Em momentos de soberba, sempre ostentei a facilidade que disponho em transitar dos livros de Sertillanges, Jacques Maritain ou Olavo de Carvalho até o volante de um FNM e suas duas alavancas de câmbio. Ainda embalado por tal soberba, igualmente passeio com gosto entre análises políticas, hipóteses filosóficas ou questionamentos teológicos para depois, sem cerimônias, descambar para o mais descarado pastelão e posts de humor em nível 5ª série.
Impossível ser unidimensional, um homem monolítico, um só e monótono bloco sólido, cujas facetas diversificantes são escondidas ou, como muitos desejam secretamente, inexistentes. Se tal tipo humano realmente existe, certamente será por conta de transtornos obsessivos e nunca devido a supostas e ostentadas “superioridades” a assuntos ditos “mundanos”, pois não há quem não goste de uma boa e eventual bagunça.
Se há um dom que não possuo mas gostaria de ter é desenvoltura no humor, não somente pelo bem evidente que faz à saúde mas, inclusive, por ser uma poderosa e letal arma contra pseudo-poderosos e opressores de plantão – e tal verdade vem se tornando cada vez mais evidente com o notório desconforto de nossa ditadura, sem saber como lidar com a enxurrada de memes apontados contra o Ministro Haddad.
A infantilidade primária, inerente a toda patologia megalomaníaca pelo poder, é demonstrada claramente se recordarmos alguns dos mais brilhantes humoristas brasileiros – cito Jô Soares, Agildo Ribeiro, entre outros – que eram todos esquerdistas e foram responsáveis por alguns dos momentos memoráveis no "show business" tupiniquim. Em outras palavras, a esquerda sabe muito bem como fazer humor, apenas é incapaz – pela patologia ditatorial citada – de sofrê-lo, sendo o alvo.
Tal incapacidade se espalha não apenas entre os destinatários mas, inclusive, em seus áulicos e aduladores de plantão – grande mídia e afins – que “rosnam ameaças” inócuas e vãs contra os milhões de brasileiros que, graças à internet, divulgam tais piadas. Sim, se os ditadores podem agir contra um grupo específico de humoristas – e cito o canal Hipócritas – nada podem fazer, por outro lado, para deter a enorme massa humana que viraliza o deboche contra tais sinistros personagens.
Não à toa as propostas de regulamentação das redes sociais vieram novamente à tona, exatamente no auge de esmagadora propagação de memes, citando o Ministro Haddad: ditaduras não suportam, não sabem lidar e podem mesmo implodir, se vitimadas pelo humor ácido, inteligente e, principalmente, unânime nas mais variadas redes sociais do país.
Volte aos tempos de criança e lembre-se o que sentia quando os colegas se reuniam e, rindo, apontavam o dedo para você: sim, extremamente incomodado e, desde então, sem saber o que fazer e como reagir.
Ora, provavelmente o leitor não é um ditador em potencial, tem uma vida normal e, mesmo assim, jamais aprendeu como reagir a tal situação. Imagine, por outro lado, uma pessoa que está plenamente convencida em ser alguém “superior”, cujos desejos não apenas devem, mas serão prontamente atendidos e que todos se curvam publicamente perante ele. E, em meio a toda essa pompa e circunstância, um gaiato te chama de “cabeça de ovo”.
E assim se dá o apocalipse pessoal da autoestima doentia de um ditador, e suas reações sempre serão figadais, irrazoáveis e desconexas.
O humor mata o mal, use-o sem moderação.
Não se restrinja, por comedimento ou vergonha, em repassar tais memes, temeroso do que tal atitude fará com sua imagem diante de seus amigos e colegas, pois aprendemos – o regime militar brasileiro nos ensinou – como a piada, o desdém e o deboche podem, verdadeiramente, desnortear aqueles que se atribuem o título de “proprietários” de um país e de um povo.
Quem é das antigas, lembrará: “Faça humor, não faça a guerra”.
Walter Biancardine
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