quinta-feira, 1 de agosto de 2024

VÍCIOS DE LINGUAGEM -



Nada difícil encontrar pessoas cultas, inclusive com preparo acadêmico e que, por circunstâncias diversas, acabam por adotar termos e expressões pertencentes a determinados círculos sociais, profissionais ou até religiosos, epidemicamente crescentes nos dias atuais.

Acabo de ver uma doutora, médica, que luta pela inclusão de novos medicamentos contra a DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) no SUS. À parte a nobre causa que está envolvida, contudo, entristece-me ver que mesmo alguém como ela está empenhada para que novos remédios sejam "OFERTADOS" pelo Sistema Único de Saúde.

"OFERTADOS"? Serão colocados em um altar e destinados, em holocausto, à Deus? Ou ela quis dizer "OFERECIDOS"?

Não condenem a doutora, pois tal cacoete difundiu-se tão gravemente pelo Brasil que hoje, dificilmente, se escutará alguém usar o termo correto, independente de suas convicções religiosas - sim, pois tal expressão é característica de fiéis evangélicos.

E não ficamos apenas nesta palavra, pois até "coisas" como o termo "desconstrução" - sabidamente pertencente à militância esquerdista - é desavergonhadamente utilizado por notórios - e autointitulados - direitistas.

Tristemente, a verdade é que a adoção de termos e expressões, tais como as citadas acima, apenas reflete a pobreza vernacular de quem tenta se expressar e não encontra as palavras necessárias e corretas.

Mais triste ainda é o fato de que um povo que não encontra palavras para falar, também não encontrará para pensar: não há como refletir sobre algo que não conseguimos expressar, e o crescimento de orelhas asininas é inevitável e certo.

Há que se ler, e muito. Aprender, ampliar o vocabulário e ter o poder de pensar e falar.

Um Machado - de Assis - pode abrir poderosa clareira no denso matagal da ignorância.


Walter Biancardine



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