segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A favelização do pensamento

Os recentes acontecimentos do bairro Jacaré parecem ter servido de verdadeiro divisor de águas no pensamento da segurança pública cabo-friense; ao menos é o que se espera, aduzindo-se esta conclusão pelas falas das autoridades envolvidas.

A 20ª Subseção da OAB e o Lagos Jornal tiveram pontos de vista convergentes no que se referia ao problema e, principalmente, na necessidade que ambos acreditavam essencial que fosse divulgada: a verdadeira criminalidade por detrás dos números.

Atualmente, entretanto, esta folha observa que a cidade se encontra em uma segunda etapa deste problema e expôs esta crença na reunião do Conselho, através de seu representante que cobria o evento. Pensamos ser necessário, agora, a discussão em torno da questão da “política de segurança pública”, e grifamos isto na reportagem da semana passada, onde expusemos: “A segurança hoje é uma questão de política, e não mais de polícia”, ponto de vista igualmente compartilhado pelo presidente do Conselho de Segurança, Flávio Fontani.

A tal ponto avançou a criminalidade na região que resulta perda de tempo e discussão vazia debater as estratégias policiais ou o estado das viaturas do batalhão. Agora estamos em um segundo tempo e o que urge é a discussão em torno das políticas de segurança pública, que passarão necessariamente pela construção da Casa de Custódia e implantação da Delegacia Legal, além do desdobramento do 25º BPM em mais uma ou duas unidades, com conseqüente aumento de efetivo militar. Tudo isso coroado, é claro, pela óbvia melhoria das condições operacionais da PM, proporcionada pela destinação de um quinhão bem maior do orçamento público estadual ao quesito segurança – carência observada inclusive pelo governador Sérgio Cabral em recente visita à Cabo Frio, coincidentemente realizada no mesmo dia em que eclodiram os tumultos no Jacaré.

Tal é a urgência dos pontos listados acima que mal podem ser discutidos em seu destaque merecido, uma vez que outra questão crucial vem à reboque, já pressionando as atenções para sua gravidade – esta sob única e exclusiva responsabilidade do poder público municipal: a favelização da cidade.

É sabido que a ocupação desordenada do solo gera este tipo de comunidade-feudo, onde o Estado nunca está presente e o crime faz as vezes de assistente social, polícia, tribunal e pelotão de fuzilamento. O processo já é por demais conhecido, estudado, entendido e – pior – praticado em toda a capital carioca e não existem desculpas plausíveis para a sua repetição em nossa cidade que não passem, necessariamente, pela irresponsabilidade e pelo verdadeiro crime contra a dignidade humana e integridade física e material dos cabo-frienses, levado à efeito pela omissão municipal.

Temos hoje 7 ou 8 favelas, todas ainda passíveis de fácil urbanização e permeáveis – ainda – à presença do poder público através de postos de saúde, DPO’s, escolas e outros serviços. Temos também um início tímido de uma escalada habitacional Morro do Telégrafo acima – igualmente ainda resolvível de modo tranqüilo.

O que se observa, entretanto, é a absoluta inércia das autoridades responsáveis por estas providências. Não há por que esperar pelas ações do governo do Estado, uma vez que sua área de atuação é outra e alegar esta razão é pura e simples má fé. Igualmente, estacionar o Governo Municipal na casa da omissão é praticar, com dolo, um crime contra todo e qualquer cidadão de Cabo Frio que não quer viver, ou conviver, com o cenário de degradação social e guerrilha urbana existente na capital, por obra e graça dos mesmos vícios de inércia, apatia, omissão e – quiçá – oportunismo e malícia política que os permitiram nascer, na extinta Cidade que já foi Maravilhosa.

Da Redação


Eu vou beber pra esquecer "môs pobrema"

É com muita frustração, com o orgulho em cacos e com a baixa-estima latejante em agonia que temos de dar a mão à palmatória e concordar com Odacir Gagau: só bebendo, mesmo.

Imagine que o cidadão sai do Rio de Janeiro corrido, sob uma chuva de balas, crente que vai se livrar de todo aquele perrengue que perfaz a triste rotina das grandes cidades – tiros, seqüestros, roubos, furtos, e mais um monte de trambicagens que fazem a alegria dos vendedores de alarmes cariocas – e vem se abrigar em Cabo Frio, o oásis de paz, tranqüilidade, gente amiga, águas transparentes e vento nordeste constante a limpar os ares da cidade.

Pois é, e deu no que deu: já tem gente com saudades do Morro do Alemão.

É Jacaré na cabeça

Mais que um palpite para os corretores zoológicos, a frase acima quer dizer a figura de um imaginário bairro-crocodilo, à martelar nossos crânios com a insistente e irrespondível pergunta: e agora, José ?

- “E agora”, perguntou Odacir, “desce mais uma gelada aí”, gritou o empresário boteco-etílico-crocodilesco-jornalístico, que tem até medo de botar em seu jornal os boatos que correm por aí, dando conta que a chapa vai esquentar no bairro, neste fim de semana.

E assim foi: depois de descer umas cinco dúzias, a gente fica surdo mesmo, e nem ouve os tiros.

Ai de ti, Cabo Frio

Um só batalhão para tomar conta de sete cidades, que vão de Saquarema até Rio das Ostras. Engraçado como acharam por bem separar Arraial do Cabo de Cabo Frio, um município que se a gente gritar no Foguete, respondem lá da Prainha, mas ninguém tem a mesma agilidade pra separar a jurisdição do 25º BPM. Caberiam, com folga, uns 3 ou 4 batalhões novos.

Será que estão tão ocupados que nem pensaram nisso?

No hospício, eu era Napoleão Bonaparte

Todo doido tem essa mania, e nós não poderíamos deixar de ter as nossa, afinal somos completamente insanos.

Só um maluco pensaria que, na prática, apenas 3 rodovias conduzem tudo e todos à cidade e, portanto, bloqueando-as com fiscalização severa, muita arma e droga poderia ser apreendida.

Só um 22 de carteirinha imaginaria em mandar a Guarda Marítima dar uma incerta em tanto barco que entra e sai de nossas águas, afinal – bom maluco que somos – em nossa mania conspiratória, poderíamos achar que indivíduos poderiam estar introduzindo – no bom sentido, é claro – sub-repticiamente, armas e drogas nos porões das embarcações.

Só um completo demente teria a louca idéia de montar uma fiscalização braba no aeroporto, afinal, já dizia vovó: “Cautela e caldo de colega não fazem mal a ninguém”.

E é só por isso que nos conformamos deles não terem feito isso ainda, porque sabemos que eles têm o juízo em perfeitas condições, ao contrário de nós outros, cujos miolos cozinham nas mãos do palhaço já há tempos.

A diferença entre o policial e a Segurança Pública

Tem sido constante os clamores da OAB, na pessoa de seu presidente seccional, Dr. Eisenhower Dias Mariano, as queixas e mesmo denúncias contra a Segurança Pública de Cabo Frio, opinião compartilhada por nós outros do Da Redação.

Entretanto, cabe ressaltar a diferença fundamental entre o policial, o ser humano que veste a farda, e a Segurança Pública, a política estabelecida para manter a sociedade segura e protegida – um dever do Estado.

Salvo as exceções – pois que canalhas permeiam profissões que vão do sacerdócio ao jornalismo – os policiais são homens e mulheres decentes, íntegros e que convivem todos os dias na triste fronteira entre a Lei e a imundície. Não há salário que pague o bastante à alguém para que ele se julgue recompensado materialmente por expor-se, todos os dias, à uma bala na cara. Se alguém abraça a carreira das armas, é por um ideal que o motiva, um ideal que não pode ser pago e sim recompensado pelo sentimento de servir ao próximo e cumprir, com honradez e brilho, o seu papel.

E é difícil um ideal resistir, mesmo sabendo que não há salário que o pague à altura, quando nem ao menos seu papel de homem provedor, de mãe de família, de cidadão digno ele – ou ela – consegue cumprir ao receber as parcas moedas dadas pelo Estado ao fim de mais um mês em que conseguiu escapar ileso, ou nem tanto.

É difícil um ideal resistir quando o ímpeto é agir, mas a realidade não o permite – não há balas, armamento tôsco, não há viaturas e, mesmo se houvessem, não haveria gasolina para as mesmas – e é aí o ponto onde a falibilidade humana se revela nos mais fracos que, sem pretender justificar seus atos, descambam para a corrupção conivente enquanto os mais resistentes procuram outros empregos.

No outro lado da questão está a Segurança Pública, a política de Segurança Pública, concebida no ar rarefeito dos gabinetes refrigerados e blindados daqueles que, na melhor das hipóteses, desconhecem a realidade da terra em que vivem.

Erros são cometidos todos os dias, todos somos humanos, e graças à eles nossos acertos merecem um brilho especial – mas não é o que acontece em determinadas e precisas áreas da administração pública. Curioso tripé: por que será que o ensino, a saúde e a segurança – obrigações básicas de um governo, as quais não mereceriam sequer ser discutidas, pois é o mínimo pelo qual temos direito em troca de nossos impostos – sempre são, de uma maneira repetitiva através das décadas e por todo o Brasil, os pontos mais ridículos, pífios, uma verdadeira piada de mau gosto arremessada em nossa rotina?

O que um governante ganha com um cidadão ignorante? O voto inconsciente?

O que um governante ganha com um ensino e saúde pública precária? O agradecimento generoso dos donos de redes de ensino particulares ou das redes de hospitais privados?

E o que um governante ganha com uma política de segurança deliberadamente ineficiente? A privatização da polícia, sempre sujeita à corrupção e, portanto, transformada em quadrilha de jagunços ao serviço de poderosos?

São as perguntas que escutamos desde a mais tenra infância e que, temo, morreremos todos sem que elas tenham sido respondidas.

Deixo aqui meu mais profundo respeito àqueles que arriscam suas vidas todos os dias, noites e madrugadas, chuvosas, frias ou de lua, para nos proteger: os policiais.

Mas quero deixar bem claro o mais raso desprezo àqueles que brincam com nossas vidas e com as daqueles que as protegem, ao transformarem-nos em meros joguetes de seus interesses mesquinhos de poder, ambição e desumanidade.


Da Redação


See you later, Aligator

Cabo Frio assistiu, pasma, as cenas deploráveis que aconteceram no bairro Jacaré.

A verdade é que os responsáveis pela segurança pública estão perdendo o controle e, o que é pior, sobre uma criminalidade que está longe de dispor do arsenal bélico dos traficantes cariocas. Espremidos entre as pressões que exigem um falso paraíso de paz e tranqüilidade para os turistas e eleitores, e a realidade do cada vez maior número de vítimas desta mesma violência que começam a cobrar com veemência uma atitude decisiva, a Segurança Pública de Cabo Frio estaciona inerte, indecisa e embasbacada, sem saber o que fazer.

Enquanto pensam, a bala come solta.

“Des-imigrando”

O crescimento exponencial da violência na cidade começa a se refletir em um recém-detectado movimento inverso ao que vinha acontecendo durante os últimos anos: símbolo de um Eldorado do petróleo, promessa de vida melhor e com mais qualidade, Cabo Frio somou o desemprego, que persiste sem freios, à violência provocada pela política obtusa de tentar resolver um problema negando a existência dele. O resultado é que já se começa a observar a partida de algumas famílias, expulsas – tal qual o foram de um Rio de Janeiro, por exemplo – pela violência, cujo crescimento suscita muitas explicações, mas nenhuma justificativa é admissível.

Agora a sociedade cobra

Tem sido evidente, em todas as aparições públicas as quais foi chamado, que o Comandante do 25º Batalhão tem, como único argumento a oferecer, as tão faladas estatísticas de criminalidade que, segundo elas, apontam decréscimo da violência.

É um constante e já irritante remexer de papéis, em busca de índices salvadores, números que provem exatamente o contrário que os rios de sangue que são derramados na cidade nos mostram.

Também é notório o constrangimento do próprio coronel, já que certamente ele se vê impelido a pintar um quadro cor-de-rosa que só existe nas cabeças de alguns iluminados da corte. O coronel Adilson não chegou ao coronelato à toa, tem seus méritos, anos e anos de polícia nas costas e certamente sabe muito bem o que fazer para acabar com o abuso de reizinhos do tráfico, como os que têm aparecido por aqui.

Talvez o que falte – muito mais do que solucionar a crônica carência de efetivo e de condições do 25º BPM – seja, finalmente, deixarem o coronel trabalhar.

Ironia do destino

A 25ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil em Cabo Frio reclama, há tempos, sobre o que é mostrado nas estatísticas da criminalidade na região. Seu antigo presidente, Dr. Rulis, foi assassinado e até hoje o caso se arrasta em indecisões; membros da entidade sofrem ameaças com uma regularidade assustadora; denúncias chovem em seus balcões – ao invés de serem feitas nos órgãos de segurança – por medo do quê uma queixa pode representar em termos de represálias e agora um evento, programado para ser realizado no CIEP do Jacaré, obviamente foi cancelado.

Mais do que a segurança das leis, talvez a Ordem precise mesmo é se benzer.

Cruz, credo.