terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Lendas pessoais

É um fato a existência de algo que podemos chamar de “lenda pessoal”. Ela é construída a partir de nossas reações aos acontecimentos, nossa própria interação com o mundo e isso cria todo um folclore – pessoal e intransferível – em torno de seu possuidor.
Mais de três quartos de minha vida vivi sob o signo do “atormentado”, ou mesmo o “maluco”, decorrentes não apenas de meu despudor em gritar minhas agonias íntimas em meus escritos como também oriundos de uma vida – graças à Deus – repleta de acontecimentos, contrastante com o marasmo geral.
Com a mesma sem-cerimônia que eu destilava minha solidão nas crônicas cometidas até bem pouco tempo atrás, eu convocava outros doidos como eu para embarcarmos em uma canoa e remarmos pelo mar até Araruama.
Escrevia versinhos de amor e voava como um demônio pelos céus, senhor de minha inconseqüência e sedento de uma vida que deveria ter algo mais que viciar-me em TV, refrigerantes ou o sedentarismo obrigatório dos que nada arriscam.
O resultado de meus escritos insanos, seja gemendo minhas misérias pessoais ou defendendo meus ideais – pois nada mais falso e cômodo que o ceticismo que esconde a profunda ignorância – criou a pesada corrente intelectual que carrego, e que nunca tive medo de arrastar. Já os frutos da necessidade de arriscar o pescoço resultou em peripécias hollywodianas no Corpo Diplomático, piruetas e encrencas sem fim na aviação de teste além de uma coleção volumosa de anos e anos dedicados à caça, pesca submarina, navegação, motociclismo, surf – isso sem contar as inevitáveis sessões de pancadarias pelos mais diversos motivos – todos relevantes.
Entretanto, o inevitável acontece: a idade chega e somos obrigados a frear o ritmo.
Sem abrir mão de meus ideais e forçado por uma pressão acima de qualquer argumentação, cedi o espaço destinado aos meus vitupérios políticos à um estilo mais leve, bem humorado. Igualmente os gemidos de solidão foram exterminados pelo acontecimento que poucas pessoas podem gabar-se, que é encontrar o amor verdadeiro – eis que a felicidade alheia é a mais profunda ofensa que podemos assoar contra quem quer que seja, principalmente fantasmas infelizes e errantes do passado.
Mas a verdade é que lendas pessoais nos acorrentam à um passado, nos vestem na camisa de força dos personagens - estereotipados e imutáveis por definição - e podem nos condenar a viver situações, sentir e pensar de maneiras que já ultrapassamos. A lenda pessoal nos condena a nunca evoluir.
Sábio Raul Seixas, que propôs para si mesmo ser uma "metamorfose ambulante", e com isso assinou sua carta de alforria.
Venho tentando seguir seus passos.
Juro que tento.

Nota: Esta postagem foi alterada substancialmente, em todo seu conteúdo e intenção, pelo autor entender que desavenças e afastamento geram apenas solidão e tristeza.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Anônimo, teu nome é covardia


Desde que me entendo por gente que enfrento meus desafetos olhando nos olhos.
Me acostumei de tal modo com esta prática que delas resultaram algumas contusões, cicatrizes, fraturas mas - o que é mais importante - nenhuma dúvida sobre meus pontos de vista.
Ultimamente tenho desfrutado da oportunidade de ver um tipo de comportamento com o qual, confesso, não sou muito acostumado: o jeito covarde de ser.
Fico admirado de ver homens feitos e mulheres, ambos teoricamente adultos e maduros, comportarem-se como camundongos em todos os sentidos. Estas espécimes alimentam-se de restos da felicidade alheia e possuem uma digestão esquizofrênica, eis que necessitam deste alimento para preencherem o seu nada interior, mas ao mesmo tempo revolvem-se em convulsões cujos resultados são - invariavelmente - o despeito invejoso vomitado através de recadinhos anônimos, trotes telefônicos tão espirituosos que refletem exatamente a ralé periférica que os serviu de pobre berço, além de outras ações que demonstram o desejo desesperado de infligir qualquer espécie de aborrecimento - mas que, pela absoluta falta de culhões, acaba aborrecendo seus próprios autores que se remoem de ódio ao se saberem covardes demais para um mano-à-mano.
Sejam homens ou mulheres os pertencentes à esta casta de mendigos morais, o máximo que é possível sentir acaba mesmo sendo uma profunda piedade.
Mulheres que não são ninguém, que precisam desesperadamente se apropriar da personalidade alheia para se sentiram providas de uma honra que por toda a vida lhes faltou, gastam mais tempo criando um câncer na alma do que pensando em sua própria e pobre vida. São aquelas mulheres que crêem-se espertas, que vendem o traseiro por um carro, um apartamento ou uma posição social. E recebem em si a devida recompensa de seus erros, a paga de seu mesquinho michê, por elas apelidado "relacionamento": a companhia de um côrno. E qual mulher digna deseja amigar-se com um chifrudo enganado por ela mesma?
Já o homem deste tipo é mais digno de piedade ainda, pois é o retrato falado do recalque: quer falar grosso mas não consegue (somente escondido através de meios de comunicação ou outros artifícios que impeçam o contato cara à cara), quer socar, bater, mas - suprema humilhação! - sabe perfeitamente o quanto é frouxo; quer botar moral, ser o gostosão, mas tudo o que consegue é comprar companhia - seja pagando um drink ou uma casa - e assim segue sua triste vida, sem realizações e apontando um destino medíocre nas fileiras da velhice precoçe.
Realmente, tenho de agradecer muito por ser quem sou, ter o que tenho e, principalmente, quem eu tenho.
Pois tudo foi conquistado como manda o figurino: com atitudes de macho, olhando no olho.
E qualquer dúvida, todos sabem onde me encontrar.

Vovó já dizia: "O que é de berço, só a tumba tira, meu filho"...
Velha sábia, essa...