domingo, 13 de julho de 2025

1979, EU E UM ALFA ROMEO BRANCO -

Sim, pisei no barro molhado do dilúvio, mas estes dias fizeram parte de uma época toda especial.

Jovem, cheio de adrenalina e testosterona no sangue, e o melhor: sem o maldito córtex pré-frontal, que me obriga ao discernimento, juízo e ponderação. E meu pai, discretamente, liberava seu portentoso Alfa Romeo 2300 escondido, para que eu desse umas voltas e me deliciasse com sua estabilidade absurda, seus quatro freios à disco e suas cinco e intermináveis (para a época) marchas.

Exibido mas reconhecedor de minha falta de beleza, ostentava-o em visitas que minha família fazia ao então circunspecto bairro do Jardim Guanabara, na Ilha do Governador - era meu passe livre, minha credencial para arriscar sonhos impossíveis mas, naqueles dias, sofria eu de uma timidez demolidora.

O carro era lindo, e eu, feio. Sua "macchina" roncava, mas minha boca nada dizia. E seus bancos dianteiros, separados pela enorme alavanca de câmbio e largo console, impunham uma intransponível barreira entre eu e meus sonhos.

Meu desejo era branco e meu sonho, em tons mediterrâneos de verde.

Os anos se passaram, o Alfa se foi, toda a minha família também e - pior - o mesmo fim tiveram meus sonhos, que se perderam.

Sim, tal como postei abaixo, "Heaven must be missed an angel".

O tempo é impiedoso.

Walter Biancardine



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