Outros países, outras culturas, outros costumes.
Nos Estados Unidos e em países da Europa ocidental, o apoio das pessoas a causas que representem seus interesses, gostos ou mesmo pretensões diversas se traduz em contribuições financeiras para os promotores ou instituições que as promovam.
A tal ponto esta mentalidade é arraigada em seus hábitos e costumes que nos Estados Unidos, por exemplo, uma pequena parte dos rendimentos da maioria das pessoas já é previamente separada e destinada a tais finalidades. O raciocínio é simples e civilizado: se alguém tomou a iniciativa – e assumiu os encargos e consequências – de divulgar, alertar, promover ou mesmo advertir, ensinar ou, em última análise, entreter o público, tais pessoas ou organizações devem ser remuneradas e receber o apoio financeiro daqueles que se beneficiam com isto.
Existem, entretanto, povos que são notórias exceções e cito todos os países da antiga “Cortina de Ferro” – Polônia, República Tcheca, Eslováquia, Ucrânia e tantos outros – que, em decorrência da vida miserável imposta por governos comunistas, não só jamais dispuseram de tais pequenos valores para doações como, de modo pior, estas contribuições eram vigiadas pelas autoridades e poderiam representar, no mínimo, um “Gulag”. Para piorar, a mentalidade que “o Estado tudo provê, de tudo cuida e tudo resolve” terminou por levar seus cidadãos a um imobilismo atávico, fronteiriço ao comodismo puro e simples.
Já nosso Brasil, a nação de taipa, é uma cruza entre este mesmo Estado provedor – originado desde uma escravidão tardiamente extinta como, também, das sequelas civilizacionais impostas pela ditadura Vargas, a qual inaugurou o torpe assistencialismo que nos contamina até os dias de hoje: sim, não há necessidade de doar aos que tomam quaisquer iniciativas pois o Estado “tem a obrigação de resolver” e, ao fim e ao cabo, “esses caras só querem mesmo é aparecer e, depois, se candidatarem a vereador”.
O fundamento psíquico do brasileiro médio é indígena, extrativista: não há por que remunerar uma goiaba que pegamos no pé, e dele nos serviremos até que acabem. Quando acabarem, encontraremos outro. E isso descambou em uma desavergonhada preguiça de agir, vergonha em tomar iniciativas, omissão perpétua e, para piorar, uma suja desconfiança – e inveja – daqueles que ousam subir em um caixote para gritar por algo que creem. Não à toa, o Brasil é uma terra que abomina heróis e, quando os temos, tratamos logo de descobrir algum podre de seu passado, para desmerecê-lo; lamentar que “nada tem jeito e tudo é impossível” é a melhor maneira de justificar a própria preguiça, travestida de impossibilidades opressoras.
Nossa mente torpe de tudo desconfia: não se contribui para uma Santa Casa da Misericórdia, para uma APAE, ABBR, campanhas arrecadatórias para desabrigados e, muito menos, para campanhas políticas de candidatos em que votaremos – “eles que se virem, o Fundo Partidário está aí para isso”, alegamos. E tudo insistimos em medir pela nossa própria régua, que evidencia apenas a absoluta falta de valores e princípios morais, que vem sendo varridos impiedosamente pela cultura de massa e grande mídia.
Sempre haverão os que alegam “doar o dízimo” para a igreja de sua predileção mas, infelizmente, em maioria absoluta dos casos não se trata de um ato de fé e, sim, de um pitecantropus “fazendo negócios” com Deus: pagamos o milagre ou graça que, em breve, esperamos receber.
Tal niilismo moral se reflete diretamente naqueles que, ainda e sob todos os riscos, insistem em expor suas opiniões ou denunciarem arbitrariedades e falcatruas de nossa ditadura, nas redes sociais. Descontados os vigaristas – sempre existentes em quaisquer ramos da atividade humana – tais abnegados gastam seus dias, suas horas, suas inteligências e esforços analisando e estudando todo o panorama de nossa conjuntura para levar um grito de alerta aos seus ouvintes ansiosos – que tudo querem saber, mas nada darão em troca.
Em culturas ainda não sequeladas pelas mazelas acima expostas, os ganhos advindos das próprias redes pouco representam – ou mesmo “nada” representam, pois em sua maioria são desmonetizados – mas uma assistência consciente e sabedora do valor de tais informações (bem como dos esforços de seus autores) jamais se recusa a contribuir com tais corajosos e os garante, ao menos, uma justa remuneração por seu trabalho e asseguram um mínimo de dignidade em suas vidas e, óbvio, seus ideais.
Ney Matogrosso cantava, orgulhoso, que “não existe pecado no lado debaixo do equador”. Sim, nem pecado nem empatia, comiseração, solidariedade, nada. Por aqui assistimos o YouTube como quem vê uma TV – grátis – lemos livros somente se pudermos baixar um PDF gratuito e jamais, em hipótese alguma, doaremos mais que dois ou três minutos de nossa atenção à páginas de artigos escritos. Remunerar o autor de algo que li? Nunca!
Para o brasileiro médio, um analista político do YouTube ou mesmo de páginas pessoais é um diletante, um milionário com a vida resolvida e que, por passatempo, resolveu exibir-se escrevendo ou aparecendo nas telas.
Em um país que ostenta tamanho e notório desprezo pela cultura, o pesado fardo de estudar, aprender, desenvolver ao máximo todo seu horizonte intelectual não passa de lenda – tudo mentira, estudar é só sentar, ler e decorar!, dirão os “realistas” – e assim temos em nossos olhos, a cada vez que assistimos canais favoritos nas redes, os eternos “pedidos de pix”, rifas e toda a sorte de atrativos, para que alguém se digne a coçar o bolso e – ainda que em troca de algo material, pois informação “não se guarda na gaveta” – contribua para o sustento do abnegado.
Certamente alguém dirá – cheio das mais ferinas razões – que escrevo tal artigo em causa própria, pois a desmonetização me afastou do YouTube e ninguém contribui com um só centavo em minha página pessoal de artigos, mas não sou apenas um miserável egoísta: escrevo, também, em prol de pessoas sérias em canais que acredito, tais como Brasil Paralelo, PH Vox, Sr. Sepúlveda, Didi Red Pill, Olavo de Carvalho, Padre Paulo Ricardo e tantos outros, que gastam suas aparições a mendigar trocados de uma assistência que apenas recebe, mas em nada retribui.
Sei que estou “chovendo no molhado” e que a mentalidade de um povo não se muda com meia dúzia de linhas escritas ou vídeos postados, mas que este artigo produza, ao menos, uma reflexão por parte do leitor e que ele passe a incluir – na ordenação de suas despesas mensais – as necessárias, patrióticas e humanas doações para homens e entidades que acredite.
Ninguém nos entregará um Brasil melhor batendo à porta de nossa casa.
Não há felicidade “delivery”.
Walter Biancardine
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