quinta-feira, 16 de maio de 2024

CHUTANDO CACHORRO MORTO -


Eu sou o cachorro morto.

Digno de estudos psiquiátricos e sociológicos é o impulso que algumas pessoas sentem em terminar de moer quem já está, publicamente, estraçalhado.

Uns desferem seus pontapés como tardia vingança pelo atrevimento que tive em expor, sem nenhumas reservas, a vida feliz que um dia desfrutei. Outros - não sei se mais ou menos doentes - acertam seus chutes somente pelo prazer sádico de soterrar quem não pode reagir. Em menor número, existem aqueles que agridem pelo simples fato de - mesmo sob tamanha decadência - termos o atrevimento de aparentar um mínimo de dignidade - o que, aos olhos dessa raça, soa como insuportável arrogância.

Nada posso fazer, não tenho meios de reagir sem que minha situação piore ainda mais. Aguento calado, pois, todos os inúmeros e quase cotidianos desaforos e ameaças, respirando fundo e fingindo que não doeu.

Entretanto, sempre bom é lembrar que dor de barriga não dá só nos outros. Os dias passam e tudo pode mudar.

Se e quando isso acontecer, o sangue calabrês falará mais alto. E haverá choro, ranger de dentes; muita gente aos prantos, dizendo-se injustiçada.

Mas somente se e quando o vento mudar.

Até lá, sofro em silêncio.


Walter Biancardine



segunda-feira, 13 de maio de 2024

TEMPOS MODERNOS -


Nos tempos do Império Romano os cidadãos que caíam em desgraça - fosse por atos vis de traição, por conspirarem contra o Imperador ou mesmo por insuflarem revoltas civis - eram banidos de Roma, suas casas demolidas e sal era jogado sobre os escombros para que nada mais nascesse ali. Igualmente, eram apagados da Acta Populi quaisquer registros que incluissem seu nome, eventuais estátuas suas eram derrubadas e sua memória, abolida do Senado.

Note-se que tais atitudes eram reservadas para personagens proeminentes e que cometessem atos além de qualquer perdão. 

Não há como acusar os antigos romanos de rancorosos ou cruéis, pois tais extremos - ao que parece - são inerentes à raça humana: nos dias atuais as relações desfeitas - sejam amizades ou mesmo namoros e casamentos - acabam por resultar no mesmíssimo processo de "abolição da memória", quando maridos ou mulheres, incapazes de admitir seu próprio passado, acabam por bloquear seu (sua) ex no WhatsApp, Twitter, Telegram, Facebook, Instagram e qualquer outra rede social com alguma popularidade.

Abolem o passado, apagam sua memória, jogam sal em seus próprios corações, matando todo o amor que juravam sentir e, por vezes, mudam o nome e endereço - passado morto, enterrado e vendido aos mais próximos como "página virada".

Darwin foi muito otimista em seu evolucionismo, pois atitudes assim mostram que somos os mesmos de 2000 anos atrás: negamos nossos conflitos e cremos, desesperadamente, que os resolvemos.

Para os que ambicionam a felicidade, agir como os antigos romanos é a receita certa para a estagnação bárbara e a morte do próprio coração. 

Fica o conselho: não tenha medo de seu passado. 

Ou jamais haverá um amanhã. 


Walter Biancardine



quinta-feira, 9 de maio de 2024

AOS 60, LEMBREI QUE NOS 80 EU TINHA 20 -

 


"Deixa as vinte?" - era a senha para a socialização dos cigarros e o que mais fizesse fumaça, "rodando na carioca", nos enlouquecidos anos oitenta.

Juventude e hormônios nos traziam a posse de verdades esculpidas em versos, contos, músicas, e mesmo parábolas, pelos mais atrevidos. 

E vomitavamos certezas e absolutos descontroladamente, todos os dias e em todos os lugares, para quem quisesse - ou não quisesse - ouvir. E o Baixo Leblon era o palco.

Pouco provável que sobreviventes destes anos lembrem o que fizeram naquele indefectível e lotado cruzamento de ruas, iluminado pelos neons da Pizzaria Guanabara e outros tantos. Lembrar como chegamos, com quem fomos, é fácil. O que fizemos, quem beijamos, abraçamos ou mesmo com quem fomos embora - ou se fomos embora - são outros quinhentos, para arrematar lembranças tão cheias de números.

Quem, nos dias de hoje, usaria uma sunga de crochê? Quem ainda acharia normal sair da praia já de noite - e o Arpoador era o local - e rumar, corpo salgado mas de carnes firmes, direto para o Baixo? Pior: não era programa de fim de semana, era a rotina de nossos dias (in)úteis.

Éramos eternos, imortais e lindos. Sabíamos de todas as verdades da vida - aliás, ela era nossa - e o futuro estava muito, muito distante. Tinhamos todo o tempo do mundo, e jamais pagaríamos o preço das nossas viagens.

Cazuza quase me atropelou com sua moto, em um ensaio que faziam no colégio Sacre Coeur de Marie, em Copacabana. O Barão Vermelho não existia, eram ilustres desconhecidos mas, sem graça, me presenteou com uns ingressos para suas primeiras e enlouquecidas apresentações. E me ensinou duas lições: que o futuro imprevisível sempre chega e, é claro, que o tempo não para.

O tempo não parou e o futuro chegou, trazendo com ele a overdose de aniversários por mim cumpridos.

Dei sorte. A maioria de meus amigos da época morreu ou enlouqueceu; alguns poucos conseguiram construir uma vida normal - "careta", diríamos na época - e outros, ainda, foram premiados com heranças ou influências paternas em suas colocações profissionais. Não tive nada disso, a minha boa ventura foi manter a sanidade psíquica, a forma física espantosamente em dia e jamais ter sido aprisionado pelos excessos de então, cigarros à parte. E não premeditei, foi pura sorte.

Este é o lado que me traz alegria, mas os dados seguiram rolando, o jogo prosseguiu e, mais de meio século nas costas, me dou conta que nada fiz de marcante: nenhum legado, nenhuma façanha, sem obras primas ou algo digno de se lembrarem de mim.

Não voltarei aos 80 como data, nem os alcançarei como idade; mas enquanto houver bambú haverá flechas - e quem sabe o que o restinho de meus dias poderá trazer?

Aprendí com Cazuza, no Baixo Leblon: o tempo não para. E morrer não dói.


Walter Biancardine


NOTA PÓS PUBLICAÇÃO (10/05/24):

Recebi WhatsApp de um amigo comentando sobre o texto que escrevi, a respeito de nossa desvairada juventude nos anos 80.
Em boa hora a mensagem chegou, pois lembrei do principal: toda essa vida enlouquecida tinha o amparo fundamental de um pai, uma mãe, contas pagas e confortável casa para morar.
Ser maluco com toda essa garantia é fácil.
Doido, sim. Revoltado? Nunca!



domingo, 5 de maio de 2024

VERGONHA QUATRO ESTRELAS: A OMISSÃO CRIMINOSA DE SOCORRO -

As Forças Armadas do Brasil conseguiram superar o triste recorde da outrora gloriosa Polícia Federal e despencaram vertiginosamente, em queda livre, sem freios ou pára-quedas, do céu ao inferno do desprezo - e até mesmo ódio - popular, com rapidez jamais vista.

Não satisfeitas com as declarações desastrosas e alinhamentos verdadeiramente traiçoeiros com a atual ditadura judiciária em vigor, feitas pelo Alto Comando - com destaque especial à birra infantil em  decidir bloquear nas redes sociais aqueles que critiquem a instituição, ameaçando jogá-los à sanha carnívora e arbitrária do STF - todos os responsáveis pelo Alto Comando das três Forças, de motu proprio, mergulharam de cabeça no pior dos lamaçais: serem os causadores da morte de centenas de crianças, idosos e adultos que esperavam um resgate que jamais veio, ilhados na maior tragédia humanitária já acontecida no Rio Grande do Sul.

Não só este resgate nunca chegou - desculpas pífias como "as estradas estão alagadas e não podemos passar" foram a tônica, sem jamais lembrarem-se que estes mesmos caminhões foram projetados para trafegar em quaisquer condições, bem como o "esquecimento" em utilizarem helicópteros - como, pasmem, decidiram bloquear civis munidos de botes, canoas, jetskis que voluntariamente arriscavam suas vidas em operações de salvamento, exigindo "habilitação para a condução" de tais embarcações - e isto é assassinato premeditado, com dolo explícito e requintes de crueldade e tortura para aqueles que, empoleirados nos tetos de suas casas, viram as águas subirem até os alcançarem e levarem-nos para a morte

Impossível acreditar em incompetência militar, desorganizações na logística ou carência de meios (viaturas, helicópteros ou mesmo contingente) pois, por muito menos - a vergonhosa perfídia do 8 de janeiro em Brasília - demonstraram um planejamento e coordenação cinicamente impecáveis, mobilizando um imenso contingente de praças fardados para levarem presos - sob a pútrida mentira que "os deixariam em um lugar seguro" - velhinhas com a Bíblia nas mãos, inválidos e multidão que chegou aos quatro dígitos de gente, cujo único crime foi protestar rezando o Terço.

Ainda não foram divulgadas notícias se este mesmo Alto Comando assassino estaria, de algum modo, tentando impedir atitudes humanitárias como a do empresário Luciano Hang (dono da Havan), por exemplo, que disponibilizou seus três helicópteros para tentar resgatar o maior número possível de vítimas do desastre - mas o auxílio jurídico da mais inconstitucional das Cortes, o STF, pode ser providencial: não duvidem se Alexandre de Moraes baixar algum decreto que simplesmente impeça o socorro prestado por cidadãos comuns - sim, algumas prefeituras gaúchas já fazem isso e seria coerente com sua fala recente, verdadeiramente autocrática, de que "anunciaria medidas para o Rio Grande do Sul".

Na rede X, antigo Twitter, a catarinense Larissa de Luca divulga que, em alguns lugares, as águas já chegam ao quinto andar dos prédios, enquanto o Alto Comando positivista de nossas Forças Armadas delicia-se em sua vingança contra o povo brasileiro e Alexandre "o Glande" exibe, para quem quiser ver, a realidade de quem manda, de fato, nesta pobre ditadura.

Vivemos uma inegável anomia institucional, onde não somente as forças de segurança como, igualmente, todo o estamento burocrático vive seus dias sob o único propósito de consolidarem a mais tenebrosa e soviética das ditaduras já impostas nas Américas - é apenas uma questão de tempo até que o impensável de hoje seja nosso pesadelo - e causa mortis - de amanhã.

Obviamente a brutalidade da atual conjuntura, amparada pelo recurso recorrente e impune à pura e simples ilegalidade, não será exorcizada por meios institucionais (lembrem-se: não temos mais instituições, o Congresso está fechado pela força do dinheiro e do STF) pacíficos e ordeiros. A melhor e mais "tranquila" solução que podemos conceber será a vitória de Donald Trump nos EUA e algum auxílio externo (norte americano) que nos salve de tais absurdos - e mesmo assim haverá choro e ranger de dentes.

Não há como impor o impeachment de onze ministros do STF, de três oficiais dos Altos Comandos das FFAA, dos presidentes da Câmara e do Senado, do Presidente da República e de mais um batalhão de militantes infiltrados em todas as nossas instituições - seria o mesmo que pretender resolver o problema de uma casa infestada por baratas matando-as, uma por uma, com um chinelo.

Um novo Tribunal de Nuremberg seria necessário mas - peculiariedades brasileiras - não temos homens honestos em quantidade suficiente para tal empreitada, a verdadeira dedetização que poderia resolver a realidade felliniana em que vivemos. E o quê nos resta?

Desde que Jair Bolsonaro começou a declarar que tudo teria de ser resolvido "dentro das quatro linhas da Constituição", discordo e escrevo em meus artigos que Moisés não teria libertado os judeus do Egito se obedecesse as ordens de Faraó. Somente um povo em combate, firmemente decidido a derrubar a atual ditadura, seus sequazes e militantes, poderá - talvez - resolver. E não se iludam: nossas "gloriosas" Forças Armadas estarão à postos, prontas para defenderem os ditadores e seus inúmeros filhotes, pendurados em suas generosas tetas. Será, portanto, um combate duro e que certamente custará o sangue (como já previra o Gen. Figueiredo no passado) de milhares de brasileiros.

Parece que, ao menos, as máscaras caíram e as FFAA finalmente revelam sua verdadeira e tenebrosa face positivista (ideologia prima-irmã do comunismo), a qual denunciei, tempos atrás, em meu livro "Mais Olavo Menos Oliva", impresso pela editora Clube de Autores e com o link postado nesta minha página pessoal, basta procurar na coluna do lado direito.

O que nos resta fazer é tentar - ao menos tentar - salvar a vida de nossos irmãos gaúchos e desobedecer, descaradamente, toda e qualquer ordem advinda de guarnições militares. Você tem uma canoa? Vá, e que se dane. 

Milhares de brasileiros estão em vias de morrer, outros tantos já pereceram - alguém disse, no local, que após as águas baixarem a cidade se tornará um verdadeiro campo de batalha, com milhares de cadáveres espalhados pelas ruas - enquanto Lula bebe, Janja desfila com Anitta no show da Madonna e Alexandre, "o Glande", masturba-se para sua própria onipotência, diante do espelho.

Algo precisa ser feito e não podemos ser como nossos inimigos: simplesmente omissos.

Se você tem um mínimo de condições, vá e faça! Por nossos irmãos gaúchos, por sua honra, sua família, pelo Brasil e por Deus!


Walter Biancardine



Fonte do vídeo: depoimentos colhidos pelo canal VISTA PÁTRIA, no YouTube