Tem sido constante os clamores da OAB, na pessoa de seu presidente seccional, Dr. Eisenhower Dias Mariano, as queixas e mesmo denúncias contra a Segurança Pública de Cabo Frio, opinião compartilhada por nós outros do Da Redação.
Entretanto, cabe ressaltar a diferença fundamental entre o policial, o ser humano que veste a farda, e a Segurança Pública, a política estabelecida para manter a sociedade segura e protegida – um dever do Estado.
Salvo as exceções – pois que canalhas permeiam profissões que vão do sacerdócio ao jornalismo – os policiais são homens e mulheres decentes, íntegros e que convivem todos os dias na triste fronteira entre a Lei e a imundície. Não há salário que pague o bastante à alguém para que ele se julgue recompensado materialmente por expor-se, todos os dias, à uma bala na cara. Se alguém abraça a carreira das armas, é por um ideal que o motiva, um ideal que não pode ser pago e sim recompensado pelo sentimento de servir ao próximo e cumprir, com honradez e brilho, o seu papel.
E é difícil um ideal resistir, mesmo sabendo que não há salário que o pague à altura, quando nem ao menos seu papel de homem provedor, de mãe de família, de cidadão digno ele – ou ela – consegue cumprir ao receber as parcas moedas dadas pelo Estado ao fim de mais um mês em que conseguiu escapar ileso, ou nem tanto.
É difícil um ideal resistir quando o ímpeto é agir, mas a realidade não o permite – não há balas, armamento tôsco, não há viaturas e, mesmo se houvessem, não haveria gasolina para as mesmas – e é aí o ponto onde a falibilidade humana se revela nos mais fracos que, sem pretender justificar seus atos, descambam para a corrupção conivente enquanto os mais resistentes procuram outros empregos.
No outro lado da questão está a Segurança Pública, a política de Segurança Pública, concebida no ar rarefeito dos gabinetes refrigerados e blindados daqueles que, na melhor das hipóteses, desconhecem a realidade da terra em que vivem.
Erros são cometidos todos os dias, todos somos humanos, e graças à eles nossos acertos merecem um brilho especial – mas não é o que acontece em determinadas e precisas áreas da administração pública. Curioso tripé: por que será que o ensino, a saúde e a segurança – obrigações básicas de um governo, as quais não mereceriam sequer ser discutidas, pois é o mínimo pelo qual temos direito em troca de nossos impostos – sempre são, de uma maneira repetitiva através das décadas e por todo o Brasil, os pontos mais ridículos, pífios, uma verdadeira piada de mau gosto arremessada em nossa rotina?
O que um governante ganha com um cidadão ignorante? O voto inconsciente?
O que um governante ganha com um ensino e saúde pública precária? O agradecimento generoso dos donos de redes de ensino particulares ou das redes de hospitais privados?
E o que um governante ganha com uma política de segurança deliberadamente ineficiente? A privatização da polícia, sempre sujeita à corrupção e, portanto, transformada em quadrilha de jagunços ao serviço de poderosos?
São as perguntas que escutamos desde a mais tenra infância e que, temo, morreremos todos sem que elas tenham sido respondidas.
Deixo aqui meu mais profundo respeito àqueles que arriscam suas vidas todos os dias, noites e madrugadas, chuvosas, frias ou de lua, para nos proteger: os policiais.
Mas quero deixar bem claro o mais raso desprezo àqueles que brincam com nossas vidas e com as daqueles que as protegem, ao transformarem-nos em meros joguetes de seus interesses mesquinhos de poder, ambição e desumanidade.