Deus-dará!

sexta-feira, 24 de abril de 2009

CLICK

ou
“O momento da foto para a posteridade”
ou
“Como reconhecer a hora exata em que rotulam você”

Todo mundo que escreve sobre si mesmo tende a romancear - ou ao menos amenizar um pouco - sua história ou seus vexames, a depender do caso. O que é óbvio, por que ninguém vai sair por aí batendo caixa de suas derrotas ou deslizes.
Quem roubou não vai contar que meteu a mão no que não era seu. Quem corneou não vai contar de sua plantação de galhos em testa alheia e quem soltou um pum em uma festa, cuja autoria foi conhecida dos demais, nunca vai admitir – mesmo com testemunhas contra si – que foi o responsável por abrir uma clareira de gente em seu entorno. Então, ao leitor que se atrever a ler as mal traçadas que seguem abaixo, recomendo filtra-las com a lente preto e branco da realidade carnívora que todos nós conhecemos. Vamos aos contos:

1 – “It´s a long, long highway, baby”

“Já haviam transcorrido mais de nove horas de viagem e o que eu via em minha frente era somente a longa e infinita linha de asfalto cinza poeirento, indicando mais chão a percorrer.
Minhas mãos eram apenas bolhas, de tanto segurar o bendito guidom que vibrava sem parar nos trechos mais esburacados. Meus companheiros de viagem contabilizavam as baixas: três pneus furados que quase os levaram ao chão, uma roda traseira empenada, um tombo de fato, bagagem que se soltava por causa dos trancos daquela infeliz estrada sem fim, a ameaça dos ônibus, carros e caminhões que nunca deram a mínima para quem anda em duas rodas, suor, exaustão, cara coberta de poeira, chuva, sol, frio, calor – todos os climas do mundo em apenas um dia – mas estávamos lá. Pelos meus cálculos ainda precisaríamos encarar mais umas dez horas de estrada até nosso destino, mas mesmo assim nenhum de nós quereria estar em outro lugar ou outra situação. Murmúrios eventualmente se erguiam, reclamações, sugestões que desistíssemos – todas rechaçadas pelo mais poderoso dos argumentos: a consciência exata de estarmos, enfim, vivendo nosso sonho de liberdade.
E a recompensa sempre chega para os que persistem, pois exatas dez horas depois adentrávamos na cidade que traçáramos como objetivo. Felizes, incrédulos com nossa própria façanha e força de vontade, dispostos a gritar para o mundo nosso grande feito.
E os amigos nativos deste lugar se reuniram para nos recepcionar, brindando-nos com uma grande festa onde a alegria da realização não faltou.
Acordamos no dia seguinte refeitos, guindados à posição de heróis, e mesmo afamados por nossa camaradagem travada na recepção – tantos abraços, tantos sorrisos, tantos brindes que a marca indelével e eterna de heróis quase ficou para trás, sobrepujada pela grata surpresa de conhecerem-nos tão humanos e cordatos.”
FIM

TRADUÇÃO (a lente preto e branco)
Com a bunda em carne viva depois de nove horas sentado no quase obsceno selim de minha bicicleta, eu amaldiçoava a hora em que tivera aquela idéia de merda: sair do Rio de Janeiro rumo à Cabo Frio, pedalando.
Para tal mister convoquei (ok, é força de expressão: foram os únicos que aceitaram) dois inconseqüentes em grau tão grande quanto o meu: Ailton, o da Silva, e "ooo meeeeu amiiiigo...Marcelo Marino (é uma brasa, mora?) que em tais funduras expressavam indubitavelmente suas claras intenções de motim, pretendendo jogar-me Serra do Mato Grosso abaixo na primeira ribanceira propícia, além de brindarem-me com epítetos variados e pitorescos.
É bom que se diga que nos idos de 1982 a estrada para Cabo Frio era um caminho de cabras. Via Lagos? Nem em projeto, tinha de ir pela serrinha mesmo. Pista dupla com acostamento asfaltado? Não me façam rir! Era uma tripinha de asfalto – dos ruins – e sem nem mesmo uma mísera faixa sinalizadora pintada. Celulares para chamarmos mamãe em caso de Danôsse? Ficção científica. Graal? Postos de gasolina? Serviços diversos? No máximo um capiau vendendo laranja lima. A estrada era mato, barro, buraco e deserto. E essa era a grande aventura.
Tudo me atraía: para chegarmos a Niterói, tivemos de embarcar com bicicletas e bagagens na barca da Cantareira, Praça XV. Ainda escuro, sob o nevoeiro gelado do fim da madrugada e balançando na proa com os pés para fora, eu sonhava com o dia em que, realizado aquele sonho em que eu me metêra, planejaria outro que tinha mais a ver com ventos e mares – a navegação desbravadora do quase pós-adolescente de recém-feitos dezoito anos.
O fato é que – claro milagre, para tanta irresponsabilidade – conseguimos chegar vivos em Cabo Frio, após dezenove horas pedalando. E lá fomos, realmente, recepcionados como heróis: lógico, três adolescentes sozinhos na enorme casa de meu pai, bar cheio, quartos à vontade e um belo som só poderia dar no que deu.
Vizinhos noticiaram ao Poderoso Waltão, o Senhor Meu Pai, Big Boss, dos ocorridos nas funções contínuas organizadas em nossos cinco dias de estadia sob aquele telhado: um entra e sai de uma corja de vagabundos com cara de maconheiros à toda hora do dia ou da noite, som alto, gritaria, mulheres peladas correndo pelas paredes e, eventualmente, gritando rua afora; violões, birita – muuita birita – desmazelo, comportamentos inadequados aos padrões morais cristãos (tudo provocado por eu ter rifado aquela mulatinha que não lembro o nome, mas o fato é que o empreendimento rendeu-nos numerário suficiente para custear mais umas cinco garrafas de Praianinha e Ki-Suco, para fazermos batidas), entre outros eventos menos lembrados.
Pois o fato é que nada mais importou, após este momento.
Esqueceram-se das dezenove horas, dos riscos, do sonho realizado (isso eles queriam mais é esquecer, mesmo. Realizar sonhos dá uma puta inveja) e só se lembravam da exótica criaturinha que um dia eu comerciara.
E foi aí ( aí: palavra que define e une tempo e espaço) que minha imagem congelou para os que me cercavam: o cafajeste ébrio que rifou aquela dona esquisita.
E assim nasceu Walter, o beberrão.

2 – “O Senhor dos Mares”

“Ninguém brinca com o mar. É uma força da natureza, que pode acolher você, alimentar ou decretar sua morte inapelável, se assim o entender.
Vivo com o mar desde não me lembro quando, mas na verdade só comecei a planejar coisas mais ousadas já quase em idade de me barbear, ao tomar as barcas que ligam o Rio á Niterói apenas para navegar um pouco.
Comprei um dia uma canoa canadense, longa, estreita, bem marinheira, e entendi que era chegada a hora de me aventurar pelas águas salgadas – conhecidas ou não.
Posso relatar um acontecido, digno de nota, ao estrear a embarcação: se deu nas águas da Baía de Guanabara. A bordo, eu, o eterno Marcelo Marino, desprovido de instinto de conservação de si mesmo, e o igualmente infalível Ailton, o da Silva parente do Molusco. O plano era sair da enseada de Botafogo, contornar o costão de pedra e aportar – heróicos e garbosos – nas areias da Praia de Copacabana.Nenhum de nós imaginava o mar grosso que enfrentaríamos, com ondas inacreditáveis que pareciam querer engolir a pobre canoa e mais as correntezas, que exigiram toda nossa força nos remos, para que não soçobrássemos nas pedras da Urca.
Na qualidade de Capitão da embarcação fiz o que pude: incentivei ao máximo meus companheiros, sem um minuto sequer de desistência, até que aportamos – sãos e salvos – nas areias mansas da prainha da Urca.”
FIM

TRADUÇÃO (a lente preto e branco)
Matei muita aula na Barca da Cantareira, e lá imaginava – cérebro bem estrumado, fértil – minha nova aventura pelos mares.
Desisti da faculdade de arquitetura, vendi minha caríssima mesa de desenho e – vagabundo – comprei a tal canoa canadense, uma porcaria irretocável que emborcaria se você tossisse, pois não tinha quilha, era tão estreita quanto uma bunda e tinha fundo chato. Um horror, enfim.Tão ruim que não dava pra remar sozinho e por isso tive de recorrer aos eternos inconseqüentes – Marino e Ailton – para estrear o artefacto nas águas da Urca.
O plano era de uma imbecilidade de dar dó e só não morremos por que Netuno ajudou, pois contornar o Pão de Açúcar é coisa pra barco de gente grande e não para aquela bostinha.
No meio do horror, a cena era a seguinte: ondas catastróficas, uma canoa de merda, três idiotas à bordo – um deles remando com as mãos, pois faltara-lhe remos e sobrava-lhe cagaço – e eu berrando, tresloucado, branco e espavorido: “Rema! Rema, porra! A gente vai morrer, cacete! Remaaa!!!” E para disfarçar o pavor, ainda me atrevi a cantar feito um gondoleiro, berrando impropérios ao mau tempo, gargalhando ensandecido enquanto meus amigos se acabavam nos remos.
Conseguimos voltar. Todos exaustos, borrados e lívidos. E eu, além de tudo isso, sem voz.
Nesse instante, o rótulo eterno, adesivo, se firmou.
E assim nasceu Walter, o atormentado.

3 – “Born to fly”

“Voar é um dom e posso afirmar, sem nenhuma modéstia, que um dia eu o possuí.
Pilotos são uma raça competitiva e vaidosa, e por conta destas características, inúmeras encrencas podem brotar como cogumelos no jardim se você mostrar que ensina urubu a voar.
Me lembro, já em fim de carreira como piloto de testes, de uma demonstração feita para alto dignitário cujo nome não ouso dizer, de aparelhos fabricados por nação pouco amiga mas, forçoso é reconhecer, eficazes.
De um lado, as pérolas da engenharia belicosa alada, empreendendo demonstrações de sua invulnerabilidade com a óbvia finalidade de auferir uma portentosa encomenda governamental. Do outro nós, os outsiders, os coadjuvantes que – voando calhambeques da década de sessenta – evidentemente seríamos todos abatidos triunfalmente pela tecnologia à venda.
A verdade é que o bicho deles era bom mesmo: radares na proa e popa denunciavam a aproximação inimiga à milhas de distância e eram – além de tudo – capazes de engajar estes ecos radares como alvos de suas armas.
E aí? O que fazer? Aceitar o papel de bandido que morre no início do filme ou lembrar que sou brasileiro, não desisto nunca e nunca respeito uma lei, se o objetivo supremo for sacanear alguém metido a fodão?
O caso é que descobri que os tais radares captavam até moscas, mesmo. Mas só se estivessem voando em um nível de vôo ao menos aproximado do deles. E aí veio a idéia: contrariando os procedimentos descritos e aprovados nos manuais, mergulhei, segui rasante até estar exatamente embaixo de uma daquelas maravilhas, apontando o narigão do meu avião pra cima já com o dedo apertando o gatilho.
A telemetria registrou o que, na vida real, faria um belo rombo na fuselagem do sujeito e conseqüente pulverização de sua máquina. O resultado seria – se ele sobrevivesse aos tiros – uma bela ejeção para cair de bunda em campo inimigo.
A façanha resultou em constrangimento geral para as autoridades presentes, mas nada que não pudéssemos resolver na costumeira camaradagem entre pilotos, na cantina da base aérea.”
FIM

TRADUÇÃO (a lente preto e branco)
Vamos direto ao que interessa: a cantina.
A verdade é que entrei lá e já fui recepcionado por xingamentos em língua estrangeira, acusações de roubalheira e desacatos vários por eu não seguir os procedimentos que constam nos manuais, como bom escoteiro que eu deveria ser. Avisado por companheiro poliglota, tive ciência que eles pretendiam invalidar toda a manobra taxando-me de desleal e sujo - como se em uma guerra fossemos todos uns gentlemans.
Gentilmente tentei contra-argumentar mas, em cessando as fundamentações teóricas, a bolacha comeu solta. O pau roncou tão sério que a cantina ficou destruída, teve gente que baixou enfermaria para costurar a cara, cortada de garrafa, e uma queixa contra mim foi formalizada junto às autoridades.
O bom da história é que a manobra foi incluída nos manuais de operação da aeronave.E o ruim é que estou aqui escrevendo essas besteiras enquanto eles ainda estão lá, voando felizes e sorridentes, seus aviões com radar no rabo.
Naquela tarde um novo personagem foi criado, nas mentes daqueles presentes.
E assim nasceu Walter, o anti-social.

4 – “Route 66”

Uma vida inteira pela metade. Uma vida em que nunca pude – ou nunca tive coragem – de ser o que minha alma mandava.
Me obriguei a gostar das noites. Usei ternos e gravatas, cortei o cabelo no padrão, me preocupei com griffes e locais certos para ir. Quis ser um homem de sucesso aos vinte e poucos anos, quando nem ao menos homem – na acepção mais madura da palavra – eu era. Me deixei conduzir por outros, ser influenciado, manipulado mesmo - aquilo que as mulheres chamam de "transformar o seu rascunho em arte-final".
Tive altos e baixos. Muitos baixos, longos, sofridos, traumatizantes, que geraram seqüelas não apenas para mim e que, novamente, me obrigaram a ser e me comportar contra meu íntimo, agindo de acordo com minha penúria, pois um sujeito modesto existe modestamente – quase não ocupa espaço e muito menos dá o que falar.
Tive uma chance de ter dinheiro e joguei pro alto – a OEA.
Tive uma chance de me realizar profissionalmente mas a vida me cortou – a aviação.
E tive uma coisa que poucos podem se gabar: uma segunda chance.
Vivo hoje do jornalismo e da TV. Cercam-me pessoas das mais variadas: Ricos, pobres de marré, poderosos, anônimos, influentes ou doidos de pedra, artistas plásticos, gente que cria, inova e forma - ou crê que forma - conceitos e opiniões.
A vaidade me cerca, mas igualmente a criação e a oportunidade de deixar minha marca neste mundo e isto é o que vale, pois a morte nos nivela a todos por baixo.
Não tenho dinheiro, nem barganho favores com os poderosos. Apenas faço o que gosto e o que sei ser muito competente – e quantas pessoas poderão dizer o mesmo?
Quando minha vida profissional rumou de encontro ao que minha alma pedia, mais um presente do destino: a vida pessoal se resolveu, uma longa história de quase quarenta anos foi finalmente encenada - os quarenta anos de travessia do deserto até a Terra Prometida; os quarenta anos que precisei para aprender a ser gente o suficiente para merecê-la.
Deste ponto em diante, não faria mais sentido ser, agir, me comportar ou me vestir representando um personagem, um estereótipo de consumo fácil para os outros.
Hoje, sou o que sou. Monto em minha enorme motocicleta – o cavalo que me conduz pelos meus sonhos – e sonho sem medo novos delírios, pois a felicidade de existir traz as realizações, invariavelmente.
Os infelizes, os atormentados, estes nunca realizam – apenas pululam no palco armado por aqueles que nunca têm nada a acrescentar em nossas vidas, só o desejo de nos controlar e nos reduzir ao que eles acham como “suficiente e ajuizado” para nós.
Nada, nem ninguém, tem mais o poder de mandar em mim ou nublar minha vida.
Agora sou livre, e diante de meus olhos vejo a estrada.
Sinto em minhas pernas o calor do motor me levando à um destino que certamente É feliz. E o vento em minha cara, por todo o longo caminho, me lembra sempre que estou vivo.
Não é mais hora de morrer. Not yet.

Hoje, finalmente, sou eu mesmo.
Vista o que quiser. Ame quem quiser. Pense o que quiser. Só não faça o mal para os outros, esta é minha filosofia.

Hit the road, Jack!

TRADUÇÃO (a lente preto e branco)
Este último conto não tem tradução. Se você não percebeu a sinceridade nas linhas, é porque já me rotulou.
Mas se viu a diferença, minha Shadow tem garupa e ainda temos muito chão para andar.
Seja bem vindo!

Walter Biancardine é jornalista. E prolixo, também.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Lendas pessoais

É um fato a existência de algo que podemos chamar de “lenda pessoal”. Ela é construída a partir de nossas reações aos acontecimentos, nossa própria interação com o mundo e isso cria todo um folclore – pessoal e intransferível – em torno de seu possuidor.
Mais de três quartos de minha vida vivi sob o signo do “atormentado”, ou mesmo o “maluco”, decorrentes não apenas de meu despudor em gritar minhas agonias íntimas em meus escritos como também oriundos de uma vida – graças à Deus – repleta de acontecimentos, contrastante com o marasmo geral.
Com a mesma sem-cerimônia que eu destilava minha solidão nas crônicas cometidas até bem pouco tempo atrás, eu convocava outros doidos como eu para embarcarmos em uma canoa e remarmos pelo mar até Araruama.
Escrevia versinhos de amor e voava como um demônio pelos céus, senhor de minha inconseqüência e sedento de uma vida que deveria ter algo mais que viciar-me em TV, refrigerantes ou o sedentarismo obrigatório dos que nada arriscam.
O resultado de meus escritos insanos, seja gemendo minhas misérias pessoais ou defendendo meus ideais – pois nada mais falso e cômodo que o ceticismo que esconde a profunda ignorância – criou a pesada corrente intelectual que carrego, e que nunca tive medo de arrastar. Já os frutos da necessidade de arriscar o pescoço resultou em peripécias hollywodianas no Corpo Diplomático, piruetas e encrencas sem fim na aviação de teste além de uma coleção volumosa de anos e anos dedicados à caça, pesca submarina, navegação, motociclismo, surf – isso sem contar as inevitáveis sessões de pancadarias pelos mais diversos motivos – todos relevantes.
Entretanto, o inevitável acontece: a idade chega e somos obrigados a frear o ritmo.
Sem abrir mão de meus ideais e forçado por uma pressão acima de qualquer argumentação, cedi o espaço destinado aos meus vitupérios políticos à um estilo mais leve, bem humorado. Igualmente os gemidos de solidão foram exterminados pelo acontecimento que poucas pessoas podem gabar-se, que é encontrar o amor verdadeiro – eis que a felicidade alheia é a mais profunda ofensa que podemos assoar contra quem quer que seja, principalmente fantasmas infelizes e errantes do passado.
Mas a verdade é que lendas pessoais nos acorrentam à um passado, nos vestem na camisa de força dos personagens - estereotipados e imutáveis por definição - e podem nos condenar a viver situações, sentir e pensar de maneiras que já ultrapassamos. A lenda pessoal nos condena a nunca evoluir.
Sábio Raul Seixas, que propôs para si mesmo ser uma "metamorfose ambulante", e com isso assinou sua carta de alforria.
Venho tentando seguir seus passos.
Juro que tento.

Nota: Esta postagem foi alterada substancialmente, em todo seu conteúdo e intenção, pelo autor entender que desavenças e afastamento geram apenas solidão e tristeza.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Anônimo, teu nome é covardia


Desde que me entendo por gente que enfrento meus desafetos olhando nos olhos.
Me acostumei de tal modo com esta prática que delas resultaram algumas contusões, cicatrizes, fraturas mas - o que é mais importante - nenhuma dúvida sobre meus pontos de vista.
Ultimamente tenho desfrutado da oportunidade de ver um tipo de comportamento com o qual, confesso, não sou muito acostumado: o jeito covarde de ser.
Fico admirado de ver homens feitos e mulheres, ambos teoricamente adultos e maduros, comportarem-se como camundongos em todos os sentidos. Estas espécimes alimentam-se de restos da felicidade alheia e possuem uma digestão esquizofrênica, eis que necessitam deste alimento para preencherem o seu nada interior, mas ao mesmo tempo revolvem-se em convulsões cujos resultados são - invariavelmente - o despeito invejoso vomitado através de recadinhos anônimos, trotes telefônicos tão espirituosos que refletem exatamente a ralé periférica que os serviu de pobre berço, além de outras ações que demonstram o desejo desesperado de infligir qualquer espécie de aborrecimento - mas que, pela absoluta falta de culhões, acaba aborrecendo seus próprios autores que se remoem de ódio ao se saberem covardes demais para um mano-à-mano.
Sejam homens ou mulheres os pertencentes à esta casta de mendigos morais, o máximo que é possível sentir acaba mesmo sendo uma profunda piedade.
Mulheres que não são ninguém, que precisam desesperadamente se apropriar da personalidade alheia para se sentiram providas de uma honra que por toda a vida lhes faltou, gastam mais tempo criando um câncer na alma do que pensando em sua própria e pobre vida. São aquelas mulheres que crêem-se espertas, que vendem o traseiro por um carro, um apartamento ou uma posição social. E recebem em si a devida recompensa de seus erros, a paga de seu mesquinho michê, por elas apelidado "relacionamento": a companhia de um côrno. E qual mulher digna deseja amigar-se com um chifrudo enganado por ela mesma?
Já o homem deste tipo é mais digno de piedade ainda, pois é o retrato falado do recalque: quer falar grosso mas não consegue (somente escondido através de meios de comunicação ou outros artifícios que impeçam o contato cara à cara), quer socar, bater, mas - suprema humilhação! - sabe perfeitamente o quanto é frouxo; quer botar moral, ser o gostosão, mas tudo o que consegue é comprar companhia - seja pagando um drink ou uma casa - e assim segue sua triste vida, sem realizações e apontando um destino medíocre nas fileiras da velhice precoçe.
Realmente, tenho de agradecer muito por ser quem sou, ter o que tenho e, principalmente, quem eu tenho.
Pois tudo foi conquistado como manda o figurino: com atitudes de macho, olhando no olho.
E qualquer dúvida, todos sabem onde me encontrar.

Vovó já dizia: "O que é de berço, só a tumba tira, meu filho"...
Velha sábia, essa...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A favelização do pensamento

Os recentes acontecimentos do bairro Jacaré parecem ter servido de verdadeiro divisor de águas no pensamento da segurança pública cabo-friense; ao menos é o que se espera, aduzindo-se esta conclusão pelas falas das autoridades envolvidas.

A 20ª Subseção da OAB e o Lagos Jornal tiveram pontos de vista convergentes no que se referia ao problema e, principalmente, na necessidade que ambos acreditavam essencial que fosse divulgada: a verdadeira criminalidade por detrás dos números.

Atualmente, entretanto, esta folha observa que a cidade se encontra em uma segunda etapa deste problema e expôs esta crença na reunião do Conselho, através de seu representante que cobria o evento. Pensamos ser necessário, agora, a discussão em torno da questão da “política de segurança pública”, e grifamos isto na reportagem da semana passada, onde expusemos: “A segurança hoje é uma questão de política, e não mais de polícia”, ponto de vista igualmente compartilhado pelo presidente do Conselho de Segurança, Flávio Fontani.

A tal ponto avançou a criminalidade na região que resulta perda de tempo e discussão vazia debater as estratégias policiais ou o estado das viaturas do batalhão. Agora estamos em um segundo tempo e o que urge é a discussão em torno das políticas de segurança pública, que passarão necessariamente pela construção da Casa de Custódia e implantação da Delegacia Legal, além do desdobramento do 25º BPM em mais uma ou duas unidades, com conseqüente aumento de efetivo militar. Tudo isso coroado, é claro, pela óbvia melhoria das condições operacionais da PM, proporcionada pela destinação de um quinhão bem maior do orçamento público estadual ao quesito segurança – carência observada inclusive pelo governador Sérgio Cabral em recente visita à Cabo Frio, coincidentemente realizada no mesmo dia em que eclodiram os tumultos no Jacaré.

Tal é a urgência dos pontos listados acima que mal podem ser discutidos em seu destaque merecido, uma vez que outra questão crucial vem à reboque, já pressionando as atenções para sua gravidade – esta sob única e exclusiva responsabilidade do poder público municipal: a favelização da cidade.

É sabido que a ocupação desordenada do solo gera este tipo de comunidade-feudo, onde o Estado nunca está presente e o crime faz as vezes de assistente social, polícia, tribunal e pelotão de fuzilamento. O processo já é por demais conhecido, estudado, entendido e – pior – praticado em toda a capital carioca e não existem desculpas plausíveis para a sua repetição em nossa cidade que não passem, necessariamente, pela irresponsabilidade e pelo verdadeiro crime contra a dignidade humana e integridade física e material dos cabo-frienses, levado à efeito pela omissão municipal.

Temos hoje 7 ou 8 favelas, todas ainda passíveis de fácil urbanização e permeáveis – ainda – à presença do poder público através de postos de saúde, DPO’s, escolas e outros serviços. Temos também um início tímido de uma escalada habitacional Morro do Telégrafo acima – igualmente ainda resolvível de modo tranqüilo.

O que se observa, entretanto, é a absoluta inércia das autoridades responsáveis por estas providências. Não há por que esperar pelas ações do governo do Estado, uma vez que sua área de atuação é outra e alegar esta razão é pura e simples má fé. Igualmente, estacionar o Governo Municipal na casa da omissão é praticar, com dolo, um crime contra todo e qualquer cidadão de Cabo Frio que não quer viver, ou conviver, com o cenário de degradação social e guerrilha urbana existente na capital, por obra e graça dos mesmos vícios de inércia, apatia, omissão e – quiçá – oportunismo e malícia política que os permitiram nascer, na extinta Cidade que já foi Maravilhosa.

Da Redação


Eu vou beber pra esquecer "môs pobrema"

É com muita frustração, com o orgulho em cacos e com a baixa-estima latejante em agonia que temos de dar a mão à palmatória e concordar com Odacir Gagau: só bebendo, mesmo.

Imagine que o cidadão sai do Rio de Janeiro corrido, sob uma chuva de balas, crente que vai se livrar de todo aquele perrengue que perfaz a triste rotina das grandes cidades – tiros, seqüestros, roubos, furtos, e mais um monte de trambicagens que fazem a alegria dos vendedores de alarmes cariocas – e vem se abrigar em Cabo Frio, o oásis de paz, tranqüilidade, gente amiga, águas transparentes e vento nordeste constante a limpar os ares da cidade.

Pois é, e deu no que deu: já tem gente com saudades do Morro do Alemão.

É Jacaré na cabeça

Mais que um palpite para os corretores zoológicos, a frase acima quer dizer a figura de um imaginário bairro-crocodilo, à martelar nossos crânios com a insistente e irrespondível pergunta: e agora, José ?

- “E agora”, perguntou Odacir, “desce mais uma gelada aí”, gritou o empresário boteco-etílico-crocodilesco-jornalístico, que tem até medo de botar em seu jornal os boatos que correm por aí, dando conta que a chapa vai esquentar no bairro, neste fim de semana.

E assim foi: depois de descer umas cinco dúzias, a gente fica surdo mesmo, e nem ouve os tiros.

Ai de ti, Cabo Frio

Um só batalhão para tomar conta de sete cidades, que vão de Saquarema até Rio das Ostras. Engraçado como acharam por bem separar Arraial do Cabo de Cabo Frio, um município que se a gente gritar no Foguete, respondem lá da Prainha, mas ninguém tem a mesma agilidade pra separar a jurisdição do 25º BPM. Caberiam, com folga, uns 3 ou 4 batalhões novos.

Será que estão tão ocupados que nem pensaram nisso?

No hospício, eu era Napoleão Bonaparte

Todo doido tem essa mania, e nós não poderíamos deixar de ter as nossa, afinal somos completamente insanos.

Só um maluco pensaria que, na prática, apenas 3 rodovias conduzem tudo e todos à cidade e, portanto, bloqueando-as com fiscalização severa, muita arma e droga poderia ser apreendida.

Só um 22 de carteirinha imaginaria em mandar a Guarda Marítima dar uma incerta em tanto barco que entra e sai de nossas águas, afinal – bom maluco que somos – em nossa mania conspiratória, poderíamos achar que indivíduos poderiam estar introduzindo – no bom sentido, é claro – sub-repticiamente, armas e drogas nos porões das embarcações.

Só um completo demente teria a louca idéia de montar uma fiscalização braba no aeroporto, afinal, já dizia vovó: “Cautela e caldo de colega não fazem mal a ninguém”.

E é só por isso que nos conformamos deles não terem feito isso ainda, porque sabemos que eles têm o juízo em perfeitas condições, ao contrário de nós outros, cujos miolos cozinham nas mãos do palhaço já há tempos.

A diferença entre o policial e a Segurança Pública

Tem sido constante os clamores da OAB, na pessoa de seu presidente seccional, Dr. Eisenhower Dias Mariano, as queixas e mesmo denúncias contra a Segurança Pública de Cabo Frio, opinião compartilhada por nós outros do Da Redação.

Entretanto, cabe ressaltar a diferença fundamental entre o policial, o ser humano que veste a farda, e a Segurança Pública, a política estabelecida para manter a sociedade segura e protegida – um dever do Estado.

Salvo as exceções – pois que canalhas permeiam profissões que vão do sacerdócio ao jornalismo – os policiais são homens e mulheres decentes, íntegros e que convivem todos os dias na triste fronteira entre a Lei e a imundície. Não há salário que pague o bastante à alguém para que ele se julgue recompensado materialmente por expor-se, todos os dias, à uma bala na cara. Se alguém abraça a carreira das armas, é por um ideal que o motiva, um ideal que não pode ser pago e sim recompensado pelo sentimento de servir ao próximo e cumprir, com honradez e brilho, o seu papel.

E é difícil um ideal resistir, mesmo sabendo que não há salário que o pague à altura, quando nem ao menos seu papel de homem provedor, de mãe de família, de cidadão digno ele – ou ela – consegue cumprir ao receber as parcas moedas dadas pelo Estado ao fim de mais um mês em que conseguiu escapar ileso, ou nem tanto.

É difícil um ideal resistir quando o ímpeto é agir, mas a realidade não o permite – não há balas, armamento tôsco, não há viaturas e, mesmo se houvessem, não haveria gasolina para as mesmas – e é aí o ponto onde a falibilidade humana se revela nos mais fracos que, sem pretender justificar seus atos, descambam para a corrupção conivente enquanto os mais resistentes procuram outros empregos.

No outro lado da questão está a Segurança Pública, a política de Segurança Pública, concebida no ar rarefeito dos gabinetes refrigerados e blindados daqueles que, na melhor das hipóteses, desconhecem a realidade da terra em que vivem.

Erros são cometidos todos os dias, todos somos humanos, e graças à eles nossos acertos merecem um brilho especial – mas não é o que acontece em determinadas e precisas áreas da administração pública. Curioso tripé: por que será que o ensino, a saúde e a segurança – obrigações básicas de um governo, as quais não mereceriam sequer ser discutidas, pois é o mínimo pelo qual temos direito em troca de nossos impostos – sempre são, de uma maneira repetitiva através das décadas e por todo o Brasil, os pontos mais ridículos, pífios, uma verdadeira piada de mau gosto arremessada em nossa rotina?

O que um governante ganha com um cidadão ignorante? O voto inconsciente?

O que um governante ganha com um ensino e saúde pública precária? O agradecimento generoso dos donos de redes de ensino particulares ou das redes de hospitais privados?

E o que um governante ganha com uma política de segurança deliberadamente ineficiente? A privatização da polícia, sempre sujeita à corrupção e, portanto, transformada em quadrilha de jagunços ao serviço de poderosos?

São as perguntas que escutamos desde a mais tenra infância e que, temo, morreremos todos sem que elas tenham sido respondidas.

Deixo aqui meu mais profundo respeito àqueles que arriscam suas vidas todos os dias, noites e madrugadas, chuvosas, frias ou de lua, para nos proteger: os policiais.

Mas quero deixar bem claro o mais raso desprezo àqueles que brincam com nossas vidas e com as daqueles que as protegem, ao transformarem-nos em meros joguetes de seus interesses mesquinhos de poder, ambição e desumanidade.