Epidemia já chegou em Cabo Frio
Após um rápido processo de urbanização, no qual a cidade se alargou, modernizou e respira hoje ares de uma Copacabana dos anos 60 em alguns bairros, uma corrente migratória de classe média iniciou-se trazendo novos habitantes, que sonham estabelecer aqui uma nova chance de felicidade ao erguer uma nova economia e uma nova vida. Descartando o que não deu certo em suas cidades de origem, rejeitando o feio, o brutal, o desumano, Cabo Frio tornou-se, para a classe média recém-chegada, o sonho utópico do novo mundo quinhentista.
Tudo seria um soneto de esperança e felicidade se no rastro de qualquer indício de prosperidade não viessem as hordas de deserdados, as mesmas que esta sonhadora classe média se serve para empregar em seus projetos; as mesmas massacradas em suas favelas de origem, as mesmas inoculadas com o vírus do ódio pelo exibicionismo consumista da comunicação de massa, que substituiu a ideologia pela miçanga e afirma que só tendo algo é que um homem vale alguma coisa. Esse vírus tem sua disseminação garantida pelo desespero de ter, que leva ao assalto, ao crime. O ambiente necessário é estimulado por alguns políticos indecentes – favelas que crescem como cogumelos – que vêem ali o seu Frankenstein eleitoral, burramente seguros de os dominar. E o domínio vem à pau e corda, o tratamento animalesco dispensado pela polícia igualmente embrutecida e contaminada; endossada pela justiça, saúde e educação cuidadosamente planejadas para o extermínio mental e moral do proletariado, tudo isso formando um ambiente propício e vicioso à proliferação e desenvolvimento seguro do mais poderoso vírus social existente: o vírus do ódio.
A espécie que se apresenta entre nós trás para a nossa cidade os mesmos padrões de violência repentina e injustificada de suas cidades. O vírus trabalha com afinco para que aqui se reproduzam o mais breve possível os mesmos cenários de degradação social e caos urbano de um Rio de Janeiro, por exemplo.
O ponto mais temível na contaminação é que esta cepa virótica só é letal justamente para a classe média, ou eventuais processos autofágicos, onde o proletário extermina a si mesmo nas favelas. O vírus é impotente no ataque aos verdadeiros promotores de sua existência, os governantes, que sabiamente estão seguros de que, graças à mídia, o pobre nunca terá um sentido ideológico e nunca se voltará para uma luta de classes. Eles sabem que, graças ao consumo, TV´s, bailes funk, galeras rivais e quadrilhas idem, o pobre contaminado pelo vírus ira atacar seu semelhante, e nunca o responsável pela sua indigência mental.
É curioso ver o contraste entre as aspirações de uma classe média pagadora de impostos – que só quer um mundo novo para realizar seus sonhos – e as ambições incrivelmente coloniais dos governantes, que apodrecem o solo que lhes deu origem, certos de que com os bolsos cheios, viverão em paz, bem longe, em algum lugar que julguem sofisticado o bastante para comportar toda a sua grandeza.
Cabo Frio reflete, em ponto pequeno, a mesma sociopatia da qual o Brasil padece. E no meio disso tudo, feito um joguete, está a massa miserável. Sem horizontes maiores que um crediário, um teto de laje ou o domínio de uma boca de fumo, a depender da índole.
Pobres e eternos instrumentos de chantagem: quando não através de uma demagógica piedade, quase sempre por meio de uma violência irracional – que aprisiona em casas gradeadas os mesmos que sustentam os promotores destas misérias.
Cabo Frio descobriu que tem câncer, mas ainda é operável.
Estaremos nós esperando o quê? A metástase?
Walter Biancardine é jornalista, e só está vendendo o peixe como comprou – podre, direto das ruas.
Após um rápido processo de urbanização, no qual a cidade se alargou, modernizou e respira hoje ares de uma Copacabana dos anos 60 em alguns bairros, uma corrente migratória de classe média iniciou-se trazendo novos habitantes, que sonham estabelecer aqui uma nova chance de felicidade ao erguer uma nova economia e uma nova vida. Descartando o que não deu certo em suas cidades de origem, rejeitando o feio, o brutal, o desumano, Cabo Frio tornou-se, para a classe média recém-chegada, o sonho utópico do novo mundo quinhentista.
Tudo seria um soneto de esperança e felicidade se no rastro de qualquer indício de prosperidade não viessem as hordas de deserdados, as mesmas que esta sonhadora classe média se serve para empregar em seus projetos; as mesmas massacradas em suas favelas de origem, as mesmas inoculadas com o vírus do ódio pelo exibicionismo consumista da comunicação de massa, que substituiu a ideologia pela miçanga e afirma que só tendo algo é que um homem vale alguma coisa. Esse vírus tem sua disseminação garantida pelo desespero de ter, que leva ao assalto, ao crime. O ambiente necessário é estimulado por alguns políticos indecentes – favelas que crescem como cogumelos – que vêem ali o seu Frankenstein eleitoral, burramente seguros de os dominar. E o domínio vem à pau e corda, o tratamento animalesco dispensado pela polícia igualmente embrutecida e contaminada; endossada pela justiça, saúde e educação cuidadosamente planejadas para o extermínio mental e moral do proletariado, tudo isso formando um ambiente propício e vicioso à proliferação e desenvolvimento seguro do mais poderoso vírus social existente: o vírus do ódio.
A espécie que se apresenta entre nós trás para a nossa cidade os mesmos padrões de violência repentina e injustificada de suas cidades. O vírus trabalha com afinco para que aqui se reproduzam o mais breve possível os mesmos cenários de degradação social e caos urbano de um Rio de Janeiro, por exemplo.
O ponto mais temível na contaminação é que esta cepa virótica só é letal justamente para a classe média, ou eventuais processos autofágicos, onde o proletário extermina a si mesmo nas favelas. O vírus é impotente no ataque aos verdadeiros promotores de sua existência, os governantes, que sabiamente estão seguros de que, graças à mídia, o pobre nunca terá um sentido ideológico e nunca se voltará para uma luta de classes. Eles sabem que, graças ao consumo, TV´s, bailes funk, galeras rivais e quadrilhas idem, o pobre contaminado pelo vírus ira atacar seu semelhante, e nunca o responsável pela sua indigência mental.
É curioso ver o contraste entre as aspirações de uma classe média pagadora de impostos – que só quer um mundo novo para realizar seus sonhos – e as ambições incrivelmente coloniais dos governantes, que apodrecem o solo que lhes deu origem, certos de que com os bolsos cheios, viverão em paz, bem longe, em algum lugar que julguem sofisticado o bastante para comportar toda a sua grandeza.
Cabo Frio reflete, em ponto pequeno, a mesma sociopatia da qual o Brasil padece. E no meio disso tudo, feito um joguete, está a massa miserável. Sem horizontes maiores que um crediário, um teto de laje ou o domínio de uma boca de fumo, a depender da índole.
Pobres e eternos instrumentos de chantagem: quando não através de uma demagógica piedade, quase sempre por meio de uma violência irracional – que aprisiona em casas gradeadas os mesmos que sustentam os promotores destas misérias.
Cabo Frio descobriu que tem câncer, mas ainda é operável.
Estaremos nós esperando o quê? A metástase?
Walter Biancardine é jornalista, e só está vendendo o peixe como comprou – podre, direto das ruas.
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