Vivemos hoje, todos, escravizados por um amor desmedido à vida e, principalmente, a tudo de material que ela representa. Agarramo-nos a ela com unhas e dentes, de uma forma às vezes abjeta e indigna; sacrificamos nossa honra, nosso nome e até mesmo os que nos são próximos para não perdermos nossas pequenas vitórias – um carro, um cargo, uma posição. Não há como acreditar que pessoas com este tipo de estofo sejam capazes de reconhecer, cavalheirescamente, uma derrota. Ainda mais uma de tal importância, onde o que está em jogo é o nosso direito de existir sobre a face da terra.
Paulo Autran sabia que ia morrer. E soube sentir o momento em que isso iria acontecer.
Tal e qual nos antigos contos romanescos aceitou o xeque-mate na guerra que travava e encerrou sua última batalha convidando a adversária implacável para assinar a honrosa derrota.
Quando veremos novamente homens que, ao nascer, estejam rodeados de nobres de espírito que lhes digam “bonne chance” ?
O cavalheirismo morreu. Descanse em paz.
“Na última noite de vida, já internado no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, o ator Paulo Autran fumou um cigarro depois do jantar, afirmou sua mulher, a atriz Karin Rodrigues. "Ele comeu uma massa e um creme de papaya. Depois que terminou a sobremesa falou 'Agora é a hora do cigarrinho'. Tive que dar", contou Karin. Autran morreu na tarde desta sexta-feira, aos 85 anos, vítima de câncer no pulmão e enfisema pulmonar. Ele passava por um tratamento de rádio e quimioterapia havia um ano.” (Jornal O Dia, 13/10/07)
Walter Biancardine é jornalista e acredita que, mesmo não existindo mais cavalheiros, ainda haja em algum lugar uma dama à sua espera.
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