terça-feira, 10 de maio de 2011

Respeito

Havia eu jurado que não mais escreveria nada, enojado que estou da política, das pessoas, do mundo e de todo o vasto elenco das calhordices humanas que vicejam nesta infeliz cidade.
Acabei com meu jornal, esquecí do "Crônicas e Agudas" e nem rádio ou TV presto mais atenção.
Isolei-me do mundo e tanto se me dá os assassinatos inexplicáveis e impunes, as falcatruas judiciárias, os trambiques, conchavos e, principalmente, a decepcionante pequenez de pessoas que brigam entre sí, esquecendo um adversário comum. A vaidade, soberba, ira e bajulação desmedida entranhou no DNA dessa gente e por isso lembrei-me de esquecê-las.
Mas a verdade é que minha decisão refletiu apenas um egoísmo idiota, de quem usa o cansaço da vida e processos judiciais absurdos como desculpa.
É certo que não mais quero saber de política ou de toda a imundície que a cerca, mas deixei profundo débito perante a pessoa que mais amo na vida e que me conheceu jornalista.
Sei que ela aprendeu a amar e admirar não apenas o homem, mas aquele que escrevia, que dava a cara pra bater, que se desnudava em público e rasgava seus tormentos para quem quisesse ler. E até hoje, do momento em que cessei minhas atividades até estas mal-tecladas, ela conheceu apenas um destroço, a sombra de um homem que um dia fez seus olhos brilharem e que embaçou-se em sua covardia.
Tenho sido um zumbí, vagando sem função pela vida e empurrando o corpo de um (outrora) homem que não tem significado para ela, já que havia me tornado um amontoado de carne não-pensante.
Mesmo o meu filho, do qual não sei por onde anda, como está e o que faz, dedicou-se à escrever pelo meu feio cacoete literário e se nenhuns motivos de orgulho ele tem de mim, ao menos encontrou ocupação mais nobre que dopar-se em frente à TV e video-games, e creio que isto serve de um pouco de sombra do sol inclemente do desprêzo que ele me devota.
E é em respeito à estas pessoas que tento voltar a escrever. Para que eu ao menos pareça com a pessoa que um dia fui.
Talvez, bem lá no fundo de mim, em algum oásis dentro do meu deserto, ainda exista uma água salvadora que me dê inspiração.
Não mais política. Não mais ódios, denúncias ou ira.
Apenas histórias, tal qual minhas redações da sexta série.