A conhecidíssima - ao menos para os de minha geração - socialite Carmem Mayrink Veiga, célebre por sua elegância reconhecida internacionalmente (e particularmente acrescento, por seu "ar" de Audrey Hepburn, que sempre me seduziu), adotava o estranho hábito de marcar seus jantares em horários inusitados: 20:35h, 19:55h, 20:17h e por aí vai.
Esclarecia ela que tal método devia-se à notória - e deseducada - "tradição" brasileira da mais descarada falta de pontualidade:
" - quando as pessoas veem um horário tão estranho, tendem a cumpri-lo, ao menos por aguardarem alguma surpresa", alegava.
E funcionava!
Ora, somos incapazes de respeitar o tempo alheio sendo pontuais, mas exigimos toda correção e seriedade de nossos políticos.
Reclamamos da demora no atendimento dos serviços públicos, mas lá comparecemos de bermudas, chinelos de dedo e na hora em que bem entendemos.
Ficamos furiosos com um Alexandre de Moraes exibindo, do alto de sua vaidade, os prisioneiros políticos de nossa ditadura - tal qual fosse (para usar uma expressão mayrinkiana) um "tableau de chasse" - mas sequer somos capazes de respeitar o básico das regras de um convívio social civilizado.
Como condenar políticos ladrões, se procuramos nos livrar da multa de estacionamento oferecendo "um café" para o guarda?
Como temos o atrevimento de exigir respeito, se nada respeitamos?
Walter Biancardine
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