sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Da Redação

São tantas emoções...
Nem tudo são tapas e farpas entre os dois principais periódicos da nossa progressista cidade: Odacir Gagau abandonou seu merecido descanso na Rehab Saint Jack Daniel’s, da qual rumaria direto para o Gantois, e pousou na redação de seu jornal para solidarizar-se com nós outros.
Ao que parece, o jornalista compartilha o ponto de vista de que eventuais aplausos dados pela imprensa à quaisquer governantes devem ser feitos através das páginas de seus jornais, e não pelas mãos ávidas da claque editorial presente à pantomima coletiva da última semana.
Merece nosso brinde.



Es muele o quieres más?
Desde que Guttenberg imprimiu sua primeira folha que criou-se o hábito da troca de mimos entre governantes e os arautos dos seus feitos. Até aí, nada de novo sob o sol.
A novidade que veio dar na praia, na qualidade rara de vexame, foi a declaração prestada na coletiva (s.f., do verbo ‘coletar’, ex: “eu coletei todo o dinheiro que pude”), na qual indigitado orador prefeito desceu da dignidade de seu cargo e veio fazer do evento um comício, expondo sem nenhuma vergonha a nudez de suas intenções: quebrar na solda a brava rapaziada do Lagos Jornal , arrotando a enormidade que nenhuns anúncios ou auxílios o ousado e intrépido nos prestaria.
Enquanto a inacreditável claque editorial da - vá lá - imprensa local urrava em regozijo exigindo sangue e tripas, ninguém lembrou de esclarecer que nunca pedimos nada.
Mas latiram mesmo assim, pro mestre ver.
Triste abanar de rabos, que condena toda uma imprensa à subserviência mais abjeta.
Fausto Wolf deve estar socando sua tumba de raiva, após estas eleições.



quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Da Redação

O Mercado é um rapazinho muito nervoso

Todos que conhecem o homo de negócios porto-riquenho Sr. Mercado (“ligue djá!”) sabem que ele é um mocinho com os nervos à flor da pele.
Histérico porque seus negócios estavam afundando (no bom sentido, é claro) no mercado imobiliário norte-americano, o investidor multicolorido enterrou tudo (no bom sentido, é claro) o que tinha nos mercados europeus: “Jô quiero poner mis mijones (en el bueno sentido, claro) en un lugar que tenga seguridad”, disse ele aliviado – sem trocadilho – graças à palavra forte e máscula de Gordon Brown, o Bofe Bom das Libras Esterlinas.



Mercado assustadinho

“Ele é assim mesmo, gente. Não judia não, que ele é doentinho e tem problema de nervo”, disse Dona Creuza, a avó brasileira que criou o jovem Mercado. Assustadiço por natureza, Memê tem como uma das características principais de sua complexa personalidade o horror ao risco. Foge espavorido ao menor espirro das instituições financeiras norte-americanas ou européias e, ultimamente, tem levado sua fobia do incerto até aos mercados asiáticos que, segundo ele, “ultimamente tem parecido avião da Gol, cai toda hora”.
Entendam o pobre rapaz, gente: tudo o que ele quer é a mão forte e segura de um Banco Central másculo, onde ele possa descansar sua cútis (no bom sentido, é claro) já marcada pela pátina das tensões desta vida de incertezas.
Uma pena, pois é sabido o seu lado mau: a cada susto mundial, Mercado foge com as economias de alguém. No mau sentido, é claro.

Ele vive do que põe no banco

Esta era a dura (no bom sentido, é claro) rotina de Mercado: sentadinho na praça, assistia a vida passar vivendo do que punha no banco.
Cansadinho desse marasmo, a mona resolveu dar um “up”, rodou a baiana e abriu seu próprio banco, o “Poupança de Ouro”.
Cruel, o destino que sempre perseguiu este bom menino criado pela avó trouxe a medonha crise financeira que agora põe em pé (no bom sentido, é claro) os cabelos dos banqueiros de todo o mundo.
Graças a Deus Mercado tem um senhor que ajuda, o tio Bush do Big Stick, que prometeu segurar (no bom sentido, é claro) sua barra bancando todos os seus eventuais prejuízos, desde que o espertinho não use o dinheiro para comprar títulos do governo americano ou de sócio da Le Boy, no Rio. Tio Bush mandou que enterre tudo no mercado, e não no dele – quer dizer, no do governo.
Uma lição clássica de economia.

E o Kiko?

Mercado tem um parceiro (entendam como quiserem, cansei) chamado Kiko Ygnácio, mais conhecido por seus apelidos: Kiko Tencoisso ou o mais curto, KY. Todos sabem que, a cada crise de Mercado, o KY entra em ação, pedinchando favores aos poderosos encastelados no governo para tapar os rombos (no bom sentido, é claro) em suas contas. A fórmula é simples: se dá lucro, é do Mercado. Se dá prejuízo, pega o KY e empurra na gente.
Quem vive de comprar e vender imóveis aqui na terrinha deve ter muito cuidado com Mercado. E mais ainda com KY.
Afinal, só quem pode prever o futuro são os marqueteiros de algumas campanhas eleitorais, e estes já gozam (no bom sentido, é claro) de merecidas férias em Miami.
Provavelmente em um dos hotéis do menino Mercado.

Esse é o capitalismo que não ousa dizer seu nome...

Da Redação

Gastando o latim

Em um momento agnóstico-ateu-melancólico-exibicionista, nós outros no “Da Redação” resolvemos ostentar nossos conhecimentos em latim, considerando que é uma língua morta e que um cadáver lingüístico seria o ideal para espelhar em comentários o falecimento de nossas crenças mais sagradas, como sejam: Papai Noel, Duendes, Mula-sem-cabeça, Urnas Eletrônicas e Saci-Pererê.

Nosce te ipsum “Conhece a ti mesmo”

Existem pessoas cujas personalidades dependem diretamente do momento que vivem: seja da sua profissão, do cargo ocupado ou até mesmo de seu estado civil. Assim, temos jornalistas que – fora do ramo – reduziriam sua capacidade na nobre arte de fazer amigos e influenciar pessoas à, no máximo, três ou quatro amigos do boteco. Da mesma forma existem homens públicos que, sem um cargo, nada seriam além de – digamos – um bom rapaz. Vale a sabedoria dos antigos, que nos aconselha a nos certificarmos do poder de nossas asas antes de intentarmos um vôo longo.

Audi, vide, tace, si vis vivere in pace, "Ouve, vê e cala, se quiseres viver em paz"

Relendo antigos textos, é possível constatar queixas incomodamente freqüentes sobre fumaças de ditadura nos ares da região. Considerando as atuais circunstâncias, nós aqui do “Da Redação” – cientes de nossa condição de café-pequeno-raia-miúda – entendemos por bem calar nossa boca, antes que entre uma mosca municipal.

Prudência e caldo de galinha, já dizia vovó...

Ecce homo, "Eis o homem".

Uma antiga lenda conta que um burro carregava, nas procissões da igreja, a imagem da santa em desfile pela cidade. O pobre animal cada vez mais se envaidecia, inchado de orgulho e soberba, pelos aplausos, choros emocionados, agradecimentos comovidos e pela verdadeira histeria que se formava à sua passagem, acreditando que ele seria o motivo das honras. Isso perdurou até o cavalariço da igreja resolver empregar outro animal neste serviço, já que o nosso burro – noviço, xucro e sem jeito – poderia acabar derrubando a santa de seu andor. Como o cavalariço era muito bonzinho, permitiu que os dois animais desfilassem na procissão, e só então caiu a ficha de nosso amigo, o burro jovem: finalmente percebeu que os aplausos e vivas eram pra santa, não pra ele.

Olho vivo gente, que cavalo – e muito menos burro – não desce escada...

Aquila non captat muscas, "A águia não cata pega moscas", isto é, uma pessoa importante não se incomoda com minudências

Odacir Gagau agora nem se dá ao trabalho de olhar para a plebe ignara que o cerca. Impando de soberba, o empresário boteco-etílico-mediúnico-jornalistico passa ao largo da turba e ruma em seu iate, o “Blood Mary”, sem escalas para a Bahia. Segundo consta, ele teria que quitar algumas dívidas no Gantois. Saravá, zi fio.


Da Redação

Odacir Gagau, o médium

Morcegão Cabramal está orgulhoso e feliz, com a grande sorte que deu: apostar nos poderes mediúnicos (únicos mesmo!) do empresário boteco-etílico-curimbeiro-jornalístico Odacir, o Gagau. Graças à esse dom, Cabramal conseguiu convencer meia dúzia de empresários e políticos a gastarem dinheiro antecipadamente produzindo – e pagando, é claro – comerciais de página inteira em seu jornal, que foi às bancas noticiando a vitória de seu arrimo, digo, candidato, poucas horas após a divulgação dos resultados.
Bom de lábia, Morcegão convenceu Gagau que somente seu DOC – Diário Oficial do Cabo – poderia ostentar tais anúncios de felicitações sem levantar suspeitas sobre a lisura do pleito. Cabramal sempre bate na tecla de que seu jornal é imparcial, e portanto nós não precisamos ler mais nada, só o dele.
Neste momento, Cabramal está na residência do Chefe do Executivo servindo para ele, em sua cama, um caprichado café da manhã com açúcar e com afeto. Mas com a maior imparcialidade, é claro.

Podres poderes

Odacir Gagau perdeu o bonde da história, nessas eleições. Se deixou levar pela conversa mole de Cabramal e desperdiçou seus poderes em benefício de outros.
Paranormal desde criancinha, Gagau sempre ouvia de seus coleguinhas: “Odacir, você é um mérdium!”, dentre eles seu amigo de infância – o sinistro Morcegão.
Traumatizado em não conseguir utilizar seus poderes para o bem, Odacir abandonou sua pequena São Traíres natal juntamente com seu amiguinho Cabramal, para tentar a vida em paragens mais propícias. Perseguidos pelo remorso de um passado e de uns cheques obscuros e sem fundos, a dupla deu com os costados – no bom sentido, é claro – em terras cabo-frienses, onde rapidamente descobriram que o meio mais rápido de ser importante o suficiente para merecer uma mesadinha municipal era ser dono de um jornal.
A trajetória de ambos, daí em diante, é sobejamente conhecida: separaram-se litigiosamente e hoje um é dono do DOC – Diário Oficial do Cabo – e o outro dirige o Release dos Lagos.
Ultimamente tem sido bastante comentada a volta da dupla, graças à amizade providencial de Biugueites da Silva, um conhecido hacker que mudou-se há pouco para a região.
Resta saber o que adivinhações inexplicáveis, cheques ariscos e acrobacias digitais reunidas podem produzir nos destinos de uma cidade, quando associadas à jornais domesticados.

Nada muda

Odacir Gagau, após árdua participação eleitoral, já está com sua reserva feita na Rehab Saint Jack Daniels, nas Highlands escocesas, para uma bela temporada de descanso ao lado de sua parceirona, Amy Winehouse, e de seu mais novo amigo inseparável, Keith Richards.
Não se sabe ainda quem vai pagar a conta de estadia tão luxuosa, em companhia tão chique.
Keith Richards prometeu levar umas cinzas das boas. Amy Winehouse também prometeu alguma coisa, mas esqueceu o que era.

Para pensar pendurado no saco de alguém:

“Mais vale uma urna na mão do que dois eleitores voando”

Guerra civil

Enquanto o Sr. José Elias Alves Pinto, pai de Danillo Lopes Barros Pinto, assassinado em uma festa nesta ultima sexta-feira, concede uma entrevista á minha colega e editora Keetherine Giovanessa, não posso deixar de escutar seu depoimento.
Manda a regra que um jornalista não escreva na primeira pessoa e muito menos se emocione com o que à ele é dito, mas não há outra maneira de relatar as palavras de um pai perplexo, que ainda fala do filho morto conjugando o verbo no presente, sem aceitar a brutalidade injustificável, motivada por um mero empurra-empurra em uma festa.
Um animal, menor de idade, que se julga imune e impune, acima do bem e do mal, muito macho por portar uma arma – que seria bem melhor utilizada explodindo seus próprios miolos inúteis – sente sua macheza ofendida por um aparte dado pelo rapaz e resolve, como “justa” retaliação, matar o responsável por ofender sua realeza de menor impune.
Sangue, dor, tragédia. E nenhuma testemunha, das centenas de presentes à festa.
A polícia é feita de homens, e homens se emocionam. O delegado Rodrigo Santoro da 126ªDP, segundo as palavras do Sr. José Elias, tem prestado um grande e solidário apoio. Mesmo a PM, ou melhor, os homens da PM, se solidarizaram na dor de um pai que perdeu o filho para a animalidade de alguém que, perante a hipocrisia legal brasileira, não sabe o que faz e precisa ser tutelado.
Homens da PM, homens da Polícia Civil, homens de bem, ricos, pobres ou remediados, todos são iguais, hoje, na desgraça da insegurança pública de Cabo Frio e na dor de tantas mortes sem sentido. Ou quase: falta incluir neste rol as centenas de testemunhas, presentes à fatídica festa, que ainda não tiveram a humanidade e hombridade, a atitude digna de prestar um testemunho perante a Polícia.
Com certeza as polícias conseguirão algum resultado nas investigações, motivadas muito mais pela dor humana, pelo que de inevitavelmente pessoal a tragédia alheia nos toca, do que pelas condições oferecidas pelo Estado e por aqueles que determinam as políticas de Segurança Pública.
Essas políticas são feitas de estatísticas, de frios números, que – se em sua insensibilidade numerária não refletem o trágico – muito menos espelharão a verdade, na vergonhosa interpretação destes mesmos índices. Onde está agora o Comando do 25ºBPM e suas boas notícias de queda na criminalidade? Determinando a fiscalização severa, para evitar a “ameaça” que um IPVA atrasado pode trazer aos motoristas, engarrafados em suas blitzes diárias?
Atônito, desfilhado, sem norte e mais surpreso ainda com as recentes notícias do estupro de uma criança em Arraial do Cabo, com o assassinato em plena luz do dia, no centro de Cabo Frio, de outro rapaz – sete tiros à queima-roupa e uma despreocupada fuga de bicicleta – o pai do rapaz organiza agora uma passeata pela paz.
Todos de preto, todos de luto, todos indignados, mas ninguém seguro.
Esta é a verdade da segurança pública da região.
A verdade é a nossa dor, e não os números alheios.
Mais mortes virão, na medonha rotina da guerra civil do Rio de Janeiro. Mais protestos, mais passeatas, mais choro e mais dor. E tudo continuará igual.
Até quando iremos agüentar calados? Quando será a nossa vez?
Quando?
Quem viver, verá.