Passei uma vida inteira resmungando, murmurando para mim mesmo; um rabugento de plantão sempre disposto a encontrar um mínimo detalhe que fosse, para que meus breves e raros momentos de felicidade tivessem algo que eu pudesse criticar.
Mesmo na única vez que acreditei ser absolutamente feliz, ao lado de uma mulher, ainda assim eu a via humana demais para que eu me rendesse. Amava, mas com prudência.
O tempo passou, esse amor acabou, e voltei à minha faina de resmungão.
Tantas escrevi, tantos uivos de dor foram publicados, tantas noites sangradas que fui rotulado como o “atormentado”.
Solidão, bebedeiras, promiscuidades, gritos e choros, panteras estapeadas, mulheres absurdas, companhias completamente dispensáveis, arrependimentos abissais compuseram uma rotina árida que nunca me permitiu ver algo de belo na vida.
Todo o cinismo, ceticismo, talvez escondesse apenas um pedido desesperado de ajuda contra minha solidão e desamor. E, principalmente, existia o passado.
O passado, que me perseguia como uma obsessão; símbolo da única felicidade que conheci na vida, de quando eu achava ser cuidado – e o melhor – de quando tive a certeza de ter, ainda tão jovem, encontrado o amor de minha vida.
Mas sempre achei que nada tinha a acrescentar à vida de ninguém, e por me achar absolutamente desinteressante, sem nada a oferecer, me recolhi e deixei que ela passasse. Afinal, eu a amava, mas e ela? Como gostaria de alguém como eu?
Com o coração preso em um passado, a vida seguiu. Todos gostaram, chegaram mesmo a ter amores; casamos, tivemos filhos, rimos, choramos...tudo isso a quilômetros de distância e de um silêncio completo. A vida seguiu seu rumo, um péssimo rumo. A minha, ao menos; sempre aproando tempestades, tormentas, sem porto de chegada.
Mas o destino prega peças e o que está escrito não pode ser mudado: os mesmos textos loucos nos quais eu destilava todo o meu veneno auto-piedoso serviram de ponte para um reencontro; completamente inesperado, improvável, imprevisto. E quase trinta anos represados explodiram como uma barragem que ruísse.
Choramos ao nos abraçarmos. Não de novo, porque nunca nos abraçáramos antes. E choramos pelo platônico de nossas vidas, por tanto amor que foi varrido para baixo do tapete; choramos em cada toque, em cada carinho, em cada beijo, e descobrimos – perplexos – que a vida fizera a ambos, um para o outro. Encaixe.
Foram apenas sete horas. Sete horas da mais absurda felicidade que dois seres humanos tiveram o atrevimento de sentir. Sete horas que recompensaram 30 anos de espera. E 30 anos que amadureceram dois corações o suficiente para saberem que não se deve brincar com o amor.
Agora, finalmente, estou livre do passado. Paguei a minha dívida com a dor, estamos quites, eu e o destino. As poucas sete horas que vivi são apenas as primeiras sete, de setenta e sete séculos que viveremos, porque o amor não morre.
A tormenta acabou, e o sol finalmente voltou a brilhar.
Só agora vejo o céu, sem nuvens, e o mar calmo, amigo. O azul e o verde daqueles olhos que me oferecem a paz, que trouxeram finalmente um sentido à tudo o que me aconteceu. E o amarelo dos cabelos dela, do sol, que enfim brilha de novo.
E será eterno.
Queria gritar ao mundo, mas em respeito, me calo..
"Eu protegí seu nome por amor/Em um codinome Beija-Flor"
Nenhum comentário:
Postar um comentário