quinta-feira, 16 de maio de 2024

CHUTANDO CACHORRO MORTO -


Eu sou o cachorro morto.

Digno de estudos psiquiátricos e sociológicos é o impulso que algumas pessoas sentem em terminar de moer quem já está, publicamente, estraçalhado.

Uns desferem seus pontapés como tardia vingança pelo atrevimento que tive em expor, sem nenhumas reservas, a vida feliz que um dia desfrutei. Outros - não sei se mais ou menos doentes - acertam seus chutes somente pelo prazer sádico de soterrar quem não pode reagir. Em menor número, existem aqueles que agridem pelo simples fato de - mesmo sob tamanha decadência - termos o atrevimento de aparentar um mínimo de dignidade - o que, aos olhos dessa raça, soa como insuportável arrogância.

Nada posso fazer, não tenho meios de reagir sem que minha situação piore ainda mais. Aguento calado, pois, todos os inúmeros e quase cotidianos desaforos e ameaças, respirando fundo e fingindo que não doeu.

Entretanto, sempre bom é lembrar que dor de barriga não dá só nos outros. Os dias passam e tudo pode mudar.

Se e quando isso acontecer, o sangue calabrês falará mais alto. E haverá choro, ranger de dentes; muita gente aos prantos, dizendo-se injustiçada.

Mas somente se e quando o vento mudar.

Até lá, sofro em silêncio.


Walter Biancardine



segunda-feira, 13 de maio de 2024

TEMPOS MODERNOS -


Nos tempos do Império Romano os cidadãos que caíam em desgraça - fosse por atos vis de traição, por conspirarem contra o Imperador ou mesmo por insuflarem revoltas civis - eram banidos de Roma, suas casas demolidas e sal era jogado sobre os escombros para que nada mais nascesse ali. Igualmente, eram apagados da Acta Populi quaisquer registros que incluissem seu nome, eventuais estátuas suas eram derrubadas e sua memória, abolida do Senado.

Note-se que tais atitudes eram reservadas para personagens proeminentes e que cometessem atos além de qualquer perdão. 

Não há como acusar os antigos romanos de rancorosos ou cruéis, pois tais extremos - ao que parece - são inerentes à raça humana: nos dias atuais as relações desfeitas - sejam amizades ou mesmo namoros e casamentos - acabam por resultar no mesmíssimo processo de "abolição da memória", quando maridos ou mulheres, incapazes de admitir seu próprio passado, acabam por bloquear seu (sua) ex no WhatsApp, Twitter, Telegram, Facebook, Instagram e qualquer outra rede social com alguma popularidade.

Abolem o passado, apagam sua memória, jogam sal em seus próprios corações, matando todo o amor que juravam sentir e, por vezes, mudam o nome e endereço - passado morto, enterrado e vendido aos mais próximos como "página virada".

Darwin foi muito otimista em seu evolucionismo, pois atitudes assim mostram que somos os mesmos de 2000 anos atrás: negamos nossos conflitos e cremos, desesperadamente, que os resolvemos.

Para os que ambicionam a felicidade, agir como os antigos romanos é a receita certa para a estagnação bárbara e a morte do próprio coração. 

Fica o conselho: não tenha medo de seu passado. 

Ou jamais haverá um amanhã. 


Walter Biancardine



quinta-feira, 9 de maio de 2024

AOS 60, LEMBREI QUE NOS 80 EU TINHA 20 -

 


"Deixa as vinte?" - era a senha para a socialização dos cigarros e o que mais fizesse fumaça, "rodando na carioca", nos enlouquecidos anos oitenta.

Juventude e hormônios nos traziam a posse de verdades esculpidas em versos, contos, músicas, e mesmo parábolas, pelos mais atrevidos. 

E vomitavamos certezas e absolutos descontroladamente, todos os dias e em todos os lugares, para quem quisesse - ou não quisesse - ouvir. E o Baixo Leblon era o palco.

Pouco provável que sobreviventes destes anos lembrem o que fizeram naquele indefectível e lotado cruzamento de ruas, iluminado pelos neons da Pizzaria Guanabara e outros tantos. Lembrar como chegamos, com quem fomos, é fácil. O que fizemos, quem beijamos, abraçamos ou mesmo com quem fomos embora - ou se fomos embora - são outros quinhentos, para arrematar lembranças tão cheias de números.

Quem, nos dias de hoje, usaria uma sunga de crochê? Quem ainda acharia normal sair da praia já de noite - e o Arpoador era o local - e rumar, corpo salgado mas de carnes firmes, direto para o Baixo? Pior: não era programa de fim de semana, era a rotina de nossos dias (in)úteis.

Éramos eternos, imortais e lindos. Sabíamos de todas as verdades da vida - aliás, ela era nossa - e o futuro estava muito, muito distante. Tinhamos todo o tempo do mundo, e jamais pagaríamos o preço das nossas viagens.

Cazuza quase me atropelou com sua moto, em um ensaio que faziam no colégio Sacre Coeur de Marie, em Copacabana. O Barão Vermelho não existia, eram ilustres desconhecidos mas, sem graça, me presenteou com uns ingressos para suas primeiras e enlouquecidas apresentações. E me ensinou duas lições: que o futuro imprevisível sempre chega e, é claro, que o tempo não para.

O tempo não parou e o futuro chegou, trazendo com ele a overdose de aniversários por mim cumpridos.

Dei sorte. A maioria de meus amigos da época morreu ou enlouqueceu; alguns poucos conseguiram construir uma vida normal - "careta", diríamos na época - e outros, ainda, foram premiados com heranças ou influências paternas em suas colocações profissionais. Não tive nada disso, a minha boa ventura foi manter a sanidade psíquica, a forma física espantosamente em dia e jamais ter sido aprisionado pelos excessos de então, cigarros à parte. E não premeditei, foi pura sorte.

Este é o lado que me traz alegria, mas os dados seguiram rolando, o jogo prosseguiu e, mais de meio século nas costas, me dou conta que nada fiz de marcante: nenhum legado, nenhuma façanha, sem obras primas ou algo digno de se lembrarem de mim.

Não voltarei aos 80 como data, nem os alcançarei como idade; mas enquanto houver bambú haverá flechas - e quem sabe o que o restinho de meus dias poderá trazer?

Aprendí com Cazuza, no Baixo Leblon: o tempo não para. E morrer não dói.


Walter Biancardine


NOTA PÓS PUBLICAÇÃO (10/05/24):

Recebi WhatsApp de um amigo comentando sobre o texto que escrevi, a respeito de nossa desvairada juventude nos anos 80.
Em boa hora a mensagem chegou, pois lembrei do principal: toda essa vida enlouquecida tinha o amparo fundamental de um pai, uma mãe, contas pagas e confortável casa para morar.
Ser maluco com toda essa garantia é fácil.
Doido, sim. Revoltado? Nunca!



domingo, 5 de maio de 2024

VERGONHA QUATRO ESTRELAS: A OMISSÃO CRIMINOSA DE SOCORRO -

As Forças Armadas do Brasil conseguiram superar o triste recorde da outrora gloriosa Polícia Federal e despencaram vertiginosamente, em queda livre, sem freios ou pára-quedas, do céu ao inferno do desprezo - e até mesmo ódio - popular, com rapidez jamais vista.

Não satisfeitas com as declarações desastrosas e alinhamentos verdadeiramente traiçoeiros com a atual ditadura judiciária em vigor, feitas pelo Alto Comando - com destaque especial à birra infantil em  decidir bloquear nas redes sociais aqueles que critiquem a instituição, ameaçando jogá-los à sanha carnívora e arbitrária do STF - todos os responsáveis pelo Alto Comando das três Forças, de motu proprio, mergulharam de cabeça no pior dos lamaçais: serem os causadores da morte de centenas de crianças, idosos e adultos que esperavam um resgate que jamais veio, ilhados na maior tragédia humanitária já acontecida no Rio Grande do Sul.

Não só este resgate nunca chegou - desculpas pífias como "as estradas estão alagadas e não podemos passar" foram a tônica, sem jamais lembrarem-se que estes mesmos caminhões foram projetados para trafegar em quaisquer condições, bem como o "esquecimento" em utilizarem helicópteros - como, pasmem, decidiram bloquear civis munidos de botes, canoas, jetskis que voluntariamente arriscavam suas vidas em operações de salvamento, exigindo "habilitação para a condução" de tais embarcações - e isto é assassinato premeditado, com dolo explícito e requintes de crueldade e tortura para aqueles que, empoleirados nos tetos de suas casas, viram as águas subirem até os alcançarem e levarem-nos para a morte

Impossível acreditar em incompetência militar, desorganizações na logística ou carência de meios (viaturas, helicópteros ou mesmo contingente) pois, por muito menos - a vergonhosa perfídia do 8 de janeiro em Brasília - demonstraram um planejamento e coordenação cinicamente impecáveis, mobilizando um imenso contingente de praças fardados para levarem presos - sob a pútrida mentira que "os deixariam em um lugar seguro" - velhinhas com a Bíblia nas mãos, inválidos e multidão que chegou aos quatro dígitos de gente, cujo único crime foi protestar rezando o Terço.

Ainda não foram divulgadas notícias se este mesmo Alto Comando assassino estaria, de algum modo, tentando impedir atitudes humanitárias como a do empresário Luciano Hang (dono da Havan), por exemplo, que disponibilizou seus três helicópteros para tentar resgatar o maior número possível de vítimas do desastre - mas o auxílio jurídico da mais inconstitucional das Cortes, o STF, pode ser providencial: não duvidem se Alexandre de Moraes baixar algum decreto que simplesmente impeça o socorro prestado por cidadãos comuns - sim, algumas prefeituras gaúchas já fazem isso e seria coerente com sua fala recente, verdadeiramente autocrática, de que "anunciaria medidas para o Rio Grande do Sul".

Na rede X, antigo Twitter, a catarinense Larissa de Luca divulga que, em alguns lugares, as águas já chegam ao quinto andar dos prédios, enquanto o Alto Comando positivista de nossas Forças Armadas delicia-se em sua vingança contra o povo brasileiro e Alexandre "o Glande" exibe, para quem quiser ver, a realidade de quem manda, de fato, nesta pobre ditadura.

Vivemos uma inegável anomia institucional, onde não somente as forças de segurança como, igualmente, todo o estamento burocrático vive seus dias sob o único propósito de consolidarem a mais tenebrosa e soviética das ditaduras já impostas nas Américas - é apenas uma questão de tempo até que o impensável de hoje seja nosso pesadelo - e causa mortis - de amanhã.

Obviamente a brutalidade da atual conjuntura, amparada pelo recurso recorrente e impune à pura e simples ilegalidade, não será exorcizada por meios institucionais (lembrem-se: não temos mais instituições, o Congresso está fechado pela força do dinheiro e do STF) pacíficos e ordeiros. A melhor e mais "tranquila" solução que podemos conceber será a vitória de Donald Trump nos EUA e algum auxílio externo (norte americano) que nos salve de tais absurdos - e mesmo assim haverá choro e ranger de dentes.

Não há como impor o impeachment de onze ministros do STF, de três oficiais dos Altos Comandos das FFAA, dos presidentes da Câmara e do Senado, do Presidente da República e de mais um batalhão de militantes infiltrados em todas as nossas instituições - seria o mesmo que pretender resolver o problema de uma casa infestada por baratas matando-as, uma por uma, com um chinelo.

Um novo Tribunal de Nuremberg seria necessário mas - peculiariedades brasileiras - não temos homens honestos em quantidade suficiente para tal empreitada, a verdadeira dedetização que poderia resolver a realidade felliniana em que vivemos. E o quê nos resta?

Desde que Jair Bolsonaro começou a declarar que tudo teria de ser resolvido "dentro das quatro linhas da Constituição", discordo e escrevo em meus artigos que Moisés não teria libertado os judeus do Egito se obedecesse as ordens de Faraó. Somente um povo em combate, firmemente decidido a derrubar a atual ditadura, seus sequazes e militantes, poderá - talvez - resolver. E não se iludam: nossas "gloriosas" Forças Armadas estarão à postos, prontas para defenderem os ditadores e seus inúmeros filhotes, pendurados em suas generosas tetas. Será, portanto, um combate duro e que certamente custará o sangue (como já previra o Gen. Figueiredo no passado) de milhares de brasileiros.

Parece que, ao menos, as máscaras caíram e as FFAA finalmente revelam sua verdadeira e tenebrosa face positivista (ideologia prima-irmã do comunismo), a qual denunciei, tempos atrás, em meu livro "Mais Olavo Menos Oliva", impresso pela editora Clube de Autores e com o link postado nesta minha página pessoal, basta procurar na coluna do lado direito.

O que nos resta fazer é tentar - ao menos tentar - salvar a vida de nossos irmãos gaúchos e desobedecer, descaradamente, toda e qualquer ordem advinda de guarnições militares. Você tem uma canoa? Vá, e que se dane. 

Milhares de brasileiros estão em vias de morrer, outros tantos já pereceram - alguém disse, no local, que após as águas baixarem a cidade se tornará um verdadeiro campo de batalha, com milhares de cadáveres espalhados pelas ruas - enquanto Lula bebe, Janja desfila com Anitta no show da Madonna e Alexandre, "o Glande", masturba-se para sua própria onipotência, diante do espelho.

Algo precisa ser feito e não podemos ser como nossos inimigos: simplesmente omissos.

Se você tem um mínimo de condições, vá e faça! Por nossos irmãos gaúchos, por sua honra, sua família, pelo Brasil e por Deus!


Walter Biancardine



Fonte do vídeo: depoimentos colhidos pelo canal VISTA PÁTRIA, no YouTube



sexta-feira, 26 de abril de 2024

Aрбузы ("Melancias", em russo) -


Mal acabo de escrever artigo sobre o tanto de poder oculto por trás dos descalabros do Ovo togado, e recebo a notícia de xilique fardado expedido pelo General Tomás Paiva, afirmando que não tolerará críticas às FFAA, e que encaminhará os casos ao STF.

Parece que, desta vez, a mente criminosa de José Dirceu trilhou os passos certos, cooptando os altos oficiais que ele, até recentemente, lamentava-se não haver feito.

O que temos agora não é o Ovo dobrando a aposta contra Elon Musk, e sim o sistema deixando claro que a ditadura veio para ficar e que, se necessário, usará a força das armas contra os descontentes.

As FFAA brasileiras são useiras e vezeiras em apoiar ditaduras avermelhadas - basta ver o que fizeram após depor João Goulart: implementaram 99% de suas propostas e fizeram vistas grossas à infiltração comunista no sistema de ensino, nas instituições, na mídia e ainda deram dinheiro para cineastas esquerdistas e editoras de mesmo teor.

A infeliz declaração de tal melancia fardada mostra a evidencia do cerne positivista - primo irmão do comunismo - da caserna, sem corar por sua passividade bovina ao serem xingados e caluniados nas piores formas possíveis pela esquerda, mas repentinamente se tomando de brios ao serem desprezados pelos conservadores e direitistas.

Tão macabra é a situação nas casernas que o Alto Comando da Marinha quer punir o comunista Lindbergh Farias (ora, ele é "da turma"!) por pretender homenagear os marinheiros revoltosos do triste episódio da "Revolta da Chibata", sublevados contra os castigos corporais impostos aos marinheiros naquela época. 

Segundo a Marinha, "não é hora de permitir pensamentos revoltosos de insubordinação na tropa" - o que só corrobora a tese que expus em meu livro "Mais Olavo, Menos Oliva", afirmando que o positivismo avermelhado contamina apenas o Alto Comando: suas patentes medianas e inferiores são, em sua maioria, como nós: conservadores.

O quadro que temos, neste momento, é o seguinte: um Alto Comando alinhando-se à uma ditadura comunista e temeroso com possível insubordinação de seus oficiais e praças.

Quem dobrou a aposta não foi o Ovo e sim o sistema.

E isso pode terminar em guerra civil.


Walter Biancardine



OVO PRESIDENTE ou PAX ALEXANDRINA

 


Muito se discute sobre os desaforos constitucionais e a audácia infinita de um dos personagens mais sinistros da atual República Ditatorial do Brasil, com tempo precioso sendo utilizado em especulações sobre possibilidades de retaliações, punições ou outros itens da extensa prateleira de vinganças pessoais disponíveis no mercado.

Aparentemente o foco é castigar o líder do Soviet Judiciário Supremo, com poucas – ou melhor, inexistentes – preocupações sobre o que está por trás de tamanho atrevimento desta cínica e negra toga, verdadeiro símbolo de um impensável – para os incautos – totalitarismo verde e amarelo. E, dada a cegueira juvenil que grassa entre analistas políticos das redes sociais e mesmo em alguns poucos e corajosos jornais, creio ser conveniente considerar algumas hipóteses que exporei abaixo, para que todo o sofrimento atual não se resuma a um simplório desejo de vingança o qual, uma vez satisfeito, concederá ao vigente e perverso sistema, a permissão de manter-se no poder.

Audace, audace...toujour l'audace...

Antes de mais nada não podemos esquecer que um projeto de poder dirige o Brasil. A esquerda jamais elaborou ou mesmo preocupou-se, verdadeiramente, com qualquer coisa que lembre um projeto de governo. O que a motiva não é o "governar", e sim "o poder" puro e simples.

Por mais que malabarismos filosóficos e ideológicos se esforçem em divorciar o socialismo, a centro-esquerda ou o progressismo do carnívoro comunismo marxista, todas as vertentes tem em comum os genes da revolução e do exercício arbitrário do poder. Ainda que existam bibliotecas colossais de obras redigidas com o fim de impor a crença em tal divórcio - como fossem ideologias diferentes - a simples constatação sobre sua origem em comum e de assumirem classificações como "ideologias" já serão suficientes para que os mais avisados enxerguem o verdadeiro valhacouto de sociopatas, que são tais pensamentos¹.

"Ganhar eleições é uma coisa, ter o poder é outra", disse recentemente um dos membros da Junta Ditatorial, que hoje nos governa.

Tal poder não foi obtido nas urnas, por mais obedientes que as mesmas sejam. O mesmo é oriundo de uma longa preparação, de anos intermináveis de aparelhamento ideológico estatal, institucional, religioso e do sistema de ensino, sempre amparados pela então única voz da verdade, a grande mídia: "se deu no jornal, então realmente aconteceu" - este foi o pensamento dominante do povo de qualquer país até o advento da internet, que extinguiu tal monopólio.

Ainda assim, temos diante de nós o assustador - e sempre ignorado - quadro de um sistema de opressão verdadeiramente escravocrata, composto por personagens terríveis e poderosos, alguns deles enumerados abaixo:

1 - Sistema de ensino;

2 - ONG's;

3 - Movimentos sociais;

4 - Instituições (governamentais, igrejas, etc.);

5 - Crime organizado internacional;

6 - Metacapitalistas (George Soros, Klaus Schwab, Bill Gates, etc.);

7 - Grande mídia, indústria cultural e do entretenimento;

8 - Obediência a "blocos de poder" (Globalismo, Eurasianismo, Califado Mundial Muçulmano).

Discorrer sobre o aparelhamento do sistema de ensino, das instituições, ou mesmo a respeito das interferências da grande mídia e dos metacapitalistas em nossa realidade nacional seria chover no molhado, já que muita gente boa já denuncia tais ações e personagens - sem jamais, entretanto, ligá-los diretamente à um sistema de poder, composto aqui no Brasil por partidos políticos, traficantes de drogas e um descapilarizado e atrevido cidadão togado, que ora ocupa o centro de nossas atenções. E isso é preocupante, sempre me fazendo questionar as razões de não unirem os pontos. Medo? Prudência? Ou simplória ignorância?

Posso, entretanto, comentar sobre outros atores - sempre esquecidos ou subestimados - do horroroso cozido citado, e cito aquilo que a blandícia jornalística costuma chamar - apoiada por políticos - de "sociedade civil organizada": as ONG's e os movimentos sociais, colocando-os juntos por serem, ao fim e ao cabo, apenas seis e meia dúzia - ou seja, a mesma coisa.

Ligando os pontos

Ambos adotaram com sucesso o princípio criado por Karl Marx e sua fantástica droga sintética chamada Ditadura do Proletariado: a tese é levar os proletários, o povo, ao poder. Entretanto, evidentemente seria uma temeridade convocar toda uma população para decidir sobre os mais comezinhos atos administrativos e, por isso, seriam instituídos os "Comissários", que representariam toda essa choldra de gente chamada "povo", e decidiria por eles - até aí, nada diferente de uma Câmara de Deputados, com exceção do fato de que os mesmos seriam escolhidos pelo "chefe dos Comissários" - sim, pois haveria de ter alguém que coordenasse tudo! - e que tanto o chefe quanto seus subordinados jamais seriam substituídos, afinal, eles eram "o povo no poder"!

A "sociedade civil organizada", seja em ONG's ou em movimentos sociais, funciona exatamente da mesma maneira: exibe-se uma cenoura diante do burro (oferece-se uma proposta ou ideia tentadora, que represente vantagens financeiras ou atenda a idiossincrasias pessoais) e recruta-se, deste modo, milhares de pessoas - agora finalmente chamadas de "povo" - para, através de seus altos níveis de adesão, conferirem à proposta um peso numérico, uma "expressão da vontade popular" agora já recheada de peso político, peso este representado unicamente pela quantidade - nunca qualidade - de pessoas apoiadoras.

E então caímos no mesmo problema dos marxistas primatas - perdoem, primitivos - sobre quem, afinal, coordenará tudo isso.

Ao fim de todo o engôdo, entidades representantes da "sociedade civil organizada" acabam por ser pura e simples massa numérica de manobra, nas mãos de um indivíduo ou pequeno grupo, que as utiliza para a obtenção de seus propósitos pessoais ou corporativos sob a capa de "vontade do povo" e que, tal qual os antigos comissários, jamais sairão de seus postos de comando.

Tal e qual são as ONG's, com pequeno e perigoso diferencial substanciado pela possibilidade de apoio financeiro de governos, grupos privados e a concessão - obtida destes mesmos governos financiadores - de atuação monopolística e verdadeiramente feudal sobre áreas cada vez maiores e mais importantes do território nacional.

Ora, tanto o governo quanto os grupos econômicos (mal distinguem-se uns dos outros, em nosso capitalismo verdadeiramente fascista²) são a última instância diretiva de tais organismos, e os utilizam para a consecução de seus objetivos - a instituição ou consolidação de um sistema ditatorial de poder, por exemplo. A grande mídia, por fim, encarrega-se de transformar tal teatro de marionetes em "apoio popular" às mais abstrusas formas e métodos de governo, sempre escoradas em "pesquisas de opinião pública" ou na cobertura descaradamente favorável a eventos, "protestos" ou manifestações de tais grupos. E se você não consegue enxergar pontos de contato com sua realidade cotidiana, lembre-se da "associação de bairro" de onde você mora (e seus apoios ou repúdios velados a determinados entes políticos) ou das ONG's sempre assíduas em frequentar matérias do Jornal Nacional (por vezes até com o cantor Sting visitando indígenas em uma área onde brasileiros não tem permissão de acesso e que, por coincidência, são riquíssimas em minérios ou biodiversidade) e descaradamente louvadas por emissoras de TV, políticos esquerdistas e até levando índios para protagonizarem danças rituais com nosso conhecido Ovo Togado.

Seria demais especular se alguns indígenas (humanos, demasiadamente humanos, diria Nietzsche), de algum modo favorecidos, impusessem uma contrapartida na dificuldade de atuação da Polícia Federal em suas reservas? Afinal, nem só de aviões vive o tráfico de drogas e o mesmo - basta ver no site do Foro de São Paulo - é figura atuante e poderosa na geopolítica da América Latina.

Descendo um pouco o nível, não apenas na geopolítica da América do Sul, mas igualmente em nossos desejos eleitorais verde-amarelos - afinal, não só financiam partidos políticos brasileiros como - verdadeiro troféu - podem exibir conhecido careca como um de seus (ex?) advogados, e estou falando do PCC.

Nosso buraco é mais embaixo

Parece que agora sim, temos finalmente um ponto de contato entre tanto palavrório intelectualóide e nossas desgraças cotidianas, e se o leitor viu sentido nisso tudo, será forçado a admitir que as verdadeiras forças por detrás da tirania suprema que nos aflige é o tráfico de drogas, o Foro de São Paulo, e tudo isso secundado e comandado - acirrada disputa - por globalistas e eurasianistas, ampla parceria que vai de Vladmir Vladmirovicht Putin até George Soros e Bill Gates, dando antes uma passadinha na mansão de Pablo Escobar e do Cartel de Los Soles.

Pergunta pornográfica: e onde entra o Ovo, nisso tudo?

É pública e notória a clamorosa perda de poder da esquerda no Brasil, iniciada por Olavo de Carvalho e endossada por Jair Bolsonaro - não há como contestar ou combater, dentro dos limites da razão. E isso desagradou (leia-se "deu um baita prejuízo, perderam bilhões de dólares") aos grupos que sempre ocuparam o poder em nosso país. Tais grupos lá estão desde a instauração desta infeliz República e não seriam quatro míseros anos de Bolsonaro - ainda que fortemente amparados por, ao menos, dez anos de um Olavo de Carvalho furioso, tentando abrir os olhos tupiniquins - que os removeriam de lá.

Estes grupos e seus sócios internacionais não podiam mais contar com um ex-presidiário, alcoólatra em fase terminal, cuja única arma era o apoio popular - ainda que metade do mesmo fosse fabricado pela mídia. Era preciso achar alguém que, diante da impossibilidade racional de vencer por argumentos, impusesse pela força e brutalidade os meios necessários para mantê-los no poder - e o senhor Michel Temer criara, em seu castelo na Transilvânia, o monstro necessário para tal tarefa, colocando-o no Supremo Tribunal Federal - local preparado adrede por pífia, confusa e marxista Constituição Federal, parida por cripto-comunistas contumazes como Ulisses Guimarães e Tancredo Neves, que impunha o parlamentarismo (soviete) em presidencialismo, sem sequer corar com isso.

Mais que corajoso, o Ovo é louco. Verdadeiro sociopata com delírios de grandeza, ostenta como pior de seus defeitos a pretensão absurda - gerada pela sempiterna bajulação do poder - de chegar à Presidência da República, mas nunca pelos meios tradicionais. Não, o Ovo é louco, quer o poder absoluto e metade de sua audácia temerária é o caminho que traçou para chegar ao trono via "estado de exceção", e lá permanecer ad nauseam.

De fato, temos um caminho já traçado para nos preocupar: ele controla o STF, controla o TSE e suas urnas mágicas, controla os meios de comunicação (agora o Judiciário premia a TV Globo com um troféu, pelo seu engôdo do 8 de setembro) e controla - via processos engavetados - políticos que vão de deputados até o Presidente da República, sem esquecer os presidentes do Senado e da Câmara.

Mas, como eu disse anteriormente, o Ovo é louco e passou dos limites.

O fato de ter um Bill Gates, um Mark Zuckerberg e seu Facebook, WhatsApp ou mesmo YouTube como parceiros de ditadura mexeu com seu frágil equilíbrio emocional, e passou a entender os mesmos como "submissos à sua autoridade". Daí a fazer tábula rasa e considerar Elon Musk como apenas um "rebelde birrento, merecedor de uns corretivos", foi um pulo.

Ainda é cedo para dizer se este pulo quebrará as pernas do Ovo e se o mesmo será defenestrado do STF, mas é importante lembrar antes do inevitável carnaval, subsequente à queda do descapilarizado, que ele é (ou foi?) apenas um mero instrumento - enlouquecido pela soberba e planos pessoais, é verdade - de um sistema infinitamente maior e sua queda, nem de longe, significará o fim desse sistema. Existem outros para ocupar seu lugar, alguns com apetite evidente - tal como Flávio Dino - e se o impeachment vier a acontecer, o máximo que veremos é uma guerra interna de quadrilhas: o calvo PCC sendo obrigado a dar a vez a um CV cada vez mais obeso.

Putin, Kin Jon Yun, George Soros, Bill Gates, Zuckerberg, Ford Foundation ou mesmo a Escola de Frankfurt se resumirão a assinar o cheque do FGTS do careca e vida que segue. Tudo como dantes, no quartel de um Abrantes positivista, carreirista e venal, cuja única função é pintar meio-fios.

O Brasil tem tudo o que o mundo inteiro precisa, desesperadamente. Existe todo um sistema poderosíssimo, enorme e podre, que precisa ser derrubado - e dificilmente faremos isso dentro das quatro malditas linhas da maldita Constituição.

Pense nisso, antes de comemorar o Ovo caído.



Walter Biancardine

(1) - Toda e qualquer ideologia apenas reflete os desejos e opiniões de uma pessoa ou grupo, sobre não apenas a forma de governo vigente como, inclusive, seus padrões morais e valores. Ora, aqueles que não se adaptam ao meio social vigente são catalogados pela medicina como sociopatas. Esta é a grande diferença do conservadorismo, pois não é nem nunca foi ideologia: é apenas o resultado de milênios de convivencia do homem, em sociedade. O que é bom, preserva-se. O que é ruim, modifica-se.

(2) - O capitalismo fascista é, infelizmente, o adotado no Brasil desde o advento da "redemocratização". Consiste no conluio entre governo e grandes grupos - até com troca de funcionários entre eles - e o recebimento de benesses e privilégios, em troca de financiamento de campanhas e etc, inclusive vedando o crescimento de novas empresas via impostos, excessos trabalhistas e outras armadilhas legais. Hitler o criou na Alemanha, mas é amplamente adotado em muitos países emergentes. Quem não se lembra, no Brasil, de Lula e seus "Campeões Nacionais"? (JBS, Friboi, Odebrecht e outros)







FAZUELI, CABO FRIO!


Nas últimas eleições para prefeito, havia um empate. Eu estava com as pesquisas na mão e via isso. Mas no último momento, houveram "boatos" que volumosa "pasta" havia chegado às mãos do partido ao qual falecido cidadão, candidato, era filiado e o mesmo, para surpresa de ninguém, venceu o pleito.


Tal partido é filiado ao Foro de São Paulo - entidade supranacional que congrega ditadores, traficantes de drogas, crime organizado e ONG's milionárias - e, em seus quadros, havia um candidato à Presidência da República. Sim, um pretendente conhecido por seu destempero e por um irmão que tentara passar em cima de outras pessoas com uma retro escavadeira.

Este narco-partido precisava da vitória em Cabo Frio, para que os dinheiros da prefeitura impulsionassem seu candidato em Brasília. Todos sabiam, todos foram avisados e sabiam, principalmente, não apenas do triste estágio terminal de seu prefeito doente como de sua única e financiadora função à frente de nosso município. Todos sabiam, e nada fizeram - pelo contrário: a esquerda, sempre refém de seu epicurismo incurável, festejou sem pejo.

Mas a esquerda é o refúgio ideológico das ditaduras e sempre - sempre - volta-se contra si mesma, quando os "contra pesos" não são mais necessários. E o artista Caó (pouco importando em quem votou mas, como artista, sempre esquerdista) foi a mais recente vítima.

Longe de mim pretender abordar a obsessão financeira característica de todo esquerdista, superior a de qualquer capitalista, mas o fato é que agora o pobre artista caloteado chora.

Tal qual o pobre povo cabofriense chora com os resultados da passagem de falecido prefeito pela cadeira mais importante da cidade, e chora mais ainda pela presença insípida, inodora e incolor de sua vice - alçada ao cargo após o falecimento mais que previsto (embora sempre triste e doloroso) do titular do cargo.

Não adianta chorar, Cabo Frio. Não adianta chorar, esquerda demoníaca. Vocês plantaram, vocês colheram.

A única coisa que resta ao povo de Cabo Frio é mostrar que não tem compromisso com o erro e pensar, cuidadosamente, em quem votará nas próximas eleições. Não reclame que nossa cidade está um lixo, ela é fruto de décadas de governos esquerdistas. Tenham vergonha na cara, libertem-se desta "síndrome de Estocolmo" e votem no que é certo.

Quanto ao pobre Caó, uma dica: a boa arte vende-se sozinha. Esqueça o mecenato dos governos.

Isso é doença esquerdista primária, conto do vigário gramscista, e você caiu.

Exponha suas obras e venda-as a particulares. O dinheiro privado é sempre mais honesto que os dinheiros públicos.

Walter Biancardine



domingo, 31 de março de 2024

REFLEXÕES DE UM DOMINGO DE PÁSCOA -

 


A Páscoa possui um significado particularmente marcante para mim, pois nesta data batizei-me tardiamente, puxado pelas orelhas por Santa Therezinha de Lisieux.

Mais que limpar-se de uma vida de erros, o batismo – tal qual o domingo pascal de hoje – representou um real renascimento para mim. Mal compreendido por uns, gerador de expectativas frustradas para outros, esta ressurreição pessoal custou-me um preço exorbitante, doloroso, mas vejo por fim ser impossível arrepender-me.

Vivendo este dia, cujo significado pessoal reputo possuir algo além do usual, achei-me particularmente disposto a escrever, produzir artigos e exercer o simples desejo de contribuir para que outras pessoas compartilhem pontos de vista e observações que considero importantes. Se para mim funcionou, talvez funcione e ajude outros igualmente.

Os mesmos seguem abaixo.


A POBREZA TEM SOLUÇÃO?

Um problema insolúvel não é um problema, é uma contingência.

O "problema social", "problema da pobreza", tudo isso é histórico e contingente à condição humana.

Políticos, filósofos, intelectuais e mesmo setores da igreja que conclamam "soluções", ou dizem possuí-las, para tais questões - apresentadas como "problemas" - não são nada além de fraudes, aproveitadores carreiristas ou singelos proclamadores de sua própria ignorância.

Quando não há solução, sempre restará a misericórdia.


SEM TÍTULO -

Neste domingo de Páscoa lembro que, ao menos por três dias, Nietzsche esteve certo: "Deus está morto", escreveu.

Até o mais miserável dos pecadores merece a misericórdia.

Agnus Dei, quis tollit pecatus mundi, miserere nobis.

Kirie Eleison


SEM TÍTULO II -

É fácil compreender o mundo e solucionar todos os problemas quando somos progressistas.

A causa é a burrice apoteótica do marxismo, que a tudo simplifica, dividindo conflitos em "nós" e "eles" e tornando tudo palatável, com "figurinhas para colorir".

Apenas a mais reles semântica.

O esquerdismo é burro.


A Palavra de Deus - A Revelação:

As Escrituras e a tradição da Igreja, ensinando ao longo dos séculos o que não está registrado nas Escrituras, compõem a Palavra de Deus, ou seja, a soma das Escrituras e da tradição é a Palavra de Deus.

O Magistério da Igreja Católica é o intérprete legítimo disto, e este é o tripé da Igreja e da fé cristã.

Ora, a teologia se extrai a partir deste Magistério mas, por razões outras, iniciou-se um movimento para se obtê-la a partir de outras óticas. E estas outras óticas podem ser as mais diversas e absurdas possíveis, tais como vê-las sob o ponto de vista dos pobres (teologia da libertação), dos gays, dos gordos, dos sem-terra e por aí em diante; tudo que fomente uma reflexão que quebre com a tradição será válido.

Um exemplo claro de tal pensamento - que fizeram de padres meros "coaches" motivacionais ou militantes ideológicos - é a "Campanha da Fraternidade 2024", elaborada por um sindicato de padres militantes chamado CNBB.

Quem se der ao trabalho de ler tal publicação, incansavelmente anual, verá que mais parece uma cartilha do PSOL, em suas exposições.

Hoje, é público e notório que a CNBB é o marxismo dentro da Igreja e que é dever, obrigação do verdadeiro católico, denunciar, combater e demonstrar publicamente seu repúdio à estes elementos - travestidos de sacerdotes - para sanear a Igreja.

O próprio Santo Tomás de Aquino já conclamava os fiéis a este bom combate, dizendo que "toda reação, se destinada a restabelecer a verdade, não só é correta como necessária.

Quem realmente possui algum estofo intelectual saberá que somente salvando a Igreja Católica, salvaremos o Brasil.


MISSA NÃO É FESTA -

Aplauso em uma missa, não importam as razões, é estupidez qualificada.

A missa é o ato de reviver o sacrifício de Jesus. Ora, e quem - fariseus à parte - aplaudiria o Cristo crucificado?

Não à toa as missas tradicionais (missas tridentinas, recomendo) tem, como única música, um soturno e transcendente órgão - nada de violões, baterias ou palmas.

Lembro tudo isso para manifestar minha estranheza, ao ver o padre de minha cidade conclamar os fiéis a aplaudirem o Cristo ressuscitado.

Pouco importa sua boa intenção: o estimado sacerdote esqueceu-se do caráter sacrificial desta liturgia, cedendo - na melhor hipótese - à postura de "coach motivacional".

Recomendo aos que me leem buscar, no Google, as igrejas de rito tridentino em seus estados.

É rezada em latim, segue a liturgia pré Concílio Vaticano II e o sacerdote está de costas para os fiéis, nunca para o altar de Deus.

Entendam: não se trata de condenar iniciativas como a Renovação Carismática, este é um outro assunto e merece artigo à parte. O que intenciono é vacinar o irmão católico, mostrando como é a liturgia tradicional, e imunizá-lo contra as inovações ce-ene-be-bistas (CNBB) que contaminam muitas paróquias em nosso país.

Irmão católico, salve sua igreja e você salvará o Brasil.


SOBRE COMO UM PRÉ-CONCEITO PODE ATROFIAR O PENSAMENTO -

Jamais escondi minha admiração e dilecção pelo filósofo francês Jacques Maritain.

Pensador profundíssimo, fui por ele cativado tal qual um leitor deixa-se seduzir pela capa de um livro, e a publicação que me chamava atenção era sua orientação tomista, pois Santo Tomás de Aquino – creio que todos sabem – é um dos objetos perenes de meus estudos. E este foi o pontapé inicial, para que eu mergulhasse em suas obras e pensamentos.

Portador de orientação católica, as obras deste filósofo influenciaram o conceito europeu de Democracia cristã – um conceito amplamente discutível mas que eu, em minha inocência intelectual de simples jovem dos anos 80, nada via de mal – pelo contrário.

Maritain escreveu mais de sessenta obras e é considerado por alguns como um dos pilares da renovação do pensamento tomista no século XX – o que não consigo concordar plenamente – e por outros, como inspirador ideológico das democracias cristãs na América Latina. Talvez nisto resida a explicação para a difusão de muitas obras suas, em um Brasil particularmente avesso à filosofia e cultura.

Segundo sua biografia, o filósofo nasceu em Paris em 1882, num ambiente familiar republicano e antiliberal, e morreu em Toulouse, 1973. Seus pais, Paul Maritain e Geneviève Favre, não o quiseram batizar – uma estranha coincidência com vicissitudes de minha própria vida, que tive de batizar-me de motu proprio.

Maritain estudou Filosofia na Sorbonne, onde prevalecia uma orientação positivista e ateia, pouquissimamente recomendável para a formação intelectual de qualquer pensador. Em Heidelberg conhece o poeta Charles Péguy e Raissa Oumansoff, uma imigrante judia cheia de intensa inquietude pela verdade, com a qual contrai matrimônio civil em 1904 em Berlim.

Maritain não encontrou no cientificismo da Sorbonne, onde estudou, as respostas para as suas inquietudes existenciais, o que o fez sintonizar-se com a aflição existencial de Raissa. Ambos decidem se suicidar – um comportamento explicitamente existencialista – mas, seguindo o conselho do seu comum amigo Peguy, o casal segue cursos com Henri Bergson, e apreendem dele o "sentido do absoluto", que será incorporado na peculiar metafísica "maritainiana". Trajetória estranha e arrítmica, que ora decide dar cabo de suas próprias vidas e, logo após, embrenham-se em cursos e aprendizados filosóficos.

Mas tarde conhece Leon Bloy, que o aproxima da Igreja Católica a ponto de converter o casal ao catolicismo e se tornar seu padrinho de batismo.

Acontecimentos posteriores levaram-no a se tornar um ácido crítico ao partido Democrata Cristão – quase uma obra sua – preferindo a criação de um movimento democrata-cristão que transcendesse os três partidos católicos franceses, local que adotara para viver. Seu pensamento teve profunda repercussão na América Latina, onde o "maritanismo" foi importante para as democracias-cristãs, mãe parideira de teatralidades políticas tais como Fernando Henrique Cardoso, PSDB e outras tristes lembranças – ainda ativas, contudo – na cena política brasileira.

Entre os autores influenciados por suas ideias estão Gabriela Mistral, Victoria Ocampo, Esther de Cárceres, Alceu Amoroso Lima, Gustavo Corção e Mário de Andrade – e esta breve lista nos fornece mais uma explicação para a difusão de seu pensamento em nossas terras.

O pensamento de Maritain provém de espírito positivista da Sorbonne e isso, entretanto, não me impediu de admirar a profundidade intelectual deste filósofo. O fato é que, após seu encontro com a filosofia de Bergson, na França, ele recupera suas esperanças na metafísica e a constrói, em seu modo sui generis.

Graças a sua esposa – paradoxalmente uma judia – e a Charles Peguy, conhece a Leon Bloy e se converte ao cristianismo, como já disse. Mas, neste contexto, conhece um dominicano (Padre Clérissac) que o aproxima da obra de Santo Tomás e, posteriormente, de Aristóteles.

Vivendo na França, cercado de todos os venenos filosóficos que o século XX fartamente produziu e de alguns de seus autores, encontrou naquele ambiente várias heresias: o modernismo, a teologia liberal, o personalismo e o pensamento social entre outros, além da alarmante iminência da eclosão da Segunda Grande Guerra. O período entre as guerras – Primeira e Segunda – é muito carregado de questionamentos da realidade e de procura existencial mas, tendo enfim se aprofundado na filosofia, estaria destinado a influenciar a ideologia da democracia-cristã.

O propósito deste artigo é mostrar, para aqueles que me seguem, que é possível divergir sem abominar e que existem alguns poucos autores, dos quais é sempre possível extrair contribuições e acréscimos, na construção de nosso intelecto, sem que venhamos a adotar seu pensamento na integralidade.

Em um momento excessivamente dualista como o que vivemos, onde a realidade é apresentada como binária – bem contra o mal – será pouco provável algum progresso intelectual, adotando-se esta postura. E não se trata de dar voz ou palco à "perniciosidades" já amplamente divulgadas mas, sim, utilizá-las discretamente em nosso favor, em nossas proposições dialéticas particulares e que podem – por quê não? - parirem teses filosóficas sadias.

Caso perguntem se recomendo a leitura de Jacques Maritain, responderei tal qual um comercial de bebidas: aprecie com moderação.



Walter Biancardine




sábado, 30 de março de 2024

BEBEDEIRA


Existem homens que passam uma vida bêbados de si mesmos;

Bêbados de suas vontades, de suas birras, de seus mimos e caprichos.

Aparentam lucidez, ponderação e bom senso, mas é a moeda que usam para pagar o próximo engradado de um ego em garrafas.

E seguem os dias de festa, o eterno brinde solitário, até que a sobriedade da desgraça os faça cair - não "em", mas "de" si.

E terão o resto de seus miseráveis dias de velhice e solidão para curar a ressaca de sua existência;

Que se evaporou como álcool. 


Walter Biancardine

quinta-feira, 28 de março de 2024

JÁ DISSE E REPITO: MAIS OLAVO, MENOS OLIVA!

As declarações absurdas do presidente do Superior Tribunal Militar (STM), Tenente-Brigadeiro do Ar e ministro Francisco Joseli Parente Camelo, afirmando candidamente que "a esquerda só quer um Brasil melhor", apenas corrobora toda a longa demonstração do verdadeiro e pernicioso caráter da instrução militar fornecida ao Alto Oficialato, que fiz em meu livro "Mais Olavo, Menos Oliva" https://clubedeautores.com.br/livro/mais-olavo-menos-oliva-2 .

Neste livro, demonstrei claramente o positivismo que empesta a caserna e tracei um comparativo ideológico, através do qual pode-se ver claramente que comunismo e positivismo são consanguíneos. O infame Brigadeiro, de motu proprio, endossou minha tese ao declarar - em tom quase de deboche - que "as pessoas tem mania de pensar que ser de esquerda é ser comunista. Isso não existe. Ser de esquerda é querer um Brasil melhor, um Brasil mais solidário, um Brasil mais próspero, um Brasil que pensa no mais pobre, é tudo isso que a esquerda pensa. Ser de esquerda não é ser comunista e o comunismo, para mim, não existe no nosso País”,

Para aqueles que ainda pensam em Bolsonaro como um covarde, que não soube se valer das Forças Armadas na hora certa, fica o lembrete que as mesmas jamais estiveram à serviço do povo brasileiro - basta ver o golpe de estado em que derrubaram o Imperador Dom Pedro II, amado e respeitado por brasileiros e estrangeiros - e instituíram, de cara, uma ditadura militar.

Para que um próximo Presidente conservador consiga de fato impor o pensamento dominante da maioria dos brasileiros, será necessária uma profunda reformulação, que não cabe neste pequeno artigo - apenas adianto, à título de "spoiler", que a destituição de todo o Alto Oficialato deverá ser sua primeira atitude.

Mais tarde desenvolverei este assunto.


Walter Biancardine



terça-feira, 26 de março de 2024

NÃO HÁ RELÓGIOS, NÃO HÁ LUGARES - APENAS RESPOSTAS

Manter-se raso talvez seja a melhor maneira de evitar o assombro diante do inefável, devidamente aquilatado por mente mais profunda, e que sequer seria reconhecido como tal por temerosos.

O que deve acontecer se dá sem hora marcada, sem local solene, conjunturas dramáticas ou teatrais músicas de fundo. Simplesmente se dá; apenas aceite, contemple e cresça.

Um local e situação prosaicos, em pé no ônibus, nada possuem de transcendental ou que induzam o pobre mortal à ascese. Talvez medicamentos poderosos tenham este condão, seus colaterais facilmente desviados rumo ao inexplicável mas o fato, em si, permanece o mesmo.

Um suor frio desce da testa, a escuridão invade o canto dos olhos, pernas enfraquecem e o primeiro pensamento é clínico: queda de pressão, desmaio, há que se buscar onde sentar - mas não há, ônibus cheio e implacável.

Seria desagradável manter-se apenas nisso e no exato momento em que um cérebro pragmático busca culpar medicamentos controladores da pressão arterial ou mesmo péssima alimentação duradoura, o mesmo é soterrado - de modo inopinado e sem razões prévias - por incrivelmente velozes lembranças de toda uma vida. E nossa infame existência passa, fast forward, diante de um perplexo ser pensante e que, até então, sequer recordava ou tinha consciência do tanto desfilado perante sua consciência.

Ver-se em terceira pessoa é desagradável e pior se torna quando assistimos, compungidos, os próprios pecados, felicidades ou banalidades sendo praticadas por aquela criatura que somos, mas não estamos. Ou, graças à Deus, fomos e não mais somos.

Se o melhor professor é o exemplo, estranha situação é nos enxergarmos diante de nossos olhos cometendo coisas boas e atos vis, o imbecil que fomos ensinando o convalescente que aspiramos ser.

Racionalizar o acontecido, organizar mentalmente a perplexidade, tentar dar um sentido e transformar o indizível em lição ou intervenção seria reduzir o transcendente ao concreto, o espírito à carne, o que flui ao que pesa. Não é a intenção.

Trata-se apenas de constatar que, aos que anseiam por respostas, as mesmas estão todas diante de nós.

Basta saber qual resposta cabe em cada pergunta.


Walter Biancardine 



sábado, 9 de março de 2024

SOLA SCRIPTURA - ou A AUSÊNCIA FILOSÓFICA


Dizer que a Bíblia é a palavra de Deus é uma metonímia, uma figura de linguagem, pois o Pai não aparece para mim a cada vez que a leio. Sequer foi ditada e sim, como sabemos, inspirada.

Assim, todo o Livro Sagrado é uma compilação feita pelos mesmos homens, católicos, e obra da Santa Madre Igreja tão desconsiderada por muitos crentes. Não fosse a Igreja Católica e não haveria a Septuagenta; não fossem os Doutores, Santos, frades, padres - criaturas, a carne insuflada pelo Espírito Santo - e não haveria, sequer, Bíblia. 

Ora, um mínimo de coerência exigiria uma menor "adoração" ao Livro Sagrado, afinal - usando um argumento que discordo mas muito ouço - ele é uma "criação", ainda que inspirada.

Sei, entretanto, que o acima escrito não fará nenhuma diferença para muitos - seja por ignorância filosófica ou preguiça de ler - e por isso sigo tranquilo, crendo na Igreja Católica como o corpo de Cristo e na determinação de Deus em salvar o homem pela humanidade de Nosso Senhor Jesus Cristo - uma explícita referência Teológica à ordem divina para que Moisés sacrificasse seu filho, seu único filho. 

Deus poupou o menino, mas não poupou seu próprio filho, Jesus, e o ofereceu em holocausto pela salvação do homem. 

Sigo crendo no magistério infalível da Santa Madre Igreja e que, só através dele, podemos alcançar as páginas Santas.

A Igreja é o Deus vivo, fundada por Ele para nossa salvação. 

Lutero foi um homem histórico mas, filosoficamente, analfabeto funcional.

Um fruto do humanismo de seu tempo.


Walter Biancardine 



quarta-feira, 6 de março de 2024

BATISMO EVANGÉLICO

 


Recentemente testemunhei, pela primeira vez, uma cerimônia de batismo de uma igreja evangélica, a comunidade eclesial Lagoinha, e que foi realizada no local onde trabalho.

Foi-me gentilmente oferecida a oportunidade de também batizar-me, convertendo-me, mas recusei polidamente – ciente de que a verdadeira fé nos impele à conversão do próximo mas, também, firme em minha própria fé católica e na certeza de que um juramento faz-se apenas uma única vez na vida.

Esta certeza de um único juramento lembrou-me do Credo Niceno-Constantinopolitano: Confiteor unum baptisma/ In remissionem peccatorum – “Creio em um só batismo/ Em remissão de meus pecados”. E este é um ponto de importância capital em nossa vida espiritual, dada a absoluta maioria católica e evangélica/ protestante (leia-se Batistas, Adventistas, etc.) no Brasil: a Igreja Católica aceita o batismo evangélico/ protestante, considera estes fiéis já unidos – embora não integralmente – ao corpo da Igreja Viva, e não impõe um novo batismo em caso de conversão.

Confesso ignorar se as Comunidades Eclesiais evangélicas exigem o batismo de novos membros, se oriundos da Igreja Católica. Caso exijam, fica a pergunta se não estariam sendo anabatistas – e apresso-me a explicar o que tal denominação significa: o termo significa "re-batizadores", do grego ανα (novamente) + βαπτιζω (batizar); em alemão: Wiedertäufer.

É a chamada "ala radical" da Reforma Protestante, iniciada por Lutero – daí o motivo da expressão em alemão, acima ilustrada.

Os anabatistas não formavam um único grupo ou igreja, pois havia diversos grupos assim chamados, genericamente, com crenças e práticas diferentes e divergentes. O ponto que julgo necessário destacar é que os convertidos eram batizados apenas na idade adulta e, por isso, re-batizavam todos os que já tivessem sido quando crianças, pois criam que o verdadeiro batismo só teria valor quando as pessoas se convertessem conscientemente a Cristo.

Pois bem, é evidente que o conceito acima exposto refere-se à pessoas já nascidas neste meio, mas cabe a pergunta: e os neófitos? E aqueles oriundos da Igreja Católica? Serão rebatizados ou o convite a mim dirigido foi uma gentileza, uma honra – certamente imerecida – que recebi?

Quero crer que as comunidades eclesiais evangélicas – Lagoinha inclusive – sigam ainda a orientação anabatista original, de Lutero, já que suas origens são protestantes. Assim, considerando a liberdade maior que tais comunidades possuem sobre suas práticas litúrgicas, deixo a sugestão de considerarem uma recíproca à esta fraternal postura da Santa Madre Igreja, dispensando o batismo de católicos convertidos, pois nosso Deus é Uno.

No mais, necessário é expressar novamente o reconhecimento da ação meritória e piedosa da Lagoinha, evidentes nos rostos e no trato de seus fiéis.

E que Deus Pai, Todo Poderoso, abençoe e proteja a todos nós.


Walter Biancardine





A MONTANHA PARIU UM RATO

 

Depois deste artigo, misto de análise e crônica pessoal, certamente pouco ou nada falarei sobre mim no que escreverei, futuramente. Entretanto, é necessário que seja – ainda desta vez – publicado tal depoimento pelo fato de jamais ter escondido fracassos ou sucessos, e aqueles que me acompanham certamente testemunharam um longo e doloroso abismo, vivido por mim, nos últimos tempos.

O mês de fevereiro foi-me particularmente terrível por coincidir duas rejeições simultâneas em minhas aspirações de trabalho e o fato, aleatório, de haver buscado o que era afinal o “narcisismo” o qual, um dia, fui “diagnosticado”. Assim, somou-se à uma auto estima nanica, desconsiderada profissionalmente, a terrível “descoberta” de ser um sociopata – verdadeira ameaça, escondida por trás de uma palavra que jamais julguei ir além da forma pejorativa de criticar o excesso de vaidade alheia.

Vamos direto ao ponto: decepções profissionais sempre são ruins, mas não o suficiente para abalar um profissional com décadas de experiência e – ainda que velado, raivoso – reconhecimento. Por outro lado, “descobrir” um sociopata habitando dentro de si, solerte e vitimando a mulher amada – causando mesmo o fim desta relação – equivale a saber, já na velhice, que todos os relacionamentos de sua vida foram baseados na tolerância dos outros para com sua doença – explícita, nociva, asquerosa, mas que apenas você não a enxergava. Ou seja, você foi alvo da piedade alheia; possuía amigos e relações apesar de ser quem você é. Uma farsa, enfim.

Todos sabem de tudo o que me aconteceu, de 2022 para cá: perdi mulher, casa, amigos, história de vida, raízes, família e fui morar de favor em uma ilha de nada, cercada de coisa nenhuma por todos os lados. Essa é a única desculpa que encontro para minha análise precipitada sobre esta “patologia”, a mim imputada, e por haver tomado como fontes válidas apenas vídeos de YouTube, ainda que apresentados por gente que se intitula “terapeuta”, “psicólogo” ou o que o valha.

Os nervos jamais foram bons conselheiros e ultimamente, mais calmo após assimilar a pancada recebida, busquei rever toda a longa série de avisos e advertências, anunciados por tais profissionais, nos vídeos que tanto mal me causaram.

A primeira coisa que chamou-me atenção foi o fato de 90% deles ser protagonizado por terapeutas mulheres, e a segunda foi o fato de tais vídeos – mais que técnicos – serem verdadeiros depoimentos: testemunhos que, em alguns deles, chegaram ao choro (!!!), vozes trêmulas e balbuciantes, demonstrando claramente que o fatal diagnóstico devia-se prioritariamente a mágoas pessoais, relacionamentos desfeitos, ódios e desejos claros de vingança destas profissionais contra seus antigos pares. E pouco se me dá a acusação de “machismo”, pois tal comportamento é, de fato, feminino. Homens vingam-se de modo diferente: arranjam outra mulher, compram carro novo e desfilam com ambos na frente da ex.

Como diabos não percebi isto antes? E por que raios uma profissional expõe-se deste modo, arriscando sua credibilidade e reputação? E concluí que a grande maioria de psicólogos e terapeutas abraça esta profissão muito mais pelo desejo de se compreender do que curar seus pacientes.

A afirmativa acima não deve ser refutada com ódio: a brilhante dra. Ana Beatriz Barbosa – reconhecida nacionalmente e que não possui canal no YouTube, apenas participa como convidada – é a prova e modelo de alguém que, realmente, está no ramo para ajudar e tem substância a oferecer.

Assistindo vídeos nos quais ela participa, percebi a evidente diferença de tom e ausência de frustrações pessoais em suas análises – explicou o que realmente é a patologia narcisista, os diferentes graus que pode alcançar e deixou bem claro que um doente deste mal, para chegar a tornar-se uma ameaça a terceiros, certamente apresentará comportamentos destoantes em todas as áreas de sua vida – indisfarçáveis, os quais certamente terminarão por fazê-lo ouvir, de mais de uma pessoa, a recomendação de tratar-se, buscar ajuda.

Incentivado pela serenidade da dra. Ana Beatriz, reconheci o ridículo de minhas buscas – instruir-me e diagnosticar-me em redes sociais é o fim da picada, tal como aceitar balizamentos leigos apenas pelo fato de amar esta pessoa profundamente.

Assim, era hora de usar um dos poucos dons que possuo – o autodidatismo – e buscar fontes literárias, sérias e de profissionais gabaritados, como parâmetro para análises.

Sei do perigo que isto representa, pois pouco ou nada enxergamos de nós mesmos. Entretanto, os que me acompanham sabem de minha longa jornada no deserto, no confessionário da solidão involuntária, enumerando para Deus os poucos pecados que em mim enxergo e escutando, Dele, os incontáveis que jamais vi. Deste modo, embora sabedor de minha miopia, percebi possuir uma auto consciência (ensinada e pregada por Olavo de Carvalho) infinitamente maior que a média das pessoas, e digo isso sem nenhuma modéstia.

E o que pude apurar? Ora, na respeitavelmente grande e densa bibliografia consultada (tudo em PDF, por falta de recursos), vi que as “terapeutas histéricas” das redes sociais não mentiram, ao revelar os extremos que um doente narcisista pode chegar.
Apenas esqueceram de dizer que são casos raros, exceções notáveis a olho nu – mas amores mal resolvidos realmente cegam as pessoas.

Um doente médio (chamemo-lo assim) narcisista é, de fato, uma pessoa que pode trazer inúmeros problemas a qualquer relacionamento. Entretanto, todos eles – sem exceção – possuem alguns traços em comum, dentre eles a certeza de serem criaturas acima da média. E foi a incapacidade alheia de distinguir entre comportamentos arrogantes eventuais e a hipótese de eu me considerar alguém “superior” que, certamente, decretou meu diagnóstico e o fim de meu casamento.

Nenhum narcisista reconhece sua postura “superior”. Já eu reconheço – e por vezes lamento tal auto defesa – minha arrogância pontual: Deus me deu poucos dons: dirigir ou pilotar qualquer coisa como aviões, motocicletas ou caminhões, aprender sozinho (suportar a solidão), uma inteligência funcional e o gosto em escrever. É só isso que tenho e sei fazer em minha vida, nada mais.

Quem comigo conviveu quando ainda voava, viu meu pior: definitivamente arrogante, competitivo, desafiador, agressivo no voo e nas discussões nas cantinas dos hangares, que sempre terminavam em pancadaria.

Mas resumia-se à isso. Jamais me gabei por suposta inteligência – e muitas vezes duvidei da mesma, quem me lê sabe – ou por escrever com alguma competência ou estilo. Mas sempre fui cabeça-dura: é difícil mudar minhas crenças, opiniões, valores; uma tarefa quase impossível e que pode conduzir o interlocutor à fatal suposição de “narcisismo”. Imagine conviver com alguém assim, em reuniões familiares?

Mas uma coisa é ser um sujeito desagradável e outra, bem diferente, é ser um sociopata.

O ponto central deste texto é, na verdade, pedir desculpas aos que me seguem por eu haver cedido ao pavor – descobrir-me incompetente na profissão e doente da psique – pavor infundado, agravado por todas as aflições já conhecidas de vocês, chegando ao ponto de considerar atitudes mais drásticas. Envergonho-me por tudo o que pensei e considerei, envergonho-me por desabar em uma fraqueza tamanha, ao ponto de provocar a solicitude de amigos como o dr. Vitor Travassos. E envergonho-me, principalmente, por esquecer a ponderação, serenidade e prudência na análise de uma situação – ainda que explicada (mas não justificada) por minhas misérias pessoais – que poderia ter me levado a atitudes estúpidas e, certamente, sem retorno ou perdão.

Havia prometido não mais escrever, não mais opinar, analisar. Pois neste momento revogo tal promessa.

Os livros, os estudos, a escrita; esta é minha vocação e nela continuarei. Neste momento, não tenho a segurança de realmente ter algo a oferecer além de análises, lastreadas não em sagacidade própria, mas em tudo que aprendi nos livros e com o professor Olavo de Carvalho – mas já é alguma coisa.

Minha situação pessoal continua a mesma mas, como dizem, “o que não pode ser solucionado, solucionado está” e, assim, continuarei tentando contribuir enquanto tiver um teto para me abrigar e condições mínimas de vida.

Decidi não mais deixar-me seduzir por sonhos – bom emprego, casa, carro – nem vencerem-me os pesadelos – sociopatias, incompetência, miséria e solidão.

Já é tempo de arregaçar as mangas e voltar ao trabalho. O país inteiro agoniza e, se posso contribuir com um só tijolo que seja, em nosso muro de combate, assim o farei.

Não mais falarei de mim, nunca mais. Ou serei, realmente, um narcisista.

É hora de curar o Brasil.

Agradeço a paciência e compreensão de todos. De volta ao trabalho.



Walter Biancardine