Vi neste exato momento, através da Auriverde Brasil, uma espécie de "ameaça psicológica" que o excelente Pitolli, secundado pelo não menos brilhante Borgo, tentam diariamente reforçar: que se o ex-Presidente Bolsonaro for preso, o caos se instalará no país, com revoltas se espalhando pelas ruas.
Emendando tal assunto, abordaram um fato: que o povo - o povão - ama, adora e venera o sensacionalismo escandaloso. Vídeos com dizeres "BOMBA", "URGENTE", "ACONTECEU AGORA" no YouTube obtém o triplo de visualizações que os demais, e traçaram suas origens citando a ignóbil preferência popular por músicas do tipo "Florentina", do abominável Tiririca, que se tornou um hit no Brasil.Tal sequência, em minha opinião, ostenta mentiras esperançosas e verdades lamentáveis, então vamos por partes: sussurrar em tons lúgubres e sinistros que um apocalipse social se instalará no país após a prisão de Bolsonaro é, infelizmente, pura mentira e não passa de tosca guerra psicológica.
Os mais antigos lembrarão da adolescência quando cito a atriz pornô Linda Lovelace e o filme que a elevou à fama, "Deep Throat" (Garganta Profunda) - e tal é a capacidade do brasileiro típico em engolir enormidades muito maiores que a prisão de um inocente, afinal já prenderam mais de 1.500 deles, de uma só vez e com perfídia, no 8 de janeiro, e nada fizemos.
O estupro de nossas liberdades e nossos direitos é contumaz, se repete diariamente e, igualmente, nada fazemos. Vivemos sob uma ditadura explícita que criou um narco-estado e também assistimos tudo isso impassíveis, imóveis.
Os pobres Pitolli e Borgo apostam em quê? No passional do brasileiro? Não funcionará, pois bem maior que o passional é a covardia, omissão e preguiça verde e amarela. Bolsonaro será preso e servirá apenas de assunto para os churrascos de pé de galinha, no domingão, ao som de uma boa sofrência tocada naquelas caixas de som com auto-falantes coloridos - uma alegria, para os botocudos.
E por falar nestas caixas de som de camelô, que igualmente empesteiam as portas dos comércios populares no Brasil e vomitam podridões musicais e vigarices em forma de ofertas, falemos do Tiririca, sua Florentina e a paixão atávica tupiniquim pelo "BOMBA", "URGENTE" e o "ACABOU DE ACONTECER" que tornam plataformas digitais inabitáveis.
O povo quer ver sangue, esta que é a verdade. Quer, entretanto, apenas ver, pois jamais participará de nada que arrisque ter o seu próprio derramado. Botocudos amam sangue alheio, deliram ao saber das podridões das celebridades - artísticas principalmente, mas podem ser políticos, empresários ou qualquer um que aparente ser mais feliz que o telespectador.
Títulos como "BOMBA" e os demais citados, igualmente são infalíveis pois despertam o lado "Candinha", o lado fofoqueiro e intriguento do brasileiro - quase uma característica genética - que por anos esteve restrita às vizinhas na janela de casa mas que agora, graças á internet, democratizou-se e abunda nacionalmente, sendo o mesmo servido com alegria em quaisquer ocasiões sociais, tais como churrascos, pagodes, feiras livres e outros "happenings" descolados.
Tal patologia é oriunda do absoluto analfabetismo e completa ignorância do brasileiro médio, criatura que - em média - jamais leu um único livro na vida (o que é lógico, pois quem não sabe ler, não lê) e, graças á grande mídia, passou a condenar tudo o que cheire a cultura como um vergonhoso defeito de nascença ou prova de que aquele que a isso se dedica é apenas um "otário", que não sabe "aproveitar a vida" e mesmo, em casos limite, deveria "arrumar um serviço e parar com essa perda de tempo".
Temos assim, para concluir, a conjuntura atual do povo brasileiro: pitecantropus que sequer inventaram a roda, a dançar tribalmente em torno de fogueiras como Anitta ou MC Poze e que se orgulham de sua omissão e covardia, elevadas ao status de "sabedoria": "não me meto no que não é da minha conta porque, no final, a corda sempre arrebenta no lado do mais fraco".
É esse ajuntamento de mamíferos que o excelente Pitolli e o inoxidável Borgo espera que reajam furiosamente à prisão de Bolsonaro?
É essa horda de gafanhotos bípedes que abandonará seus voos predatórios e hábitos parasitas para estudar, se aprimorar e poder, finalmente, compreender a situação em que vive?
Não, não será. E afirmar que somente a educação poderá nos libertar ao longo de décadas de ensinamentos também é, infelizmente, uma meia-verdade: sim, a educação liberta, mas é preciso igualmente redefinir as bases de nossa sociedade - valores, hábitos, costumes, princípios.
Mas, para isso, será preciso re-fundar o Brasil.
Vivemos uma crise civilizacional, e ninguém fala sobre isso.
Walter Biancardine
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