sábado, 30 de setembro de 2023

HERANÇAS -


Meu pai deixou-me uma caixa de ferramentas e o único bilhete que escreveu, em vida, para mim.
Minha mãe deixou-me uma Bíblia e, igualmente, o único bilhete - além de listas de compras no supermercado - que escreveu, em vida, para mim.
Meu pai pedia que eu tivesse fé, enquanto minha mãe rogava que Deus me acompanhasse por minha vida.
Ele me deixou ferramentas; ela, a proteção de Deus.
Fé e trabalho, é tudo o que tenho.
É tudo que preciso.
Mas, o que deixarei para meu filho?


Walter Biancardine




segunda-feira, 25 de setembro de 2023

DEUS MORREU, A JUSTIÇA MORREU: VIVA O ILUMINISMO!

 

Por ocasião de sua eleição á presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), o Ministro Luís Roberto Barroso declarou, em entrevista ao jornal O Globo – reportagem de Mariana Muniz, Marlen Couto e Bernardo Mello publicada ontem, dia 24 de setembro de 2023 – seus planos para o mandato frente ao órgão:

- Minha gestão terá três eixos (…), e manter relacionamento com todos os segmentos da sociedade, para ouvir os anseios e necessidades – resumiu o Ministro ao O Globo.

Dono de afamado histórico relativo à falas polêmicas – as quais incluem o “Eleiçâo não se ganha, se toma”, “Derrotamos o bolsonarismo” ou “Perdeu, Mané” – a declaração de Barroso, objeto deste artigo, não pode ser entendida como gafe ou descuido, oriundo de conversa corriqueira entre amigos, já que a mesma foi pronunciada diante da imprensa brasileira.

Enquanto o autoritarismo de um Alexandre de Moraes é sentido, principalmente, através de seus atos, já que as palavras nunca foram seu forte - coisa difícil de crer em um advogado, teoricamente autor de tantos livros – o viés totalitarista de Barroso é explicitado, em grande parte, por suas falas.

Dono de personalidade nitidamente contida, reprimida ao longo de toda uma vida por exigências sociais e profissionais, Luís Roberto Barroso deixa escapar, entretanto e eventualmente, traços de seu eu interior – verdades muito mais descontraídas, epifanias vestidas como sílfides esvoaçantes, que bailam e pululam ao seu redor – em momentos de euforia emocional.

Tal balé da alma não esconde, todavia, seu viés claramente autoritário na instituição a qual faz ele parte integrante, terminando por resvalar em promessas demagógicas ao povo, típicas de figuras coronelistas do Poder Executivo – prefeitos, governadores, presidentes da República ou ditadores vigentes. Atender anseios? Ouvir as necessidades? O Judiciário – teoricamente imparcial, cego e justo – se curvará aos “desejos do povo”? O quê isso significa? Que mudará as leis, ou sua interpretação, para “atender” a sofrida população brasileira?

Como analogia eu diria – de forma aparentemente exagerada mas que o atento leitor já entenderá – que seria tal qual um Papa mudar, ou interpretar, as Sagradas Escrituras para atender abortistas, gays em busca de matrimônio religioso ou mulheres ambicionando o sacerdócio. Ora, o mais conhecido filhote da Revolução Francesa – eu diria “Involução Francesa” – o Iluminismo, adota como premissa que o cérebro do homem tomou o lugar de uma crença arcaica chamada “Deus”, logo, o homem é Deus. E não é preciso muito esforço para recordar as constantes referências – principalmente feitas pelo Dr. Barroso – ao iluminismo, emprestando mesmo ao STF o caráter de Poder Moderador e… iluminista! Assim, os ilustres togados da mais alta Corte de Justiça do Brasil seriam os Papas do novo deus, a Razão Humana.

E, vestidos como Papas modernos, acrescidos do poder Executivo que exercem descaradamente, mostram-se ditadores liberais, democráticos e lacradores, jamais se furtando a “ouvir e atender os anseios e necessidades do povo”.

Tomando emprestado antiga brincadeira esquerdista, eu diria:

“ - Deus morreu, Marx morreu e eu mesmo já não me sinto muito bem…”



Walter Biancardine







quinta-feira, 21 de setembro de 2023

NÃO EXISTE CRIME POLÍTICO – O QUÊ O STF JULGA?

 


Há tempos a mais alta Corte de Justiça do Brasil vem julgando fatos que interpreta – e tal interpretação é explícita, claramente exposta ao cidadão – como “crimes políticos”, maquiados sob o nome de “atentado violento ao estado de direito”.

Com base em tal sofisma, avançou ainda mais o sinal e abriu inquéritos – usurpando funções do Ministério Público – dos quais, o mais infame é o das “fake news”. Ora, em nosso ordenamento jurídico não existe tal crime; não temos um só artigo que o preveja e culmine penas para quem praticar tal ato. Assim, é lícito supor uma má intenção daquela Corte, ao preterir as acusações mais cabíveis a tais atos – calúnia, injúria e difamação – as quais preveem penas brandas, sequer restritivas da liberdade do réu. Para piorar, vinculam a fictícia delituosidade das “fake news” (boatos, na verdade) aos inquéritos que, em tese, investigariam atentados violentos ao estado de direito – uma barafunda, gambiarra legal esfregada sem pudor na cara dos brasileiros.

Nulla crimen, nulla poena sine previa lege penale” (não há crime nem pena sem lei anterior que os definam), é o que ensina um dos princípios básicos do Direito. E o atento leitor notará que, apenas de posse de tal conceito, todo o teatro farsesco deste “Tribunal do III Reich” cairia por terra. Mas, ainda assim podemos seguir adiante e acabar de soterrar a impostura, citando um outro princípio: qualquer lei, para ser válida, precisará ter em si a virtude de “lex sempiterna, perennis et immutabilia” (lei baseada em valores imutáveis, independente das circunstâncias) e nisto reside minha alegação da inexistência do crime político: se, em uma democracia, fazer proselitismo da ditadura comunista não é crime, uma vez instalada a mesma fazer propaganda da democracia poderá ser – o que é crime em um regime político, poderá não ser em outro.

Entretanto, está na gênese da mentalidade revolucionária a dialética marxista, que desemboca nas eternas e irritantes discussões – nosso velho e conhecido “mimimi” – que contestariam este último conceito apresentado, enumerando diversos sofismas: já tive o desprazer de ler artigos onde o exaltado autor alega que “no contexto dos crimes políticos, essa expressão sugere que certos atos podem ser considerados crimes independentemente das leis e normas estabelecidas por um governo específico. Em outras palavras, existiriam ações que são consideradas crimes políticos com base em princípios fundamentais da justiça e da moral, que são considerados eternos e imutáveis”.

Não bastasse imiscuir o conceito de “moral” em suas alegações, prossegue o autor: “essa perspectiva pode ser usada para argumentar que, mesmo um governo ou regime político considerando uma ação como legal, a mesma ainda pode ser considerada crime político sob o princípio da "lei eterna". Isso pode ser relevante em situações em que um governo é acusado de violações dos direitos humanos ou de abusos de poder, e a comunidade internacional ou grupos de defesa dos direitos humanos buscam responsabilizar os indivíduos envolvidos com base em princípios universais de justiça”.

Tamanha é a desfaçatez do autor das linhas – o qual não merece ser citado – que o último trecho faz jus à devida autópsia, para que o leitor veja, sem disfarces, a verdadeira, horrível e desonesta face dos argumentos esquerdistas: quando o indigitado autor apela a conceitos como “moral” ou “lei eterna”, o mesmo socorre-se de valores os quais a dialética marxista não acata – como existir o eterno, diante da dialética que tudo faz mudar? Qual a moral considerada, que não a única e oficial de seu próprio regime autoritário – sempre baseada em princípios ideológicos, nunca em costumes?

Denotando uma clara paralaxe mental, ainda ajunta as alegações de “violações dos direitos humanos” ou mesmo “abusos de poder” – os quais são, nos atos causadores do crime, completamente diferentes de quaisquer defesas, propagandas ou proselitismos praticados pelo cidadão – sim, pois é o cidadão quem está sendo acusado de crime político, não um governo! Pode um cidadão cometer “abuso de poder”?

E, para finalizar a mixórdia, o mesmo a encerra relativizando mediocremente a soberania do país ao ameaçar tais governos com as sanções da “comunidade internacional” ou, invariavelmente, com os bem alimentados (pão e mortadela) “grupos de defesa dos direitos humanos”. Só esqueceu, o pobre doente, que o STF está acusando e julgando cidadãos, não governos! Fugiu do tema, simplesmente!

Assim podemos ver de maneira clara a inexistência do “crime político”, encarnado nos inquéritos dos “atos anti-democráticos”, no inquérito das “fake news” e em quantas outras tábuas de salvação forem usadas, pela atual ditadura judiciária, para perseguir e exterminar seus opositores.

Finalizando, é preciso nunca esquecermos que, quando se presta a instituir tais inquéritos e fazer julgamentos sobre os mesmos – com toda a pompa e circunstância do plenário ou escondidos, sob votações virtuais na internet – o Supremo Tribunal Federal se deslegitima e passa a ser uma farsa, parasitária e fatal, nutrida apenas pela ideologia vigente.

Mesmo Hitler perseguiu os judeus sob a forma da lei.



Walter Biancardine




quarta-feira, 20 de setembro de 2023

QUANDO UM “GREAT RESET” É NECESSÁRIO -

 

Que o amigo leitor não se assuste com o título; não se trata de haver eu aderido ao globalismo, às abstrusas ideias marxistas da Escola de Frankfurt ou adotado um arremedo da dialética de Hegel, pregando a destruição de tudo – inclusive do homem, visando o “Ubermensch” (1) – a fim de que, do nada resultante, apareça algo de bom e novo.

A questão se reveste de um caráter mais profundo e espiritual, e peço a atenção dos que me prestigiam com a leitura para algumas citações e correlações – analogias, poderia dizer – que farei abaixo.

Vamos começar pelo básico: Hegel acreditava não existirem verdades absolutas, prontas e objetivas. Sempre haveria um embate entre ideias, e uma nova – e melhor – surgiria como resultado. Consequentemente, em sua tese, o mundo está em constante mutação na sua forma de pensar, com ideias sendo combatidas por opostos e parindo novas ideias, as sínteses. Todavia, elas não permanecerão assim pois aparecerão outras ideias, contrariando-as, e assim por diante.

O marxismo cultural da Escola de Frankfurt abraçou este pensamento e não é de se espantar que, como resultante das teses de um de seus frutos – Antônio Gramsci – seja percebida a clara intenção, subjetiva, de total destruição dos valores, conceitos e padrões que balizam e sustentam a civilização judaico-cristã ocidental, as "novas ideias" combatendo as "antigas".

Ora, por outro lado é fácil perceber que, nas Sagradas Escrituras, o deserto – leia-se “o nada” – quase atinge as dimensões e profundidades de verdadeiro personagem, sendo recorrente não apenas fugas como auto-exílios e retiradas voluntárias para tal lugar, a fim de meditar. Descontado o fato de que são nas escaldantes areias do mesmo o local onde, costumeiramente, as maiores revelações são feitas aos escolhidos, seu simbolismo primário é o “esvaziamento” completo de si mesmo, buscado pelos que para lá acorrem.

Tal “esvaziamento” pode ser entendido como uma “destruição completa de tudo”, tudo o que houver dentro daquele homem, para que algo novo e bom surja. E é justamente neste ponto que se dão as diferenças que colocam tais “destruições” em planos antagônicos: uma de caráter meramente ideológico, estratégico e de domínio sobre o próximo - nietszcheano - enquanto a outra objetiva algo muito mais elevado: uma faxina interna, espiritual; o esvaziar-se de tudo de ruim que a vida nos cumulou para que os valores, princípios e as verdades eternas (e dane-se Hegel) aflorem e nos conduzam. Temos então nada menos que a Palavra de Deus nos lembrando da necessidade periódica de tal faxina em nós mesmos – e, quando insisto no fato que o cristianismo é a mais introspectiva das religiões, muita gente enxerga-me como louco ou, simplesmente, debocha.

Ora, pude sofrer uma experiência pessoal da necessidade e eficácia de tal “esvaziamento” após dez meses de solidão absoluta, onde senti dentro de mim a citada faxina ocorrer. Valores, princípios, conceitos e o correto pensar ocuparam meu íntimo, antes repleto de ideias prontas, julgamentos contraídos da virose midiática e, principalmente, retornou-me a clareza ao enxergar – na sua inegável verdade primeira – as ações e pensamentos humanos. Nada mais natural que a chocante constatação de que nutri vã paixão por alguém que jamais compartilhara o “idem velle, idem nolle” comigo tivesse, como resultado, a desaparição súbita, completa e irreversível de tais sentimentos – ao fim e ao cabo vivo, hoje, em estado de “alforria” e de alegre e confiante expectativa no porvir, coisa impensável até poucos dias atrás. (2)

Esperando ser perdoado por despencar das alturas bíblicas para o chão de pedra de minha realidade pessoal, prossigo em direção ao principal intuito deste artigo, que é a suposição de que o Brasil – mais especificamente o brasileiro – atravessa, neste momento, o seu “deserto” patriótico.

Desnecessário dizer que há muito o que purgar, nas areias solitárias de nosso “reset”. Por anos fomos contaminados com conceitos, ideias e valores que nenhuma correspondência fazem ao que sempre fomos e vivemos, desde que o Brasil é Brasil. Diariamente assistimos tudo aquilo que nos é caro ser, debochadamente, jogado na lata do lixo pela grande mídia, sob a alegação de serem “coisas antigas, ultrapassadas”. Em acréscimo, obrigaram-nos a aceitar a transformação de uma sociedade em verdadeiro bordel, prenhe de drogas, doenças, crimes e – coroando tudo isso – a instalação desavergonhada de uma ditadura judiciária que a tudo comanda, incentiva e favorece.

Nos dias que correm – coisa jamais imaginada – temos justificável medo de enviar nossos filhos às escolas e faculdades, eis que desvirtuadas foram de suas finalidades precípuas e, hoje, dedicam-se exclusivamente a lavarem os pobres e jovens cérebros, adestrando-os como cães, obedientes ao apito midiático da ditadura vigente. Um sistema de ensino assim, perverso, imoral e mau – causador de danos reais á capacidade cognitiva juvenil – apenas faz coro á anomia institucional que vivemos, já que as mesmas – todas – foram completamente tomadas por hordas de gafanhotos vermelhos, ao longo dos mais de quarenta anos passados, desde a “redemocratização”.

Não mais temos valores, conceitos e tradições. Não mais temos liberdade para expressarmos nossas opiniões, se divergentes das permitidas. Não mais temos liberdade para escolher nossos representantes políticos – e crer que lá permanecerão sem que “cortes superiores” os extirpem. Não mais podemos andar nas ruas, pois o crime impera. Não mais temos o direito á propriedade privada e, sequer, á vida, já que o aborto está em pauta.

E tal quadro de coisas pode ser chamado de “destruição completa de tudo”, conforme pregado pela Escola de Frankfurt.

Os brasileiros estão, neste momento, no deserto – embora contra a vontade. Nada mais temos, nada mais podemos, nada mais somos. É a hora em que as verdades absolutas – e, novamente, dane-se Hegel – podem aflorar na consciência dos milhões majoritários de cidadãos e impeli-los às ações corretas, à uma verdadeira re-fundação do país – pois o original é morto.

São Tomás de Aquino ensina que “toda ação, se destinada a restabelecer a verdade, não só é bem vinda como necessária”, e ninguém poderá acusar o santo Doutor católico de “ter pensamentos revolucionários”. Assim, creio estar chegando a hora em que, após esvaziarmo-nos – ainda que compulsoriamente – nos desertos impostos pela esquerda, precisemos tomar atitudes incisivas rumo á verdade e ao bem.

O Eclesiastes diz que “há a hora de plantar, hora de colher; hora da paz e hora da guerra”.

O marxismo já impôs seu “great reset” no Brasil.

É hora de sairmos do deserto e lutarmos.


Walter Biancardine


(1) "Super-homem" - Conceito nietszcheano, que consiste em um ser superior aos demais, modelo ideal para elevar a humanidade. Para ele, a meta do esforço humano não deveria ser a elevação de todos, mas o desenvolvimento de indivíduos mais dotados e mais fortes. Nietszche criou tal conceito para dar fim a uma vida escravizante mas, ao fazê-lo, acaba por coincidência “matando” Deus.

(2) Para uma análise mais detalhada do referido acontecimento, consultar https://walterbiancardine.blogspot.com/2023/09/hiroshima-em-meu-peito-gracas-deus.html





terça-feira, 19 de setembro de 2023

HIROSHIMA EM MEU PEITO, GRAÇAS A DEUS!


A história nos ensina que, por vezes, entre dois grupos em conflito insolúvel e persistente o advento de uma desgraça, desproporcionalmente maior, no campo de batalha acaba por tudo solucionar – se não a vitória de um dos lados, mas a destruição pacificadora de ambos adversários.


Não foi o caso sucedido em Hiroshima, onde tal assimetria resultou na ruína japonesa somente, mas serve como analogia à solução da situação sentimental que se arrastou por anos em mim, culminando com as últimas e desgraçadas quatro estações, onde julguei-me prisioneiro em uma situação de conflito aparentemente irresolvível.

Por muito tempo remoía eu acontecimentos do passado, os quais levantaram-me dúvidas jamais esclarecidas e sempre abafadas pela saudade e toda a carga de afeto envolvida. Assim, adotando táticas básicas – primárias mesmo – neste xadrez sentimental, levei a coisa ao ponto em que ou seriam confirmadas as piores suspeitas, ou se descortinariam chances de um retorno ao relacionamento – um “tudo ou nada” cujas consequências, temia eu, poderiam ser devastadoras.

Quando escrevo “piores suspeitas” não se trata de figura de linguagem. Eram questões gravíssimas que jogariam por terra todo um edifício de caráter, a suposição moral construída durante tantos anos de convivência – mas, cedendo ao meu xeque-mate amador, tais e terríveis temores foram confirmados por sua (dela) derradeira e recente atitude, resultante de minha estratégia.

Jamais houve “idem velle, idem nolle” (1), jamais crenças, valores e conceitos em comum, nada além de táticas feminis de manipulação e domínio – e o gigantesco arranha-céu, erguido sob a cegueira do amor, veio ao chão por completo em surpreendente e rápida implosão.

Para minha surpresa, nada senti – ou sinto – além de enorme alívio. Toda a carga emocional, lembranças e acontecimentos se dissolveram de imediato e apenas posso dizer restar-me um “incômodo de vazio”; algo como se sofrêssemos meses com uma perna engessada e, um dia, tal acessório é removido: o alívio é grande mas, estranhamente, parece que nos acostumamos à excrescência e sua falta é notada. Como em Hiroshima após a bomba, restou apenas um vazio e, no meu caso, de forma alguma melancólico – ao contrário, confiante e esperançoso.

Deus não nos abandona, nunca estamos sós: se Ele permitiu tanto tempo de dores e sofrimentos foi apenas para que eu tivesse parâmetros de comparação com a verdadeira felicidade – sensação de alforria – que sinto agora.

Neste momento sou absoluta e inacreditavelmente feliz, e todas as demais contingências materiais de minha precária subsistência tornam-se infinitamente mais leves, sem a pesada, sinistra e obscura carga sentimental, varrida do mapa por pacificadora Hiroshima.

E mais linhas não fez por merecer, a pessoa, em seu obituário.



Walter Biancardine

(1) - "Amar as mesmas coisas, odiar (repudiar) as mesmas coisas".


domingo, 17 de setembro de 2023

DESAGRAVO AO DR. CAIVANO

 


Recentemente, após escutar na Jovem Pan Baurú que o Dr. Cláudio Luis Caivano havia encerrado seu canal no YouTube por falta de condições, expus apressada indignação com este fato. Ora, se eu e minha porca vida pessoal ainda subsistimos, por que ele – famoso advogado – não poderia considerar-se em condições para tanto?

A verdade é que, impulsionado por privações próprias, não tomei os cuidados básicos de um jornalista, não averiguei por completo o fato – sim, porque a notícia induziria qualquer um a conclusões semelhantes às que cheguei. Somente há poucos dias atrás, e nem sei movido por quais motivações, busquei saber o quê, de fato havia acontecido – assisti uma participação do mesmo, na já citada Jovem Pan Baurú – onde ele explicou a realidade cruel que enfrenta.

Obviamente que o renomado Dr. não vive de Bolsa-Família como eu, mas a verdade é que perdeu todos – todos! – os clientes em seu escritório de advocacia e, suponho, esteja hoje sendo obrigado a tentar manter-se á tona sobrevivendo de eventuais palestras ou participações em programas e eventos diversos.

E quando digo “manter-se á tona” é algo muito sério: certamente vive em uma boa casa, com despesas obrigatórias bastante altas e – de fato, não sei – talvez mulher e filhos, que nada tem a ver com o atrevimento do Doutor em defender o Brasil e fazer com que fosse jogado ao limbo. Sim, há um padrão de vida a manter!

Certamente enfrenta um dobrado, o sósia barbudo do Marcos Mion, mas o fato é que todo e qualquer corte de despesas é bem vindo, e todo o tempo a mais que puder dispor para tais participações em palestras, seminários, eventos ou mesmo programas representa, ao fim e ao cabo, mais alguns trocados na surrada conta bancária de Caivano. Nada mais natural, portanto, que esconda seu canal do YouTube no fundo da gaveta, até que a coisa se normalize ou, ao menos, se estabilize.

Fui precipitado, imprudente, injusto e faço aqui um mea-culpa por tamanho escorregão jornalístico.



Walter Biancardine




quarta-feira, 13 de setembro de 2023

MAS...QUANDO, EXATAMENTE?


Em que momento o sonho acabou?

Em que momento vestir-se para causar boa impressão tornou-se brega, sendo hoje a moda usar farrapos de marginais?

Em que momento a mulher deixou de sonhar com seu príncipe, um bom casamento, dedicar-se ao homem amado, sua casa, seus filhos e passou à subserviência ao patrão pagador de seu salário?

Em que momento "descontração" tornou-se sinônimo de bandalha?

Em que momento cortejar uma moça passou a significar pamonhice?

Em que momento o respeito virou atraso de vida?

Em que momento as crianças pararam de brincar e começaram a jogar?

Em que momento nossos sonhos se tornaram matéria para o divã de um terapeuta?

Em que momento a vida normal acabou?



Pergunte a Antonio Gramsci.

Pergunte a grande mídia, as artes e a cultura de massa.

Pergunte aos designers de moda.

Pergunte aos ideólogos e suas ideologias.

Pergunte aos políticos progressistas.

Pergunte a você mesmo e sua maldita ingenuidade.

Você, por desejo de se enturmar, matou seus próprios sonhos.
E a vida civilizada no planeta terra.




Walter Biancardine





QUARTA CAMADA DA PERSONALIDADE – A MALDITA QUARTA CAMADA!


Não cabe aqui uma dissertação completa sobre a brilhante tese do filósofo Olavo de Carvalho, a qual denominou “As doze camadas da personalidade”; àqueles desejosos de aprofundarem-se no tema, basta consultar os escritos de meu saudoso professor.

Todavia, creio ser conveniente explicar – em um misto de justificativa pessoal, autocrítica e puxão de orelhas alheias – alguns pontos relativos a minha conduta nos últimos artigos, as quais podem ser facilmente classificadas como exemplos perfeitos de estagnação na quarta camada da personalidade. E em quê consiste tal camada?

Senão vejamos, segundo as palavras do próprio Olavo de Carvalho: “Nesta camada, o indivíduo se coloca como alguém muito especial, que tem direito a praticamente tudo. Se a demanda de afeto continua pela vida afora isto significa que a camada não foi resolvida. (…) Ele acredita que necessita de muito amor, de muito afeto, e não age em seu próprio benefício a não ser com o apoio alheio. (…) São pessoas que nunca se colocam em teste, pois fogem aos desafios. São os tímidos, os dependentes, que não querem vencer, que só querem ser amados. Na verdade, esses indivíduos não precisam de amor, como imaginam, e sim de dificuldades para que possam começar a ter respeito por si mesmos.

Como exposto, o ponto base é a necessidade de ser aceito, amado, e, subsequentemente, a reação passional de tal indivíduo a ações ou acontecimentos que o contrariem, enquanto estacionado em tal camada. E onde entro eu, nisso?

Para você que é um leitor penitente, que insiste em ler de maneira assídua meus artigos, cabe o aviso que não são as eventuais lamentações sobre a perda do amor de minha vida que me situam na quarta camada. A dor de corno é ampla, geral e irrestrita, isenta de quaisquer diagnoses psicoterapêuticas e, portanto, todo cidadão normal tem o sacrossanto direito de chorar o cotovelo inflamado.

Entretanto, a decisão de – em nome da sinceridade – escrever somente sobre temas que me despertem reações emocionais mais intensas, esta sim, pode ser situada em tal estágio. São as reações passionais, embora no caso específico que cito – o meu – as mesmas sejam usadas com o propósito de provocar empatia dos leitores. Igualmente, valho-me de tal expediente nos momentos em que dedico-me a uivar, solitário, pela falta de minha amada e sobre isso já descrevi, creio que de maneira bastante compreensível, os motivos em artigo anterior.

Irrita-me, todavia, o comportamento de boa parte dos que me seguem – seja no YouTube, Instagram, Facebook ou mesmo nesta página – os quais podem ser perfeitamente encaixados na camada quatro e que, inclusive, foi objeto de diagnóstico do professor Olavo, ao afirmar que “a grande maioria do povo brasileiro está na quarta camada”: “o indivíduo se coloca como alguém muito especial, que tem direito a praticamente tudo.(…). Ele acredita que necessita de muito amor, de muito afeto, e não age em seu próprio benefício a não ser com o apoio alheio,(…) fogem aos desafios. São os tímidos, os dependentes, que não querem vencer, que só querem ser amados.

Creio serem desnecessárias maiores explicações, com exceção de observar o fato de que as reações passionais em caso de contrariedade, características dos habitantes desta camada, estão ausentes no povo como um todo. As razões são óbvias e abrangem desde uma grande mídia instilando o medo até as ações efetivas da ditadura vigente, processando e prendendo descontentes – isto sim, um dado real. E, em um povo psicologicamente destruído após a falsemia de COVID, é perfeitamente compreensível.

Não estacionei na quarta camada, a mesma é por mim usada como um artifício de persuasão. E, se não disponho de diagnóstico clínico a oferecer (aguardo, ainda, que o SUS libere atendimento psicológico para minha suposta depressão), os fatos concretos, duros e brutais de meu cotidiano se encarregam de colocar-me, no mínimo, na quinta camada. E são tais fatos, perdoem-me, que provocam minha indignação com boa parte dos brasileiros: perdi a mulher que amava, perdi minha casa, minhas raízes, as pessoas que eu amava sumiram, já enviei mais de duas centenas de currículos (além de haver comparecido a mais de 20 entrevistas) e não há emprego; vivo uma solidão de náufrago – sem uma alma viva a quilômetros ao redor – não tenho condução para ir á civilização mais próxima, não vejo meu filho e vivo de bolsa-família (o que cobre apenas dez dias do mês).

Mas é apenas minha vida pessoal. Continuo acreditando no Brasil, tenho a fé absoluta que sairemos desta ditadura – mas, para isso, precisamos agir, ir às ruas, protestar!

Entretanto, olho em volta e tudo o que vejo é medo, reclamações chorosas, ânsias que apareça algum herói e resolva os problemas do Brasil, sem que tenhamos de fazer nada além de acompanhar nas redes sociais – e, quando a vitória estiver garantida, postar fotos enrolados na bandeira nacional, dizendo-se “um patriota lutador”.

Não creio que a grande maioria das pessoas tenha a vida que tenho, sofra o que sofro, em igual angústia, solidão e privação. Certamente possuem – ainda que com todas as lutas e dificuldades cotidianas – vidas normais.

O que falta para que, finalmente, ajam?


Walter Biancardine

 


terça-feira, 12 de setembro de 2023

O CRIME PERFEITO TEM O AMPARO DA LEI

 


Os últimos atos da Suprema Corte brasileira demonstram, de maneira irrefutável, a usurpação de poderes praticada pelo Judiciário contra nosso Legislativo inerme, omisso e absolutamente chantageado pela toga.

Em velocidade estonteante para os padrões jurídicos, o Supremo Soviete Federal aprovou a volta do imposto sindical e já tocou a bola para o gol de placa da esquerda, que é a aprovação do aborto – inicialmente até a 12ª semana de gestação.

Desnecessário dizer que tais matérias são temas pertencentes ao Congresso, com representantes eleitos pelo povo e que, teoricamente, refletem os conceitos e valores de seus representados. Criou-se, entretanto, um mecanismo que nada mais é que um conto do vigário refinado pelo direito – que todos temos – de recorrer à Justiça, se nos sentimos prejudicados. 

Assim, o Congresso aprova o fim da cobrança do imposto sindical, uma legítima expressão da vontade popular que, no entanto, desagrada á fábrica de militantes esquerdistas. O mesmo se dá quanto ao aborto, que contraria a pregação frankfurtiana da destruição dos valores cristãos de nossa sociedade. E qual é a grande jogada, que há tempos esfregam em nossas ventas?

Ora, representantes chorosos de ambas as causas procuram o Supremo Soviete Federal e lá apresentam suas petições em contrário, as quais são – de maneira inevitável e repetitiva em coincidências – prontamente atendidas, gerando assim uma anulação gritante dos desejos do povo (expressos pelo Congresso) em nome de suposta e recorrente “inconstitucionalidade”. A julgar pelo número de vezes que tal alegação foi usada, a Comissão de Constituição de Justiça do Legislativo é, supostamente, formada por mecânicos, pedreiros ou balconistas de loja, dada a “notória incompetência”: todas as leis que por lá passam são derrubadas pelo Soviete Supremo, o olimpo da sabedoria jurídica.

O que temos de fato, no momento, é que devemos nos preparar para a volta das intermináveis greves, passeatas com queimas de pneus e depredações do comércio e tudo isso financiado pelo dinheiro extorquido compulsoriamente do salário do trabalhador. Do mesmo modo, a liberação do aborto até a 12ª semana de gestação – sim, será aprovado, alguém duvida? - abre as portas necessárias para a ampliação desse prazo até o paroxismo de, em futuro não muito distante, ser necessário perguntar a mãe, após longo e doloroso trabalho de parto normal:

- Berçário ou aborto?



Walter Biancardine




segunda-feira, 11 de setembro de 2023

CRITICAR COM CUIDADO -


Em rompantes de raiva costumamos atribuir a totalidade dos defeitos da raça humana àqueles que nos provocaram tal acesso, mas a verdade é que, se quisermos um revide ou simplesmente nos precaver, precisamos enxergar tal desqualificado em sua totalidade - os óbvios defeitos e as qualidades, que nos recusamos a ver.

Não é de hoje que sabemos haver o físico Albert Einstein "chupado" sua "Teoria da Relatividade" do genial Poincaré, em vigoroso "blowjob" plagiário. Entretanto, fosse nosso amigo Al um bocó e tal não teria feito, por absoluta incapacidade de compreender - e mesmo explicá-la depois, à admiradores ingênuos.

Transplantando tais vigarices para latitudes mais tropicais, ocupamo-nos desancando o cachaceiro Lula e seus sequazes além do ditador vigente, Alexandre de Moraes (cadê as "ibagens" da Itália?) e diversos outros.

Cabe, entretanto, a ponderação: nós, que somos tão inteligentes, ficamos aqui apenas sofrendo as consequências das arbitrariedades e roubalheiras que tais elementos praticam. Só que eles, com todos os defeitos que sabemos e mais outros que os imputamos, estão lá, com o Poder nas mãos, canetas miraculosas que tudo assinam - mas são uns idiotas!

Pois é.
E nós, "espertos", só aqui, levando fumo.

É parar pra pensar.



 

domingo, 10 de setembro de 2023

COM QUEM VOCÊ SE CONFRONTA?

Somente a solidão pode nos proporcionar o confronto único e exclusivo com o que somos, a oportunidade de encontrarmos nossa essência. Se, por mais sozinhos que estejamos, conseguimos alguns poucos amigos - um pequeno círculo - nossa busca terminará por ser a adequação á esse grupo, ao consenso dominante.

Escrevi já algumas vezes que uso minha solidão como um silício, a penitência de alma que proporciona o postar-me diante do Único, o Onisciente do qual nenhuns pecados meus - e minha essência - poderei esconder. Quando adotamos tal parâmetro para a unidade de nosso próprio conhecimento (e, consequentemente, de nós mesmos), o universo de nossos pensamentos, valores e objetivos transcende o cotidiano que a busca do pão de cada dia nos limita e impinge. Ao fim e ao cabo, o perdão de Deus é a maior graça que podemos e devemos buscar.

Mas existem efeitos colaterais adversos, dentre eles - e muitos devem estar fartos de ver-me exibi-los - a depressão, auto crítica exacerbada e a adoção de um determinismo que beira o eclesiástico (do Eclesiastes) - fatalista, quase pessimista e cruel em conclusões.

Isto, entretanto, é um processo; sigo á meio caminho e somente Deus sabe se o concluirei.

As contingências de minha vida pessoal agravam tal quadro mas, paradoxalmente, são tais vicissitudes que me proporcionaram esta oportunidade - muito difícil recomendá-la a outros.




 

sábado, 9 de setembro de 2023

PEQUENAS ALEGRIAS


De volta aos escritos, após longo e negro túnel, motivado por tocante coincidência de pequenos detalhes. Para alguns, pouco ou nada podem significar mas, para mim, carregam em si o resumo de uma felicidade que há muito joguei fora.

Cerca de quinze minutos atrás liguei a cafeteira para passar um novo e fresco café, tendo saído logo em seguida para buscar o almoço, sempre generosamente fornecido por seu Dail de quinta á domingo. Ao voltar e abrir a porta de casa - eram exatas 17:05h - o cheiro do café recém coado invadiu-me as narinas, o coração e a alma.

Tal como acontecia quando jovem, voltando da padaria e com minha mãe tirando o café da velha Bender.

Tal como acontecia até recentemente quando, ao voltar da rua trazendo paçoquinhas, minha (ex) mulher cobria a mesa com a toalha e lá colocava a garrafa térmica recém abastecida, um cesto de pães e manteiga "Aviação".

Tal como acontecia quando eu era homem, gente, indivíduo prestante, com gente que eu amava ao meu redor.

Sozinho, sentei na cama, sorri e agradeci a Deus.

Muitos sequer boas lembranças possuem.

Amanhã é outro dia.



quarta-feira, 6 de setembro de 2023

GARDÊNIAS E JOANINHAS

 


E então ela plantou uma gardênia em meu coração.

Joaninhas vieram e lá habitaram.

Seus olhos verdes viram que era bom,

e passou anos plantando.

Preparou a terra, arou, semeou

e pediu que eu cuidasse.

Meu egoísmo me fez esquecer,

não reguei, não cuidei,

restaram sementes secas

e as joaninhas se foram.

A chuva em que me viste, entretanto,

enxarcado à beira da estrada,

despertou as sementes, e floresceram.

Agora sou um jardim,

mais cheio de amor do que jamais,

gritando, em desespero,

pela volta das joaninhas.

Pouse em mim, olhos verdes.



terça-feira, 5 de setembro de 2023

A CORAGEM DE SER COVARDE

 


É um crepúsculo que não me abandona, trazendo sempre noites de culpa e remorso.

Busco permanecer em pé convencendo-me que, se não há mais razões para perambular pelos vazios que me cercam, devo eu, entretanto, o pagamento por tantos males que causei. Sim, preciso me redimir, penso, emprestando um nome mais bonito às tais pendências e tentando crer que, antes de ir, manda a vergonha que eu as pague.

Olho o passado e dou conta de ter vivido tal como um drogado, alguém cujo egoísmo o entorpeceu durante décadas e que, só agora, beirando a sobriedade da velhice e internado em solidão, percebe o desprezível que foi e o farrapo moral que tornou-se.

Sim, são muitas dívidas, há muito o que pagar – ou do que me redimir, como digo em franca auto piedade.

Mas sei somar 2 + 2, compreendi minhas limitações, fraquezas e incapacidades. E, em um raciocínio puramente contábil, concluo que a quitação de tais débitos é impossível – é hora de declarar falência e retirar-me do ramo.

Não tenho, entretanto, coragem – o paradoxo de faltar bravura para ser covarde.

Permanecerei tal qual pano de chão, esquecido em algum canto, até que um desespero impulsivo seja mais forte que a resiliência que traveste o medo.

Sigo cumprindo minha longa sentença de entardeceres.

Não preciso de um 6 de setembro para lembrar de comprar o pão.


A solidão e o tempo
trouxeram a aridez
em minha vida;
Não foram escolhidas,
ao gosto do freguês,
Nem o tempo, a miséria,
muito menos a solidão sofrida.



sábado, 2 de setembro de 2023

O DOM PODE TORNAR VOCÊ UMA FARSA

 


Existe preocupante ambiguidade quando adotamos a escrita como ofício e, pior, a consideramos o exercício de uma arte, espelhando-nos em luminares como Tácito, Machado de Assis e outros. E tal sentimento bifronte se revela quando, ao finalizarmos a obra, intuímos que toda a bela construção parece carecer de verdadeiro lastro na alma e nos sentimentos de quem a produziu; trabalho magnífico, convincente, verossímil e de esmerada técnica que parece não carregar em si, entretanto, um je ne sais quois humano.

Em passado distante já me vi, em jornais, defendendo situações políticas com as quais não concordava mas, para melhor ou pior, saí-me muito bem. Em outras palavras, exerci meu ofício tal qual um bom advogado desempenha, com brilho, suas funções – não vindo ao caso se defende punguistas ou acusa viúvas, pois prevalecerá a destreza em seu trabalho e sobre o mesmo as pessoas tirarão suas conclusões e formarão opiniões.

Laudas tratadas como arte inevitavelmente empurrarão seu autor ao mesmo abismo emocional frequentado por atores, poetas, pintores, escultores e toda a plêiade humana que nada mais útil sabe fazer: invariavelmente acabam por duvidar da própria sinceridade, desconfiar de seus sentimentos e crer-se notória farsa. 

Teria Vinícius de Moraes a certeza íntima que a bela poesia, escrita para a mulher que verdadeiramente amava, iria convencê-la? Ou a moça em questão, sabedora de sua desenvoltura no ofício, a encararia apenas como grande gentileza do amigo famoso? E o próprio Poetinha, nos inevitáveis momentos de autocrítica? Julgaria amar tanto assim quanto escrevera ou a “mão invisível que guia a caneta” – sim, ela existe – teria possuído sua pena e lavrado o que de melhor caberia no papel e nas emoções alheias, não traduzindo tão exatamente, todavia, o que ele próprio sentia?

Como confiar na sinceridade de um amigo que é ator, e nos procura para pedir ajuda em grave problema – segundo ele – que enfrenta?

Se há algo que pode destruir um homem é a mentira e, talvez movido por essa certeza, há tempos decidi limitar meus comentários políticos aos assuntos que me despertam algo de passional – se, no trato que dou às palavras, pode haver alguma desconfiança, ao menos não haverá quanto aos sinceros motivos que me levam a escrever. Inúmeras vezes o assunto palpitante era, por exemplo, alguma CPMI no Congresso. Entretanto, a fúria interior levava-me a desancar STF, sistema judiciário e outros quetais. Eram rosnados sinceros.

Igual razão me fez não mais escrever cartas para a mulher que amei toda uma vida: ela me conhece, sabe que posso até – com boa vontade – ser quase convincente com lápis e papel nas mãos e, por isso, me abstive. O que, eventualmente, por aqui garatujo são explosões, rompantes passionais - a mesma passionalidade que enxergo como o que há de mais verdadeiro em minha caneta - de um amor que tornou-se impossível guardar em mim e que, hoje sei, ela jamais verá.

Não quero nenhuma sombra de dúvidas quanto ao maior, mais precioso e profundo sentimento que tenho, hospedado em mim desde tenros 8 anos de idade. Por isso, prefiro pedir ao bom Deus que me dê a oportunidade de falar com ela frente a frente – ainda que gaguejante, trôpego em palavras mal escolhidas, nenhuma noção de romance e incapaz de olhar em seus olhos, sob pena de arriscar um beijo e levar um tapa.

Sei, entretanto, que tal chance jamais acontecerá e, por isso, recolho-me ao abismo; condenação perpétua agravada por formação de quadrilha com poetas e atores.

E faço lives no YouTube para mostrar que, se sou muito mais feio que estas laudas ao menos endosso, com boca claudicante, o que a porca mão escreve.

Tal qual a chance que espero, com a mulher amada.


Walter Biancardine


NOTA DO AUTOR – Em meu livro “Pretérito Perfeito” ( https://clubedeautores.com.br/livro/preterito-perfeito-4 ) expus o outro lado da moeda que descrevo acima. Em minha obra, dividi a mulher que amo em duas: alguns fatos reais foram usados para compor a Dra. Andressa, tais como ser médica, termos vivido uma lua de mel apaixonada entre viagens de moto e lenços amarrados na mesma, entre outros pequenos detalhes. Já para a judia Hanna consegui transpirar, em quase totalidade, a alma de quem ainda amo: a paciência infinita com minhas dúvidas e problemas (sempre esperando meu amor), o fato de deixar uma vida para trás e ficar comigo, a capacidade de enxergar minha alma e até mesmo a pegada “hippie” da personagem. Isso resultou em claro sintoma de uma contra-parte do que descrevo acima, pois hoje temo confundir o amor verdadeiro que sinto por ela com a paixão que descobri pelas personagens que criei.
É um caso perigoso, um misto de idolatria com patologia da psique, tudo isso fruto de um amor impossível de morrer.
Tal como escrevi no livro, “se não pode ter a original, que fique com a cópia”.





sexta-feira, 1 de setembro de 2023

7 DE SETEMBRO: OU FICAR A PÁTRIA LIVRE, OU MORRER PELO BRASIL.

 

Já acusava o professor Olavo de Carvalho haver se tornado corrente, em nossa comunicação cotidiana, a desvalorização completa – ou, ao menos, a ressignificação mais conveniente – das palavras de nosso idioma. 

Assim podemos contemplar, com espanto, as mesmas pessoas que saíam às ruas de peito estufado por súbito patriotismo e cantavam a referida estrofe a plenos pulmões encolherem-se, agora, em suas respectivas casas, sob alegações diversas: desapontamento, decepção, frustração e até mesmo “desgaste emocional”. Alguns, mais sinceros, não escondem: ficarão em casa neste dia da pátria por medo mesmo.

Reconheço, cabisbaixo, a vitória da esquerda sobre nós: após incansáveis postagens nas redes sociais, discursos em botequins, papos no trabalho e até aquela conversa fiada com o barbeiro ou o motorista do táxi, referindo-nos ao brasileiro médio como “um povo omisso, que só quer saber de novela e futebol” e, em momentos de exaltação cívica, pespegando-nos à testa a pecha de “covardes”, bastou o sistema rosnar e mostrar os dentes no dia 8 de janeiro para que uma súbita epidemia de “prudência”, “frustração” ou “exaustão emocional” se abatesse sobre a maioria esmagadora do povo brasileiro – sim, pois nós, conservadores, a somos.

Todos os piores adjetivos são, podem e devem ser aplicados à esquerda, com exceção de frouxos, omissos e sem disposição de lutar pelos seus (vá lá) ideais. Na luta pela implantação de sua tão sonhada “ditadura do proletariado” os canhotos dos anos 60 não se furtaram a marcar – à custa de sangue, borrachadas e prisões – sua presença incessante nas ruas do Brasil, e assim persistiram até que, vemos e sofremos hoje com isso, a conseguiram.

Alegam alguns que as ruas não são o melhor caminho para nós, que devemos prioritariamente ocupar espaços – leia-se agir tal qual a esquerda, infiltrando-nos na máquina pública, no sistema de ensino, na cultura e grande mídia – e que as ruas só dariam aos ditadores, ora em plantão, mais motivos para endurecerem ainda mais.

Respondo apontando que há duas certezas em tal afirmativa: a primeira é que sim, precisamos infiltrar-nos, agir gramscianamente tal qual a esquerda, mas não posso omitir dois erros presentes na citada proposta, os quais já comentarei.

Com ou sem ruas, a ditadura endurecerá - é a segunda certeza. Tal como dizia Olavo de Carvalho, “prenda os comunistas antes que eles o prendam por crimes que eles cometeram” – assim vimos no 8 de janeiro, onde os infiltrados vândalos estão livres e os inocentes pagam culpas alheias – e este é o primeiro erro apontado. E, em segundo lugar e replicando mais fielmente ainda a esquerda, não só devemos infiltrar-nos na burocracia estatal, nas artes, cultura e mídia como, também, devemos exercer nossa presença incessante nas ruas - nos omitirmos será o segundo erro que acuso. Explicarei o porquê com fatos históricos.

É do conhecimento de muitos que havia um aparente “racha” na esquerda dos anos 60: uns defendiam a luta por meios gramscistas e outros, pela força das armas – em moeda mais corrente, abrangia desde guerrilhas, assaltos á bancos, sequestros até as indefectíveis e utilíssimas passeatas.

Lembre-se de Jung: um homem não vive sem símbolos e a garotada que apanhava de cassetetes nas ruas durante os anos 60 causava a comoção e simpatia necessária ao movimento que era “tão justo, tão bom”, a ponto de fazer com que jovens sacrificassem suas vidas em prol da “única solução viável para um Brasil e uma sociedade melhor”. Sim, estes jovens eram palpáveis; eram nossos colegas de escolas, o filho da vizinha, um professor que chegava na sala de aula com olhos roxos – e isto comovia e, compreensivelmente, revoltava a todos, eram símbolos perfeitos!

Estes rapazes de costas lanhadas e olhos roxos tinham duas funções, na complicada equação político-gramscista-junguiana esquerdista: faziam com que pais e mães de família não achassem tão “radicais” aqueles meninos que optavam pela guerrilha – afinal, o filho de dona Creuza tá aí, todo quebrado, tadinho! - mostrando que seria impossível a um jovem jogar tudo fora por algo que não fosse digno de dar sua vida, e também criavam não só os personagens mas – principalmente – o clima emocional para o trabalho gramsciano.

E todos nós nos embalamos nas músicas de Chico Buarque, nos filmes “proibidos” do Glauber Rocha, rimos com as piadas conspiratórias e cheias de parábolas – afinal, eram perseguidos! - de um Jô Soares até que, quando nos demos conta, éramos todos simpáticos e apoiadores da esquerda. E mais apoiadores ficamos quando os canhotos, cientes e seguros de seu aparelhamento estatal, cultural e midiático, trocaram a carranca conspiratória por um simpático sorriso de “diretas já”, permitidas por um regime moribundo e em franca rendição ao mais poderoso dos feitiços, ao qual não dera a devida atenção: grande mídia e cultura.

A verdade é que o gramscismo não teria prosperado sem o jovem de costas lanhadas e olhos roxos das ruas. E nossa atual ditadura comunista não estaria atualmente no poder no Brasil – e em muitos países do mundo – se tais pobres jovens não houvessem conquistado nossos corações. Racha? Uma ova!

É bem verdade que a grande maioria de tais meninos foram, verdadeiramente, idiotas úteis: morreram, aleijaram-se nas drogas, jogaram vidas, casamentos, famílias fora por conta do que acreditavam e que hoje, quero crer, todos sabem ter sido o mais pérfido e cruel dos contos-do-vigário já aplicados sobre a humanidade.

Uma grande mentira custou vidas, custou sangue e o destino de muitos. Ora nós, que sabemos a verdade, que a temos – junto com Deus – em nossos corações, não estaremos dispostos a nenhum sacrifício por isso? Nem por nossos filhos e netos? E não se trata de incitar que pessoas vão às ruas em atitude depredatória, vandalista. Pelo contrário, trata-se de demonstração pacífica, ordeira – silenciosa, inclusive – e dentro da lei: permanecermos de costas para as autoridades e tropas em desfile – e nossa bofetada será ouvida em todo o planeta.

Todos temos livre arbítrio, direito de escolha e, por enquanto, alguma liberdade e você tem a sua: ir ou ficar em casa.

Mas lembre-se de sua decisão ao cantar “Ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil” na próxima vez.

O peso das palavras não pode ser relativizado.


Walter Biancardine