“O Freunde, nicht diese Töne!
Sondern lasst uns angenehmere anstimmen
und freudenvollere!
Freude, schöner Götterfunken
Tochter aus Elysium
Wir betreten feuertrunken
Himmlische, dein Heiligtum!
Deine Zauber binden wieder
Was die Mode streng geteilt
Alle Menschen werden Brüder
Wo dein sanfter Flügel weilt…”
Tradução:
“Oh amigos, mudemos de tom!
Entoemos algo mais agradável
E cheio de alegria!
Alegria, mais belo fulgor divino
Filha dos Elíseos
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Tua magia volta a unir
O que o costume rigorosamente dividiu
Todos os homens se irmanam
Onde pairar teu voo suave...”
Esta é a letra de uma das peças mais transcendentais da música clássica, da 9ª Sinfonia do genial Ludwig Van Beethoven, “Ode An Die Freude” – “Ode à Alegria”, algo próximo ao Divino e que aconselho ouvir, enquanto estiver lendo estas mal-traçadas linhas.
Confesso uma submissão quase infantil à tal melodia, que por um lado enche-me de felicidade inexplicável, por vezes injustificável mas sempre incontida e, por outro, sacode-me pelos ombros em um gesto de irmão que diz: “Anda! Esqueça a dor e levanta! O melhor ainda está por vir!”
E talvez seja o único momento em que ouso permitir que lágrimas cheguem-me aos olhos por pura e simples alegria, felicidade e pela triunfante sensação de respirar por sobre a terra. Sim, também sou humano; sim, também atrevo-me a chorar – sozinho – de felicidade. Pelo quê? Não o sei.
Menos ainda saberá o bom e velho Ludwig – aquele, o Beethoven – ao sofrer que sua obra prima, de inspiração quase deífica, seja aviltada em um gesto supremo de deboche cínico ao ser escolhida, como hino oficial, para uma das mais teratológicas excrescências da perversidade criativa humana: a União Europeia.
Não existe outra dupla de adjetivos – “deboche cínico” – que melhor nos faça compreender o requinte de sádica crueldade ao empregar tal peça, tendo em seu corpo versos como “Tua magia volta a unir/ O que o costume rigorosamente dividiu”, para dar corpo à tal alma penada escorada na união de povos para melhor escravizá-los, contrariando a máxima francesa “Diviser pour régner”.
A letra da mesma é um poema, escrito por Friedrich Schiller em 1785 e tocado no quarto movimento da 9.ª sinfonia de Ludwig van Beethoven. Nestes versos, Schiller expressava uma visão idealista da raça humana como irmandade, opinião que tanto este como Beethoven partilhavam mas que – certamente – jamais os incluiriam na monstruosidade globalista dos nossos tristes dias.
E a série de analogias não para por aí: logo de início aconselham Schiller e Ludwig que “mudemos de tom”, que falemos sobre algo mais agradável – e neste ponto o pérfido Antônio Gramsci veio, séculos depois, a calhar. Sim, haveremos de nos distrair e alegrar! Você não terá nada e será feliz! O mundo será vazio, despovoado, limpo e arejado de toda esta corja que se costuma chamar “humanidade”, graças às vacinas salvadoras – e nenhuma fábrica ou instalações custosas serão destruídas, bem como seu precioso lar, o que seria natural após catastrófica e despovoadora guerra!
Não haverão mais fronteiras, as ruas serão vazias nas “cidades de 15 minutos” e seu vizinho sequer falará sua língua, mas você terá seu celular, computador e games – todos eles do governo, alugados para você e devidamente “calibrados” para acessarem apenas conteúdos “sadios”. Seu trabalho será “home office”, suas noites de folga serão em casa, regadas a comidas e bebidas “delivery” e você jamais precisará andar novamente – mas o mundo não terá fronteiras, e os sábios sempre estarão zelando para que as justas leis globais sejam cumpridas em todo o planeta, ainda que não mais você deseje percorrê-lo.
Sim, cheios do “mais belo fulgor divino/ Filho dos Elíseos/ Ébrios de fogo entramos/ Em teu santuário celeste!” e, bêbados de consumo e futilidades, atenderemos apenas aos deuses globais e seus arcanjos midiáticos e corporativos!
E não haveremos de ligar para as antiquadas queixas de Beethoven e Schiller, que se remexem em seus túmulos, protestando contra a heresia cometida.
Alegria! An Die Freude! 2030 está próximo!
Walter Biancardine