Mundos e afundos
Só um sub-desenvolvido, insensível para com os elevados e sublimes propósitos da arte pela arte – ou como diz o leão da Metro, “artis gratia artis” – poderia criticar o mecenato da administração ortopédico-stalinista-teocrática-municipal.
O afundamento da imagem de um Cristo transcende, em muito, a crítica mesquinha dos mal-amados de plantão que, como eu, não receberam nenhum capilé para falar bem do empreendimento submarino. O afundamento representa, de uma maneira concretista e sob uma ótica naif-cubista-expressionista-sorridente, tudo o que o poder público afundou nos últimos anos.
Se eles conseguem afundar um Cristo, naufragar os royalties do petróleo – que afinal veio do fundo do mar, mesmo – é moleza.
O afundamento da imagem de um Cristo transcende, em muito, a crítica mesquinha dos mal-amados de plantão que, como eu, não receberam nenhum capilé para falar bem do empreendimento submarino. O afundamento representa, de uma maneira concretista e sob uma ótica naif-cubista-expressionista-sorridente, tudo o que o poder público afundou nos últimos anos.
Se eles conseguem afundar um Cristo, naufragar os royalties do petróleo – que afinal veio do fundo do mar, mesmo – é moleza.
O realismo abstrato municipal
Ainda nessa onda artística que assola a Prefeitura, esta coluna se atreve a enviar sugestões de outros monumentos submarinos que poderiam ser erguidos – ou afundados, melhor dizendo – pelos próceres do soviet supremo da Avenida Assumpção:
AFUNDEB – O monumento ao FUNDEB afundado
Hidra da hidratação – Estátua em estilo grego clássico, representando a saúde submersa pelo mitológico Fauno, o ser lendário e saltitante que sorri para as virgens do templo enquanto mergulha os doentes no fundo do mar para a sua cura mística
Petrofundo – Esse é manjado. Animal da mitologia Santa-Helenística que representa os abismos que acorrentaram a hidra dos 500 milhões de cabeças reais.
As pulgas de Esculápio – Estátua que representa as penas infernais impostas pelo sádico e mitológico professor Horroreus aos seus pobres alunos.
Cadê o meu?
É assim que se promove a arte para o povo, caros desentendidos da erudição: raspa-se o tacho no supérfluo – tipo saúde, educação e segurança – e se enterra tudo (ou afunda-se tudo) na cultura para as massas. No caso, em forma de uma estátua que será contemplada pelos pobres e incultos mergulhadores que lá fundearem suas humildes lanchas de 53 pés ou seus simplórios veleiros transoceânicos de três mastros.