domingo, 21 de outubro de 2007

Modernidades cibernéticas

Não tendo coragem pra botar um piercing ou dinheiro pra fazer uma tatuagem e com a pressão lá nas alturas – o que contra-indicaria o consumo de energéticos – encontrei como única maneira de me conectar à modernidade a confecção de uma página de orkut para mim. Não que eu seja um pitecantropus, até porque a seu nome se segue o sobrenome “erectus” e, francamente, prefiro nem comentar; mas o caso é que já há algum tempo me utilizo de e-mails e até mesmo consigo conversar pelo MSN.
Foi à duras penas que aprendi este novo dialeto, cuja utilização seria essencial para que eu fosse aceito como um igual. Hj, ta td ok, vlw. Té ki naum foi dfícil, fico tc c/ geral fds intero, mi divirtu, bjaum, fui!!!
Por outro lado, pus-me a pensar como o ser humano repete, onde quer que esteja, os mesmos padrões de comportamento que pratica em seu dia a dia. Um exemplo: ninguém me falou, mas eu acho que deve ser sinal de popularidade ter uns 1.236 amigos. Se não, porque seria estampado o número totalizado na página?
Eu, com minha meia-dúzia, devo ser um sujeito insuportável! E as comunidades? Aí, creio que elas desempenham uma função dupla: ostentar poder (olha, se me irritar muito, eu chamo minha galera!) e dar uma idéia de quem nós somos, tudo aquilo que não soubemos dizer de nós mesmos em nosso perfil – até porque a capacidade dissertativa não é o forte do internauta – e talvez até mesmo o que desejamos ser.
Mas é uma faca de dois gumes. Explico: um sujeito como eu, com a reputação que arrasto, ter em sua lista de comunidades “Eu adoro Jack Daniel´s” é a confirmação de que sou um reles cachaceiro. Por outro lado, cometer a temeridade de filiar-se à “Reflorestamento com Cannabis” é demissão na certa, e após uma curta permanência na mesma, deletei-a de minha lista. Até por que senso de humor é um artigo cada vez mais raro hoje em dia e, sendo um repórter, sei muito bem como, de uma brincadeira, pode ser criada uma verdadeira infâmia.
Tenho aprendido bastante neste novo mundo que agora desembarquei, muito embora meu primeiro contato com os computadores tenha sido no longínquo ano de 1984, ainda os de grande porte, que se utilizavam de uma coisa indizível chamada “Cobol 74”, uma verdadeira linguagem para iniciados.
Divirto-me baixando músicas do e-mule – Creedence, Janis Joplin, Sting, coisas que não se acham mais por aí. E descobri também uma grande maravilha: o blog (desculpe). Blog (desculpe)não é o som de um pequeno arroto, e sim uma pagininha na internet onde a gente pode publicar o que der na telha. Vai daí que imaginei: ora, toda as semanas minha patroa neste portal, dona Keetherine, me concede a gentileza de publicar minhas mal-traçadas. Mas elas são trocadas igualmente todas as semanas. Porque então não fazer um blog (desculpe) onde eu pudesse arquiva-las, todas, para a imortalidade e consulta de meus 12 fiéis leitores?
Foi o que fiz. Criei o meu – permita-me o merchandising, Keetherine – Crônicas e Agudas (http://www.biancardine.blogspot.com/), onde o imprudente leitor poderá ler todas as besteiras que já escrevi para este portal, e que foram generosamente toleradas.
Vai daí, eufórico com a novidade, passei a anuncia-la aos parentes, amigos, conhecidos, animais de estimação, todos! E aconteceu uma coisa estranha, que ainda não consegui definir com exatidão o que foi: eu recebia uma média de 20 e-mails por semana, entre amigos, assuntos de trabalho ou recados diversos. Pois bem, desde que anunciei aos quatro ventos o meu blog (desculpe), nem mesmo UM mísero recado recebi, fugiram todos!!
Pois bem, eu sei que vocês estão aí, posso ouvir a respiração de vocês.
De nada vai adiantar fingir que não me viram ou que não receberam meus e-mails, eu vou continuar publicando minhas crônicas no meu blog (desculpe) e um dia, nem que seja à força, vocês terão de lê-las!
E enquanto o Senhor me der forças e cerveja e a Keetherine não arranjar ninguém normal para escrever em meu lugar, eu estarei aqui!
VOCÊS VÃO TER QUE ME ENGOLIR!!!

Walter Biancardine é jornalista. Isso se o sindicato ainda não cassou o seu registro por insanidade mental.

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