Postei ontem, no Telegram, um simples link para um artigo que fiz em minha página pessoal: “CPAC BRASIL, 2024 -É difícil fazer com que entendam que conservadorismo é uma coisa, bolsonarismo é outra. LEIA -”.
Neste artigo critiquei o excesso de menções à Bolsonaro como o principal responsável pelo ressurgimento da direita no Brasil, feitas no CPAC, lembrando que o mesmo apenas concordou e adotou o longo e eficaz trabalho desenvolvido, durante anos, pelo professor e filósofo Olavo de Carvalho. Em nenhum momento neguei ou menosprezei a fabulosa divulgação do sentimento patriótico, do orgulho em ser brasileiro bem como, em boa dose, dos valores conservadores feitos por nosso ex-presidente.
Entretanto e considerando que o congresso é “conservador”, não um ato de campanha de Jair Messias, nisto baseei meus argumentos ou estaremos diante de um desvio de foco.
O resultado, confesso, surpreendeu-me.
Críticas como “Olavo atacou Bolsonaro muitas vezes. E quanto à sua crítica ao bolsonarismo, não vejo como culto à personalidade, vulgo populismo. Se Bolsonaro morre, o bolsonarismo continuará” (sic) são, em si, uma contradição: se Bolsonaro morre e o “bolsonarismo” continua, evidentemente é um culto à personalidade. Já a expressão “populismo” foi enfiada aí sabe-se lá Deus por qual razão – talvez o simples hábito de repetir discursos já ouvidos, a síndrome do “papagaio”, pois culto à personalidade é uma coisa e populismo, outra. Devo explicar o básico?
Não satisfeita, a pessoa prossegue: “Vejo o bolsonarismo como a expressão mais pura e fidedigna do Conservadorismo. Olavo idealizou, Bolsonaro incorporou e deu forma” (sic). O que dizer disso?
Podemos começar pelo fato de que Olavo jamais “idealizou” o conservadorismo. Olavo nunca foi um ideólogo e, mesmo que fosse, não poderia idealizar um pensamento político anterior, inclusive, ao seu nascimento. Bolsonaro “incorporou”? Correto, mas o “dar forma” que a mesma alega resumiu-se à timidez e poda (demissão) de seus auxiliares verdadeiramente conservadores, exigida e obtida pelo sistema. Bolsonaro fez um (eficaz) governo positivista, orientação básica de todo militar, bem como teve o mérito de escolher um excelente ministério.
Um outro participante, mais moderado, opinou: “São coisas diferentes que querem o mesmo objetivo, quem insiste em bolsonarismo até pejorativo é a imprensa comunista paga com nosso imposto mas no Brasil o bolsonarismo é maior que o conservadorismo porém os dois movimentos se completam” (sic).
Necessário concordar com o “bolsonarismo pejorativo” adotado pela imprensa – por sinal, a mesma autora do termo “bolsonarista”, que as pessoas abraçaram, sem atinarem que estariam cedendo ao personalismo – vide o antigo “getulismo” – que assola o Brasil. Por outro lado, se admitimos o “bolsonarismo” como um “movimento” tal como alegado, e que o mesmo seria até maior que o conservadorismo, então novamente entregamos nossos destinos nas mãos de um homem, não de um ideal – e esta é a receita correta para a diluição, inconsistência e fraqueza argumentativa de qualquer pretensão.
O primeiro argumentador, entretanto, não deu-se por convencido e alegou: “não existe e não existiria Conservadorismo no Brasil sem Bolsonaro” (sic). E completou: “esse evento não faria sentido algum sem Bolsonaro. O q TODOS os palestrantes estão fazendo, bolsonaristas ou não, é prestar homenagens e agradecimentos ao ÚNICO LÍDER DE DIREITA NO BRASIL” (sic).
A confusão mental e a ignorância renitente dos fatos é notória. Primeiro, insiste em Jair como o “inventor” do conservadorismo; segundo, alega que o CPAC não faria sentido sem Bolsonaro e considera exigir algo para Olavo uma espécie de atentado contra a liderança de Jair. Onde uma coisa se mistura com outra, poder intelectual e liderança política?
Acrescento: trata-se de um congresso conservador ou estamos diante de um ato de campanha? Alegar que sua presença seria fundamental é algo que concordo e apóio, mas talvez tenha havido um exagero na redação da argumentação – uma evidência da incapacidade brasileira em expressar-se em sua própria língua. Já apontar Jair Messias como o único líder de direita no Brasil, concordo e assino embaixo, pois é um fato. Apenas às “homenagens” cabe meu reparo – tema inclusive de meu artigo original – que julguei desiguais entre nosso ex-presidente e o falecido filósofo Olavo.
Mas tem mais: “pelo q o Walter nos diz , nem todo Conservador é um Bolsonarista. Muito bem. Sem um líder, os "Conservadores" da Direita estariam perdidos, por puro preciosismo linguístico e/ou ideológico. E só resulta em uma coisa: Divisão, Discórdia” (sic). E tal declaração cabe uma análise mais apurada.
Sim, nem todo conservador é bolsonarista – eu, inclusive. Votei, voto e votarei em Bolsonaro porque, mais que uma boa e honesta pessoa, ele é de fato o único líder da direita brasileira. Em segundo lugar, alegar que “sem um líder os conservadores estariam perdidos por preciosismo linguístico e ideológico” é, em si, um absurdo demonstrativo da incapacidade interpretativa de um texto. Em nenhum momento julguei Bolsonaro alguém que não deveria liderar a direita; para piorar, a pessoa alega que eu estaria buscando confusão por “preciosismo” linguístico e – pasmem – ideológico.
Não, não é “preciosismo” linguístico, é expressar-se corretamente – coisa que a pessoa queixosa evidentemente não sabe fazer. Em segundo lugar, o absurdo por ela condenado como “preciosismo ideológico” é justamente o que separa um pensamento político de outro. Ou, tal como Vladmir Putin deseja aparentar, teremos algum dia um “conservador socialista”?
E assim, entre inúmeros resmungos – pois mais que entender, as pessoas desejam ganhar a discussão – o debate encerrou-se, não sem antes chamarem-me de “invejoso” (?) e de “provocador da desunião da direita”.
É notório o apego aos argumentos de “desunião da direita” e da elevação de um único homem – e dane-se o que ele pensa – como “salvador da pátria”, um real fanatismo xiita e messiânico (nenhum trocadilho com o sobrenome de nosso Bolsonaro). Tais discursos são repetidos por verdadeiros papagaios que, sequer, refletem e procuram entender o significado daquilo que eles próprios dizem – apenas repetem slogans e hashtags, brandindo-os como espadas, cujo manejo desconhecem mas julgam eficazes e matadoras.
Por muito tempo debochamos da ignorância esquerdista, de sua dissonância cognitiva, da incapacidade de interpretar um texto ou, sequer, expressarem-se. Igualmente ríamos de seu aparente “adestramento”, pois apenas sabiam repetir o que lhes era “ensinado”, de modo quase irracional e canino.
Era uma época em que nos orgulhávamos de nossa cultura, norteada por um homem do calibre de Olavo de Carvalho, e das argumentações precisas e eficazes de nossos representantes, quando em debates com esquerdistas, os quais quase sempre fugiam do mesmo.
O sonho, entretanto, acabou.
Talvez a pior consequência da morte de Olavo de Carvalho tenha sido a orfandade intelectual em que a direita se encontra, sem um pai que a puxe pelas orelhas e aponte a direção certa onde lutar, como argumentar e quais os pontos onde bater e se defender.
Aos poucos vamos voltando ao que sempre fomos: apenas frutos de uma – vá lá – “educação” construtivista, vítimas da lobotomia paulofreiriana e assim, miséria das misérias, terminamos por sermos iguais em desgraça: direitistas e esquerdistas se equivalem, em suas ignorâncias monolíticas e impermeáveis.
Cada vez mais o futuro deste país revela-se desalentador, e temo que uma simples vitória conservadora, nas urnas, apenas piore a situação pois o brasileiro tem o péssimo hábito de com nada mais se preocupar, se a vitória está garantida.
Que o bom Deus seja piedoso diante de nossa ignorância.
“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32)
Link para o artigo original:
https://walterbiancardine.blogspot.com/2024/07/cpac-brasil-2024-conservadorismo-ou.html
Walter Biancardine
Um comentário:
Caro Walter Biancardine,
Com efeito, a sua análise descreve com honestidade o funcionamento da realidade. Assim, o seu Artigo corrobora com a opinião de milhões de Brasileiros lúcidos e despertos.
Contudo, receio que nôs estamos sem opções viáveis para as Eleições de 2026, pois o "sistema" tem "tentáculos" em todos os níveis dos Poderes.
Enfim, na minha ignorante opinião, no ano de 2018, um dos efeitos colaterais da Operação Lava Jato foi o de inibir o indesejado "Teatro das Tesouras", porém é possível que tal revezamento tenha ocorrido com manobras de "ilusionismo" político.
Enfim, nomeações incoerentes, inércia para responsabilizar criminalmente servidores públicos do Poder Executivo, a carta de desculpas e o argumento (sofisma) das 04 (quatro) linhas foram sinais inexoráveis de que o Brasil acabou, e que o Teatro das Tesouras avizinha-se invariavelmente para o ano de 2026.
O Olavo de Carvalho sempre estará com a razão.
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