Ainda segundo a reportagem, o dinheiro destinou-se a pagar “alguns fornecedores que estavam sem receber desde o ano passado”, nas palavras de Clésio Guimarães.
O secretário de Comunicação de Cabo Frio, Roberto Pillar, também apressou-se a informar na mesma matéria que haveria um outro equívoco na nota. Segundo ele, o pagamento seria feito com os recursos de 2008, e não de 2009.
Trata-se de um artifício, uma ilusão de ótica para desviar a atenção do eleitor. Ao contestar os valores, tentam acobertar a gestão desastrosa que os motivou.
Uma Câmara de Vereadores generosa assinou um cheque em branco – o termo é, positivamente este – no valor de R$76 milhões, que representam 20% do recebimento dos royalties que podem ser adiantados; como um “vale”, só que encarecidos por juros bancários, ao gestor municipal. Se ele retirou “apenas” R$11 milhões até agora e insiste na tese de que precatórios devoram o orçamento municipal, é muita ingenuidade acreditar que não solicitarão o resto a que têm direito.
Nunca é demais insistir: o que ninguém explicou – e que aparentemente não conseguem ou não podem – são os porquês do empréstimo. Ninguém até o momento apresentou um único argumento que demonstre, de forma cristalina e matemática, aonde foram parar US$315 milhões de dólares, embolsados pela prefeitura ao longo deste mandato.
Por mais que o eleitor olhe em torno, não enxergará este dinheiro em formas de realizações, já que trata-se de um governo inerte e apático. O pouco que fez não custaria nem 10% dos milhões e milhões de dólares que sumiram ralo abaixo, no cano da incompetência. Por outro lado, nem o Sr. Clésio e muito menos o Dr. Roberto vieram a público para realizar uma clara prestação de contas de nosso dinheiro. Limitam-se à uma abjeta auto-piedade, lamentando-se e pintando o atual governo como uma pobre vítima de acusações maldosas e infundadas, em uma reação infantil e estéril.
O que o contribuinte cabo-friense exige é um simples relatório de débitos e créditos, onde as despesas sejam discriminadas de forma transparente e comprovadas através de auditoria, já que o voto de confiança nos atos do Executivo, a cada explicação mal dada, se esvai à olhos vistos.
E se a vontade própria do primeiro escalão municipal não for suficiente para fazer com que cumpram seu dever de nos justificar onde enfiaram nosso dinheiro, que a Câmara de Vereadores então se redima de sua generosidade excessiva, instaurando uma CPI que o esclareça.
O Cheque em branco está lá: R$76 milhões.
Para este governo, usá-lo é uma questão de tempo.
Walter Biancardine é jornalista, fala em milhões o dia inteiro e conta trocados pra comprar cigarros.
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