Recém operado e ainda me abstendo de artigos mais longos, não posso evitar de – fugindo de meus temas habituais – comentar sobre uma surpresa que tive ontem, a qual produziu um efeito tão profundo que, sequer, tenho o mesmo já devidamente digerido e analisado; estas linhas são uma espécie de “primeiras impressões”.
Buscava eu uma moça nas redes sociais, a qual deveria fazer um contato profissional. Coincidentemente, ela é homônima de uma antiga colega de meus tempos de escola ginasial e, quando me deparei com seu perfil, não resisti e enviei uma mensagem.
Para minha felicidade ela respondeu e tivemos uma boa e agradável conversa, relembramos de pessoas e fatos há muito empoeirados em minhas memórias e isso rendeu-me uma enorme alegria – alegria desproporcionalmente grande a de um bom reencontro. E foi justamente sobre esta desproporção que pus-me a pensar, ao fim da noite.
Aqueles 12 ou 13 heroicos seguidores, que acompanham meus artigos, sabem de tudo o que sucedeu comigo nos últimos anos. Sabem do isolamento involuntário no qual vivo, sabem da perda de minhas raízes, referências e até mesmo das pessoas que não mais vejo ou tenho contato, familiares inclusive.
Neste cotidiano de náufrago em que vivo, essa perda total de tudo se faz poderosamente presente em cada passo que dou, chegando ao ponto de render-me um livro – Pretérito Perfeito – onde, através de uma ficção semi-autobiográfica, busquei exorcizar e virar de vez a página desta vida passada. Igualmente, esta perda é objeto de uma atual investigação filosófica que faço, na qual entendo a solidão como personagem bíblico (os desertos dos profetas) de profundo significado e, igualmente, necessária ferramenta para nosso despertar transcendente e auto consciente, tese que pretendo publicar até o final do ano.
Neste estado de coisas, chega-me a feliz descoberta de uma pessoa pertencente a uma época passada e que trouxe de volta tudo o que, um dia, eu fui – quase uma lembrança material de mim mesmo, de minhas origens, de tudo aquilo que eu próprio já duvidava ter realmente sido um dia minha vida, enquadrando este passado quase como uma neurose, uma mentira na qual eu teimava acreditar.
Como descrever a exclamação de surpresa “mas então tudo aquilo que eu fui era verdade”? Ou mesmo “as histórias que lembro aconteceram, de fato”?
É preciso uma desconexão muito grande para chegar a esse ponto. Não vou aqui aprofundar o mérito desta desconexão, involuntária, mas certamente nem eu mesmo fazia ideia da extensão, da gravidade de tal estado mental em que me encontrava.
Devo gratidão a esta pessoa pelo reencontro proporcionado – com ela e comigo mesmo – e, igualmente, pela gentileza do trato, fazendo-me sentir novamente como um igual, um ser humano como todos os demais, ocupando um lugar no espaço, tendo um passado real e existindo de fato.
Não há como retribuir tal benesse.
Walter Biancardine
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