Desfruto já há dois anos da gentileza e compaixão de meu amigo Alair Corrêa, que caridosamente cedeu-me um teto onde sarar os hematomas da existência.
Coisas da vida, dei-me conta hoje que jamais havia recebido ninguém nesta casa até que - para minha honra e alegria - visitou-me o Dr. Vitor Travassos Filho, que esteve no Riala para ultimar os preparativos de um evento de sua igreja, Lagoinha.
Pela primeira vez, desde que aqui estou, pude tomar um café com alguém - e devo acrescentar a excelência da companhia - e conversar aquilo que chamam "trivialidades", muito corriqueiras nas vidas de pessoas normais, não no cotidiano de exceções como eu.
Um privilégio, um conforto, um alento que fez crer-me quase alguém como todos, um sujeito comum, ocupando um lugar no espaço e na vida - e tenho certeza de que Dr. Vitor nem de longe imagina o bem que me causou.
Dentre os "causos" contados, comentamos sobre as lendas familiares em torno de uns e outros antepassados dele e, citando os meus, o Visconde de São Sebastião do Alto, que inventou um moedor de cana à vapor e ganhou o título de D. Pedro II, e a sugestivamente comentada Condessa de Barral, tutora dos filhos de Sua Alteza - incluindo, é claro, a Princesa Isabel - cuja estreitíssima amizade com o Imperador originou inúmeros fuxicos e fofocas ao pé do ouvido.
Concluirá o leitor, com a lógica dos puros, que Dr. Vitor prestou-me grande favor, ao deixar fluir meus "causos" e lendas familiares que certamente usei, desesperadamente, para tentar diminuir os inúmeros e incontáveis rombos presentes em minha auto-estima - talvez até a empregada do Freud concluísse tal obviedade.
Pouco importa. O que vale é minha gratidão ao mesmo, pela paciência em acompanhar a aridez de um velho, na peregrinação por suas lembranças estéreis.
Muito obrigado Dr. Vitor, pela paciência.
Muito obrigado Alair Corrêa, pela generosa mão estendida.
Muito obrigado meu Deus, por saber o quão pequeno sou e perdoar-me acessos de soberba.
"Noblesse ruinée... dommage!"
Walter Biancardine
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