No início do século XVI, homens como Leonardo Da Vinci, Michelângelo e Rafael redescobriam a antiguidade clássica, a arte e filosofia gregas, e ajudavam a virar uma página tenebrosa da história da cultura humana – a era Medieval. Os descobrimentos se sucediam, o mundo era, afinal, redondo e uma Igreja Católica combalida por tantas contestações à seus dogmas contra-atacava com uma furiosa Santa Inquisição, onde definir-se como livre pensador serviria por sí só de argumento para ser incendiado em uma das santas fogueiras da purificação cristã.
Nesse contexto luziu a estrela do padre alemão Martin Luther, advogado, teólogo brilhante e, temeráriamente, um observador crítico que concluiu que as práticas da Igreja não condiziam com as Escrituras.
A Igreja Católica crescera de forma incontestável desde o fim do Império Romano. Imiscuiu-se no poder, fez parte dele até que afinal tornou-se o próprio, o braço armado de Deus em uma Europa fragmentada em feudos.
O maior poder espiritual que a humanidade já vira tinha agora preocupações bem terrenas: precisava de dinheiro para conter invasões turcas, precisava de tropas, de bons generais, e principalmente, precisava da união indispensável nos momentos de ameaça. O Papa Júlio nada mais era que um déspota, guerreiro e mulherengo que esporádicamente, entre as inúmeras amantes e suas brigas com Michelângelo, usava uma batina. O poder era vertical, inconteste. E as despesas também.
Cobrando por orações, vendendo indulgências, amealhando heranças e destruindo quem ousasse discordar dos métodos arrecadatórios desse Estado, o catolicismo tornou-se um espinho para Luther.
Nesse contexto luziu a estrela do padre alemão Martin Luther, advogado, teólogo brilhante e, temeráriamente, um observador crítico que concluiu que as práticas da Igreja não condiziam com as Escrituras.
A Igreja Católica crescera de forma incontestável desde o fim do Império Romano. Imiscuiu-se no poder, fez parte dele até que afinal tornou-se o próprio, o braço armado de Deus em uma Europa fragmentada em feudos.
O maior poder espiritual que a humanidade já vira tinha agora preocupações bem terrenas: precisava de dinheiro para conter invasões turcas, precisava de tropas, de bons generais, e principalmente, precisava da união indispensável nos momentos de ameaça. O Papa Júlio nada mais era que um déspota, guerreiro e mulherengo que esporádicamente, entre as inúmeras amantes e suas brigas com Michelângelo, usava uma batina. O poder era vertical, inconteste. E as despesas também.
Cobrando por orações, vendendo indulgências, amealhando heranças e destruindo quem ousasse discordar dos métodos arrecadatórios desse Estado, o catolicismo tornou-se um espinho para Luther.
“O inferno é menos rude/ que o céu e a servidão”.(Milton)
Obtendo seu Doutorado em Teologia, Martin Luther começou a discordar frontalmente do mercantilismo que assolava sua fé, os vendilhões do templo e suas relíquias, a máquina arrecadatória azeitada pela eterna culpa, fomentada pela dívida impagável do pecado original que, ninguém sabia pois as escrituras eram em latim, já havia sido mais que remido por Jesus Cristo, que jamais jogaria essa dívida em rosto de ninguém.
“Nulla salus extra ecclesiae”. Não há salvação fora da igreja. E Luther tornou a frase em “Não há salvação que não seja Cristo”. O Cristo Jesus era apresentado por ele como um Deus amoroso, um Deus de alegria, sempre perdoando os pecados de seus filhos, acolhendo-os em Sua santa paz. Um Deus de Gregos e Romanos. Uma diferença brutal para o Jeová dos Exércitos irado e vingativo, que visitava os pecados dos pais até a sétima geração dos filhos. E o alívio dessa carga tornou-se a principal marca de sua reforma. A abolição do uso de imagens, o fim das indulgências, a extinção do mercantilismo no movimento religioso que ele dera início eram apenas marcas exteriores. Os fiéis eram atraídos sobretudo pela Igreja gratuita e sem culpas impagáveis. Era o Pai, que chamava seus filhos de volta à Sua casa, agora com Sua Palavra impressa em alemão, ao alcance do homem comum, graças ao gênio de Guttemberg.
“Nulla salus extra ecclesiae”. Não há salvação fora da igreja. E Luther tornou a frase em “Não há salvação que não seja Cristo”. O Cristo Jesus era apresentado por ele como um Deus amoroso, um Deus de alegria, sempre perdoando os pecados de seus filhos, acolhendo-os em Sua santa paz. Um Deus de Gregos e Romanos. Uma diferença brutal para o Jeová dos Exércitos irado e vingativo, que visitava os pecados dos pais até a sétima geração dos filhos. E o alívio dessa carga tornou-se a principal marca de sua reforma. A abolição do uso de imagens, o fim das indulgências, a extinção do mercantilismo no movimento religioso que ele dera início eram apenas marcas exteriores. Os fiéis eram atraídos sobretudo pela Igreja gratuita e sem culpas impagáveis. Era o Pai, que chamava seus filhos de volta à Sua casa, agora com Sua Palavra impressa em alemão, ao alcance do homem comum, graças ao gênio de Guttemberg.
“Benedicti fructus ventris tuum”
Mas toda obra humana está sujeita a seus mesmos vícios e paixões, e Luther sofreu a infelicidade de ver sua contestação tornar-se uma guerra medonha que, mesmo nos dias de hoje apresenta suas cicatrizes mal-curadas, como na Irlanda. E pior do que isso, tornou-se o homem que abriu caminho para um comércio santo talvez mais danoso que o combatido por ele, já que se utiliza, nos dias atuais, de todo o conhecimento acumulado e desenvolvido em milênios de extorsão, opressão, domínio psicológico, lavagem do cérebro e dos bolsos.
“Eli,Eli lamah sabactani?”
A perversidade, a ânsia de dominar, o amor desenfreado pelo dinheiro e toda a carga simbólica que ele traz são inerentes ao gênero humano. O protestantismo, como obra humana, não poderia escapar aos vícios do poder. Nietzsche afirma que o homem vive e pensa por meio de símbolos. Somando-se este fato à uma primária psicologia de massas teremos outro instrumento arrecadatório tão ou mais eficaz que o combatido por Luther, já que conta com o auxílio luxuoso da mídia, para inocular em milhões de almas uma escravidão tão mais perigosa quanto mansa e cômoda, já que hoje o crente não mais precisa do desafio de pensar: o pastor pensa e decide por ele. E cobra por isso, suavemente.
Todas as formas de poder que a humanidade já viu seguiram a mesma trajetória. Impérios, instituições, grupos. Nasceram humildes, combatidos, perseguidos até o martírio. Começa então o crescimento, já usando esse sangue como chantagem para atingir degraus cada vez mais altos, cada vez mais rarefeito e distante de seus seguidores, cada vez mais voraz em suas despesas e cobranças. E a distância da massa que o sustenta provoca por um lado o mito, já que não há liderança que seja companheira, e por outro a inevitável opressão - fruto da falta de compaixão, perfeitamente humana, para com os que nos são distantes.
Todas as formas de poder que a humanidade já viu seguiram a mesma trajetória. Impérios, instituições, grupos. Nasceram humildes, combatidos, perseguidos até o martírio. Começa então o crescimento, já usando esse sangue como chantagem para atingir degraus cada vez mais altos, cada vez mais rarefeito e distante de seus seguidores, cada vez mais voraz em suas despesas e cobranças. E a distância da massa que o sustenta provoca por um lado o mito, já que não há liderança que seja companheira, e por outro a inevitável opressão - fruto da falta de compaixão, perfeitamente humana, para com os que nos são distantes.
“Perdoai-os, pois não sabem o que fazem”
Em um momento no qual a Igreja Católica ensaia uma tímida mea culpa pelos seus pecados e tenta virar a página da opressão e do comércio da fé, o evangelismo protestante pratica, às escâncaras, tudo o que seu fundador contestou. E como um outro nórdico, austríaco para ser exato, já concluira em meados do século passado: o grau de discernimento das massas é muito baixo. Esta observação, feita por um homem medonho, atinge sua trágica comprovação ao constatarmos que o povo vai, por seus próprios pés, entregar-se à servidão e à espoliação de seu dinheiro e livre-arbítrio nos diversos e suntuosos templos evangélicos, espalhados como shopping-centers, pelo mundo.
Martin Luther foi um teólogo fabuloso, animado pelo mais ardente desejo de servir bem ao seu Deus. Uniu o pensamento à ação e empreendeu corajosamente sua reforma para consertar o que, aos seus olhos, acreditava ser consertável.
Esqueceu-se entretanto o mestre de uma passagem da Bíblia, que se repete à exaustão no livro do Eclesiastes: Vaidade de vaidades, tudo é vaidade e desejo vão. Nada há que seja novo sob o sol. Nem mesmo as idéias de mudanças.
Martin Luther foi um teólogo fabuloso, animado pelo mais ardente desejo de servir bem ao seu Deus. Uniu o pensamento à ação e empreendeu corajosamente sua reforma para consertar o que, aos seus olhos, acreditava ser consertável.
Esqueceu-se entretanto o mestre de uma passagem da Bíblia, que se repete à exaustão no livro do Eclesiastes: Vaidade de vaidades, tudo é vaidade e desejo vão. Nada há que seja novo sob o sol. Nem mesmo as idéias de mudanças.
PS: Um homem disse uma vez : "não sejam como os Fariseus hipócritas, que pensam que pelo seu muito falar, serão ouvidos antes de todos, no Céu. Por isso quando orardes, dize apenas Pai Nosso(...) e o Pai, que sabe o que necessitas, te dará o que precisas".
PS 2 : Ainda este homem: "Quando orardes, não façam tocar as trombetas diante de ti. Ora em segredo e o Pai, que te vê em segredo, te atenderá"
O rôto exibicionista fala das imagens do esfarrapado idólatra. E ambos faturam.
Feci quod potui. Faciant meliorem potentis
Walter Biancardine é jornalista e de vez em quando, faz umas coisas muito doidas.
Walter Biancardine é jornalista e de vez em quando, faz umas coisas muito doidas.
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