domingo, 11 de novembro de 2007

Avançando para o passado

Remexendo em papéis velhos e aqueles montes de anotações que eu, espírito de rato-trocador, fui acumulando ao longo dos anos, encontrei alguns manuscritos. Se eles não são propriamente os do Mar Morto, serão com certeza os do Ex-Morto, eis que foram escritos há muito tempo atrás, em 1979, por um adolescente incapaz de dizer o que sentia para a garota que amava. Este adolescente morreu, fulminado por uma maturidade galopante da qual foi vítima pouco tempo depois, quando descobriu que a estrada seria muito, muito longa, cheia de acidentes de percurso, desencontros e dores.
Recentemente, o correio bateu em sua porta, com cartas tão antigas, novidades tão velhas, e lembranças tão novas.O carteiro gritou: “Levanta, Lázaro!”
E desde então ele, adolescente renascido, tem deixado as luzes de sua casa sempre acesas, na esperança que sua amada as veja e escreva novamente.

(Eventuais erros deverão ser perdoados, afinal o autor era um jovem machucado de 15 anos)

Adeus

Caberia na palma das mãos
Quem já amou tanto assim como eu,
A se perguntar como enfim se perdeu
O amor

Estou vivendo com a calma irreal
Da gente que disso tudo aprendeu
Da gente que também sobreviveu
A dor

Ela se faz doer a cada segundo
Se na sua falta o momento e maior
Mas na sua volta o instante é o melhor
Dos meus

Você é o que me faz sentir enfim
Que o meu corpo tornou-se dois
E tenho medo de logo depois
Adeus

09/01/1979

Nota do arqueólogo: não se sabe ao certo se a palavra “adeus” foi empregada devido a distancia que ele morava de sua amada ou se foi pelo fato do escrito acima ter sido composto nas proximidades do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro.

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