quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Gestos de mulher

Tantas palavras sua figura inspira,
Tantas belezas sua alma lembra,
Tudo o que é suave,
Tudo o que é bom;

Em céus tão altos você se encontra,
Entre anjos, a inveja
De tudo em você;
E meus olhos viram o Divino

O sublime que emana,
O perfeito que exala,
A vida que doa,
O amor que espalha.


A graça das formas,
Gestos de mulher,
Alegria criança,
Senhora de mim.

Tão impossível alcançar,
Eu, cuja única luz
intuiu o Divino,
A fagulha de Deus,
Você, mãe de minha criação
E universo.

Posso saber-te,
Mas não posso conter-te,
Meu Alfa e Ômega,
Princípio e fim,
A que sempre esteve.

Por isso me guardo
Em um sentir que é uma prece,
Por isso te dei
Minha vida, minha alma

Minha Andrea.
A que sempre esteve,
A que sempre foi
E sempre será.

Heeei!

Walter Biancardine é jornalista, mas tem bom gosto...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Quosque tandem, Prefeitura, abutere patientia nostra?

Justiça e democracia tem entre si um fundamento em comum, que é o contraditório. Na Justiça, o emprego deste recurso tem por finalidade o convencimento de culpa ou inocência através de provas, enquanto em regimes democráticos a contradição obedece – queiram ou não – á uma dialética que conduz ao consenso.
A tese tem, necessariamente, que estar aberta a absorver a antítese para que se produza a síntese, a qual poderíamos nomear “maioria”, de modo mais livre e figurativo.
Consequentemente, a imposição vertical de uma opinião viola conjuntamente a noção de Justiça e democracia, ainda que esta imposição tenha sido obtida – paradoxalmente – através da própria Justiça.
Não foi outra a atitude do governo municipal ao impôr o silêncio aos seus críticos, obtendo uma liminar que suspendeu a veiculação de um programa incômodo.
É necessário entretanto aplaudir o bom-senso dos Ministros do Supremo Tribunal Federal que, mesmo tendo por objeto de julgamento um caso diverso, veio em socorro contra os “paradoxos jurídicos” e, em sua decisão, abriu as portas á verdadeira liberdade de expressão.
Resta torcer para que os novos ventos de liberdade, soprados pela mais alta Côrte de Justiça do país, finalmente cheguem á cidade de Cabo Frio.

Walter Biancardine é um cachorro, segundo sua mulher. Por isso mostra sua erudição em latim.

Guarda Municipal vira cabo eleitoral

A Guarda Municipal de Cabo Frio é regida pelo mesmo estatuto dos servidores públicos municipais e, portanto, apesar da aparência militarizada, não adota ainda a hierarquia e disciplina militar. Esta é a alegação para a provável não-punição dos responsáveis pelo ato público diante da sede do Governo Municipal, realizada recentemente, onde tentavam impôr ao prefeito a aceitação da candidatura á vereador do coordenador de segurança pública, Cláudio Moreira.
Cabem, entretanto as seguintes ponderações:
1- Uma força auxiliar, ainda que desarmada, impõe sua presença ostensiva através da farda adotada. Essa mesma farda, que a distingue de todos os outros servidores, também simboliza o próprio poder municipal nas ruas. Ora, ainda que não seja contra nenhum regulamento, a manifestação pública – ainda mais a favor de uma candidatura política – realizada por homens fardados empresta automaticamente a anuência da Prefeitura sobre o ato ou a partidarização da instituição. E, caso negativo, revela uma completa falta de tato dos seus organizadores, ao permitir que o público veja uma aparente indisciplina e exibição inaceitável de força contra o próprio município, que cede amedrontado e promete uma futura audiência.
2- Seja quem for o organizador ou organizadores do movimento, provavelmente terá atrapalhado mais do que ajudado. Ao mobilizar um corpo fardado em apoio às pretensões eleitorais do coordenador de segurança Cláudio Moreira, colocou o próprio na situação incômoda de explicar que ele, coordenador e virtual candidato esteve alheio a todo este processo, já que seria o principal beneficiado pela pressão imposta pela Guarda.
3- O diretor da Guarda Municipal, Isaías Brandão, tem um histórico de esforços emprestados à instituição que dirige. Anos de trabalho podem ser colocados em xeque pela indisciplina "velada" de membros exaltados da corporação.
Com relação ao esvaziamento da reunião extraordinária do Conselho Comunitário de Segurança, ficou patente a opção das secretarias municipais em participar das mesmas apenas quando obrigadas a isso. Mais estranheza ainda causou a ausência das polícias na reunião, pois são membros natos do Conselho, e mesmo sem a obrigatoriedade estatutária do comparecimento, não poderiam se eximir à obrigação moral de emprestar seu apoio a todos os atos que tenham como objetivo a melhoria na segurança pública do município que atuam.
Já as associações de moradores, em grande parte corroídas pelas ambições políticas de seus líderes e pela distribuição de portarias municipais aos mesmos, conforme relatado na mesma reunião do Conselho, perdem-se em brigas umas com as outras e entre seus próprios integrantes, resultando em agremiações supérfluas e sem nenhuma atuação em benefício de seus representados.
A soma de todos estes fatores resulta em um quadro decepcionante pela falta de autoridade moral do Executivo cabo-friense. Esquiva diante de uma Guarda Municipal em franca indisciplina, omissa com relação à desatenção de seus secretários para com um importante Conselho Municipal e sem nem ao menos tentar falar mais grosso com os bancos da cidade, a Prefeitura Municipal de Cabo Frio, seu atual titular e seus secretários entregaram, ao que parece, os destinos do povo cabo-friense às mãos de Deus.

Walter Biancardine é jornalista e se benze só de imaginar uma Guarda Municipal armada.

Questão de tempo

Em resposta a uma nota publicada na coluna Panorama Político do jornal O Globo, que denunciava o avanço da prefeitura sobre a arrecadação de 2009, o secretário de Fazenda Clésio Guimarães afirmou, segundo matéria publicada na Folha dos Lagos do último sábado, que a Câmara de Vereadores concedeu autorização para um empréstimo de R$76 milhões, mas que apenas R$11 milhões teriam sido retirados até agora.
Ainda segundo a reportagem, o dinheiro destinou-se a pagar “alguns fornecedores que estavam sem receber desde o ano passado”, nas palavras de Clésio Guimarães.
O secretário de Comunicação de Cabo Frio, Roberto Pillar, também apressou-se a informar na mesma matéria que haveria um outro equívoco na nota. Segundo ele, o pagamento seria feito com os recursos de 2008, e não de 2009.
Trata-se de um artifício, uma ilusão de ótica para desviar a atenção do eleitor. Ao contestar os valores, tentam acobertar a gestão desastrosa que os motivou.
Uma Câmara de Vereadores generosa assinou um cheque em branco – o termo é, positivamente este – no valor de R$76 milhões, que representam 20% do recebimento dos royalties que podem ser adiantados; como um “vale”, só que encarecidos por juros bancários, ao gestor municipal. Se ele retirou “apenas” R$11 milhões até agora e insiste na tese de que precatórios devoram o orçamento municipal, é muita ingenuidade acreditar que não solicitarão o resto a que têm direito.
Nunca é demais insistir: o que ninguém explicou – e que aparentemente não conseguem ou não podem – são os porquês do empréstimo. Ninguém até o momento apresentou um único argumento que demonstre, de forma cristalina e matemática, aonde foram parar US$315 milhões de dólares, embolsados pela prefeitura ao longo deste mandato.
Por mais que o eleitor olhe em torno, não enxergará este dinheiro em formas de realizações, já que trata-se de um governo inerte e apático. O pouco que fez não custaria nem 10% dos milhões e milhões de dólares que sumiram ralo abaixo, no cano da incompetência. Por outro lado, nem o Sr. Clésio e muito menos o Dr. Roberto vieram a público para realizar uma clara prestação de contas de nosso dinheiro. Limitam-se à uma abjeta auto-piedade, lamentando-se e pintando o atual governo como uma pobre vítima de acusações maldosas e infundadas, em uma reação infantil e estéril.
O que o contribuinte cabo-friense exige é um simples relatório de débitos e créditos, onde as despesas sejam discriminadas de forma transparente e comprovadas através de auditoria, já que o voto de confiança nos atos do Executivo, a cada explicação mal dada, se esvai à olhos vistos.
E se a vontade própria do primeiro escalão municipal não for suficiente para fazer com que cumpram seu dever de nos justificar onde enfiaram nosso dinheiro, que a Câmara de Vereadores então se redima de sua generosidade excessiva, instaurando uma CPI que o esclareça.
O Cheque em branco está lá: R$76 milhões.
Para este governo, usá-lo é uma questão de tempo.

Walter Biancardine é jornalista, fala em milhões o dia inteiro e conta trocados pra comprar cigarros.

A coragem dos cães miúdos

“Calunia, calunia que algo sempre fica”, já afirmava o pensador francês Voltaire.
Ao que parece, a máxima bretã fez escola em terras cabo-frienses tendo em vista não só recentes e descabidas atitudes de alguns adversários políticos, como também seus comportamentos ao longo dos últimos meses.
Que jornais improvisados cresçam como erva daninha em épocas próximas de eleições é um fato previsível, já que existem para extravasar todo o ódio incontido em quem vê perdidas suas chances no pleito. Que sirvam de instrumento arrecadatório de editores sem escrúpulos ou talento suficiente para merecer um emprego nos diários da cidade, também é sobejamente sabido por todos. Mas que se prestem ao papel torpe de acusar uma figura pública da cidade, cujo comportamento e caráter é mais que conhecido por todo o povo de Cabo Frio; que tenham a absurda leviandade de tentar vincular esta pessoa à tentativa de acobertamento de um estupro e, de quebra, acusa-lo de roubo puro e simples, passa de todos os limites. Mais que o comportamento covarde dos cachorrinhos miúdos, que se escondem entre as pernas de seus donos para latir aos estranhos, a acusação é pura e simplesmente um ato criminoso, e como tal deve ser tratado.
Podemos conhecer a índole de nossos adversários através das armas que os mesmos se utilizam para nos combater. E quando essas armas se resumem à mentira, calúnia e ao mais covarde anonimato, sabemos que este ser, que certamente se dispõe a sentar na cadeira de prefeito em 2008, é apenas um covarde mentiroso sem a vergonha na cara necessária para mostrar sua face em público – ciente das baixezas cometidas.
Usando a juventude como escudo, disfarçando o ódio em ímpeto juvenil, o pretenso jornal tenta se travestir de um grito espontâneo de adolescentes cabo-frienses, o que só piora sua situação: ao esconder-se atrás de jovens, o infeliz personagem quase os contamina com sua imundície de caráter. Mas a juventude de Cabo Frio repudia tamanho insulto a si mesma, não se permite ser usada como massa de manobra e não acolheu os despreparados jornalistas em seu seio.
Igualmente nomes sem expressão, constante em expedientes de jornais primários, não significam nada pois que se tratam apenas de capachos alugados à custa de dinheiro e dignidade. O verdadeiro autor das calúnias evidentemente se esconde sob uma capa muito mais cristã, tal como o lobo em pele de cordeiro.
E este mesmo covarde mentiroso, que aluga consciências jornalísticas, colhe agora as conseqüências de sua fraqueza e falta de caráter. Sofre a triste dor de reconhecer em todos os seus atos a ausência de grandeza, dignidade e espírito público.
A paz das salinas o acolherá em seu devido tempo.

Walter Biancardine é jornalista, macho pra cacête e tá doido pra dar um pau em alguém. Vai encarar?

O precário argumento dos precatórios

Existem quantias em dinheiro que são tão elevadas para nós, pobres mortais, que nem sempre nos damos conta do quanto elas realmente representam.
A atual administração do município de Cabo Frio bate insistentemente na tecla de que o pagamento de precatórios, originados em outras administrações, foi toda a sua ruína e devorou, incontinenti, 500 milhões de reais.
Não é o caso de se somar agora quantas casas populares poderiam ser construídas com esse dinheiro, ou até mesmo o fato de que uma cidade inteira seria facilmente erguida do nada e ainda sobraria alguma coisa para uma bela festa de inauguração. Por menor que seja nossa noção do que são 500 milhões, alguma coisa todos somos capazes de imaginar.
O que vem ao caso agora é a insistente ofensa que a atual administração atira à população cabo-friense ao apontar precatórios como a causa de sua falência: é chamar o cidadão de burro; é ter a absoluta convicção que nós, que sobrevivemos de contar trocados, jamais teremos a real compreensão do valor envolvido; pior, é o surrealismo do raciocínio apresentado – alguns poucos milhões em precatórios, que teriam sido capazes de engolir os 500 milhões de reais arrecadados – somado à mais deslavada mentira, ao atribuir ao ex-prefeito Alair Corrêa a autoria de todos estes empenhos, agora pagos pela prefeitura.
Não entendem, os despreparados administradores atuais, que quanto mais insistem na cantilena dos precatórios que teriam comido 500 milhões de reais, mais gritam aos eleitores cabo-frienses sua incapacidade de gerir os dinheiros públicos.
E amparado por um argumento primário, Cabo Frio se vê atualmente desassistido de seus serviços mais básicos; a cidade se enfeia e se estraga a cada dia; saúde, educação, emprego e segurança foram pelo ralo, junto com os royalties.
Mesmo assim, por conta desta mesma rubrica, o município teve nestes últimos quase três anos uma fantástica capacidade arrecadatória, e isso se traduz em uma lógica e igualmente grande capacidade de endividamento, dada a realidade de um fluxo de caixa que foi entregue ao atual gestor gozando da mais perfeita saúde.
Usando o exemplo de uma empresa de transporte de cargas, qualquer empresário pode, com um contrato de serviços assinado em suas mãos, pleitear e conseguir o financiamento para renovar toda a sua frota de caminhões, mesmo sem ter recebido ainda um tostão de seu cliente. O contrato assinado tem fé entre as partes, é a garantia de recebimento dos devidos. Imaginem então, caros leitores, o que pode conseguir uma prefeitura, amamentada à farta por royalties e outras benesses da natureza, que asseguram aos seus credores sua solidez, poder arrecadatório e capacidade de pagamento?
A verdade é que esses precatórios, cuja origem se perde em décadas atrás, poderiam ter sido pagos de uma forma ainda mais suave que a atual, diluídos em infinitas prestações que a arrecadação certa do município permitiria. Nem vale a pena discutir os valores destes títulos; não importa o quanto representem para nós, cidadãos comuns. O que importa é que, para o mar de dinheiro que entra diariamente nas burras da prefeitura, precatório é fichinha, é gota de água no oceano que nem vale a pena discutir, quanto mais usar como desculpa para disfarçar incompetência.
Alair construiu Cabo Frio. Mas já deixou a conta paga.

Walter Biancardine é jornalista e não faz a menor idéia de quantas cervejas se toma com 500 milhões

Medonho, enfadonho e outros "onhos"


Inicio de carreira, ninguém me lia. O Odacir Gagau, glorioso e famoso de hoje, era apenas um ilustre desconhecido. Fiz então um blog, para satisfazer minha vaidade de ler em letra de imprensa o que escrevía.
Assim, até hoje tenho o hábito de vasculhar a internet em busca de outros blogs como o meu, para me lembrar e rir da desgraça alheia; rir do tempo em que eu era pobre, lascado e sem as boquinhas que desfruto hoje, graças aos anos e anos do exercício da escroqueria jornalística. Vai daí, descobri um que me chamou atenção: é de um tal Sr.Bloblonho, que se diz um grande homem de imprensa, um “velho capitão”, mas que ninguém que eu conheça sabe onde mais escreve, além de seu escondido espaço internético.
Realmente, é de dar pena: esse tal Sr.Ogronho escreve, escreve e não consegue um só jornal sem juízo o suficiente para publicar seus acometimentos.
Talvez tenha sido por isso que ultimamente resolveu endossar ofensas contra um conhecido deputado de minha cidade, destilando todo o recalque de não ter um empreguinho na rede de comunicação do genro do mesmo, e por consequência fica agora esculhambando tudo o que vê e lê nela.
O Sr. Obronho não sabe mais onde esconder a raiva, coitado. Como tem sobrevivido de fazer bicos catando latinha na rua, reciclando o lixo e seus escritos – o que dá no mesmo – agora tenta se aliar a caluniadores com mais tradição, na intenção de conseguir uma carona rumo ao estrelato.
Abraçou um conhecido radialista, dono do programa “Clô, para os íntimos”, que foi o primeiro a dizer em seu programa feminino de rádio que um político daqui tentava tirar um notório pilantra da cadeia. O radialista lançou o boato, uma folha de couve oportunista ganhou uma licitação em que se leiloavam consciências e todos usaram o dinheiro da prefeitura pra falar alto e fazer churrasquinho. Sr. Vergonho não é bobo, e quer pegar carona na mesma grana. E na boca-livre também.
Outro dia, furibundo, (segundo amigos, furibundão!) disparou que o jornal onde escrevo e que gentilmente paga meu Epocler e sal de frutas, faz distribuição gratuita nas ruas, e que ela lesa os leitores que já pagaram pelo jornal. O pobre sem-mamata esqueceu de dizer que só fazemos essa distribuição no dia após, ou seja, distribuímos jornal de ontem. Avarento convicto, não admite isso. Reclamou também que um monte de funcionários da prefeitura, demitidos só porque não queriam brincar de caça ao tesouro com o prefeito, recorreram a um programa de TV para reclamar. Ora, se esses exonerados que segundo ele “esperneiam” no programa televisivo, fazem um escândalo desnecessário, que boquinha então o Sr.Enfadonho não perdeu, pra chorar sozinho em seu blog? Dá até medo de pensar!
O fato é que nem na prefeitura de minha cidade agüentam ele. Não tem boquinha na rede de TV e nem com o prefeito birrento, coitado.
A única coisa que o Sr,Demonho sabe dizer é que esse conhecido deputado está preocupado com os últimos produtos da “Fantástica Fábrica de Calúnias”, criada pelo município e conduzida por Willy Wonka. Dá pra notar o quanto o Sr.Medonho obra e anda para sua própria reputação. Concluí que dissessem o mesmo dele, talvez chamasse o autor para pagar-lhe um chopp, afinal, alguém falou dele!
P
ara que ele não se sinta rejeitado por toda a imprensa, e conhecido que sou pela minha imensa piedade, resolvi por isso gastar meu espaço escrevendo sobre o despossuído homem de imprensa, imprensado em dívidas no armazém e com seus vizinhos já ameaçando cortar-lhe a gatonet por falta de pagamento.
Sola não, Sr.Dodonho! Ao menos eu, tive paciência de te ler! Tá famoso agora!

Odacir Gagau é jornalista, escroque, chantagista, seguidor de Chateaubriand. Bloblonho... bom, Bloblonho é blogueiro...rsrsrs...

Medonho, enfadonho e outros "onhos"

Inicio de carreira, ninguém me lia. O Walter Biancardine, glorioso e famoso de hoje, era apenas um ilustre desconhecido. Fiz então um blog, para satisfazer minha vaidade de ler em letra de imprensa o que escrevía.
Assim, até hoje tenho o hábito de vasculhar a internet em busca de outros blogs como o meu, para me lembrar e rir da desgraça alheia; rir do tempo em que eu era pobre, lascado e sem as boquinhas que desfruto hoje, graças aos anos e anos do exercício da escroqueria jornalística. Vai daí, descobri um que me chamou atenção: é de um tal Sr.Bloblonho, que se diz um grande homem de imprensa, um “velho capitão”, mas que ninguém que eu conheça sabe onde mais escreve, além de seu escondido espaço internético.
Realmente, é de dar pena: esse tal Sr.Ogronho escreve, escreve e não consegue um só jornal sem juízo o suficiente para publicar seus acometimentos.
Talvez tenha sido por isso que ultimamente resolveu endossar ofensas contra um conhecido deputado de minha cidade, destilando todo o recalque de não ter um empreguinho na rede de comunicação do mesmo, e por consequência fica agora esculhambando tudo o que vê e lê nela.
O Sr. Obronho não sabe mais onde esconder a raiva, coitado. Como tem sobrevivido de fazer bicos catando latinha na rua, reciclando o lixo e seus escritos – o que dá no mesmo – agora tenta se aliar a caluniadores com mais tradição, na intenção de conseguir uma carona rumo ao estrelato.
Abraçou um conhecido radialista, dono do programa “Clô, para os íntimos”, que foi o primeiro a dizer em seu programa feminino de rádio que um político daqui tentava tirar um notório pilantra da cadeia. O radialista lançou o boato, uma folha de couve oportunista ganhou uma licitação em que se leiloavam consciências e todos usaram o dinheiro da prefeitura pra falar alto e fazer churrasquinho. Sr. Vergonho não é bobo, e quer pegar carona na mesma grana. E na boca-livre também.
Outro dia, furibundo, (segundo amigos, furibundão!) disparou que o jornal onde escrevo e que gentilmente paga meu Epocler e sal de frutas, faz distribuição gratuita nas ruas, e que ela lesa os leitores que já pagaram pelo jornal. O pobre sem-mamata esqueceu de dizer que só fazemos essa distribuição no dia após, ou seja, distribuímos jornal de ontem. Avarento convicto, não admite isso. Reclamou também que um monte de funcionários da prefeitura, demitidos só porque não queriam brincar de caça ao tesouro com o prefeito, recorreram a um programa de TV para reclamar. Ora, se esses exonerados que segundo ele “esperneiam” no programa televisivo, fazem um escândalo desnecessário, que boquinha então o Sr.Enfadonho não perdeu, pra chorar sozinho em seu blog? Dá até medo de pensar!
O fato é que nem na prefeitura de minha cidade agüentam ele. Não tem boquinha na rede de TV e nem com o prefeito birrento, coitado.
A única coisa que o Sr,Demonho sabe dizer é que esse conhecido deputado está preocupado com os últimos produtos da “Fantástica Fábrica de Calúnias”, criada pelo município e conduzida por Willy Wonka. Dá pra notar o quanto o Sr.Medonho obra e anda para sua própria reputação. Concluí que dissessem o mesmo dele, talvez chamasse o autor para pagar-lhe um chopp, afinal, alguém falou dele!
P
ara que ele não se sinta rejeitado por toda a imprensa, e conhecido que sou pela minha imensa piedade, resolvi por isso gastar meu espaço escrevendo sobre o despossuído homem de imprensa, imprensado em dívidas no armazém e com seus vizinhos já ameaçando cortar-lhe a gatonet por falta de pagamento.
Sola não, Sr.Dodonho! Ao menos eu, tive paciência de te ler! Tá famoso agora!

Acomodações e conveniências

Tem sido recorrente nos últimos meses uma acusação fácil de que toda uma equipe de jornalismo, mais precisamente a da Rede Lagos de TV e Lagos Jornal, seria uma “assessoria de imprensa” do deputado Alair Corrêa.
Tal é o calibre da asneira, que não vale o trabalho de refutar. Mas, por outro lado, desperta a certeza da quantidade de políticos e jornalistas que travestem a apatia, o “em cima do muro”, em ponderação e equilíbrio – e que, de alguma forma, também estamos incomodando consciências preguiçosas.
Apenas referente ao jornalismo, vemos o espetáculo deprimente de homens que se esconderam covardemente durante períodos negros da história do Brasil posarem de sobreviventes de ditaduras, agora dirigindo toda sua moribunda libido para a obtenção ou manutenção de benesses e privilégios, o soldo da omissão “ponderada”.
Sem nunca tomar uma posição clara diante dos fatos, limitam-se a acusarem fulano ou beltrano de destempero em seus embates políticos, e poluem a própria classe jornalística – a qual pertencem – com a pecha de “assessoria”. Acusam a todos de ofenderem-se mutuamente sem apresentarem idéias, mas eles próprios nada oferecem a não ser gracejos impotentes, que demonstram claramente sua condição de vencidos e de quem concluiu que não tem estofo para lutar, pois o medo é demais.
Tal é o assombro daqueles que vieram ao mundo sem um propósito, espectadores da vida. Ficam perplexos, não conseguem conceber o desejo de alguém deixar a segurança da platéia e correr os riscos de subir ao palco da vida; o engajamento, a tomada de posição assumindo as conseqüências decorrentes. Em seu flácido raciocínio, ao tomar uma posição, um homem inevitavelmente desagradará a alguém, e esse alguém poderá, eventualmente, prejudicar-lhe o seu obeso e preguiçoso futuro.
Tamanha falta de macheza e brios causa engulhos, principalmente ao ver que esta espécie de jornalistas “ponderados” desfruta de um conforto pago por aqueles que mais se beneficiam com o silêncio dos omissos ou com a covardia dos pseudo-ponderados.
É uma gente que, se cair de quatro, não terá mais forças – e o que é pior, nem vontade – de se levantar. O ar de quem sabe de tudo, de quem de tudo já viu e já provou, em sua pretensa sabedoria enfastiada e blasé, só esconde um medroso, desfibrado e cego para os destinos de seu povo, focado apenas na modorra de sua poltrona e chinelos.
A equipe de jornalismo da Rede Lagos de TV e do Lagos Jornal está imbuída de uma idéia, vive uma missão e assume os riscos. Que o leitor concorde ou não com os pontos de vista emitidos, será uma outra história. Mas todos saberão, sem disfarce, a que viemos à esse mundo. No fundo, tudo não passa de inveja e despeito, de quem reconhece que o jornalismo do Lagos Jornal e da Rede Lagos de TV põe a “cara na reta”. E essa coragem eles não tem.
Os eventuais gracejos admirados servem apenas para realçar a diferença entre os que ainda crêem em algo e os que, em cima do muro, só pensam em seu próprio ventre, faminto e obsceno.

Walter Biancardine é mal-visto até hoje por seus colegas de redação por causa deste artigo

Prolagos X Ampla

Repórter adora uma boca-livre e eu, sem destoar da tradição, compareci ao simpático café da manhã oferecido pela Prolagos nesta quinta-feira, 10, organizado com o objetivo de apresentar não só seu novo diretor-executivo, Felipe Marcondes Ferraz, como também oficializar diante da imprensa o início da gestão de seus novos controladores – o consórcio CIBE.
Não vou aqui desfiar todas as estatísticas, números, projeções e outros quetais perguntados, respondidos e apresentados durante o evento, pois sei que a eficiente Cristiane Zotich, assessora de imprensa da companhia, terá o maior cuidado em apresenta-los à mídia local.
O que me levou a escrever estas mal-traçadas foi a constatação de que o erro fica sempre mais tolerável quando percebemos que existe uma real intenção de acertar, e é o que a Prolagos aparenta estar tentando.
Todos conhecemos o lado ineficiente, irritante e por vezes incompetente mesmo, da concessionária da águas e esgotos que nos atende. E minha constatação veio à tona quando lembrei que tão grande quanto – ou talvez até maior que o da Prolagos – é este mesmo lado negro, apresentado pela concessionária Ampla. Ali sentado, ouvindo as explanações de seu novo diretor-executivo, me dei conta que ali havia ao menos a preocupação de dar satisfações, explicar e demonstrar as reais intenções de acerto. Nem levei em conta o lado maravilhoso e abnegado que o Sr. Ferraz apresentou, afinal este é seu papel, mas apreciei o gesto de consideração para com os consumidores que pagam pelos seus serviços.
Já com a Ampla, o buraco é mais embaixo, me perdoem a expressão. Aliás, nem sei se haverá buraco, eis que nem mesmo um escritório na cidade a companhia mantém, como se não fôssemos dignos de tanto.
Escondidos da indignação popular em um distante prédio em Niterói, seus chefes e executivos sentem-se à vontade para persistir na política que acredita sair mais barato para a companhia pagar eventuais indenizações à clientes irados do que investir na modernização da obsoleta rede da qual ela se serve.
Ignorando solenemente a imprensa, sem dar satisfações de seus atos – os quais só existem pela concessão outorgada pelo povo – e demonstrando um notório nojo daqueles que são seu sustentáculo, os consumidores, a Ampla passa ao largo disso tudo ancorada na crença da eterna tolerância do brasileiro e na passividade e conivência do poder público.
Para eles, uma boa imagem nada significa. É o conceito grosseiro que consideração e preocupação em bem atender não passa de rematada frescura – já que o importante é lucrar. E nesse rumo prossegue a Ampla, cada vez mais antipática aos olhos de seus clientes, sem opções diante do monopólio privado.
Entre um cafezinho e uma explicação do Sr. Ferraz, concluí que realmente ambas cometem erros às dúzias. Mas a Prolagos ao menos tenta melhorar.

E os salgadinhos estavam ótimos!

Walter Biancardine é jornalista e ameaçou pedir demissão se não fosse escalado para cobrir o evento e comer os salgadinhos.

Mofando na fila do Banco do Brasil

Sexta-feira, dia 4, o feliz dia de recebimento de meus caraminguás.
Cheque em punho, lá fui eu rumo ao Banco do Brasil para descontar tão precioso documento, que garantiria meu sustento até o próximo mês.
Ao adentrar a agência, a cena menos desejada e infelizmente a mais vista: uma fila indecente que engolia a pressa do clientes, cuja evolução era dosada pelos apáticos e indiferentes funcionários, imunes à demissões ou reprimendas de qualquer espécie, já que são funcionários federais.
Meu horário de chegada: 12:30. Meu horário de saída: 14:20
Cinco caixas atendiam umas cinqüenta pessoas – numero até nem tão alto – mas cujos infelizes componentes eram obrigados a ceder a vez aos incontáveis idosos que penavam em sua fila preferencial e eram atendidos em todos os balcões, para ver se assim desafogavam um pouco o salão.
Faço aqui um parêntese para dizer que nunca entendi essa história de fila de idosos em um país cuja população maior de 65 anos é cada vez mais numerosa. Destacar um só caixa para eles é tumultuar não só a vida dos idosos, pela ineficiência, como também atrasar os outros clientes, que precisam ceder a vez nos caixas comuns. O correto seria aumentar o horário de atendimento ao público, separando toda a parte da manhã apenas para atender à terceira idade.
Voltando ao meu tormento: protestos esparsos, resmungos eventuais e até mesmo sorrisos conformados com o próprio desrespeito sofrido podiam ser vistos naqueles que compunham a fila dos desafortunados. Um solitário funcionário tentava organizar uma espécie de triagem para apressar as coisas, mas era em vão. Irritado, confesso que cedi à vaidade e disse à ele: “ – Quando eu sair daqui, vou fazer uma reportagem sobre isso.”
E o tempo continuou passando, alguns espertinhos que sempre aparecem nessas horas tentavam furar a fila, outros, com um hábito tipicamente tupiniquim, postavam-se quase que sexualmente colados na gente – incrivelmente indiferentes à misturar seu suor aos suores alheios – e assim permaneci, perdido em cálculos para me distrair do tédio e concluindo que, naquele ritmo, eu levava seis minutos para percorrer um metro de fila.
Foi quando o funcionário responsável pela triagem voltou, me chamou e sutilmente comentou que falou com o gerente e ele mandou perguntar se eu tinha algum título para pagar ou algo assim, e se ele poderia me ajudar.
A cultura da corrupção parece que está no DNA de alguns brasileiros, mesmo. Respondi que eu não queria nenhum privilégio, que estava ali apenas para descontar um cheque e que iria permanecer na fila, até que chegasse minha vez de ser atendido e eu marcasse no relógio o tempo que levei.
Me abstraí do discurso em prol dos funcionários que ele fez, até porque, por mais que as maiores decisões venham das matrizes, um gerente tem autonomia suficiente para determinar o numero de caixas abertos.
Nesta mesma viagem de pensamento, relembrei as bravatas de nosso prefeito, que fez questão de mostrar sua macheza falando grosso com uma renca de gerentes, completamente indiferentes ao que ele falava. E lembrei também a tão mal-falada história da venda da folha de pagamentos dos funcionários da prefeitura e o posterior silêncio absoluto sobre qualquer assunto que lembrasse filas de banco, por parte do chefe do Executivo. Uma grande coincidência.
Acordei de meu devaneio sendo chamado ao caixa, uma hora e cinqüenta minutos após entrar na fila, certo de que meu almoço naquela altura do campeonato já tinha ido pro buraco.
E agora, sr. Prefeito? Acho que o senhor devia engrossar com os bancos novamente. Afinal, terem pago pela folha de pagamento da cidade não vai afetar sua imparcialidade.
Ou vai?

Walter Biancardine é jornalista e se acha importante pra cacête

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Tempo, tempo, tempo...

No tempo que você não está, não durmo
Todo tempo que você não esteve, nem vi
Sua ausência, sua falta em tudo
Não vivo, não vejo, não durmo.

Mas cada minuto que passa, um a menos me separa
Em cada minuto que estamos, um a mais me dá vida
Afinal feliz, afinal tranqüilo, seu cheiro na sala
E o peso de antes me vence, sem pensar na partida.

Vivemos de horas, de grãos, de instantes
Enchendo duas vidas que já foram vazias,
Quero seus dias, seu destino restante
Sem sono ou cansaço, nada sacia.

Perdoe meus erros,
E o que faço de errado;
Mas, a viver sem você
Melhor morrer á seu lado.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Movido à esculacho

Confesso, em meu nome e de meus coleguinhas ociosos, que esta é uma época muito triste.
Fim do horário de verão, fim do carnaval, fim do verão, fim das grandes férias começadas antes do Natal, data em que o país literalmente pára, permitindo que uma nação de adolescentes se delicie com os novos comerciais de cerveja, com a expectativa das novas modas e com a excitação porno-colegial da disponibilidade mulherística nas praias, nas ruas à tardinha tomando sorvete, juntamente com o irresistível impulso feminino de namorar nas férias de verão.
É a época do acasalamento! São as férias infantis de um país cuja grande massa populacional estacionou nos 17 anos, mãos peludas e cara sarapintada de espinhas, exigindo 3 meses de ócio, irresponsáveis sobre as catastróficas conseqüências econômicas para a nação.
Que pena que a alegria obrigatória do carnaval acabou! Que pena que não vamos mais poder brincar os festejos de Momo, como sejam, desfiles de carros com malas abertas exibindo à todo volume as músicas tradicionalmente carnavalescas – o creu, sucesso absoluto, e todos os outros funks sem os quais não há carnaval – muvucas intransitáveis, brigas, tiros, engarrafamentos e muita, muita risada....o povo adora isso!
Sinto um arrepio quando o carnaval começa e tenho a nítida certeza de que a cidade está entregue nas mãos do cão chupando manga...uma terra de ninguém, território sem lei, onde só o absurdo tem vez e a barbárie impera. Isso, para a plebe ignara, é a dádiva dos deuses – o que eles entendem como “liberdade”.
Fim dos 3 meses de “hora do recreio”, em que ninguém trabalha e ninguém explica como sobreviveu, pagou aluguel, comida e, principalmente, tanta cerveja.
Março chega, e com ele, a hora de crescer. Que pena ter de ser adulto de novo. Que pena o papai Governo não nos dar mais brinquedinhos entorpecentes como Micaretas, ruas fechadas, mega-shows gratuitos na praia...
É hora de sermos adultos novamente, é hora de uma nação de Peter Pan’s partir da Terra do Nunca e tentar ganhar o pão e a dignidade de cada dia.
Eu mesmo, só voltei a escrever graças aos pontapés de minha mulher – “vai trabalhar, filho da vergonha!” – e dos esculachos de minha patroa, Keetherine: “ Trabalha, vagabundo!”
Fui precipitado de meus devaneios lisérgico-ociosos para a dura realidade de aceitar que sem dar duro, não comemos. Graças à Deus, com o fim do verão, os comerciais de cerveja acabaram.
E assim, uma creche chamada Brasil teve seu chocalhinho tirado das mãos, e chora fazendo birra, pois está na hora de trocar a fraldinha e ir estudar.
Ai ai ai, Brasil! Que feio! E nada me tira a certeza de que o problema do Brasil é pediátrico, por culpa dos incontáveis “pais do povo”. Deus nos livre deles. Pé de pato, mangalô três vezes!

Vai trabalhar, vagabundo!

Walter Biancardine é jornalista, vagabundo e ocioso; e só voltou a trabalhar depois que sua mulher ameaçou não pagar mais seu whisky

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

À vida, mais que o sonho

Depois de muito tempo, tento voltar a escrever.
Nunca soube lidar com a felicidade e mesmo sentia sempre uma certa vergonha de mostrá-la.
Não sei se por vício ou se pelo fato de que reclamar é sempre mais fácil, habituei-me a escrever sobre a dor, e inclusive usa-la como muleta da criação.
Um dia, em um estacionamento, lá estava ela.
E tirou de mim todas as trevas, e me apresentou á felicidade absoluta e indizível.
Sobre o quê escreverei agora? Sobre minha alegria?
Sobre ela? Sobre nossos planos e sonhos?
Não.
Escrever é sonhar em papel, e agora, minha realidade é melhor.
Por isso, ao menos por enquanto, não escrevo:
Prefiro viver.


Walter Biancardine é jornalista, e às vezes, tem sorte.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Heei !!

Passei uma vida inteira resmungando, murmurando para mim mesmo; um rabugento de plantão sempre disposto a encontrar um mínimo detalhe que fosse, para que meus breves e raros momentos de felicidade tivessem algo que eu pudesse criticar.
Mesmo na única vez que acreditei ser absolutamente feliz, ao lado de uma mulher, ainda assim eu a via humana demais para que eu me rendesse. Amava, mas com prudência.
O tempo passou, esse amor acabou, e voltei à minha faina de resmungão.
Tantas escrevi, tantos uivos de dor foram publicados, tantas noites sangradas que fui rotulado como o “atormentado”.
Solidão, bebedeiras, promiscuidades, gritos e choros, panteras estapeadas, mulheres absurdas, companhias completamente dispensáveis, arrependimentos abissais compuseram uma rotina árida que nunca me permitiu ver algo de belo na vida.
Todo o cinismo, ceticismo, talvez escondesse apenas um pedido desesperado de ajuda contra minha solidão e desamor. E, principalmente, existia o passado.
O passado, que me perseguia como uma obsessão; símbolo da única felicidade que conheci na vida, de quando eu achava ser cuidado – e o melhor – de quando tive a certeza de ter, ainda tão jovem, encontrado o amor de minha vida.
Mas sempre achei que nada tinha a acrescentar à vida de ninguém, e por me achar absolutamente desinteressante, sem nada a oferecer, me recolhi e deixei que ela passasse. Afinal, eu a amava, mas e ela? Como gostaria de alguém como eu?
Com o coração preso em um passado, a vida seguiu. Todos gostaram, chegaram mesmo a ter amores; casamos, tivemos filhos, rimos, choramos...tudo isso a quilômetros de distância e de um silêncio completo. A vida seguiu seu rumo, um péssimo rumo. A minha, ao menos; sempre aproando tempestades, tormentas, sem porto de chegada.
Mas o destino prega peças e o que está escrito não pode ser mudado: os mesmos textos loucos nos quais eu destilava todo o meu veneno auto-piedoso serviram de ponte para um reencontro; completamente inesperado, improvável, imprevisto. E quase trinta anos represados explodiram como uma barragem que ruísse.
Choramos ao nos abraçarmos. Não de novo, porque nunca nos abraçáramos antes. E choramos pelo platônico de nossas vidas, por tanto amor que foi varrido para baixo do tapete; choramos em cada toque, em cada carinho, em cada beijo, e descobrimos – perplexos – que a vida fizera a ambos, um para o outro. Encaixe.
Foram apenas sete horas. Sete horas da mais absurda felicidade que dois seres humanos tiveram o atrevimento de sentir. Sete horas que recompensaram 30 anos de espera. E 30 anos que amadureceram dois corações o suficiente para saberem que não se deve brincar com o amor.
Agora, finalmente, estou livre do passado. Paguei a minha dívida com a dor, estamos quites, eu e o destino. As poucas sete horas que vivi são apenas as primeiras sete, de setenta e sete séculos que viveremos, porque o amor não morre.
A tormenta acabou, e o sol finalmente voltou a brilhar.
Só agora vejo o céu, sem nuvens, e o mar calmo, amigo. O azul e o verde daqueles olhos que me oferecem a paz, que trouxeram finalmente um sentido à tudo o que me aconteceu. E o amarelo dos cabelos dela, do sol, que enfim brilha de novo.

E será eterno.

Queria gritar ao mundo, mas em respeito, me calo..

"Eu protegí seu nome por amor/Em um codinome Beija-Flor"

domingo, 11 de novembro de 2007

Avançando para o passado

Remexendo em papéis velhos e aqueles montes de anotações que eu, espírito de rato-trocador, fui acumulando ao longo dos anos, encontrei alguns manuscritos. Se eles não são propriamente os do Mar Morto, serão com certeza os do Ex-Morto, eis que foram escritos há muito tempo atrás, em 1979, por um adolescente incapaz de dizer o que sentia para a garota que amava. Este adolescente morreu, fulminado por uma maturidade galopante da qual foi vítima pouco tempo depois, quando descobriu que a estrada seria muito, muito longa, cheia de acidentes de percurso, desencontros e dores.
Recentemente, o correio bateu em sua porta, com cartas tão antigas, novidades tão velhas, e lembranças tão novas.O carteiro gritou: “Levanta, Lázaro!”
E desde então ele, adolescente renascido, tem deixado as luzes de sua casa sempre acesas, na esperança que sua amada as veja e escreva novamente.

(Eventuais erros deverão ser perdoados, afinal o autor era um jovem machucado de 15 anos)

Adeus

Caberia na palma das mãos
Quem já amou tanto assim como eu,
A se perguntar como enfim se perdeu
O amor

Estou vivendo com a calma irreal
Da gente que disso tudo aprendeu
Da gente que também sobreviveu
A dor

Ela se faz doer a cada segundo
Se na sua falta o momento e maior
Mas na sua volta o instante é o melhor
Dos meus

Você é o que me faz sentir enfim
Que o meu corpo tornou-se dois
E tenho medo de logo depois
Adeus

09/01/1979

Nota do arqueólogo: não se sabe ao certo se a palavra “adeus” foi empregada devido a distancia que ele morava de sua amada ou se foi pelo fato do escrito acima ter sido composto nas proximidades do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro.

sábado, 10 de novembro de 2007

Bloco de notas

Solidão é o tamanho do espaço que sobra em sua vida
Irritação é a medida desse mesmo espaço que falta
Pequenez é saber-se sem dono, ninguém que pergunte por você.
E quando todos perguntam, dependem?
Doar sangue ou hemorragia,
Toda hora, todo dia,
Tudo é uma questão de escala.
Quanto sangue pode ser sugado?
Quanto amor pode ser cobrado – e não ser dado?
Quanto talento é preciso para comover uma mulher?
E na falta da rima perfeita, os homens se matam.
Se rasgam, escrevem sandices.
Que o tempo não passa, nunca existiu,
Relógios, distâncias,
Que diriam de mim?
Morram os vizinhos,
Que o inferno é certo
E o céu não é perto.
Quem pede e não toma
Nunca chega a Roma
Felicidade é roubada,
Amor é tomado,
Tanto amor, que até por piedade é aceito.
Tanto amor, que vale o escondido,
Vale o proibido, tudo é permitido.
O coração nunca teve vergonha na cara, mesmo.

Walter Biancardine é jornalista e acha que deve haver algo de doente em uma sociedade cuja moral foi criada por um psicopata sexual canonizado santo.
Saulo, Saulo, por que me persegues?

10 de novembro - Será eterno, enquanto viver

Se as coincidências não existem, os desencontros também não.

Talvez tudo seja uma questão da hora certa para os que acreditam na mão do destino, a pastorear sua felicidade. E assim, deixamos os anos passarem, dando tempo ao tempo, como diriam nossos avós, e permanecemos numa expectativa de doença crônica, apenas aguardando que os anti-corpos da vida baixem a guarda. Poucas pessoas, poucas mulheres para ser mais exato, acreditam em nada que signifique longo prazo, com relação aos homens. Quantas oportunidades são perdidas, de se saberem amadas, ao longo de uma vida inteira! Nada de bombástico, nada de dramático, cinematográfico. Apenas o acaso absurdo de serem donas e alvo de um amor que se recusa a morrer.

Existem almas que são feitas juntas; Existem amores que se amam porque amam; Amores irracionais, ao sabor do vento; Amores que decidem uma vida e definem quem podemos ser; Existem amores que mostram, para sempre, quem queremos ter; Amores que não se explicam; Porque o amor é inexplicável, e só. Assombrações, fantasmas do passado para uns; Semente que espera nascer, para outros. Amor não se pensa, Amor não se analisa, Amor não se discute, Amor não se contesta, Amor não se recusa, Amor não se guarda, Amor apenas se sente. O resto é desculpa de quem tem medo da vida.

E depois de tantos anos, foi possível olhar para algo além do chão. E vi que fazia sol. E vi, de novo, o dia nascer. Comigo.

Walter Biancardine é jornalista e tem ficado de coração mole. Deve ser porque agora tem dois aniversários: um deles no 10 de novembro.

domingo, 4 de novembro de 2007

Para uma grande mulher

Eu preciso de alguém pra me proteger de mim mesma.
Seu Fulano, Dona Beltrana,
Eu preciso de alguém pra me esquecer de mim mesma,
Meus muros de casa, meus muros da vida.

Estou viva, a mostrar que aprendí;
Nas ruas, as lições de casa,
Em casa, as lições das ruas.

Eu preciso de casa,
Eu preciso de muros;
Pra me proteger de mim mesma.

Eu preciso de gente,
Eu preciso de pressa
Pra me esquecer de mim mesma.

Eu preciso de vida,
Eu preciso de brilho;
Eu preciso do mundo
E um grande amor, que me cure de mim.


Walter Biancardine é jornalista e dedicou estas linhas à uma grande mulher, que há muito tempo atrás quase o fez querer ser um homem melhor.

Toda vez que não tenho assunto, eu vendo minhas neuras

Ultimamente tenho conversado muito. Coincidência ou não, surgiram sucessivas ocasiões de trocas de experiências, reencontros, confidências. E o mais peculiar nisso tudo é que observei alguns pontos que podem quase materializar esse escudo invisível que me cerca e me coloca à parte da vida, criado não sei se por mim ou pelos outros.
Interessante notar que o termo “troca de experiências” é quase um eufemismo, já que tenho escutado muito mais que relatado. Não sei ainda se os outros têm vivências mais numerosas, intensas ou dignas de nota que as minhas ou se ainda não consegui me livrar da velha indiferença com minha própria vida. A verdade é que nunca acho nada que eu tenha vivido como espantoso, incrível ou mesmo terrível. Tudo é morno, catalogado, página virada e esquecida. E para um pretenso escritor como eu, é a sentença de morte de qualquer argumentação literária. Um homem que não se surpreende com a vida todos os dias não escreve, pois nunca considera nada admirável o suficiente para merecer uma página.
No ramo das confidências, sou um amador. Até consegui cometer algumas indiscrições pessoais, mas é nítida a falta de paciência dos interlocutores com minhas pequenas misérias. A princípio pensei que fosse aquele egoísmo comuníssimo de querer que os outros nos ouçam mas sem ter de ouvir de volta, querer soluções evitando solucionar males alheios, mas descobri rapidamente que a culpa é de minha chatice: o mesmo cacoete detalhista que povoa o estilo de alguns escritores emperra qualquer conversa quando utilizado em confidências, e aí a coisa se torna um saco; papo para analistas, mesmo. Assim, é natural que poucos ou nenhuns amigos se permitam mergulhos tão abissais nas almas dos outros.
E quando são confidências amorosas reveladas por criaturas do sexo feminino, a coisa fica tão grave que já foi até objeto de crônica anterior, o tio Walter e seus bons conselhos.
Sobraram os reencontros, que podem ser uma volta ao passado ou armadilhas.
Li uma vez, acho que foi no “Terra dos homens”, Saint Exupéry, que duas árvores que crescem juntas, o fazem na mesma direção. Mas quando afastadas, seguirão cada uma seu caminho. Querer uni-las posteriormente será perda de tempo, pois jamais encaixarão de novo. Por isso Saint-Ex considerava os reencontros um perigo.
Estou inclinado a concordar com ele; não pelos outros, mas por minhas próprias psicopatias, achando que todos dão a mesma importância a pequenos fatos e detalhes com os quais minha memória tem me aprisionado todos estes anos – um território livre, repleto de felicidades – e que eu acreditava piamente que todos compartilhariam estas sensações.
É besteira e rematada infantilidade pretender que um reencontro se faça dentro de um clima de afeto, parceria e amizade anteriormente desfrutado. Seremos dois estranhos nos (re)conhecendo, tateando em busca de assuntos e gostos que permitam uma conversa no clima de alegria que a tal amizade pede, e nem sempre funciona.
Não sei se passo uma impressão um tanto depressiva destes fatos, mas a verdade é que não considero tudo assim em sua totalidade. Existem reencontros que são surpreendentes, renovadores e, ainda que na verdade você esteja mesmo diante de um estranho, este ser desconhecido agrada.
Existem ocasiões em que deixamos para trás um casulo e reencontramos uma borboleta.
E isso justifica todo o atrevimento de procurar.

Walter Biancardine é jornalista e às vezes acha que antigamente era muito melhor. Coisa de velho.

domingo, 28 de outubro de 2007

O vírus do ódio

Epidemia já chegou em Cabo Frio

Após um rápido processo de urbanização, no qual a cidade se alargou, modernizou e respira hoje ares de uma Copacabana dos anos 60 em alguns bairros, uma corrente migratória de classe média iniciou-se trazendo novos habitantes, que sonham estabelecer aqui uma nova chance de felicidade ao erguer uma nova economia e uma nova vida. Descartando o que não deu certo em suas cidades de origem, rejeitando o feio, o brutal, o desumano, Cabo Frio tornou-se, para a classe média recém-chegada, o sonho utópico do novo mundo quinhentista.
Tudo seria um soneto de esperança e felicidade se no rastro de qualquer indício de prosperidade não viessem as hordas de deserdados, as mesmas que esta sonhadora classe média se serve para empregar em seus projetos; as mesmas massacradas em suas favelas de origem, as mesmas inoculadas com o vírus do ódio pelo exibicionismo consumista da comunicação de massa, que substituiu a ideologia pela miçanga e afirma que só tendo algo é que um homem vale alguma coisa. Esse vírus tem sua disseminação garantida pelo desespero de ter, que leva ao assalto, ao crime. O ambiente necessário é estimulado por alguns políticos indecentes – favelas que crescem como cogumelos – que vêem ali o seu Frankenstein eleitoral, burramente seguros de os dominar. E o domínio vem à pau e corda, o tratamento animalesco dispensado pela polícia igualmente embrutecida e contaminada; endossada pela justiça, saúde e educação cuidadosamente planejadas para o extermínio mental e moral do proletariado, tudo isso formando um ambiente propício e vicioso à proliferação e desenvolvimento seguro do mais poderoso vírus social existente: o vírus do ódio.
A espécie que se apresenta entre nós trás para a nossa cidade os mesmos padrões de violência repentina e injustificada de suas cidades. O vírus trabalha com afinco para que aqui se reproduzam o mais breve possível os mesmos cenários de degradação social e caos urbano de um Rio de Janeiro, por exemplo.
O ponto mais temível na contaminação é que esta cepa virótica só é letal justamente para a classe média, ou eventuais processos autofágicos, onde o proletário extermina a si mesmo nas favelas. O vírus é impotente no ataque aos verdadeiros promotores de sua existência, os governantes, que sabiamente estão seguros de que, graças à mídia, o pobre nunca terá um sentido ideológico e nunca se voltará para uma luta de classes. Eles sabem que, graças ao consumo, TV´s, bailes funk, galeras rivais e quadrilhas idem, o pobre contaminado pelo vírus ira atacar seu semelhante, e nunca o responsável pela sua indigência mental.
É curioso ver o contraste entre as aspirações de uma classe média pagadora de impostos – que só quer um mundo novo para realizar seus sonhos – e as ambições incrivelmente coloniais dos governantes, que apodrecem o solo que lhes deu origem, certos de que com os bolsos cheios, viverão em paz, bem longe, em algum lugar que julguem sofisticado o bastante para comportar toda a sua grandeza.
Cabo Frio reflete, em ponto pequeno, a mesma sociopatia da qual o Brasil padece. E no meio disso tudo, feito um joguete, está a massa miserável. Sem horizontes maiores que um crediário, um teto de laje ou o domínio de uma boca de fumo, a depender da índole.
Pobres e eternos instrumentos de chantagem: quando não através de uma demagógica piedade, quase sempre por meio de uma violência irracional – que aprisiona em casas gradeadas os mesmos que sustentam os promotores destas misérias.
Cabo Frio descobriu que tem câncer, mas ainda é operável.
Estaremos nós esperando o quê? A metástase?


Walter Biancardine é jornalista, e só está vendendo o peixe como comprou – podre, direto das ruas.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Só as desgraças fazem os heróis

Você algum dia parou
Para ver os mendigos sem pêso,
Com suas doenças rifadas
E todo o devido desprêzo?

Você algum dia espiou
Travestís desfilando em calçadas,
Seus suspiros vendendo mentiras
E ilusões de uma vida abortada?

Você algum dia tragou
Bebeu no boteco uma ou duas,
Tentando encontrar em seu copo
O que te negavam nas ruas?

Você algum dia pagou
Luz vermelha, os carinhos da vida,
Transformou suas dores em gozo
Entendeu que seu gozo é ferida?

Você algum dia notou
Que hoje o céu é nenhum,
E o pó que cuspimos pra Deus
Nos cobre, felizes, em vala comum?

Você algum dia falou
Que viu sua terra morrendo,
Sem ligar que canalhas nos comprem
Somos iguais à quem está nos vendendo?

Você algum dia lembrou
De mim e minha vida vazia,
Meu inferno, minha solidão
Minhas noites de falsa alegria?

Você algum dia pensou
Não haver putas, viados, doidões,
Mas então quem seria você
Se nada no mundo fugisse aos padrões?

Você algum dia aceitou
Da TV os heróis de sua praça,
Nem perguntou o porquê disso tudo
Tudo no mundo é uma farsa?

E se não houvessem as vidas devassas?
E se não houvesse o mal feroz?
Só sei que por nossas desgraças
É que fabricam-se heróis.

Walter Biancardine é jornalista. E muito doido, também

Raiva Giratória

Não quero rimas, formas ou beleza;
Quero só gritar meu desespero.
Acordar a indiferença, ensurdecer a solidão.

Enrouquecer, enlouquecer,
Ou esquecer.

Quero espalhar minha dor, cuspir minhas mágoas;
Ferir negros e goianos,
Pra lembrar á todos que o mal é o que existe.

Menos na vida
Que em nossos amores.

Amor é egoísmo em poesia,
Tivesse juízo e jamais sentiria.

Sádico fim dos grandes amores;
Sempre acontece em um, primeiro,
Para o outro minguar, gota á gota,

Seu fim derradeiro.

Walter Biancardine é jornalista, o fim do mês está chegando e o dinheiro acabou.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Muito bonzinho, mas não conta

Sinceridade? Ando bem de saco cheio de ser gente boa, bom ouvinte, gentil, educado, sempre entendendo os sentimentos dos outros e, às vezes, até mesmo servindo de confidente em relações desmoronadas ou inviáveis.
Pior que isso: quando uma mulher me procura para esse tipo de coisas, embora me sinta feliz por um lado – afinal, devo ser uma pessoa confiável e de bom senso – por outro desaba, feito uma laje em minha cabeça – a certeza de que sou completamente inofensivo.
Tenho a absoluta certeza de que quando uma mulher procura um homem para tentar entender seus sentimentos ou suas relações, e principalmente um homem mais velho, é porque ela nem sequer considera esta pessoa como homem, no sentido macho do termo. Um espécime do sexo masculino, que carrega uma boa bagagem de vida, pode ajudar com idéias, sugestões e dizer coisas agradáveis e animadoras – um livrinho de auto-ajuda interativo. E aí, tenho a consciência exata de minha exclusão do páreo.
Em algum momento de minha vida, deixei de ser excluído por ser feio, e passei a ser “não-considerado”, por ser velho.
Hoje não existe mais aquela rejeição explícita à minha volta, feito quando eu era adolescente e percebia que as meninas só falavam comigo o essencial, para não serem vistas com o feioso. Hoje, percebo que, se não há mais a debandada em torno de mim, existe o consentimento que o tio fique ali, sentadinho, tomando conta das meninas e passando um merthiolate quando necessário.
Confesso que para mim nem é das missões mais difíceis ou ingratas.
Tanto tempo de solidão, isso faz com que você seja grato à quem está próximo, ainda que por respeito aos mais velhos. É bom ver gente em volta de vez em quando, ouvir vozes chamando seu nome, saber que você ocupa um espaço físico na terra e que você não é transparente, as pessoas te vêem!
Mesmo a parte sentimental, depois de tantas portas na cara, pés na bunda e dispensas sumárias, não dói mais como doía antes. A vida e as pancadas foram amortecendo as dores, criando calos e construindo defesas.
Fico pensando se alguma delas cometeria a temeridade de escutar as minhas desventuras sentimentais. Com certeza não, papo de velho, ih!
Aliás, penso mesmo se existirá alguém no mundo que escute alguém – e que não tenha diploma, consultório, não cite Freud e nem cobre por isso.
Hoje posso enfrentar situações surreais, como escutar uma moça pela qual eu poderia estar interessado desfiar todo um rosário de lamentações porque uma cavalgadura imbecil mas com barriga de tanquinho não a trata com um mínimo de educação. E mesmo assim, ela o ama!
A reação mais forte que consigo ter é constatar que ambos se merecem, e reafirmar para mim mesmo a crença de que mulher gosta é de cafajeste – homem bonzinho é só para dar conselhos.
E assim mesmo, depois de velho.



Walter Biancardine é jornalista e jura que por debaixo da cara velha e feia existe um ser humano. E que tudo dói nele igualzinho dói em você.

domingo, 21 de outubro de 2007

Modernidades cibernéticas

Não tendo coragem pra botar um piercing ou dinheiro pra fazer uma tatuagem e com a pressão lá nas alturas – o que contra-indicaria o consumo de energéticos – encontrei como única maneira de me conectar à modernidade a confecção de uma página de orkut para mim. Não que eu seja um pitecantropus, até porque a seu nome se segue o sobrenome “erectus” e, francamente, prefiro nem comentar; mas o caso é que já há algum tempo me utilizo de e-mails e até mesmo consigo conversar pelo MSN.
Foi à duras penas que aprendi este novo dialeto, cuja utilização seria essencial para que eu fosse aceito como um igual. Hj, ta td ok, vlw. Té ki naum foi dfícil, fico tc c/ geral fds intero, mi divirtu, bjaum, fui!!!
Por outro lado, pus-me a pensar como o ser humano repete, onde quer que esteja, os mesmos padrões de comportamento que pratica em seu dia a dia. Um exemplo: ninguém me falou, mas eu acho que deve ser sinal de popularidade ter uns 1.236 amigos. Se não, porque seria estampado o número totalizado na página?
Eu, com minha meia-dúzia, devo ser um sujeito insuportável! E as comunidades? Aí, creio que elas desempenham uma função dupla: ostentar poder (olha, se me irritar muito, eu chamo minha galera!) e dar uma idéia de quem nós somos, tudo aquilo que não soubemos dizer de nós mesmos em nosso perfil – até porque a capacidade dissertativa não é o forte do internauta – e talvez até mesmo o que desejamos ser.
Mas é uma faca de dois gumes. Explico: um sujeito como eu, com a reputação que arrasto, ter em sua lista de comunidades “Eu adoro Jack Daniel´s” é a confirmação de que sou um reles cachaceiro. Por outro lado, cometer a temeridade de filiar-se à “Reflorestamento com Cannabis” é demissão na certa, e após uma curta permanência na mesma, deletei-a de minha lista. Até por que senso de humor é um artigo cada vez mais raro hoje em dia e, sendo um repórter, sei muito bem como, de uma brincadeira, pode ser criada uma verdadeira infâmia.
Tenho aprendido bastante neste novo mundo que agora desembarquei, muito embora meu primeiro contato com os computadores tenha sido no longínquo ano de 1984, ainda os de grande porte, que se utilizavam de uma coisa indizível chamada “Cobol 74”, uma verdadeira linguagem para iniciados.
Divirto-me baixando músicas do e-mule – Creedence, Janis Joplin, Sting, coisas que não se acham mais por aí. E descobri também uma grande maravilha: o blog (desculpe). Blog (desculpe)não é o som de um pequeno arroto, e sim uma pagininha na internet onde a gente pode publicar o que der na telha. Vai daí que imaginei: ora, toda as semanas minha patroa neste portal, dona Keetherine, me concede a gentileza de publicar minhas mal-traçadas. Mas elas são trocadas igualmente todas as semanas. Porque então não fazer um blog (desculpe) onde eu pudesse arquiva-las, todas, para a imortalidade e consulta de meus 12 fiéis leitores?
Foi o que fiz. Criei o meu – permita-me o merchandising, Keetherine – Crônicas e Agudas (http://www.biancardine.blogspot.com/), onde o imprudente leitor poderá ler todas as besteiras que já escrevi para este portal, e que foram generosamente toleradas.
Vai daí, eufórico com a novidade, passei a anuncia-la aos parentes, amigos, conhecidos, animais de estimação, todos! E aconteceu uma coisa estranha, que ainda não consegui definir com exatidão o que foi: eu recebia uma média de 20 e-mails por semana, entre amigos, assuntos de trabalho ou recados diversos. Pois bem, desde que anunciei aos quatro ventos o meu blog (desculpe), nem mesmo UM mísero recado recebi, fugiram todos!!
Pois bem, eu sei que vocês estão aí, posso ouvir a respiração de vocês.
De nada vai adiantar fingir que não me viram ou que não receberam meus e-mails, eu vou continuar publicando minhas crônicas no meu blog (desculpe) e um dia, nem que seja à força, vocês terão de lê-las!
E enquanto o Senhor me der forças e cerveja e a Keetherine não arranjar ninguém normal para escrever em meu lugar, eu estarei aqui!
VOCÊS VÃO TER QUE ME ENGOLIR!!!

Walter Biancardine é jornalista. Isso se o sindicato ainda não cassou o seu registro por insanidade mental.

sábado, 20 de outubro de 2007

O último cavalheiro



A morte do ator Paulo Autran encerrou, em definitivo, uma era de homens forjados sob outra têmpera. A postura cavalheiresca e blasé diante da Velha Senhora, reconhecendo sua derrota e cumprimentando-a com seu último cigarro, é um gesto que a geração atual provavelmente não será capaz de compreender nem de repetir – o último cigarro de um condenado. 

Vivemos hoje, todos, escravizados por um amor desmedido à vida e, principalmente, a tudo de material que ela representa. Agarramo-nos a ela com unhas e dentes, de uma forma às vezes abjeta e indigna; sacrificamos nossa honra, nosso nome e até mesmo os que nos são próximos para não perdermos nossas pequenas vitórias – um carro, um cargo, uma posição. Não há como acreditar que pessoas com este tipo de estofo sejam capazes de reconhecer, cavalheirescamente, uma derrota. Ainda mais uma de tal importância, onde o que está em jogo é o nosso direito de existir sobre a face da terra. 

Paulo Autran sabia que ia morrer. E soube sentir o momento em que isso iria acontecer. 

Tal e qual nos antigos contos romanescos aceitou o xeque-mate na guerra que travava e encerrou sua última batalha convidando a adversária implacável para assinar a honrosa derrota. Quando veremos novamente homens que, ao nascer, estejam rodeados de nobres de espírito que lhes digam “bonne chance” ? 

O cavalheirismo morreu. Descanse em paz. 

“Na última noite de vida, já internado no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, o ator Paulo Autran fumou um cigarro depois do jantar, afirmou sua mulher, a atriz Karin Rodrigues. "Ele comeu uma massa e um creme de papaya. Depois que terminou a sobremesa falou 'Agora é a hora do cigarrinho'. Tive que dar", contou Karin. Autran morreu na tarde desta sexta-feira, aos 85 anos, vítima de câncer no pulmão e enfisema pulmonar. Ele passava por um tratamento de rádio e quimioterapia havia um ano.” (Jornal O Dia, 13/10/07) 

Walter Biancardine é jornalista e acredita que, mesmo não existindo mais cavalheiros, ainda haja em algum lugar uma dama à sua espera.

Ais e uis

Lendo uma crônica do inoxidável professor Sepúlveda, resolvi imita-lo e fazer minha própria lista das bem-aventuranças e dos ais. Lá vai:

Bem-aventurados os pobres de espírito, pois que se satisfazem com Funk, Brega, Pagode e Sertanejo;
Bem-aventurados os curtos de horizonte, imunes às verdadeiras ambições;
Bem-aventurados os limítrofes, achando graça em tudo o que vêem;
Bem-aventurados os ignorantes, que crêem saber de tudo;
Bem-aventurados os bonitos, pois ainda que insípidos, não conhecerão a solidão;
Bem-aventurados os que bebem e fumam, eis que não se precipitam nos verdadeiros e grandes vícios da alma;
Bem-aventurados os que não estão sós;
Bem-aventurados os que ainda tem esperanças;
Bem aventurados os idiotas – pois deles é o reino da felicidade.

Ai de ti, homem que pensa: jamais encontrarás a paz;
Ai de ti que não se anula, predestinado à solidão;
Ai de ti que tens uma missão na terra, eis que serás perseguido e invejado;
Ai de ti que tens algum talento, serás um proscrito entre os medíocres demagogos;
Ai de ti que quis aprender, pois que o mundo é uma eterna fonte de absurdos;
Ai de ti que é honesto, sincero, íntegro, leal e trabalhador: jamais serás perdoado;
Ai de ti que só quer a paz, um amor e uma vida digna, eis que é tudo o que ninguém está disposto a aceitar nos outros;
Ai de ti, que insiste em acreditar nos homens e no mundo;
Ai de ti que ainda tenta;
Ai de ti que cria, e desperta os ódios invejosos;
Ai de ti que se sobressai – pois vosso será o tormento enquanto viver.

Walter Biancardine é jornalista e chupim das crônicas dos outros

O desafio do papel em branco

Uma nova semana que se inicia, uma nova segunda-feira e tudo recomeça. Inclusive o trabalhar e padecer, tal como é desde que o mundo é mundo.
Existem trabalhos os quais pesam a brutalidade e o esforço físico, que fazem o homem respirar fundo antes de criar coragem para gastar o corpo em troca de seu sustento. Já outros massacram pela rotina, marasmo e a sensação de improdutividade; os funcionários públicos conhecem esse desaparecimento da vida interior muito bem.
E existem outros ainda, como o ofício de escriba, cuja obrigação primordial é levar aos seus leitores algo digno de nota e, em segundo plano mas não menos importante, escrito de uma forma agradável e criativa. E é aí que a porca torce o rabo.
O que fazer naqueles dias em que nada de excepcional aconteceu? Ou talvez tenha até acontecido, mas o escritor, já cético e descrente, nada mais consegue achar como algo notável? E se, por um feliz acaso, surgem idéias, mas a cabeça emperra; o verbo falha e o bom desenvolvimento do texto murcha, inexorável, em meio ao caminho?
É a pesada obrigação de criar, caros leitores, que já levou muita gente boa ao desatino.
Todos os que vivem da pena já escreveram algum dia algo de excelente; aquele texto o qual volta e meia o resgatamos da gaveta para, incrédulos com nossa própria felicidade, relê-lo orgulhosos, lambendo a cria. E a partir daí definimos esse grau de excelência como nosso padrão, obrigando-nos a produzir diariamente pérolas da literatura.
Essa responsabilidade já me fez rasgar e queimar muita bobagem escrita por mim, do mesmo modo que me impeliu a reescrever o mesmo texto umas vinte e cinco vezes até sair do jeito que eu acreditava ser o melhor.
E assim, aos poucos, sem que a gente se dê conta disso, desenvolvemos hábitos estranhos aos olhos dos outros; tiques e manias compulsivas-obsessivas que, como fossem superstições haveremos de cumpri-las, se almejamos o bom sucesso da empreitada.
Não fica bem eu falar das maluquices dos meus colegas, e nem seria – para usar uma palavra tão em moda que está me enojando – ético faze-lo sem o consentimento de cada um deles. Por isso restrinjo o rol das patologias apenas à minha pessoa, de reputação já tão combalida a esta altura da vida.
O principal motivo pelo qual escrevi toda essa argumentação aí de cima não foi apenas uma vil encheção de lingüiça, cumprindo minha obrigação de preencher o espaço generosamente cedido com algo potável aos leitores. O verdadeiro motivo foi que me dei conta, em definitivo, da pior de minhas manias.
Um fim de semana agradável, amigos ao redor, um belo show de blues no Etílico que vi em companhia de mais amigos, boa comida, boa bebida e até mesmo passeios – eis que ciceroneei um amigo em visita a região – com direito a alegria, despreocupação, pança farta e serpentina molhada. E foi aí que me atolei.
Não é de hoje que sei que a alegria e felicidade são inimigas de minha criação. E após um festival pantagruélico de despreocupação como o deste final de semana, chego à segunda-feira, de volta a minha obrigação de escrever, com a cabeça completamente oca; nenhuma idéia, nenhuma esperança, um deserto.
É impossível ser feliz em meio a tanta felicidade. Pelo amor de Deus, quero meus tormentos de volta! Como escreverei sem uma dor de corno, sem uma angústia abissal, sem um apocalipse na alma e o juízo final no coração?
Mas eu sei que tão certo quanto o dia após a noite, a mediocridade humana me fará presente, como fonte inspiradora, um variado e abundante material depressivo-criativo durante esta mesma semana, sem faltar nenhum detalhe sórdido ou mesquinho, tão usuais na natureza do homem.
Ambição excessiva, exibicionismo, cupidez, ganância, inveja, mesquinharia e vaidade.
É só esperar. A vaidade, pecado predileto do encardido, leva os deslumbrados – pelos seus próprios pés – para o inferno.
Vovó dizia que nem tudo o que brilha, é ouro. Estava certa: pode ser só um caco de vidro.



Walter Biancardine é jornalista e aguarda, ansioso, a irritação e saco cheio da sexta-feira para escrever suas pérolas.

Ainda a pobreza

Com a ajuda de cinco negões amigos, consegui finalmente retirar meu Chevette 82 de dentro da salina, onde foi jogado por uma turba enfurecida de plebeus, conforme relatei em minha crônica da semana passada. Relatei também que a causa de tal desvairio foram comentários meus, considerados desairosos, em relação à pobreza espiritual imposta pela mídia, proferidos em crônica ainda anterior.
Pois bem. No momento em que escrevo estas mal-traçadas, vejo na tela de minha TV Colorado RQ a válvulas o “Fantástico” deste domingo, no qual a atriz e futura Madre Tereza de Calcutá, Regina Casé, empurra por minha goela abaixo todo o seu amor pela periferia, a qual recebeu um quadro só pra ela em tal programa.
Confesso que tal quadro me causa engulhos. E, antes que outros despossuídos comedores de “cocretes” venham a me catar pelas ruas, apresso-me a explicar o porquê: o problema não é ser pobre. O problema é começar a gostar de sê-lo, acreditar que a periferia é uma classe, um estilo de vida com cultura, hábitos, moral e valores próprios e – sentimento sutilmente instilado – provavelmente superiores, mais legais, sinceros e divertidos que os dessa burguesia insípida que os emprega. O nome disso, meus caros pobres, é CONFORMISMO SOCIAL. A partir do momento em que o pobre ri de si mesmo, de seus hábitos, desventuras e até de suas gafes; quando os pobres vêem na televisão favelas em todo o mundo e que possuem os mesmos hábitos e problemas (como se pobreza não fosse uma merda em qualquer lugar do mundo), sempre apresentados como uma coisa fantástica pela madrinha dos pobres, Regina Casé, ele se sente como uma casta – uma estirpe, um personagem – e que, como qualquer personagem, não pode ser mudado.
Deixar de ser pobre pra quê? Ser pobre é tão legal, tão divertido! “A gente ganha pouco, mas se diverte!” É a apologia à imobilidade social, à mansidão das massas; é o mais eficaz amansa-revolução-social já inventado, travestido de “valorização popular” pela emissora responsável pelo que o brasileiro acredita ser ele mesmo. Este antídoto, administrado em conjunto com o carnaval, praias, futebol (explorado ao paroxismo pelas TV’s) e pelas mais suculentas bundas e barrigas-tanquinho do meio artístico produzem o que todos nós estamos cansados de ver: um povo estuprado, mas feliz.
Perguntado qual o melhor conselho que poderia dar aos jovens, o genial Nélson Rodrigues lascou: “– envelheçam!”
Vivo fosse, provavelmente diria aos pobres: “– enriqueçam!”
Desde que o mundo é mundo, a pobreza existe. Não é vergonha nem defeito ser pobre.
Vergonha é gostar de sê-lo e nada fazer contra isso.

Walter Biancardine é jornalista, pobre de marré-marré e está aceitando qualquer trocado pra deixar de sê-lo.

Uma ajudinha

Senhoras e senhores leitores, um minuto da sua atenção: me desculpem incomodar sua leitura, mas eu-podia-estar-roubando,-eu-podia-estar-matando,-me-prostituindo,-me-entregando-ao-tóchico-
mas-estou-aqui,-trabalhando,-escrevendo-essas-mal-traçadas-linhas-e-pedindo-a-sua-colaboração. Qualquer moedinha serve, e em troca os senhores poderão levar a distração da sua viagem.
A vida é dura, caro leitor. Caí na besteira de revelar toda minha quizilia contra a pobreza espiritual imposta pela mídia, em uma crônica feita semana passada, após a desventura de andar de ônibus.
Não sei exatamente como aconteceu nem quem foi o traidor que, além de ler o que escrevi para os malvados iletrados, ainda revelou os locais onde eu poderia ser mais facilmente encontrado. Mas o fato é que fui cercado por uma horda de Wellingtons, Gislaines e Maicons – ameaçadores, segurando espetos de churrasco, isopores de cerveja e outros apetrechos letais – os quais partiram, céleres, para cima de mim com intenções funestas. Não fosse eu um exímio lutador de artes marciais, e estaria em maus lençóis. Devo ter quebrado a mão de uns cinco, com a minha cara.
Foi uma luta selvagem. Todo o boteco ouvia meus gritos bravios de “– Pára, pára!!!” ou mesmo “– Não chuta não, pô!!!”, “– Com o espêto não!!!” ou “– Tira essa gorda de cima de mim!!!”.
As pelancas voavam; cada chute revelava um oceano gelatinoso de celulites e estrias; varizes estouravam tingindo os shortinhos de lycra enfiados no rego; suvacos insofríveis, semelhantes a molho de cachorro-quente, se alastravam qual guerra química em meio a gravatas aplicadas em meu pobre e magro pescoço; tubos de henê e celulares com capa de oncinha eram usados como armas terríveis; guinchos esganiçados denunciavam o clamor por ajuda “– Cráudio, Cróvis, anda, chama a galera!!!”; e em cada mão deles eu contava dois ou três dentes meus cravados lá, feito uma plantação de caninos, incisivos e pré-molares.
Mesmo os Césares temeram a turba romana. Quem sou eu para não temer as hostes da periferia?
O fato é que, em clara situação de desvantagem, divisei como única saída a técnica do “Rala o peito”, e vazei de lá correndo, capengando e gritando (mas com toda a dignidade) em meio a uma chuva de garrafas de cerveja, croquetes, joelhos de presunto e queijo e CD’s do Calypso. Com a agilidade de um gato entrei em meu Chevette 82, com todo mundo correndo atrás de mim.
Mas a bateria arriou.
E é por isso que faço agora este apelo aos senhores leitores: eu-podia-estar-roubando, -eu podia-estar-matando, -mas-estou-aqui-trabalhando-e-pedindo-uma-ajuda, para pagar um reboque que possa tirar o meu carro de dentro da salina.
Os malvados jogaram meu mais precioso patrimônio naquela salmoura, numa clara demonstração de inveja e despeito. Jogaram também garrafas com xixi lá dentro e encheram o tanque de gasolina de cocô. Uns recalcados selvagens.
Qualquer ajuda será bem-vinda, e vocês receberão em dobro tudo o que me derem.
Aceito também dentaduras usadas, vale-transporte e ticket-refeição.
Não quebrem esta corrente. João da Silva, do Morubá, quebrou e no dia seguinte teve de ir morar com a sogra flatulenta; ele, sua mulher com herpes e seus seis filhos catarrentos em uma quitinete sem janelas e com teto de eternite, em pleno verão, em Gramacho, no Rio de Janeiro.

Walter Biancardine é jornalista e insiste em fazer de conta que não perdeu a dignidade.

Pobreza pega

Mantendo promessa que fiz semana passada, na qual eu jurava não escrever mais nada de sério, resolvi que esta semana não vou escrever sobre coisa alguma. Sim, porque, considerando minha situação financeira, sexual, profissional, automotiva, erótica e eleitoral, tudo à minha volta é seriíssimo.
Tomo como base meu elevado status quo social: tenho horror a essa pobreza de churrasquinho na laje, e é só o que vejo à minha volta nos sábados e domingos. Aquelas barangas gordas, enormes, com aqueles maridos igualmente obesos (coisa que eu não consigo entender: todos se dizem uns coitados, que quase não tem o que comer. São gordos de quê, então? Vento?), todos avançando sem o menor pudor para a carne de terceira que tosta nas churrasqueiras feitas de aros de caminhão. E tome cerveja, pagode, shortinhos enfiados nas bundas mais horríveis e flácidas, risos – risos não, gritos de desespero, guinchos para provar como somos alegres! Como podem ser pobres? Se eu gastasse por mês o que essa gente gasta em churrasquinho e cerveja num só fim de semana, eu teria de ter mais uns quatro ou cinco empregos.
E pobre não fala. Pobre berra. Pior que pobre berrando, só a fêmea da espécie guinchando com as crias: “Õ Maicon!!!! Desce desse muro, minino!!!!”, “Michele, Gislaine e Shaiene! Já pra dentro! Pára de galinhage no portão!!!” E tudo com aquela voz fininha, esganiçada, de cantora de ladainha do nordeste, impossível de se distinguir se foi Creuza ou Rousemar quem gritou – são idênticas.
Parece que quanto mais gordas, menores os shorts, as saias ou mais atochadas as calças leg.
É, porque pobre adora calça leg, com um topzinho pra segurar a peitarrama caída em cima de pelo menos três das sete barrigas em sucessão que a maioria delas tem.
Outra coisa incrível: a incapacidade de prever, ou ao menos relembrar a seqüência de desastres do último churrasco e assim evitá-los no presente. Em todos eles o cunhado fica “bebo” e mete o braço na mulher que berra; ela, por vingança, fica dando mole pro Edmílson PM (“quero só ver se ele é homem de se meter com um cabo da PM”); a tia idosa passa mal, que tem”pobrema de nervo, é nervosa e encostada, leva ela pro PU, gente”, alguém tem que chamar o Wellington ou o Washington, que os dois tem carro – ou a Brasília do Washington ou o Opala do Wellington – fora as garrafas que quebram, os cortes no pé e mais gritos por causa disso; as vizinhas discutindo porque uma delas quer ouvir um pancadão e a outra só gosta de axé, o Gilsinho que bebeu, gente, e vomitou tudo lá no banheiro!!
É o inferno na terra. E chamam isso de diversão, chegando felizes e realizados ao fim da peleja.
No extremo oposto, estão a tia e prima evangélicas, que não bebem, não fumam, não riem e não vivem – só condenam e ameaçam com as labaredas do inferno aqueles e aquelas que tem o despudor de ter as partes baixas abrasadas pelo fogo que o caramulhão comanda. Elas não perdem um só churrasco desses, na esperança de, segundo elas, “ganhar umas almas pro Sr.Jesus”. É claro que existem os fiéis sinceros mas, francamente, se o ambiente é tão devasso assim, o que fazem lá?
É por essas e outras que o governo ainda tem muita margem pra nos sacanear. Reclamamos de barriga cheia, porque comer, beber, rebolar e acasalar são as supremas aspirações de 99% do povo brasileiro.
O resto, tipo cultura, politização, postura e dignidade de comportamento – dar-se ao respeito, como diria vovó, é tudo coisa de boiola.
Eu e Caco Antibes temos horror a pobre. Pobres de espírito, pois deles é o domínio da terra.
Eu, heim? Sou pobre, mas sou limpinho.


Walter Biancardine é jornalista, riquíssimo, fino, chique, sofisticado, aristocrático – um sebo, enfim. E é proprietário de um reluzente Chevette 82, invejado pelos seus vizinhos.

Uma pausa na carranca

Em sinal de protesto, encontrei na porta de casa retratos meus com meias imundas pregadas neles; ou ainda umas arrumações de farofas, galinhas e charutos. Um indício mais positivo foi registrado quando fui à padaria comprar pão e todos os quatro fregueses se retiraram, murmurando e tapando o nariz.
Perguntando a mocinha do caixa o porque de tal comportamento, informou-me que isso se devia a seriedade excessiva de minhas últimas crônicas. Acrescentou também dados utilíssimos, denunciando um espírito observador e analítico: segundo ela, povo não gosta de coisa séria; povo gosta é de rir, sacudir os bundões no pagode e ler mexericos sobre a vida (de preferência, sexual) dos outros. Com uma maldade sutil, incluiu a informação de que as arrumações de farofa, galinha e charutos não vieram acompanhados do marafo por precaução – os maledicentes acreditaram que eu poderia, impiedoso, servi-la com gelo, limão e açúcar. Pura calúnia, embora deva admitir que os charutos eram de boa qualidade.
Diante deste fato tomei a decisão de, ao menos por algumas semanas, restringir meus escritos às amenidades da vida mundana, sem imiscuir-me em análises políticas, sociológicas ou outros assuntos que poderiam render-me o status de intelectual e assim favorecer-me diante de algumas senhoritas, que insistem em não considerar-me apto ao acasalamento devido a falta de atributos financeiros, econômicos, sociais, residenciais, automotivos, intelectuais, musculares, sexuais, métricos, estéticos, familiares e profissionais em minha pessoa. Umas mesquinhas, que se prendem á uns poucos detalhes apenas para me infernizar a vida e fustigar minha já moribunda libido.
A Divina Providência tornou-me imune a baixezas como essas. Sempre que tais argumentações me são atiradas á face (ás vezes, acompanhadas de pratos, pedras, tapas ou animais de estimação), ignoro-as solenemente e volto meus pensamentos para tudo de bom que a vida me deu. Lembro-me, por exemplo, de meu mais chamativo patrimônio: meu Chevette 82. Puxa vida, quando poderia imaginar que um dia teria um desses? Hoje não ando mais a pé, não preciso mais comprar sapatos (aqueles de 19,90) a cada três meses e até consegui engordar quase um quilo! O carrinho é quase zero, só preciso achar um carburador novo no ferro-velho, uma tampa de porta-luvas, refazer a parte elétrica, ver a caixa de marchas que não desengrena da quinta para terceira, ajeitar a suspensão dianteira, ver freios, corrigir uma besteirinha de puxar para a esquerda, lanternar umas bobagenzinhas e pintar tudo. Nem digo instalar um rádio, que ele não tem ainda, porque aí já é luxo e eu sou uma pessoa austera; coisa pouca, o bichinho é um achado!
E não pensem que sou um vil materialista, que só pensa nos bens tangíveis. O que tenho de mais precioso é o meu círculo de amizades, no bom sentido, é claro: Carlos Barangueiro, Ricardo Cachaça, Pantera, Coalhada, Pulga, Jorge Porcão, Dengue, Xexéu, Maria Boca-de-Álcool, Cão Miúdo, Toninho Ereção, Parede, Eiêi, Perfeita Podridão, Overdose, Animal, Heraldo Babuíno, Jairo Cagalhão e tantos outros que apenas a lembrança me emociona e me leva ás lágrimas! Pessoas de bem, reputações ilibadas, com vidas simples, comedidas e, principalmente, fiéis áqueles que pagam-lhes a bebida.
Sob tamanha chuva de bênçãos derramadas sobre minha cabeça, não posso e não devo permitir-me o desânimo apenas pelo fato circunstancial de, há cinco anos, não pegar ninguém. Se hoje noto que as mulheres, a simples menção de meu nome, fogem ás gargalhadas, por outro lado também posso constatar tudo o que ajuntei nesses mesmos cinco anos. Vejo com orgulho meu Chevette 82, meu aparelho de som CCE, com rádio-vitrola, que minha ex-sogra jogou, digo, presenteou-me; meu computador 386 quase novo; minha gata lésbica, Fuinha, que toma conta da casa mordendo, arranhando e matando tudo o que se aproxima de mim; minha TV de 14 polegadas, comprada no brechó, e que já veio com Bom-Bril e tudo na antena, além de tantas outras coisinhas que tenho atulhadas em diversas caixas de papelão, juntamente com minha coleção de chaveiros.
Realmente, não posso reclamar da vida e tenho de dar razão á criaturinha do caixa da padaria, quando diz que tenho estado muito sério.
Alegria! Alegria! É fim de semana, faz um sol de rachar; a cerveja está gelada, meu vizinho botou sua coleção completa de CD’s de “Pagodes & Pagodes”, do volume 1 ao 35, a laje já está quase batida, tenho meu Chevette, meu churrasquinho com os amigos e hoje joga o Mengão!
Diante de tamanha abundância de alegrias, lembro-me de uma passagem do “Eclesiastes” que diz: “Alegrai-vos. Comei, bebei, desfrutai o que a vida vos dá, pois essa é vossa parte no mundo, e o resto é vaidades”. Profundo e reconfortante.
O que mais posso querer?


Walter Biancardine é jornalista, e come, bebe, samba, canta, grita, pula e gargalha desesperadamente; tudo isso pra provar pra todo mundo como ele é feliz e realizado.

Eu sou brasileiro e não aprendo nunca

Domingo já é um dia complicado para mim e pior fica quando, por absoluta falta de numerário, quedo-me inerte em casa contemplando, basbaque, os absurdos do “Fantástico”, da TV Globo.
Nele, vejo um SUS que tripudia da saúde do brasileiro; uma justiça que gargalha diante da dor de vítimas de acidentes aéreos – fora todo o resto que já sabemos: não há saúde, não há educação, não há emprego, não há segurança, não há transporte, não há vergonha na cara nem dignidade, não há país. E ouso dizer: a falta de macheza e brios não é apenas dos nossos governantes. Ela é principalmente nossa. Nós é que somos os covardes, omissos, sem-vergonhas, bundões, frouxos e nossos governantes sabem perfeitamente disso. Assistimos encolhidos toda essa miséria, sem um pio, para nos manifestarmos – em altos brados e com palavras sonoras e impetuosas – apenas no noticiário esportivo, que se resume ao futebol, aparentemente o único esporte praticado no Brasil. O pão e circo está mais vivo do que nunca!
Uma criancinha morreu estuprada por um demente, que só vai cumprir um ano de jaula – isso se for pego – e sair, fresco e sorridente, pela progressão do regime? Não tem problema! Afinal, o Flamengo ganhou! Seu filho torrou suas economias estudando cinco anos em uma faculdade caríssima, e não consegue emprego? Não tem problema! Vá pular carnaval, o maior espetáculo da terra! Ele está chegando! Ficou doze horas na fila do SUS para marcar um exame, só conseguiu para fevereiro de 2009 e ainda teve de ouvir uns desaforos de um babaca que é pago com seu dinheiro e acha que está te fazendo um favor? Relaxe! Amanhã é o último capítulo da novela e finalmente saberemos quem matou Odete Roithmann!
Somos um país de hipócritas. Os anúncios de cerveja mostram apenas bundas: beba, e terá uma delas! Os anúncios de banco mais parecem novelas mexicanas e falam de tudo, menos de dinheiro. Sem exceção, a mensagem da casa bancária disfarça a agiotagem em cuidados com os entes queridos.”Abra uma conta no Banco X, e você será um bom pai!” E a mídia pratica, às escâncaras, a velha política do morde-e-assopra: para cada bofetada em nossa dignidade, uma notícia sobre carnaval, praia, futebol, mulheres ou novelas. E nós engolimos caladinhos, afinal, brigar pra quê?
Praia, sol, futebol, samba, cerveja. O país da alegria! Essa combinação só nos trouxe a certeza de que eu, você, todos nós, somos uma nação de bonecas, de covardes que, tivéssemos honra e pudor, já teríamos promovido uma baderna cívica, expulsando á pontapés essa quadrilha que nos governa. Poderíamos talvez nem resolver o problema, mas ao menos nos faríamos mais respeitados pelos próximos servidores públicos que viessem nos governar. Se não o respeito ensinado pelas mães, que essa gente parece não ter, ao menos o respeito gerado pelo medo.
Mas eu sei que nada do que escrevo fará a menor diferença. Nós já perdemos a vergonha, a dignidade, e não temos escrúpulos em sapatear sobre o sangue de uns poucos brasileiros que morreram pelo crime de não ficarem sentados, esperando tudo mudar.
Tenho vergonha de mim, de minha omissão, covardia – o brasileiro típico morre de vergonha de ser líder, tomar atitude, protestar – e o que é pior: morre de vergonha de ser honesto – o tal “Caxias”.
Tenho vergonha de minha tacanhice, de minha baixeza moral, que aceita tudo isso e o máximo que faz é escrever croniquinhas furibundas, ao invés de partir para a ação. Tenho vergonha de ser quem eu sou, de aceitar o que aceito.
E tenho vergonha de você também, leitor, que é igualzinho.

Walter Biancardine é jornalista e está de saco cheio de ser brasileiro. Que atirem a primeira pedra.

Liberdade de expressão e opinião

Dentre as recentes reviravoltas da política cabo-friense, destacou-se na semana passada a proibição do deputado e pré-candidato á prefeitura de Cabo Frio, Alair Corrêa, de falar em uma entrevista já agendada na Rádio Litoral.
Embora não tenha sido sua transmissão cassada pela força de nenhuma lei de exceção, a citada emissora teve de curvar-se ao principal e mais eficaz instrumento de coação das pseudoditaduras modernas: a força do dinheiro. Segundo consta, figuras ligadas à prefeitura de Cabo Frio teriam advertido a direção da rádio que, caso concedessem a palavra ao deputado Alair Corrêa, seriam retiradas todas as cotas de patrocínio que a prefeitura mantém naquele veículo. Além disso, outras fontes informam que a responsável pelo agendamento desta entrevista teria sido demitida dos quadros da empresa, em decorrência de sua decisão de programar tal evento. Alguns jornais noticiaram isto, e o fato é público e notório.
Não se trata aqui de fazer uma defesa da candidatura de alguém, ou mesmo um manifesto de apoio ao candidato, suas idéias ou o que seja. O que está em jogo não é um homem, e sim um dos pilares do regime democrático: a liberdade de expressão, garantida de modo inquestionável pela Constituição Federal e alcançada à custa de sangue, sacrifício, exílio, tortura, perseguição e morte de milhares de idealistas, inconformados com a unanimidade obrigatória das opiniões de um povo.
Não se sabe se tamanha excrescência no exercício do poder originou-se do próprio prefeito. Não se sabe e nem nos interessa agora especular. O que nos diz respeito é que, caso a infeliz idéia tenha partido de outra mente, e com certeza doentia, o responsável por mutilar os direitos e garantias do cidadão deve ser imediata e exemplarmente punido e exposto à execração pública, como o símbolo do cadáver de uma bisonha casta ditatorial que insiste em expelir, ainda, seus últimos e deformados filhotes. Essa resposta a Prefeitura Municipal de Cabo Frio deve à sociedade, que a mantém e concede seu poder. Qualquer que seja o autor, ou autores, o ato medieval mancha todo o quadro executivo, pois tal vergonha como que poreja das paredes do prédio da Av. Assunção. Não apurar responsabilidades, esquivar-se, protelar, será mais que outro desrespeito ao povo – será um escárnio, uma cusparada não só na face dos cabo-frienses como também na Carta Magna.
Deus deu ao homem o livre-arbítrio, a liberdade de pensar e escolher o que fazer e qual caminho seguir. Conseqüentemente, o Criador permitiu que esse mesmo homem, liberto em suas idéias, as propagasse conforme sua vontade e cabendo aos outros homens, igualmente livres em suas escolhas, a aceitação do que escutou ou não.
Quando um simples homem toma para si o papel de Deus e juiz, revogando o que está claramente entendido nas Escrituras e nos dispositivos legais de uma nação, proibindo a livre manifestação de idéias, ele não mata apenas um direito: este homem assassina a democracia e até mesmo o próprio Deus, tomando seu lugar, invalidando Sua lei e impondo um novo código, mais de acordo com suas conveniências. Devemos nos perguntar que tipo de homem ou governo considera legítimo pretender calar um direito líquido, garantido pelas leis humanas e divinas?
Qualquer mossa feita á Constituição e aos nossos direitos produz uma série de efeitos em cascata e um deles é o medo. Diante dos arreganhos dos mais poderosos todos, de uma forma ou de outra, tremem. Não foi apenas a Rádio Litoral quem se curvou ao tridente sinistro de algum Mussolini tropical, é preciso que se diga. Todas as emissoras, no dia do acontecimento, sequer ousaram noticiar o fato. E, se basta o aparecimento de um covarde para que se contamine toda uma geração de homens de bem, basta também que a sociedade aceite calada um abuso, para que outros piores venham a seguir.
O silêncio da grande maioria da imprensa cabo-friense só faz aumentar a certeza de que pressões do governo municipal são uma realidade em nossa cidade. Senão, por quê calar diante de um ato que ameaça a própria razão de ser dos meios de comunicação?
Para cada ação, há uma reação de igual intensidade e em sentido contrário. É preciso, pois, que haja uma reação imediata e cabal de toda a sociedade, expressando total repúdio á uma iniciativa infeliz e arbitrária que nos adverte para os primeiros (e não tão tímidos) passos de uma concepção absolutista de poder e de imposição de idéias.
Repito: não se trata de hipotecar apoio à candidatura ou as idéias de seja lá quem for. Que fique bem claro que, como jornalista, todo meu apoio e todos os meus esforços são no sentido de que cada um de nós tenha assegurado o seu direito de expressar o que pensa, ainda que nos contrarie frontalmente. E que os meios de comunicação tenham, finalmente, o merecido direito de cumprir suas obrigações sem temer retaliações.
A Associação Brasileira de Imprensa, a FENAJ – Federação Nacional dos Jornalistas Profissionais e mesmo a OAB, na pessoa de seu presidente da 20ª Sub-Seção de Cabo Frio, Eisenhower Dias Mariano, devem ser notificados e tem por obrigação se posicionarem quanto à violência cometida.
Indigno será todo e qualquer cidadão deste município que não expuser, de forma clara e inconteste, seu asco diante de tamanha violência. Indigno será o voto deste mesmo cidadão, direito este que custou vidas, se ele for usado para permitir que servidores pagos com nosso dinheiro se utilizem do poder, dado por cada um de nós, para nos violentarem. E indigna será a sociedade que acolher em seu seio as pretensões ditatoriais de quem quer que seja.



Walter Biancardine é jornalista e, ironia do destino, nasceu em 1964.