


O não-comparecimento do prefeito de Armação dos Búzios, Toninho Branco, á CPI que investiga irregularidades cometidas em sua gestão – à parte o surrealismo do Procurador-Geral do Município, que tentava explicar que sua ausência não seria, absolutamente, um não-comparecimento – reflete apenas o descaso com que a aparentemente pouca percepção conjuntural do Sr. Branco o permite agir.
Esta mesma conduta já rendeu ao chefe do Executivo buziano um lugar garantido no anedotário local (vide box abaixo), mas em que pese o lado simpático e até inocente que esta situação quase limítrofe sugeriria, sempre existirá todo o ônus das ações de seus auxiliares e dele próprio; encantado pelo poder, indulgente consigo mesmo e incapaz de discernir intenções alheias.
Em um premiado filme hollywoodiano – Forrest Gump – é feita uma metáfora de como o destino, representado por uma pena de pássaro que voa ao sabor do vento, conduz o personagem aos mais improváveis rumos, levando um homem sem maiores predicados á posições de destaque na vida.
Parafraseando a situação – não o personagem – do filme, poderíamos dizer que a pena do destino conduziu o Sr. Branco, Toninho Branco, ao inimaginável cargo de prefeito de Armação dos Búzios. Sentado na cadeira de chefe do Executivo, embebedou-se de poder e tornou-se pouco vigilante com suas próprias ações. Acreditou que, como o homem mais poderoso da cidade, poderia impor seus desejos ao corpo de vereadores. Acreditou que, escolhido pelas urnas, jamais erraria em seus atos. E, pior, acreditou que todos em volta estariam lá sem nenhuns objetivos outros que não o agradar-lhe.
O tempo e o isolamento imposto pela debandada dos homens de bem á sua volta, que não suportaram a surdez e cegueira decorrentes das insuficiências, apenas assanhou a enorme confusão no tardio raciocínio do prefeito, cuja Câmara de Vereadores – esgotados todos os limites da complacência e paciência – instaurou a CPI.
Resta agora que cada um pague pelas suas ações e omissões. E que o exemplo do corpo municipal de Armação dos Búzios consiga alcançar toda a região e retire os seus edis de eventuais posturas subservientes.
Em uma cidade justa, um parafuso de R$250 reais pode levar um prefeito para a cadeia. O que poderá acontecer, em uma outra cidade e por via de uma CPI justificavelmente instaurada, á um chefe do Executivo se ele não conseguir explicar onde gastou mais de US$300 milhões de dólares?
Pérolas de Toninho Branco
O secretariado de Toninho Branco
Assim que se elegeu prefeito, já se amontoavam sobre a mesa de Toninho Branco os pedidos para ser secretários em seu governo, feitos por um grupo que o apoiava. Sem saber como enfrentar a situação, Toninho Branco pensou, pensou e lascou:
- Hoje estou aquí, eleito prefeito desta cidade. Mas se eu não tivesse ganho, eu não teria sido chamado para nenhuma secretaria porque sei que não tenho competência para isso.
E concluiu o absurdo com uma lógica férrea:
- Como é então que vocês, que não ganharam nada, querem ser secretários?
O muro da vergonha
Na falta de coisa melhor para inaugurar, Toninho Branco resolveu promover uma festa para apresentar o novo e caríssimo muro de uma escola, muro esse que consumiu 70% do valor total gasto para edificar o prédio inteiro que ele cercava.
Em seu discurso de inauguração, Branco atribuiu a necessidade da obra aos inúmeros cavalos que pastavam ao redor e explicou, para horror e pasmo dos pais dos alunos:
- É tanto cavalo que não sei mais quem é criança e quem é cavalo!
Inauguração de uma diminuta pracinha, nas proximidades da Rua da Lingüiça, Búzios. Novamente, para horror e desalento dos presentes, o prefeito Branco discursa:
- Esta praça foi inaugurada para a família de um amigo meu, e não para essas mulheres que sobem e descem essa rua cacarejando!
Algum áulico mais esclarecido tentou trazê-lo de volta á razão:
- Mas prefeito, assim o senhor está chamando todas as mulheres de galinhas!
Do alto de sua ciência, Toninho Branco fulminou o pobre ignorante:
- E é só galinha que cacareja?
Forrest Gump é assim mesmo, gente. Não mexe com ele não, que ele é doentinho.
O não-comparecimento do prefeito de Armação dos Búzios, Toninho Branco, á CPI que investiga irregularidades cometidas em sua gestão – à parte o surrealismo do Procurador-Geral do Município, que tentava explicar que sua ausência não seria, absolutamente, um não-comparecimento – reflete apenas o descaso com que a aparentemente pouca percepção conjuntural do Sr. Branco o permite agir.
Esta mesma conduta já rendeu ao chefe do Executivo buziano um lugar garantido no anedotário local (vide box abaixo), mas em que pese o lado simpático e até inocente que esta situação quase limítrofe sugeriria, sempre existirá todo o ônus das ações de seus auxiliares e dele próprio; encantado pelo poder, indulgente consigo mesmo e incapaz de discernir intenções alheias.
Em um premiado filme hollywoodiano – Forrest Gump – é feita uma metáfora de como o destino, representado por uma pena de pássaro que voa ao sabor do vento, conduz o personagem aos mais improváveis rumos, levando um homem sem maiores predicados á posições de destaque na vida.
Parafraseando a situação – não o personagem – do filme, poderíamos dizer que a pena do destino conduziu o Sr. Branco, Toninho Branco, ao inimaginável cargo de prefeito de Armação dos Búzios. Sentado na cadeira de chefe do Executivo, embebedou-se de poder e tornou-se pouco vigilante com suas próprias ações. Acreditou que, como o homem mais poderoso da cidade, poderia impor seus desejos ao corpo de vereadores. Acreditou que, escolhido pelas urnas, jamais erraria em seus atos. E, pior, acreditou que todos em volta estariam lá sem nenhuns objetivos outros que não o agradar-lhe.
O tempo e o isolamento imposto pela debandada dos homens de bem á sua volta, que não suportaram a surdez e cegueira decorrentes das insuficiências, apenas assanhou a enorme confusão no tardio raciocínio do prefeito, cuja Câmara de Vereadores – esgotados todos os limites da complacência e paciência – instaurou a CPI.
Resta agora que cada um pague pelas suas ações e omissões. E que o exemplo do corpo municipal de Armação dos Búzios consiga alcançar toda a região e retire os seus edis de eventuais posturas subservientes.
Em uma cidade justa, um parafuso de R$250 reais pode levar um prefeito para a cadeia. O que poderá acontecer, em uma outra cidade e por via de uma CPI justificavelmente instaurada, á um chefe do Executivo se ele não conseguir explicar onde gastou mais de US$300 milhões de dólares?
Osecretariado de T
Assim que se elegeu prefeito, já se amontoavam sobre a mesa de Toninho Branco os pedidos para ser secretários em seu governo, feitos por um grupo que o apoiava. Sem saber como enfrentar a situação, Toninho Branco pensou, pensou e lascou:
- Hoje estou aquí, eleito prefeito desta cidade. Mas se eu não tivesse ganho, eu não teria sido chamado para nenhuma secretaria porque sei que não tenho competência para isso.
E concluiu o absurdo com uma lógica férrea:
- Como é então que vocês, que não ganharam nada, querem ser secretários?
O muro da vergonha
Na falta de coisa melhor para inaugurar, Toninho Branco resolveu promover uma festa para apresentar o novo e caríssimo muro de uma escola, muro esse que consumiu 70% do valor total gasto para edificar o prédio inteiro que ele cercava.
Em seu discurso de inauguração, Branco atribuiu a necessidade da obra aos inúmeros cavalos que pastavam ao redor e explicou, para horror e pasmo dos pais dos alunos:
- É tanto cavalo que não sei mais quem é criança e quem é cavalo!
Enchendo lingüiça
Inauguração de uma diminuta pracinha, nas proximidades da Rua da Lingüiça, Búzios. Novamente, para horror e desalento dos presentes, o prefeito Branco discursa:
- Esta praça foi inaugurada para a família de um amigo meu, e não para essas mulheres que sobem e descem essa rua cacarejando!
Algum áulico mais esclarecido tentou trazê-lo de volta á razão:
- Mas prefeito, assim o senhor está chamando todas as mulheres de galinhas!
Do alto de sua ciência, Toninho Branco fulminou o pobre ignorante:
- E é só galinha que cacareja?
Justiça e democracia tem entre si um fundamento em comum, que é o contraditório. Na Justiça, o emprego deste recurso tem por finalidade o convencimento de culpa ou inocência através de provas, enquanto em regimes democráticos a contradição obedece – queiram ou não – á uma dialética que conduz ao consenso.
A tese tem, necessariamente, que estar aberta a absorver a antítese para que se produza a síntese, a qual poderíamos nomear “maioria”, de modo mais livre e figurativo.
Consequentemente, a imposição vertical de uma opinião viola conjuntamente a noção de Justiça e democracia, ainda que esta imposição tenha sido obtida – paradoxalmente – através da própria Justiça.
Não foi outra a atitude do governo municipal ao impôr o silêncio aos seus críticos, obtendo uma liminar que suspendeu a veiculação de um programa incômodo.
É necessário entretanto aplaudir o bom-senso dos Ministros do Supremo Tribunal Federal que, mesmo tendo por objeto de julgamento um caso diverso, veio em socorro contra os “paradoxos jurídicos” e, em sua decisão, abriu as portas á verdadeira liberdade de expressão.
Resta torcer para que os novos ventos de liberdade, soprados pela mais alta Côrte de Justiça do país, finalmente cheguem á cidade de Cabo Frio.
A Guarda Municipal de Cabo Frio é regida pelo mesmo estatuto dos servidores públicos municipais e, portanto, apesar da aparência militarizada, não adota ainda a hierarquia e disciplina militar. Esta é a alegação para a provável não-punição dos responsáveis pelo ato público diante da sede do Governo Municipal, realizada recentemente, onde tentavam impôr ao prefeito a aceitação da candidatura á vereador do coordenador de segurança pública, Cláudio Moreira.
Cabem, entretanto as seguintes ponderações:
1- Uma força auxiliar, ainda que desarmada, impõe sua presença ostensiva através da farda adotada. Essa mesma farda, que a distingue de todos os outros servidores, também simboliza o próprio poder municipal nas ruas. Ora, ainda que não seja contra nenhum regulamento, a manifestação pública – ainda mais a favor de uma candidatura política – realizada por homens fardados empresta automaticamente a anuência da Prefeitura sobre o ato ou a partidarização da instituição. E, caso negativo, revela uma completa falta de tato dos seus organizadores, ao permitir que o público veja uma aparente indisciplina e exibição inaceitável de força contra o próprio município, que cede amedrontado e promete uma futura audiência.
2- Seja quem for o organizador ou organizadores do movimento, provavelmente terá atrapalhado mais do que ajudado. Ao mobilizar um corpo fardado em apoio às pretensões eleitorais do coordenador de segurança Cláudio Moreira, colocou o próprio na situação incômoda de explicar que ele, coordenador e virtual candidato esteve alheio a todo este processo, já que seria o principal beneficiado pela pressão imposta pela Guarda.
3- O diretor da Guarda Municipal, Isaías Brandão, tem um histórico de esforços emprestados à instituição que dirige. Anos de trabalho podem ser colocados em xeque pela indisciplina "velada" de membros exaltados da corporação.
Com relação ao esvaziamento da reunião extraordinária do Conselho Comunitário de Segurança, ficou patente a opção das secretarias municipais em participar das mesmas apenas quando obrigadas a isso. Mais estranheza ainda causou a ausência das polícias na reunião, pois são membros natos do Conselho, e mesmo sem a obrigatoriedade estatutária do comparecimento, não poderiam se eximir à obrigação moral de emprestar seu apoio a todos os atos que tenham como objetivo a melhoria na segurança pública do município que atuam.
Já as associações de moradores, em grande parte corroídas pelas ambições políticas de seus líderes e pela distribuição de portarias municipais aos mesmos, conforme relatado na mesma reunião do Conselho, perdem-se em brigas umas com as outras e entre seus próprios integrantes, resultando em agremiações supérfluas e sem nenhuma atuação em benefício de seus representados.
A soma de todos estes fatores resulta em um quadro decepcionante pela falta de autoridade moral do Executivo cabo-friense. Esquiva diante de uma Guarda Municipal em franca indisciplina, omissa com relação à desatenção de seus secretários para com um importante Conselho Municipal e sem nem ao menos tentar falar mais grosso com os bancos da cidade, a Prefeitura Municipal de Cabo Frio, seu atual titular e seus secretários entregaram, ao que parece, os destinos do povo cabo-friense às mãos de Deus.
Walter Biancardine é jornalista e se benze só de imaginar uma Guarda Municipal armada.
Walter Biancardine é jornalista, fala em milhões o dia inteiro e conta trocados pra comprar cigarros.
“Calunia, calunia que algo sempre fica”, já afirmava o pensador francês Voltaire.
Ao que parece, a máxima bretã fez escola em terras cabo-frienses tendo em vista não só recentes e descabidas atitudes de alguns adversários políticos, como também seus comportamentos ao longo dos últimos meses.
Que jornais improvisados cresçam como erva daninha em épocas próximas de eleições é um fato previsível, já que existem para extravasar todo o ódio incontido em quem vê perdidas suas chances no pleito. Que sirvam de instrumento arrecadatório de editores sem escrúpulos ou talento suficiente para merecer um emprego nos diários da cidade, também é sobejamente sabido por todos. Mas que se prestem ao papel torpe de acusar uma figura pública da cidade, cujo comportamento e caráter é mais que conhecido por todo o povo de Cabo Frio; que tenham a absurda leviandade de tentar vincular esta pessoa à tentativa de acobertamento de um estupro e, de quebra, acusa-lo de roubo puro e simples, passa de todos os limites. Mais que o comportamento covarde dos cachorrinhos miúdos, que se escondem entre as pernas de seus donos para latir aos estranhos, a acusação é pura e simplesmente um ato criminoso, e como tal deve ser tratado.
Podemos conhecer a índole de nossos adversários através das armas que os mesmos se utilizam para nos combater. E quando essas armas se resumem à mentira, calúnia e ao mais covarde anonimato, sabemos que este ser, que certamente se dispõe a sentar na cadeira de prefeito em 2008, é apenas um covarde mentiroso sem a vergonha na cara necessária para mostrar sua face em público – ciente das baixezas cometidas.
Usando a juventude como escudo, disfarçando o ódio em ímpeto juvenil, o pretenso jornal tenta se travestir de um grito espontâneo de adolescentes cabo-frienses, o que só piora sua situação: ao esconder-se atrás de jovens, o infeliz personagem quase os contamina com sua imundície de caráter. Mas a juventude de Cabo Frio repudia tamanho insulto a si mesma, não se permite ser usada como massa de manobra e não acolheu os despreparados jornalistas em seu seio.
Igualmente nomes sem expressão, constante em expedientes de jornais primários, não significam nada pois que se tratam apenas de capachos alugados à custa de dinheiro e dignidade. O verdadeiro autor das calúnias evidentemente se esconde sob uma capa muito mais cristã, tal como o lobo em pele de cordeiro.
E este mesmo covarde mentiroso, que aluga consciências jornalísticas, colhe agora as conseqüências de sua fraqueza e falta de caráter. Sofre a triste dor de reconhecer em todos os seus atos a ausência de grandeza, dignidade e espírito público.
A paz das salinas o acolherá em seu devido tempo.
Walter Biancardine é jornalista, macho pra cacête e tá doido pra dar um pau em alguém. Vai encarar?
Existem quantias em dinheiro que são tão elevadas para nós, pobres mortais, que nem sempre nos damos conta do quanto elas realmente representam.
A atual administração do município de Cabo Frio bate insistentemente na tecla de que o pagamento de precatórios, originados em outras administrações, foi toda a sua ruína e devorou, incontinenti, 500 milhões de reais.
Não é o caso de se somar agora quantas casas populares poderiam ser construídas com esse dinheiro, ou até mesmo o fato de que uma cidade inteira seria facilmente erguida do nada e ainda sobraria alguma coisa para uma bela festa de inauguração. Por menor que seja nossa noção do que são 500 milhões, alguma coisa todos somos capazes de imaginar.
O que vem ao caso agora é a insistente ofensa que a atual administração atira à população cabo-friense ao apontar precatórios como a causa de sua falência: é chamar o cidadão de burro; é ter a absoluta convicção que nós, que sobrevivemos de contar trocados, jamais teremos a real compreensão do valor envolvido; pior, é o surrealismo do raciocínio apresentado – alguns poucos milhões em precatórios, que teriam sido capazes de engolir os 500 milhões de reais arrecadados – somado à mais deslavada mentira, ao atribuir ao ex-prefeito Alair Corrêa a autoria de todos estes empenhos, agora pagos pela prefeitura.
Não entendem, os despreparados administradores atuais, que quanto mais insistem na cantilena dos precatórios que teriam comido 500 milhões de reais, mais gritam aos eleitores cabo-frienses sua incapacidade de gerir os dinheiros públicos.
E amparado por um argumento primário, Cabo Frio se vê atualmente desassistido de seus serviços mais básicos; a cidade se enfeia e se estraga a cada dia; saúde, educação, emprego e segurança foram pelo ralo, junto com os royalties.
Mesmo assim, por conta desta mesma rubrica, o município teve nestes últimos quase três anos uma fantástica capacidade arrecadatória, e isso se traduz em uma lógica e igualmente grande capacidade de endividamento, dada a realidade de um fluxo de caixa que foi entregue ao atual gestor gozando da mais perfeita saúde.
Usando o exemplo de uma empresa de transporte de cargas, qualquer empresário pode, com um contrato de serviços assinado em suas mãos, pleitear e conseguir o financiamento para renovar toda a sua frota de caminhões, mesmo sem ter recebido ainda um tostão de seu cliente. O contrato assinado tem fé entre as partes, é a garantia de recebimento dos devidos. Imaginem então, caros leitores, o que pode conseguir uma prefeitura, amamentada à farta por royalties e outras benesses da natureza, que asseguram aos seus credores sua solidez, poder arrecadatório e capacidade de pagamento?
A verdade é que esses precatórios, cuja origem se perde em décadas atrás, poderiam ter sido pagos de uma forma ainda mais suave que a atual, diluídos em infinitas prestações que a arrecadação certa do município permitiria. Nem vale a pena discutir os valores destes títulos; não importa o quanto representem para nós, cidadãos comuns. O que importa é que, para o mar de dinheiro que entra diariamente nas burras da prefeitura, precatório é fichinha, é gota de água no oceano que nem vale a pena discutir, quanto mais usar como desculpa para disfarçar incompetência.
Alair construiu Cabo Frio. Mas já deixou a conta paga.
Walter Biancardine é jornalista e não faz a menor idéia de quantas cervejas se toma com 500 milhões
Inicio de carreira, ninguém me lia. O Walter Biancardine, glorioso e famoso de hoje, era apenas um ilustre desconhecido. Fiz então um blog, para satisfazer minha vaidade de ler em letra de imprensa o que escrevía.
Assim, até hoje tenho o hábito de vasculhar a internet em busca de outros blogs como o meu, para me lembrar e rir da desgraça alheia; rir do tempo em que eu era pobre, lascado e sem as boquinhas que desfruto hoje, graças aos anos e anos do exercício da escroqueria jornalística. Vai daí, descobri um que me chamou atenção: é de um tal Sr.Bloblonho, que se diz um grande homem de imprensa, um “velho capitão”, mas que ninguém que eu conheça sabe onde mais escreve, além de seu escondido espaço internético.
Realmente, é de dar pena: esse tal Sr.Ogronho escreve, escreve e não consegue um só jornal sem juízo o suficiente para publicar seus acometimentos.
Talvez tenha sido por isso que ultimamente resolveu endossar ofensas contra um conhecido deputado de minha cidade, destilando todo o recalque de não ter um empreguinho na rede de comunicação do mesmo, e por consequência fica agora esculhambando tudo o que vê e lê nela.
O Sr. Obronho não sabe mais onde esconder a raiva, coitado. Como tem sobrevivido de fazer bicos catando latinha na rua, reciclando o lixo e seus escritos – o que dá no mesmo – agora tenta se aliar a caluniadores com mais tradição, na intenção de conseguir uma carona rumo ao estrelato.
Abraçou um conhecido radialista, dono do programa “Clô, para os íntimos”, que foi o primeiro a dizer em seu programa feminino de rádio que um político daqui tentava tirar um notório pilantra da cadeia. O radialista lançou o boato, uma folha de couve oportunista ganhou uma licitação em que se leiloavam consciências e todos usaram o dinheiro da prefeitura pra falar alto e fazer churrasquinho. Sr. Vergonho não é bobo, e quer pegar carona na mesma grana. E na boca-livre também.
Outro dia, furibundo, (segundo amigos, furibundão!) disparou que o jornal onde escrevo e que gentilmente paga meu Epocler e sal de frutas, faz distribuição gratuita nas ruas, e que ela lesa os leitores que já pagaram pelo jornal. O pobre sem-mamata esqueceu de dizer que só fazemos essa distribuição no dia após, ou seja, distribuímos jornal de ontem. Avarento convicto, não admite isso. Reclamou também que um monte de funcionários da prefeitura, demitidos só porque não queriam brincar de caça ao tesouro com o prefeito, recorreram a um programa de TV para reclamar. Ora, se esses exonerados que segundo ele “esperneiam” no programa televisivo, fazem um escândalo desnecessário, que boquinha então o Sr.Enfadonho não perdeu, pra chorar sozinho em seu blog? Dá até medo de pensar!
O fato é que nem na prefeitura de minha cidade agüentam ele. Não tem boquinha na rede de TV e nem com o prefeito birrento, coitado.
A única coisa que o Sr,Demonho sabe dizer é que esse conhecido deputado está preocupado com os últimos produtos da “Fantástica Fábrica de Calúnias”, criada pelo município e conduzida por Willy Wonka. Dá pra notar o quanto o Sr.Medonho obra e anda para sua própria reputação. Concluí que dissessem o mesmo dele, talvez chamasse o autor para pagar-lhe um chopp, afinal, alguém falou dele!
Para que ele não se sinta rejeitado por toda a imprensa, e conhecido que sou pela minha imensa piedade, resolvi por isso gastar meu espaço escrevendo sobre o despossuído homem de imprensa, imprensado em dívidas no armazém e com seus vizinhos já ameaçando cortar-lhe a gatonet por falta de pagamento.
Sola não, Sr.Dodonho! Ao menos eu, tive paciência de te ler! Tá famoso agora!
Tem sido recorrente nos últimos meses uma acusação fácil de que toda uma equipe de jornalismo, mais precisamente a da Rede Lagos de TV e Lagos Jornal, seria uma “assessoria de imprensa” do deputado Alair Corrêa.
Tal é o calibre da asneira, que não vale o trabalho de refutar. Mas, por outro lado, desperta a certeza da quantidade de políticos e jornalistas que travestem a apatia, o “em cima do muro”, em ponderação e equilíbrio – e que, de alguma forma, também estamos incomodando consciências preguiçosas.
Apenas referente ao jornalismo, vemos o espetáculo deprimente de homens que se esconderam covardemente durante períodos negros da história do Brasil posarem de sobreviventes de ditaduras, agora dirigindo toda sua moribunda libido para a obtenção ou manutenção de benesses e privilégios, o soldo da omissão “ponderada”.
Sem nunca tomar uma posição clara diante dos fatos, limitam-se a acusarem fulano ou beltrano de destempero em seus embates políticos, e poluem a própria classe jornalística – a qual pertencem – com a pecha de “assessoria”. Acusam a todos de ofenderem-se mutuamente sem apresentarem idéias, mas eles próprios nada oferecem a não ser gracejos impotentes, que demonstram claramente sua condição de vencidos e de quem concluiu que não tem estofo para lutar, pois o medo é demais.
Tal é o assombro daqueles que vieram ao mundo sem um propósito, espectadores da vida. Ficam perplexos, não conseguem conceber o desejo de alguém deixar a segurança da platéia e correr os riscos de subir ao palco da vida; o engajamento, a tomada de posição assumindo as conseqüências decorrentes. Em seu flácido raciocínio, ao tomar uma posição, um homem inevitavelmente desagradará a alguém, e esse alguém poderá, eventualmente, prejudicar-lhe o seu obeso e preguiçoso futuro.
Tamanha falta de macheza e brios causa engulhos, principalmente ao ver que esta espécie de jornalistas “ponderados” desfruta de um conforto pago por aqueles que mais se beneficiam com o silêncio dos omissos ou com a covardia dos pseudo-ponderados.
É uma gente que, se cair de quatro, não terá mais forças – e o que é pior, nem vontade – de se levantar. O ar de quem sabe de tudo, de quem de tudo já viu e já provou, em sua pretensa sabedoria enfastiada e blasé, só esconde um medroso, desfibrado e cego para os destinos de seu povo, focado apenas na modorra de sua poltrona e chinelos.
A equipe de jornalismo da Rede Lagos de TV e do Lagos Jornal está imbuída de uma idéia, vive uma missão e assume os riscos. Que o leitor concorde ou não com os pontos de vista emitidos, será uma outra história. Mas todos saberão, sem disfarce, a que viemos à esse mundo. No fundo, tudo não passa de inveja e despeito, de quem reconhece que o jornalismo do Lagos Jornal e da Rede Lagos de TV põe a “cara na reta”. E essa coragem eles não tem.
Os eventuais gracejos admirados servem apenas para realçar a diferença entre os que ainda crêem em algo e os que, em cima do muro, só pensam em seu próprio ventre, faminto e obsceno.
Walter Biancardine é mal-visto até hoje por seus colegas de redação por causa deste artigo
Repórter adora uma boca-livre e eu, sem destoar da tradição, compareci ao simpático café da manhã oferecido pela Prolagos nesta quinta-feira, 10, organizado com o objetivo de apresentar não só seu novo diretor-executivo, Felipe Marcondes Ferraz, como também oficializar diante da imprensa o início da gestão de seus novos controladores – o consórcio CIBE.
Não vou aqui desfiar todas as estatísticas, números, projeções e outros quetais perguntados, respondidos e apresentados durante o evento, pois sei que a eficiente Cristiane Zotich, assessora de imprensa da companhia, terá o maior cuidado em apresenta-los à mídia local.
O que me levou a escrever estas mal-traçadas foi a constatação de que o erro fica sempre mais tolerável quando percebemos que existe uma real intenção de acertar, e é o que a Prolagos aparenta estar tentando.
Todos conhecemos o lado ineficiente, irritante e por vezes incompetente mesmo, da concessionária da águas e esgotos que nos atende. E minha constatação veio à tona quando lembrei que tão grande quanto – ou talvez até maior que o da Prolagos – é este mesmo lado negro, apresentado pela concessionária Ampla. Ali sentado, ouvindo as explanações de seu novo diretor-executivo, me dei conta que ali havia ao menos a preocupação de dar satisfações, explicar e demonstrar as reais intenções de acerto. Nem levei em conta o lado maravilhoso e abnegado que o Sr. Ferraz apresentou, afinal este é seu papel, mas apreciei o gesto de consideração para com os consumidores que pagam pelos seus serviços.
Já com a Ampla, o buraco é mais embaixo, me perdoem a expressão. Aliás, nem sei se haverá buraco, eis que nem mesmo um escritório na cidade a companhia mantém, como se não fôssemos dignos de tanto.
Escondidos da indignação popular em um distante prédio em Niterói, seus chefes e executivos sentem-se à vontade para persistir na política que acredita sair mais barato para a companhia pagar eventuais indenizações à clientes irados do que investir na modernização da obsoleta rede da qual ela se serve.
Ignorando solenemente a imprensa, sem dar satisfações de seus atos – os quais só existem pela concessão outorgada pelo povo – e demonstrando um notório nojo daqueles que são seu sustentáculo, os consumidores, a Ampla passa ao largo disso tudo ancorada na crença da eterna tolerância do brasileiro e na passividade e conivência do poder público.
Para eles, uma boa imagem nada significa. É o conceito grosseiro que consideração e preocupação em bem atender não passa de rematada frescura – já que o importante é lucrar. E nesse rumo prossegue a Ampla, cada vez mais antipática aos olhos de seus clientes, sem opções diante do monopólio privado.
Entre um cafezinho e uma explicação do Sr. Ferraz, concluí que realmente ambas cometem erros às dúzias. Mas a Prolagos ao menos tenta melhorar.
E os salgadinhos estavam ótimos!
Walter Biancardine é jornalista e ameaçou pedir demissão se não fosse escalado para cobrir o evento e comer os salgadinhos.
Sexta-feira, dia 4, o feliz dia de recebimento de meus caraminguás.
Cheque em punho, lá fui eu rumo ao Banco do Brasil para descontar tão precioso documento, que garantiria meu sustento até o próximo mês.
Ao adentrar a agência, a cena menos desejada e infelizmente a mais vista: uma fila indecente que engolia a pressa do clientes, cuja evolução era dosada pelos apáticos e indiferentes funcionários, imunes à demissões ou reprimendas de qualquer espécie, já que são funcionários federais.
Meu horário de chegada: 12:30. Meu horário de saída: 14:20
Cinco caixas atendiam umas cinqüenta pessoas – numero até nem tão alto – mas cujos infelizes componentes eram obrigados a ceder a vez aos incontáveis idosos que penavam em sua fila preferencial e eram atendidos em todos os balcões, para ver se assim desafogavam um pouco o salão.
Faço aqui um parêntese para dizer que nunca entendi essa história de fila de idosos em um país cuja população maior de 65 anos é cada vez mais numerosa. Destacar um só caixa para eles é tumultuar não só a vida dos idosos, pela ineficiência, como também atrasar os outros clientes, que precisam ceder a vez nos caixas comuns. O correto seria aumentar o horário de atendimento ao público, separando toda a parte da manhã apenas para atender à terceira idade.
Voltando ao meu tormento: protestos esparsos, resmungos eventuais e até mesmo sorrisos conformados com o próprio desrespeito sofrido podiam ser vistos naqueles que compunham a fila dos desafortunados. Um solitário funcionário tentava organizar uma espécie de triagem para apressar as coisas, mas era em vão. Irritado, confesso que cedi à vaidade e disse à ele: “ – Quando eu sair daqui, vou fazer uma reportagem sobre isso.”
E o tempo continuou passando, alguns espertinhos que sempre aparecem nessas horas tentavam furar a fila, outros, com um hábito tipicamente tupiniquim, postavam-se quase que sexualmente colados na gente – incrivelmente indiferentes à misturar seu suor aos suores alheios – e assim permaneci, perdido em cálculos para me distrair do tédio e concluindo que, naquele ritmo, eu levava seis minutos para percorrer um metro de fila.
Foi quando o funcionário responsável pela triagem voltou, me chamou e sutilmente comentou que falou com o gerente e ele mandou perguntar se eu tinha algum título para pagar ou algo assim, e se ele poderia me ajudar.
A cultura da corrupção parece que está no DNA de alguns brasileiros, mesmo. Respondi que eu não queria nenhum privilégio, que estava ali apenas para descontar um cheque e que iria permanecer na fila, até que chegasse minha vez de ser atendido e eu marcasse no relógio o tempo que levei.
Me abstraí do discurso em prol dos funcionários que ele fez, até porque, por mais que as maiores decisões venham das matrizes, um gerente tem autonomia suficiente para determinar o numero de caixas abertos.
Nesta mesma viagem de pensamento, relembrei as bravatas de nosso prefeito, que fez questão de mostrar sua macheza falando grosso com uma renca de gerentes, completamente indiferentes ao que ele falava. E lembrei também a tão mal-falada história da venda da folha de pagamentos dos funcionários da prefeitura e o posterior silêncio absoluto sobre qualquer assunto que lembrasse filas de banco, por parte do chefe do Executivo. Uma grande coincidência.
Acordei de meu devaneio sendo chamado ao caixa, uma hora e cinqüenta minutos após entrar na fila, certo de que meu almoço naquela altura do campeonato já tinha ido pro buraco.
E agora, sr. Prefeito? Acho que o senhor devia engrossar com os bancos novamente. Afinal, terem pago pela folha de pagamento da cidade não vai afetar sua imparcialidade.
Ou vai?
Walter Biancardine é jornalista e se acha importante pra cacête
No tempo que você não está, não durmo
Todo tempo que você não esteve, nem vi
Sua ausência, sua falta em tudo
Não vivo, não vejo, não durmo.
Mas cada minuto que passa, um a menos me separa
Em cada minuto que estamos, um a mais me dá vida
Afinal feliz, afinal tranqüilo, seu cheiro na sala
E o peso de antes me vence, sem pensar na partida.
Vivemos de horas, de grãos, de instantes
Enchendo duas vidas que já foram vazias,
Quero seus dias, seu destino restante
Sem sono ou cansaço, nada sacia.
Perdoe meus erros,
E o que faço de errado;
Mas, a viver sem você
Melhor morrer á seu lado.
Confesso, em meu nome e de meus coleguinhas ociosos, que esta é uma época muito triste.
Fim do horário de verão, fim do carnaval, fim do verão, fim das grandes férias começadas antes do Natal, data em que o país literalmente pára, permitindo que uma nação de adolescentes se delicie com os novos comerciais de cerveja, com a expectativa das novas modas e com a excitação porno-colegial da disponibilidade mulherística nas praias, nas ruas à tardinha tomando sorvete, juntamente com o irresistível impulso feminino de namorar nas férias de verão.
É a época do acasalamento! São as férias infantis de um país cuja grande massa populacional estacionou nos 17 anos, mãos peludas e cara sarapintada de espinhas, exigindo 3 meses de ócio, irresponsáveis sobre as catastróficas conseqüências econômicas para a nação.
Que pena que a alegria obrigatória do carnaval acabou! Que pena que não vamos mais poder brincar os festejos de Momo, como sejam, desfiles de carros com malas abertas exibindo à todo volume as músicas tradicionalmente carnavalescas – o creu, sucesso absoluto, e todos os outros funks sem os quais não há carnaval – muvucas intransitáveis, brigas, tiros, engarrafamentos e muita, muita risada....o povo adora isso!
Sinto um arrepio quando o carnaval começa e tenho a nítida certeza de que a cidade está entregue nas mãos do cão chupando manga...uma terra de ninguém, território sem lei, onde só o absurdo tem vez e a barbárie impera. Isso, para a plebe ignara, é a dádiva dos deuses – o que eles entendem como “liberdade”.
Fim dos 3 meses de “hora do recreio”, em que ninguém trabalha e ninguém explica como sobreviveu, pagou aluguel, comida e, principalmente, tanta cerveja.
Março chega, e com ele, a hora de crescer. Que pena ter de ser adulto de novo. Que pena o papai Governo não nos dar mais brinquedinhos entorpecentes como Micaretas, ruas fechadas, mega-shows gratuitos na praia...
É hora de sermos adultos novamente, é hora de uma nação de Peter Pan’s partir da Terra do Nunca e tentar ganhar o pão e a dignidade de cada dia.
Eu mesmo, só voltei a escrever graças aos pontapés de minha mulher – “vai trabalhar, filho da vergonha!” – e dos esculachos de minha patroa, Keetherine: “ Trabalha, vagabundo!”
Fui precipitado de meus devaneios lisérgico-ociosos para a dura realidade de aceitar que sem dar duro, não comemos. Graças à Deus, com o fim do verão, os comerciais de cerveja acabaram.
E assim, uma creche chamada Brasil teve seu chocalhinho tirado das mãos, e chora fazendo birra, pois está na hora de trocar a fraldinha e ir estudar.
Ai ai ai, Brasil! Que feio! E nada me tira a certeza de que o problema do Brasil é pediátrico, por culpa dos incontáveis “pais do povo”. Deus nos livre deles. Pé de pato, mangalô três vezes!
Vai trabalhar, vagabundo!
Walter Biancardine é jornalista, vagabundo e ocioso; e só voltou a trabalhar depois que sua mulher ameaçou não pagar mais seu whisky
Depois de muito tempo, tento voltar a escrever.
Nunca soube lidar com a felicidade e mesmo sentia sempre uma certa vergonha de mostrá-la.
Não sei se por vício ou se pelo fato de que reclamar é sempre mais fácil, habituei-me a escrever sobre a dor, e inclusive usa-la como muleta da criação.
Um dia, em um estacionamento, lá estava ela.
E tirou de mim todas as trevas, e me apresentou á felicidade absoluta e indizível.
Sobre o quê escreverei agora? Sobre minha alegria?
Sobre ela? Sobre nossos planos e sonhos?
Não.
Escrever é sonhar em papel, e agora, minha realidade é melhor.
Por isso, ao menos por enquanto, não escrevo:
Prefiro viver.
Passei uma vida inteira resmungando, murmurando para mim mesmo; um rabugento de plantão sempre disposto a encontrar um mínimo detalhe que fosse, para que meus breves e raros momentos de felicidade tivessem algo que eu pudesse criticar.
Mesmo na única vez que acreditei ser absolutamente feliz, ao lado de uma mulher, ainda assim eu a via humana demais para que eu me rendesse. Amava, mas com prudência.
O tempo passou, esse amor acabou, e voltei à minha faina de resmungão.
Tantas escrevi, tantos uivos de dor foram publicados, tantas noites sangradas que fui rotulado como o “atormentado”.
Solidão, bebedeiras, promiscuidades, gritos e choros, panteras estapeadas, mulheres absurdas, companhias completamente dispensáveis, arrependimentos abissais compuseram uma rotina árida que nunca me permitiu ver algo de belo na vida.
Todo o cinismo, ceticismo, talvez escondesse apenas um pedido desesperado de ajuda contra minha solidão e desamor. E, principalmente, existia o passado.
O passado, que me perseguia como uma obsessão; símbolo da única felicidade que conheci na vida, de quando eu achava ser cuidado – e o melhor – de quando tive a certeza de ter, ainda tão jovem, encontrado o amor de minha vida.
Mas sempre achei que nada tinha a acrescentar à vida de ninguém, e por me achar absolutamente desinteressante, sem nada a oferecer, me recolhi e deixei que ela passasse. Afinal, eu a amava, mas e ela? Como gostaria de alguém como eu?
Com o coração preso em um passado, a vida seguiu. Todos gostaram, chegaram mesmo a ter amores; casamos, tivemos filhos, rimos, choramos...tudo isso a quilômetros de distância e de um silêncio completo. A vida seguiu seu rumo, um péssimo rumo. A minha, ao menos; sempre aproando tempestades, tormentas, sem porto de chegada.
Mas o destino prega peças e o que está escrito não pode ser mudado: os mesmos textos loucos nos quais eu destilava todo o meu veneno auto-piedoso serviram de ponte para um reencontro; completamente inesperado, improvável, imprevisto. E quase trinta anos represados explodiram como uma barragem que ruísse.
Choramos ao nos abraçarmos. Não de novo, porque nunca nos abraçáramos antes. E choramos pelo platônico de nossas vidas, por tanto amor que foi varrido para baixo do tapete; choramos em cada toque, em cada carinho, em cada beijo, e descobrimos – perplexos – que a vida fizera a ambos, um para o outro. Encaixe.
Foram apenas sete horas. Sete horas da mais absurda felicidade que dois seres humanos tiveram o atrevimento de sentir. Sete horas que recompensaram 30 anos de espera. E 30 anos que amadureceram dois corações o suficiente para saberem que não se deve brincar com o amor.
Agora, finalmente, estou livre do passado. Paguei a minha dívida com a dor, estamos quites, eu e o destino. As poucas sete horas que vivi são apenas as primeiras sete, de setenta e sete séculos que viveremos, porque o amor não morre.
A tormenta acabou, e o sol finalmente voltou a brilhar.
Só agora vejo o céu, sem nuvens, e o mar calmo, amigo. O azul e o verde daqueles olhos que me oferecem a paz, que trouxeram finalmente um sentido à tudo o que me aconteceu. E o amarelo dos cabelos dela, do sol, que enfim brilha de novo.
E será eterno.
Queria gritar ao mundo, mas em respeito, me calo..
"Eu protegí seu nome por amor/Em um codinome Beija-Flor"
Remexendo em papéis velhos e aqueles montes de anotações que eu, espírito de rato-trocador, fui acumulando ao longo dos anos, encontrei alguns manuscritos. Se eles não são propriamente os do Mar Morto, serão com certeza os do Ex-Morto, eis que foram escritos há muito tempo atrás, em 1979, por um adolescente incapaz de dizer o que sentia para a garota que amava. Este adolescente morreu, fulminado por uma maturidade galopante da qual foi vítima pouco tempo depois, quando descobriu que a estrada seria muito, muito longa, cheia de acidentes de percurso, desencontros e dores.
Recentemente, o correio bateu em sua porta, com cartas tão antigas, novidades tão velhas, e lembranças tão novas.O carteiro gritou: “Levanta, Lázaro!”
E desde então ele, adolescente renascido, tem deixado as luzes de sua casa sempre acesas, na esperança que sua amada as veja e escreva novamente.
(Eventuais erros deverão ser perdoados, afinal o autor era um jovem machucado de 15 anos)
Adeus
Caberia na palma das mãos
Quem já amou tanto assim como eu,
A se perguntar como enfim se perdeu
O amor
Estou vivendo com a calma irreal
Da gente que disso tudo aprendeu
Da gente que também sobreviveu
A dor
Ela se faz doer a cada segundo
Se na sua falta o momento e maior
Mas na sua volta o instante é o melhor
Dos meus
Você é o que me faz sentir enfim
Que o meu corpo tornou-se dois
E tenho medo de logo depois
Adeus
09/01/1979
Nota do arqueólogo: não se sabe ao certo se a palavra “adeus” foi empregada devido a distancia que ele morava de sua amada ou se foi pelo fato do escrito acima ter sido composto nas proximidades do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro.
Solidão é o tamanho do espaço que sobra em sua vida
Irritação é a medida desse mesmo espaço que falta
Pequenez é saber-se sem dono, ninguém que pergunte por você.
E quando todos perguntam, dependem?
Doar sangue ou hemorragia,
Toda hora, todo dia,
Tudo é uma questão de escala.
Quanto sangue pode ser sugado?
Quanto amor pode ser cobrado – e não ser dado?
Quanto talento é preciso para comover uma mulher?
E na falta da rima perfeita, os homens se matam.
Se rasgam, escrevem sandices.
Que o tempo não passa, nunca existiu,
Relógios, distâncias,
Que diriam de mim?
Morram os vizinhos,
Que o inferno é certo
E o céu não é perto.
Quem pede e não toma
Nunca chega a Roma
Felicidade é roubada,
Amor é tomado,
Tanto amor, que até por piedade é aceito.
Tanto amor, que vale o escondido,
Vale o proibido, tudo é permitido.
O coração nunca teve vergonha na cara, mesmo.
Walter Biancardine é jornalista e acha que deve haver algo de doente em uma sociedade cuja moral foi criada por um psicopata sexual canonizado santo.
Saulo, Saulo, por que me persegues?
Se as coincidências não existem, os desencontros também não.
Talvez tudo seja uma questão da hora certa para os que acreditam na mão do destino, a pastorear sua felicidade. E assim, deixamos os anos passarem, dando tempo ao tempo, como diriam nossos avós, e permanecemos numa expectativa de doença crônica, apenas aguardando que os anti-corpos da vida baixem a guarda. Poucas pessoas, poucas mulheres para ser mais exato, acreditam em nada que signifique longo prazo, com relação aos homens. Quantas oportunidades são perdidas, de se saberem amadas, ao longo de uma vida inteira! Nada de bombástico, nada de dramático, cinematográfico. Apenas o acaso absurdo de serem donas e alvo de um amor que se recusa a morrer.
Existem almas que são feitas juntas; Existem amores que se amam porque amam; Amores irracionais, ao sabor do vento; Amores que decidem uma vida e definem quem podemos ser; Existem amores que mostram, para sempre, quem queremos ter; Amores que não se explicam; Porque o amor é inexplicável, e só. Assombrações, fantasmas do passado para uns; Semente que espera nascer, para outros. Amor não se pensa, Amor não se analisa, Amor não se discute, Amor não se contesta, Amor não se recusa, Amor não se guarda, Amor apenas se sente. O resto é desculpa de quem tem medo da vida.
E depois de tantos anos, foi possível olhar para algo além do chão. E vi que fazia sol. E vi, de novo, o dia nascer. Comigo.
Walter Biancardine é jornalista e tem ficado de coração mole. Deve ser porque agora tem dois aniversários: um deles no 10 de novembro.