domingo, 6 de março de 2022

Uma "preview" de meu livro "ELE TEM RAZÃO" - A introdução

 A LAJE PRÉ MOLDADA DO EGO - 

“O brasileiro é sueco com a mulher do próximo e mineiro com a própria” diz um antigo ditado, que hoje não é mais citado pelo temor que sejamos processados por xenofobia, mineirofobia ou até mesmo suecofobia.

Disparidades assim – perfeitamente normais em um percentual bastante grande da população de qualquer país do mundo – são muito bem conhecidas entre nós, nascidos e criados em território verde e amarelo. Entretanto, nem todos os patrícios se deram conta do agravamento, notório e limítrofe do padrão esquizofrênico desta conduta nos últimos 35 ou 40 anos.

Algo de profundo e forte se modificou na psique de brasileiros e mais alguns numerosos povos mas, espantosamente, não é objeto de análise ou estudo por parte de sociólogos, antropólogos ou mesmo cientistas políticos – honrosa exceção feita ao nosso filósofo e professor Olavo de Carvalho, que Deus o tenha, único a discorrer com regularidade sobre o problema e cuja atividade – ainda que focada quase unicamente em brasileiros – me conforta, por excluir de meu senso de ridículo a impressão de que somente eu estaria vendo coisas em um país imaginário.

Ora, todos temos amigos que batem no peito estufado dizendo-se “direitistas” mas, ao mesmo tempo e sem ver nisso nenhuma contradição, apoiam a vacinação obrigatória contra a COVID 19, resmungando que “deveria ter uma lei que obrigasse essa gente a se vacinar”.

Esse mesmo povo, que gasta suas noites e finais de semana assistindo canais conservadores no YouTube, sacode o derrière às primeiras batidas de um “pancadão” e se diverte com as letras obscenas da, digamos assim, canção. É natural, eles acham, votar em Jair Bolsonaro mas nada enxergar de errado na contradição entre esta auto definição e a existência, por exemplo, de Conselhos Tutelares ou a reivindicação de grupos gay pela legalização de seu casamento, se não no religioso, ao menos no civil. Alegam, tais direitistas, questões de divisão de bens, heranças e outras justificativas que promovam seu caráter bom e imparcial.

Pergunto se já ocorreu a essa gente ser o casamento uma instituição destinada a constituir famílias, oriundas da procriação entre homens e mulheres? Não conseguiriam jamais separar a discussão material de bens, heranças ou pensões, do propósito fundamental de um dos pilares de nossa sociedade judaico-cristã? Ou, para eles, isso é apenas um moralismo retrógrado?

E quanto ao outro exemplo citado, os Conselhos Tutelares? A osmose de conceitos esquerdizantes terá sido tão profunda que encaram como natural o Estado impor seu braço forte sobre o pátrio poder? Com que naturalidade enxergam um poder estatal arrogar saber mais que nós, pais e mães, o que é melhor para nossos filhos? Ou simplesmente afastam esses pensamentos, lembrando-se das monstruosidades ou crimes praticados por uma minoria contra seus próprios rebentos? Tomam as exceções como regra?

Um outro ponto digno de nota: a posse e uso de armas de fogo. Dentro desta mesma mentalidade – crítica feroz da violência nas cidades grandes e até mesmo arguta observadora do Estado paralelo do crime nas periferias – cabe a indignação contra a perda do direito ás ruas, sofrida pelo cidadão comum, e a aprovação do desarmamento total da população. Creem piamente que somos todos uns celerados, desprovidos de equilíbrio emocional, e que fuzilaremos o primeiro barbeiro que raspar o para-lamas de nosso carro. Alegam ainda que o revólver .38, que o tiozão tem guardado na gaveta da mesinha de cabeceira, será invariavelmente roubado e se transformará em acervo do arsenal bélico da bandidagem urbana, ao lado de fuzis de guerra AR-15.

Em suma, para tal mentalidade o casamento não é um sacramento com o propósito de perpetuação da espécie e da sociedade através do amor entre um casal mas, sim, um direito contratual oferecido pelo Estado, o mesmo Estado que sabe o que é melhor para nossos filhos e nos conhece tão bem a ponto de proibir a posse de armas de fogo – afinal somos todos uns imaturos mentais.

Em que momento os citados direitistas aceitaram calados a perda da condição de adultos e abraçaram, gostosamente, a eterna adolescência imposta pelas instituições? Que espécie de cegueira os impede de ver a evidente contradição entre seu alegado conservadorismo e o culto socialista do Estado grande, poderoso e forte?

Seria fácil apontar inúmeros aspectos desse nonsense ambulante que é o brasileiro do século XXI, não esquecendo que semelhantes idiossincrasias são visivelmente manifestadas por povos de diversos países, notadamente os que sofreram maior influência da cultura de massas norte-americana durante os últimos 80 ou 90 anos.

Para compreendermos este fenômeno – por que pensamos como esquerdistas se somos de direita – é preciso retroceder na linha do tempo e traçar um cronograma de acontecimentos capitais na moldagem deste tipo de personalidade, sempre levando em conta a conjuntura do momento social, econômico, político e cultural nas quais tais fatos se deram. Tal é o enredo desta obra e é sobre isso que trataremos a partir de agora.

MINHA CIDADE EM UMA ELEIÇÃO SEM ANÁLISE -

Andei revirando velharias da imprensa da cidade onde moro - Cabo Frio, RJ, e o resultado foi decepcionante.

De um militante que persegue diplomas e usa como exemplo de suprema humildade a maiêutica socrática para fazer uma análise pretensiosa, acadêmica e esquerdista das eleições - embora o texto seja antigo e o blog esteja desativado - até luminares do ridículo como os blogueiros e professores Chicão e Totonho - desavergonhadamente militantes - cujas páginas prudentemente sumiram, tudo o que resta para lermos sobre...vá lá, "análises políticas" da cidade são os comentários - alguns muito bons, por sinal - de Manoel Atanásio, personagem local.

Cabe aqui o destaque a esta exceção porque meu amigo Atanásio jamais teve a pretensão de ser quem não é, nunca teve aspirações filosóficas e sempre concentrou seu foco em um jornalismo feroz, tal como a velha escola ensinava.

Um furibundo blogueiro, Álex Garcia, em seus dias de bom - ou mau - humor também era assim mas o mesmo, creio, cansou desta labuta ingrata.

Temo em pensar que tudo o que o cabofriense contará para se informar nestas eleições seja o mercantilismo de Moacir Cabral, donoi do mais antigo jornal local, a ovariana militância de uma ex repórter policial Renata Cristiane, que se meteu a ser "analista política", a cegueira de um aposentado Álvaro Neves ou os velhos mercenários das rádios e TV's.

Não é justo nem prudente deixar tudo nas mãos do pobre Atanásio.

Onde estão os verdadeiros professores?

 Professores possuem um dom admirável, divino, que é a didática. Confundir o ato de ensinar com a baixeza de conscientizar é reduzir ao mais humano estelionato uma missão dada por Deus.


A didática da chinelada funcionava

 Penso que a didática exige amor e paciência infinitos com os que apresentam dificuldades. Já a conscientização doutrinária vale-se da discriminação pura e simples aos recalcitrantes. Expurgo, exclusão e zoação.

É o que vemos nas salas de aula hoje.


Professor, eu?

 Jamais, nem de longe imaginei-me um dia professor. Minha megalomania levou-me ao jornalismo, a catarse da didática ditatorial.

Quem nunca acreditou ser a voz da verdade jamais sentará numa redação.

Beleza

Não confunda estética com conjuntivite.

A beleza não está nos olhos de quem vê, está no que acolhe e inspira nossa alma.

Artis gratia artis é conversa de cego que se acha pintor. 

O TOVARISH VLADMIR VLADMIROVICH -

Putin não tem como não ser, intrinsecamente, comunista. 

Ele foi criado e formado pela KGB - e sabemos que não existe isso de "ex KGB" - todo o seu ser, seu pensamento, foi formado e moldado por ela. 

Por outro lado é hoje notoriamente sabido que o comunismo - na acepção básica do proposto por Karl Marx e levado a efeito por Lenin - há muito não existe: ele sobrevive, unicamente, como caminho para o poder graças a práxis dialética, ao pensamento dúbio, triplo, multiforme, que não cultiva dogmas e tudo se utiliza em seu benefício para chegar ao comando. 

Com este modo de agir, o eurasianismo de Alexandr Dugin (nada além de uma colcha de retalhos ideológica, encomendada pela KGB no pós muro de Berlim) caiu gostosamente no colo de Putin, que hoje ousa posar até de "conservador", como chamado por alguns direitosos míopes ou com disfunção cognitiva.

Apoiado nesse eurasianismo, Vladmir Vladmirovich finge ser defensor da Igreja Ortodoxa Russa (nada além de uma instituição estatal) ao mesmo tempo em que apoia grupos muçulmanos que matam católicos e destroem suas igrejas. 

Prega, para o povo russo, a moralidade - chegando até mesmo a perseguir gays - enquanto a influência gramsciana do veneno russo é sentida diariamente em nossa cultura de massas e em nossa atual vivência da total emasculação do homem ocidental - a frouxidão dos líderes diante da crise Rússia X Ucrânia é notória.

Nesta brevíssima pincelada mostro apenas alguns poucos dados e informações, públicas, pelas quais enxergamos facilmente que Putin nada mais é que comunista, seguindo a velha estratégia de camaleão das narrativas.

A diferença entre um burro e um gênio, hoje, é a data de nascimento

 Se eu, com todo o conhecimento que tenho agora, levantasse questões políticas, teológicas ou filosóficas em meus 20 anos de idade, certamente diriam: "Até que ele não é tão burro". 

Nos dias de hoje, este mesmo conhecimento me coloca no pretenso pedestal de "elite pensante". 

Não sei se agradeço ou amaldiçôo Paulo Freire.

Assassinato da gravidez

 Aprendi não só com minha vivência nas ruas mas, também, com o professor Olavo a chamar as coisas pelo nome.

Manuela Dávila e todos os políticos, magistrados, artistas, influenciadores ou mesmo pessoas comuns que defendem o aborto são - nada mais, nada menos - ASSASSINOS.

Travestem sua apologia ao crime de assassinato com pomposo disfarce de "defesa do direito da mulher", esquecendo-se que o que está na barriga de uma grávida não é um tumor: É UM SER HUMANO!

É impossível conviver com celerados amorais que ostentem tais tipos de ideias. A companhia destas pessoas é cancerígena para a alma, e seu lugar é na CADEIA!

Quem sois vós?

 Quem é você, na verdade?

O que você mostra aqui ou o que você jamais poderá esconder de Deus?

Não reclame da falsidade das relações humanas: a mentira começa quando você prefere apresentar seu personagem das redes sociais do que sua essência de alma.

Você tem livre arbítrio.

Você escolhe o que mostrar e envergonhar.

Diploma é papel pintado

 Exibindo total descompromisso com a verdade de suas premissas, a cavalgadura uspiana (*) Mário Sérgio Cortella revela sua submissão a grande mídia, enchendo o peito para arrotar delirantes acusações a Bolsonaro, em recente entrevista: "Quando nós temos pessoas que não declaram na sua trajetória simpatia pela democracia, o risco fica mais evidente", diz o "diplomado".

Seus temores mostram não só estreiteza de bitola filosófica como, ele próprio, exige de seus seguidores pagamento do dízimo ideológico requerido pela "inteligentzia" do DCE da faculdade.

Tal boçalidade óbvia exime este escriba de qualquer necessidade comprobatória das causas de seu ranço contra a atual divinização acadêmica. O eristico boy magia dos manuais de auto ajuda, com suas belas barbas brancas de teólogo, é fortemente recomendado por balzaquianas ociosas e universitários de cabelo roxo seguidores de Leonardo Boff.

(*) Cortella, na realidade, não é egresso da USP e sim da PUC.
O adjetivo "uspiano" apenas é mais reconhecível em seu significado pedante e sofista, gêmeo da PUC em falsidades filosóficas, ainda que sem a hipocrisia de ostentar "católica" no nome.

Olavo sempre professor, sempre Mestre

 Acabrunhado pela solidão intelectual sobre a qual tracei resmungos auto-piedosos ontem, resolvi buscar alento n'O Imbecil Coletivo, de O.C.

Qual chinelada paterna na bunda, esbofeteou minha miséria moral o escrito pelo mestre, na página 454: "A solidão, desde os antigos, é um requisito para a conquista da sabedoria. Hoje, entretanto, é tida como um obstáculo, uma doença, um vício redibitório".

Após chupar essa manga e recolher-me a devida ignorância, voltei aos estudos.
Inteligir ao menos 1/3 da Suma Teologica há de granjear-me algum perdão do Pai.

Redes sociais

 Alguns "influencers" da direita brasileira replicam, ipsis litteris, "la Espana miserable, envuelta en sus andrajos, desprecia todo lo cuanto ignora" (Antonio Machado).

É mais que urgente a necessidade de pararem de se comportar como uma torcida organizada de time de futebol.

A análise profunda da realidade sócio-politica brasileira desapareceu, com honrosas e solitárias exceções, do panorama das redes sociais de hoje.

Arrogância

 Se eu, em minha ignorância patética, sinto-me absolutamente sozinho - sem ter com quem debater, compreender ou mesmo estudar - fico imaginando o inferno solitário vivido por Olavo de Carvalho, do alto de seu Everest de sabedoria e cultura.

Não é arrogância: apenas pasmo e perplexidade.

EFEITOS COLATERAIS DO JORNALISMO -

 Minha capacidade de argumentar pró ou contra as mesmas circunstâncias transformou-me numa espécie de Protágoras: fez-me descrer da objetividade do intelecto e acabei por descambar em um vergonhoso ceticismo relativista - quem era leitor do Lagos Jornal, na primeira década deste século desvairado, acompanhou isso.

  Em boa hora meu professor, Olavo de Carvalho, entubou meus neurônios terminais em poderosos pulmões filosóficos, que trouxeram-me de volta ao conservadorismo.

  Salvo in extremis da apnéia cognitiva, devo a Olavo minha ressurreição.

  Olavo Roots.

  Olavo Semper Rectum.

Ex multis ad unum - pensamentos ao fazer barba

"Olavo tem razão", hoje, é pleonasmo.

A rotina é só uma ilusão de segurança, cujo efeito colateral é o tédio.

Que o legado de Olavo una todos os brasileiros de bem.

A verdade é que existem verdades.

Estou absolutamente certo que existem certezas e absolutos.

OLAVO RULES:

Não parar,

Não precipitar,

Não retroceder!

O livro de quem não valia nada, hoje vale muito.

 Carlos Andreazza - o pseudo intelectual que jamais acertou nenhuma de suas previsões - é um dos diretores executivos da Editora Record que, em um rompante pré menstrual, cancelou unilateralmente seu contrato com Olavo de Carvalho.

O último livro lá publicado pelo professor foi "O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota", que há muito não está mais disponível e, provavelmente, jamais será reimpresso.

Pois bem, tal livro de tal autor - amplamente esculhambado pela esquerda - atingiu, de ontem para hoje, a cifra de 900 reais nos sebos.

Mais que a ganância de uns, fica a lição de que quem lacra não lucra.

Pobres almas que pretendem deter a imortalidade...


Olavo de Carvalho

Olavo foi uma cruza perfeita entre Aristóteles e Dercy Gonçalves, não fossem seus palavrões, o povo jamais teria ouvido falar dele.

Pois eis que morreu meu professor: um dos maiores intelectuais e filósofos do planeta está, agora, sob a graça e proteção do Pai.

A dor da perda só é compensada por saber que a morte de um pensador é sua ascenção á perenidade humana.

Olavo sempre teve razão.

A palavra mais certa

 A dificuldade de entendermos Deus deve-se, basicamente, ao fato da Divina Essência transcender o conteúdo significativo de qualquer palavra existente.

Com isso, torna-se claro o valor que precisamos dar a preservação da língua portuguesa tal como ela é: não conseguimos racionalizar sobre aquilo que não dispomos de palavras para significar.

Novidades como "todes" ou desvios como o termo "inclusão" são propostos com dolo, restringindo sua capacidade de compreensão ao diminuir suas ferramentas gramaticais para tal.

Acorde, antes que seja tarde!

Nuremberg

 Diante de tantas mortes - adultos, atletas, jovens e crianças - em decorrência da vacinação, o mínimo que se espera dos líderes mundiais é um novo Tribunal de Nuremberg.

Agora o xingamento leviano "genocida" faz sentido.

Entendeu, esquerda?

Você é marxista?

Marxista é quem leu Karl Marx. 
Anti-marxista é quem o leu e entendeu.

Simples assim.

Conservadorismo é ideologia?

Sempre existiu a discussão se o bom senso, o senso comum, a sabedoria popular poderia ser considerada como uma das gêneses da filosofia.

Obviamente existem os que a defendem, bem como os que a repudiam, mas adivinhem quais tipos de filósofos defendem ou negam uma e outra?

Evidentemente filósofos conservadores aceitam e abraçam o bom senso enquanto os pensadores esquerdistas o repudiam - pois NAO É POSSÍVEL CRIAR IDEOLOGIAS quando temos a tradição como base!

Conservadorismo não é ideologia. É o resultado do aprendizado humano durante séculos.

Liberalismo não é ideologia. É, no máximo, um pensamento econômico.

Já o "progressismo", a esquerda, é o desejo individual de um grupo para que o mundo se curve às suas idiossincrasias!

Então não diga que "minha ideologia é de direita" se você é conservador e não sofre desta doença chamada "ideologia"! 

Apenas defendamos que a vida humana seja como sempre foi!


Fraqueza em Combate

O ponderável, o razoável, ambos só são cabíveis até a deflagração da guerra.Uma vez iniciados os conflitos o raciocínio torna-se binário: amigo ou inimigo, ponto final.

Pois que da dúvida nasce a fraqueza em combate.

sábado, 1 de setembro de 2012

Do jornal Opinião, "Coisas da vida" - João Sem-sonho



João Sem-sonho

João era um orgulhoso marinheiro, que servia na Base Aero-naval de São Pedro da Aldeia.
Militar entusiasmado, conseguira chegar rapidamente à posições de destaque junto aos seus pares e a gozar de certo prestígio naquele restrito círculo.
Mesmo pagando mal, com condições de trabalho por vezes quase torturantes, o Sargento João prosseguia em sua carreira – ainda mais depois de haver conhecido uma bela mocinha, pela qual se apaixonara e casara tão rapidamente que pegara de surpresa amigos chegados e até mesmo parentes.
Estela era o nome de sua amada que, além de uma fatal beleza física, trabalhava e sustentava-se – coisa rara naqueles idos de 1970, ainda mais em uma pequena cidade como Cabo Frio.
Sua dedicação à João era comparável somente ao amor que nutria pela pintura, que retribuía sua atenção em obras incontestavelmente belas. Um crítico exigente até poderia apontar aqui e alí alguns senões, mas o que importava? Ela amava aquele homem que conhecera e aprendera a admirar como um bravo e competente militar, e nada seria maior que isso.
A vida seguia bela e feliz, coisa que desde que o mundo é mundo sempre irritou as invejas alheias, e com o casal não foi diferente: um superior de João, intimamente irritado com tanta felicidade, enviou-o para um dos piores trabalhos daqueles tempos – ajudar no aparelho repressor do governo, contra os subversivos.
O sargento não tinha saída: ou cumpria as ordens ou seria transferido para Rio do Sumiço, sabe-se lá onde. Como bom militar que era, cumpriu suas ordens o melhor que pode no frágil equilibrio entre seu dever e o que não lhe repugnaria a consciência.
Um dia, em um confronto com os tais subversivos, o Sargento João levou um tiro na perna que o deixou imobilizado durante meses. Uma longa recuperação se seguiu, com sua mulher o ajudando e amparando em todas as situações, até que o Alto Comando deu baixa em sua carreira.
João agora não era mais militar, e dias difíceis começaram.
O ex-sargento era agora um homem frustrado, irritadiço, que capengava pela casa mantida pela mulher que – além de tudo – ainda ouvia seus queixumes. Apegara-se João à promessa de um Almirante que, dizia-se, admirara sua bravura em combate, e iria providenciar seu retorno à ativa.
E assim os anos passaram, pingando lentamente como gotas de fel em uma taça de cristal que – percebia-se agora – embaçara.

* * *
Verdade seja dita, João até tentara trabalhar em outros empregos mas já não era jovem e, além do mais, talvez a única coisa que soubesse fazer bem fosse ser militar.
Persistia aferrado à promessa do Almirante, cada vez mais estereotipado no papel de homem em casa, cada vez mais desestimando-se, descendo lentamente os degraus que levariam o comum dos mortais à depressão.
Sua mulher, por sua vez, era apenas um ser humano. Abrigava-se daquele homem que agora desconhecia em suas telas e pincéis, produzindo obras cada vez mais angustiadas, escuras e distantes da vida que um dia imaginara.
Tudo tornara-se um círculo vicioso: João sabia que sua mulher o conhecera soldado, admirara o soldado e somente o amor que ainda nutria pelo homem a fazia suportar a amputação da alma de seu marido, estrangeiro agora á ela e até á ele mesmo.
Um dia conversaram muito sério e Estela suplicou-lhe que esquecesse o sonho de voltar à ativa. Ela não aguentava mais aquele trapo assombrando sua vida e seu pedido era tão desesperado de amor que se esquecia do que significava. Se abandonasse seu sonho, quem seria João? Ela amaria aquele sujeito amorfo, sem profissão, sem história, quase um recém-nascido em vias de encanecer?
João sabia disso, mas mesmo assim arriscou, pelo igual amor que devotava à sua amada e bela mulher: foi ao Comando Naval e cancelou formalmente todos os inúmeros pedidos de reintegração que o Almirante fizera requerer.

* * *
Em 1970 Cabo Frio mal aparecia nos mapas do Rio de Janeiro. Quem vivesse na bela cidadezinha teria de se conformar em passar sua existência adulta como pescador, salineiro, empregado da Álcalis ou Prefeitura – as duas últimas opções apenas para um restrito número de privilegiados, seja por formação acadêmica, seja por apadrinhamento. João não tinha padrinhos nem formação, e vagou em vão pelas ainda salitradas ruas da cidade durante meses, errando de porta em porta, fazendo bicos insignificantes e vendo-se nitidamente diminuir cada vez mais diante de sua mulher.
Quem era João? Era apenas um homem sem sonhos, como a maioria dos mortais que amadurecem. Mas acostumara-se a viver com eles, acostumara-se com o brilho da farda – que, no íntimo, bulia com sua tôsca vaidade – e, sobretudo, acostumara-se a ser não só amado como admirado por Estela, cujos olhos enevoavam em mágoas e decepções por todo cada dia seus juntos. João amargava-se, Estela pintava e esperava dias melhores. A pobre mulher acreditava tanto em seu amor que confiava poder continuar amando aquele homem, ainda que ele fizesse a vida atrás de um balcão de açougue.
Mas, prudentemente, jamais cogitara se continuaria admirando.
Por alguma intuição misteriosa, João sabia que não haveria mais retorno em sua vida e resolveu ir embora. Ao menos sua mulher – ainda bela e jovem – teria a chance de refazer sua vida ao lado de gente normal, que jamais tivesse tido o desatino de afundar-se em um enlouquecido combate à comunistas, e que estivesse em condições de disputar seu lugar na vida como homem prestante e arrimo de família – coisa que, no fundo, envaidece uma mulher normal.

* * *
Estela não soube mais de João. Nem ela, nem seus amigos, ninguém.
Em uma cidade tão pequena como Cabo Frio, era um absurdo que ninguém houvesse ao menos avistado ele pelas ruas, mas era o que acontecia.
Suspeitara mesmo que houvesse ido embora tentar a sorte em outro lugar, até que um dia, tomando um suco no Café Society, os olhos treinados de pintora deram à Estela a visão de um homem que lia as manchetes dos jornais expostos na banca: era apenas um homem, mas não se podia dizer que roupas trajava, qual sua altura, que rosto tinha. Era uma figura difusa, sem contornos, sem alma.
Era um homem sem sonhos.
E Estela compreendeu que João se fora.

Walter Biancardine

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Sem script, sem bússola, sem prognósticos

Existem pessoas que possuem o dom de fazer com que nos sintamos crianças - pelo que elas tem de pior, ignorantes de tudo, até de si mesmos.
Observam-nos, analisam-nos, medem-nos.
E pior, concluem.
O espontâneo ou involuntário torna-se premeditado e mau.
Não sabem que voamos cegos, sem a menor idéia de onde ou como estamos.
E nem imaginam que, quanto mais nos sentimos vigiados e observados como num Big Brother, mais metemos os pés pelas mãos para escapar do paredão.
E pior: involuntariamente.
E se o silêncio for apenas sentir-se out?
E se a distância for apenas achar-se indigno?
E se? E se?
Mas quando a mágoa se instala, ela expulsa os bons olhos.
Poderia eu culpar alguem por isso?
As vezes, uma mão estendida é tudo o que o náufrago quer.
Ele, mais do que ninguém, sabe que vai morrer.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Feliz Natal e que se danem

Mais um natal, o 47º de minha torta existência.
Onde estão todos?
Por aí, e se eu quiser vê-los, será preciso renunciar à tudo o que me tornei.
Precisarei ser - não o que sou, por mais abjeto que pareça a minha tosca presença nesta terra - mas apenas uma massa informe, amoldada a tudo o que os outros disseram, pensaram ou tentaram fazer de mim.
Não sou flor que se cheire, sou insuportável e realmente inconvivível, mas ao menos sou autêntico e meus absurdos são e foram feitos e ditos de maneira absolutamente convicta e sincera - posso não estar certo, mas creio em meus erros piamente.
Não há quem me suporte, e não culpo ninguém por isso.
Se alguém, que conviveu comigo, me acha um grosso, mal educado, tosco, brigão, rude, paranóico ou mesmo metido a dono da verdade, eu posso aceitar. Dêem-me o merecido pé na bunda antes que eu me chute por conta própria.
Mas se alguém me acha feio que seja, mas sem ter convivido comigo - tudo baseado em opiniões alheias - então à esses eu digo que não há remédio além do preconizado pelo imortal Nélson Rodrigues: "Cresçam", e aprendam a vida pelos seus próprios sentidos.
Sim, eu sei: sou o fim da picada, não há como dialogar comigo.
E é por isso que o Natal, para mim, é apenas uma data fictícia para uma falsa comemoração de uma instituição folclórica: familia.
Minha familia sou eu e meus fantasmas.
E que se danem os que se fazem de surdos, cegos e desentendidos.
Feliz Natal para mim. E para meus fantasmas também.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Vencido?

Tudo é passivel de vícios: pessoas, famílias, relacionamentos.
Existem pessoas aparentemente exuberantes, falam alto, riem alto, a ansiedade estampada nos olhos exoftálmicos, gesticulantes, a verdadeira “alegria da festa” - pois, segundo elas mesmas, “precisam de gente, precisam viver!”
Ser a alma da festa, dominar, impor opiniões ou mesmo proclamar com orgulho que “fulano come aqui, na minha mão” é característica deste tipo de gente. E elas realmente conseguem impor. Se não pela racionalidade, que seja através da lavagem cerebral de um discurso ininterrupto anos a fio.
A compulsão de dominar é evidente quando toda uma família possui a mesma caracteristica: as brigas olímpicas só cedem lugar quando o rompimento iminente e definitivo os obriga a substituir a gritaria pseudo alegre e comunicativa pelos “veneninhos” cotidianos, destilados ad nauseam – verdadeiro esporte familiar, derivativo de prazeres mais construtivos. E tome veneninhos – uns contra os outros, outros contra um e todos contra os execrados pelo atrevimento de não prestarem reverência a suas superioridades.
De nada adianta proclamarem-se radiantemente felizes, pois a realidade de suas solidões – não de amigos de farras, pois isso é fácil. Falo de amores – desmascara a verdadeira impossibilidade de convívio com quem quer que seja.
Não existe ninguém totalmente santo nem totalmente demônio, é bom que se diga. Mas, à parte a boa indole ou os bons sentimentos destas pessoas, o fato é que elas vencem. E não apenas vencem, elas massacram, deformam a mente de quem não pode fugir de perto e não tem consciência do estrago que fazem.
E é aí que vencem.
Quando terceiros – inocentes, sem parâmetros comparativos ou com os mesmos determinados por estas mesmas pessoas – são envolvidos neste insano redemoinho, tentar demovê-los de suas convicções herdadas é rematada perda de tempo. Tenta-se, tenta-se e nada. Não há como expor pontos de vista contrários sem que isso não envolva desnudar as falhas daquele que moldou suas ideias. E aí, o recolhimento – sair de cena – impõe-se.
Resta esperar que o tempo cumpra seu papel – com todo o sofrimento que isso acarreta – e que o machucado envolvido involuntário amadureça para pensar por sí próprio, ainda que a custa de abominar ambas as duas partes do triângulo conflitante.
Só aí, quando a criatura descobre-se independente de seu criador, ela poderá ver o mundo com seus próprios olhos.
E então, de nada mais valerá a alegria sufocante e insana; a necessidade de viver e de ver gente será finalmente inferior ao fato, perfeitamente natural, de que ninguém é dominado e teleguiado por ninguém, eternamente.
Bem aventurados os que enxergam o mundo por seus próprios olhos, decidem quem merece seu afeto e são capazes de dar, a cada um deles, a justa medida de seu merecimento.
Aos turbulentos, ofereça a paz.
Aos recolhidos, a boa vontade de ouvir.
As portas do mundo sempre estão abertas aos homens de boa vontade.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Abissum abissus invocat

Certos dias a vida, a convivência com outros seres humanos e minha própria existência principalmente, assemelha-se à grande estelionato: muito me cobra, nada me oferece em troca.
Pessoas cobram. Tudo cobram: posturas, opiniões, ser alegre, atitudes, pontos de vista, ser otimista, afetos, desafetos, ser "pra cima!" - tudo é uma festa! A festa da alegria obrigatória.
Negada nos é a paz de estar à sós consigo mesmo, de curar a alma em recato, a não ser pelo sumiço e reclusão - sempre classificada pelos cobradores e comentaristas do alheio como "fuga".
Quase meio século de vida, e ainda não descobri uma razão para minha existência - uma missão, que fosse.
Nada, tudo aleatório, menos a boa sorte, que nunca vem.
Existir é uma sentença, e acordar é a punição que se renova a cada manhã.
E quem tenta nos animar só nos ofende e oprime, com a superioridade de seu otimismo hiperativo.
Melhor é destino de aborto: sem deixar grãos de amores eternos.
E sem deixar montanhas de reclamações cujo único perdão é oferecer-se escravo.
Não me critiquem, não me julguem, não tentem me animar.
Ninguém obriga uma coruja a apreciar o belo sol.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Queria ser Peter Fonda e filho do John Wayne com Grace Kelly. Mas sou só o primo pobre do Austin Powers

Em minha infância e adolescência, sempre tive toda a liberdade do mundo: a liberdade dos que são, simplesmente, ignorados.
Uma criança é como um avião decolando - não se deve abortar o procedimento, sob pena de um desastre catastrófico. E o que acontece quando sua própria casa, seu porto seguro, se encarrega de conscientizá-lo, diuturnamente, de que você já perdeu, está fora do páreo por besta que é? O que acontece após 16, 17 anos dessa lavagem cerebral ininterrupta?
Culpar os pais, amaldiçoar o passado, dizer-se sobrevivente é a saída de uns. Nem mais fácil, nem mais difícil - apenas menos amorosa com os progenitores. Já a saída de outros é florear os raros bons momentos, pela falta absoluta de bases afetivas. É o momento em que o filho salva a pele dos pais.
É, sob esta ótica, preferível insinuar uma felicidade passada - evidentemente ilusória - do que cair na real que somos frutos de um nada absoluto.
Cinco almas, cinco fantasmas. Três vieram esperados, ou ao menos encarados com naturalidade.
Um, acidente. O outro, vingança.
Mas nenhum se salvou.
Amaldiçoar o passado, libertar-se dele? E o que restará em mim?
Se viemos do caos, é natural que construamos um personagem com histórias, tradições, manias. Se deixamos isso pra trás - por inconveniência óbvia e gritante - não correremos o risco de, aí sim, nos transformarmos em zumbís? Sem recheio, sem referências, sem histórias contadas sob óticas doentes mas ainda assim, histórias?
Não sei as respostas, mas meu senso prático e minha noção do ridículo me manda falar sobre minha história apenas como um passado saudoso, já que ressuscitar todas as mágoas beirando meio século de vida é um contra-senso.
Adolescente revoltado já é um saco. Imaginem um velho transviado!
Igualmente, esquecer minhas ilusões, minhas histórias da carochinha, libertar-me e deixar que as traças me purifiquem. Ok, faz sentido, mas e agora?
E agora nada, pois poucas páginas do triste catálogo das teratologias familiares foram escritas com tintas tão negras quanto esta.
E só quem viveu - ou sobreviveu - sabe.

Minhas dores não são piores ou mais fortes que as de ninguém. São apenas minhas - e únicas.

Fé cega

Existem pessoas que exercitam o otimismo (ou fé, cada um chama como quer) de uma maneira que eu, em minhas trevas da incompreensão, chamaria de "doentia" - por que toca as raias do absurdo.
Tal qual um médico que se embrenha seis anos entre cadáveres e emergências plantonadas ao molho pardo, o sujeito descobre ao longo de sua experiência o quanto o ser humano é frágil. Basta uma poeirinha em um vaso sanguíneo e pronto: o poderoso ditador do Ladrostão ficará reduzido a um vegetal.
Para este - odiado e execrado por toda uma população - o diagnóstico não vem acompanhado de nada. Resume-se a um "o Ditador sofreu uma isquemia associada a uma poliesculhambose galopante reumática, que atingiu o córtex provocando o tilt cerebral e um edema irreversível do juízo". E ponto final.
Mas se o enfermo é alguém que o doutor nutre afeição, a coisa vai diferente: "o meu querido sofreu uma isquemia associada a uma poliesculhambose galopante reumática, que atingiu o córtex provocando o tilt cerebral e um edema irreversível do juízo, mas tudo vai ficar bem se ele tentar reagir!"
É compreensível, afinal médicos também são seres humanos.
Mas, o que fazer quando esfriamos a cabeça e compreendemos que o quadro é irreversível?
Não sei.
Eu, como doente, imploraria a esse médico tão amigo, que gosto tanto, por minha salvação. Não por minha vida, mas para tê-lo, ao meu amigo, junto à mim enquanto pudesse.
Mas jamais me atreveria a prescrever tratamentos ou esperançar curas, já que sou apenas uma besta ignorante. Responsabilidade demais nas costas desse doutor? Sim, com certeza é.
Mas é a responsabilidade de quem enxerga o que o outro ainda não viu, sua incapacidade ou doença.
Passividade? Pode-se dizer que sim, mas simplesmente prescrever uma receita e achar que somente os esforços do doente o curarão, é ledo engano.
E assim o paciente entra em uma espiral descendente, onde ele passa a enxergar sua doença, sabe que outros a enxergam, mais ou menos que intui o caminho a seguir mas sabe que jamais o fará sozinho.
Doenças sociais, que afastam o próximo do convívio do paciente, ainda tem este requinte de perversidade: isola-o, torna-o um animal selvagem à espera de um veterinário que jamais virá.
A diferença é que os animais são mais nobres, sabem que não há mais saída e ficam para trás, ao menos para morrerem com dignidade.
E quando nada mais resta, que se salve ao menos a dignidade.
Mas os doentes sempre acreditam, em uma fé irracional, que uma mão se estenderá.

"Bem-aventurados os que crêem, pois serão salvos"

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Feitiço X feiticeiro

Tanto quis, tanto pedí para saber de tudo;
Cada mágoa, cada tristeza, cada aborrecimento...
Era um tempo em que eu não sabia de mim mesmo
Tempo em que acreditava poder consertar erros fortuitos.

Hoje sei que o erro sou eu;
aborto vivo, paradoxo humano
e o feitiço se vira a cada lamento, finalmente apresentado

Cada dor que percebo, me vejo nela
cada queixa, lá estou
cada tempo perdido, foi comigo
ao invés de providências, vergonha

Se a sorte existir, serei perdoado
sempre viví da grandeza alheia
se a sorte existir, esquecerei os escombros
da guerra que ser eu causou.

Se a sorte existir, serei esquecido
a vida alheia não para, e dela viví
se a sorte existir, perdoarei a mim mesmo
pela crença absurda de ser bom à alguém.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Chega

Cansaço infinito, que sempre se repete de uma forma quase cíclica, intermitente, renitente, tentando vencer – claro – pelo cansaço.
De tudo cansei. Da sensação à certeza de ser uma página negra na vida de tantas pessoas; estôrvo, peso, incômodo, fardo para uns; vergonha, embaraço, disparate para outros. Mas em tudo isso, onipresente, a decepção imposta a todos.
Pensam que discuto muito, que gosto de brigas. Mas o que ninguém enxergou ainda é que uma vida de encrencas traduz apenas minhas eternas desculpas – para mim mesmo ou para os que me cercam.
A polêmica, para uns, é temperamento. Para mim é saída de emergência, manual de usuário.
Mas o tempo passa, a idade chega e seus primeiros e ingênuos sinais são um cansaço e descrença nos outros e na vida. Ledo engano.
Passam dias, meses, mais anos ainda e mais velho fico. O estágio agora é outro, pois no alto de minha vivência constato, horrorizado, que a desilusão, a decepção e a pequenez é comigo mesmo. Afinal os outros caminham, progridem, conquistam – e eu, com minha imensa sabedoria e prepotência, onde cheguei?
A auto-piedade é uma fase rápida, passa assim que o nojo consigo próprio se instala.
Manda a educação que se afaste dos outros um ser tão abjeto, e assim me embrenho cada vez mais em minha toca. Envergonhado por ser a fraude que um dia despertou admiração e amor em alguém, mas que revelou-se obscena miudeza ao longo dos anos, esquivo-me cada vez mais.
E o cansaço transforma-se em exaustão.
Agora sou incapaz sequer de discutir. A vergonha é tão grande que impede qualquer contestação defensiva, e o pensamento fixa-se apenas em parar de incomodar. Sim, mas como fazê-lo?
Não o sei.
Em outros tempos, mais jovem e apenas amargo, tais sentimentos renderiam laudas e laudas de auto-piedade mas hoje as letras e frases pingam tal qual as últimas gotas de uma caixa dágua vazia.
E assim à aflição soma-se a mordaça.
Mas talvez seja o melhor, mesmo. Para que eu acredite que Deus zela por mim e me impede – ao menos – que minha vergonha aumente ainda mais em ganidos miseráveis.
O pensamento cessa, as ideias se acabam – e as desculpas também.
O cansaço vence a dor.
E existe algo de divino e piedoso nisso.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Rio, Cidade Maravilhosa...é ruim, hein!?

Rio de Janeiro: o melhor é de longe!
Transcrevo abaixo artigo de autor desconhecido, porém deveras observador, no qual relata as peculiariedades e faceirices dos bairros da eterna Cidade Maravilhosa, que breve hospedará - sem exigir resgate, é o que espero - cidadãos do mundo inteiro para desfrutarem a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
Que me sirva de consôlo por amaldiçoar tanto uma outra terrinha de merda, Cabo Frio, sabendo que aqui sempre poderia estar pior - e que, se não está, é porque nem ser ruim os minhocas da terra sabem fazer bem.






Segue o texto:

BAIRROS DO RIO ZONA CENTRAL: Estácio, Cidade Nova e Catumbi: Bairros de merda que ninguém sabe que existem - pelo menos... não de nome. Ficam entre a Tijuca e o Centro da Cidade. Na verdade, as únicas provas de sua existência são o metrô e a prefeitura. 
Lapa: Historicamente ocupado por prostitutas, drogados, mendigos, travestis e cafetões. Hoje em dia é ocupado por prostitutas, drogados, mendigos, travestis e cafetões. 
Rio Comprido: Os moradores do Rio Comprido insistem que moram na Tijuca. Como se realmente fizesse diferença... 


ZONA NORTE: Andaraí: Espremido entre a Tijuca, Maracanã, Grajaú e Vila Isabel, o bairro do Andaraí teve seus momentos de glória ao ser retratado na novela Celebridade, mas, atualmente, voltou a ser o que é na realidade: porra nenhuma. Confundido diversas vezes por seus limites, seus moradores admitem morar em todos os lugares adjacentes, menos no Andaraí. 
Bonsucesso: o bairro mais mal localizado da cidade, conseguindo a façanha de ser cercado por 17 favelas, e ainda sim ser o bairro mais evoluído da Leopoldina. 
Cascadura: Possui cerca de 1527 ônibus por habitante e uma estação de trem. 
Cachambi: Também conhecido como Norte Shopping. 
Encantado: É um bairro que não existe, está cadastrado por engano pela prefeitura. Alguns dizem que foi fundado pelo filho da Fada Madrinha. 
Engenho de Dentro: É um pardieiro onde a única coisa que presta é o recém construído Engenhão, Estádio alugado ao Botafogo (um time de merda com uma torcida chorona que não chega a 10 pessoas). O passatempo de seus moradores é ficar fofocando na fila do Guanabara. 
Grajaú: A definição correta para este lugar é "porra nenhuma", pois todos o consideram Grajaú um sub-bairro, mas não é da Tijuca e nem de Vila Isabel. Reza a lenda que existe uma reserva florestal por lá, mas ao que parece não passa de mais uma lenda urbana. 
Inhaúma: Se o nome já é feio, imagina o bairro... seu maior ponto turístico é um cemitério onde pervertidos se encontram a noite para fazer sexo. 
Madureira: O segundo lugar mais quente e zoneado do mundo. O bairro atrai macumbeiros e tias vendedoras de salgadinhos de toda cidade em busca dos produtos de "excelente qualidade" comercializados no Mercadão de Madureira (conhecido como o shopping da macumba). 
Oswaldo Cruz, Bento Ribeiro e Marechal Hermes: Quando você ouvir alguém dizer: ihhh isso é lá na casa do caralho! a coisa fica num desses bairros. 
Maracanã: É uma extensão da Mangueira, com favelas verticais chamadas de prédios. Não há nada o que se fazer lá, a opção é se tornar um dos 30 moradores que correm em volta do estádio todo dia. Basta chover e pode-se esquiar ou andar de jetsky pelas ruas alagadas do bairro. 
Méier: A capital do subúrbio carioca. Habitado por gente cafona, mas metida a descolada e moderninha. É dividido ao meio pela linha do trem, criando a noção de possuir uma metade feia e outra mais ainda. 
Ilha do Governador: A Ilha é uma espécie Niterói que fede. Se não fosse pelo aeroporto do Galeão ninguém, são, iria até lá. Como está fora do continente os moradores acham que estão em uma comunidade de elite, mas na verdade é uma Vila da Penha cercada de cocô por todos os lados. 
Lins de Vasconcelos: Local Incerto e Não Sabido L.I.N.S. 
Olaria: Um pobre bairro que fica entre Penha e Ramos que não tem nada de especial, a não ser pelo seu famoso clube onde acontecem grandes bailes, como o Baile do Havaí e as domingueiras que aglomeram massas de toda parte da Leopoldina e seus cabelos empastados de creme. Tem também uma "praça de alimentações", a famosa 5 Bocas. 
Irajá: Só Greta Garbo pra ir até lá ou Gilberto Gil pra inserir esse bairro horrível em uma de suas músicas. A principal atividade econômica do bairro é o cemitério. 
Del Castilho: Se resume a algumas coisas: o shopping Nova América, favelas e o cofre forte da Igreja Universal do Reino de Deus. 
Pavuna, Anchieta, Ricardo de Albuquerque e adjacências: Fazem fronteira com nobres municípios da Baixada Fluminense como Duque de Caxias, São João de Meriti e Nilópolis. A principal atividade econômica dos bairros é a indústria funerária, a exploração de serviços como a gatonet e a gato-velox e o jogo do bicho. P.S.: As adjacências são lugares como Guadalupe, Jardim América, Costa Barros, Barros Filho, Acari, Coelho Neto e Parque Colúmbia, que deveriam ser cercados por grades. 
Pilares e Tomás Coelho: Conhecida por ser sede da rebaixada Caprichosos de Pilares, que se localiza embaixo de um viaduto mais usado como banheiro masculino. Resume-se apenas em um viaduto, camelódromo e favelas. Os moradores também tentam incluir o Norte Shopping no bairro, mas na verdade fica no bairro vizinho, Cachambi. 
Todos os Santos: Duvido que você saiba onde fica!! Os moradores desse bairro têm grande dificuldade de pegar táxis, já que nenhum taxista conhece o bairro de nome. 
São Cristóvão: Lugar feio, sujo e caindo aos pedaços. Hoje se resume à estação de trem-metrô e à Quinta da Boa Vista. 
Santa Cruz, Campo Grande, Realengo e Bangu: Juntamente com Cuiabá, são fornos disfarçados. Aparelhos de ar condicionado não funcionam porque derretem. 
Tijuca: Fica num vale abafado cercado de favelas habitadas por gente miserável. Composta ex-revolucionários, comunistas e anarquistas. Os tijucanos podem ser facilmente reconhecidos. São caboclos pensando ser ingleses. Sua mais nova invenção está em chamar a praça Varnhagem (também chamada de "Buxixo", pelo tijucano) de Baixo Tijuca, imitação deprimente do Baixo Gávea. Largue sua sogra por 10 minutos na Tijuca que uma bala perdida resolve seu pobrema. 
Vila da Penha: Como a Vila Valqueire é um bairro de pobre metido a rico. É cheio de casas antigas e feias. A maior diversão dos moradores é fazer caminhada no valão, Ops! a rua Oliveira Belo. Ainda existem moradores que acham que a Vila da Penha não possui favelas por perto. 
Vila Isabel: É uma reta que só tem boteco, casa de vila, outro boteco, casa de vila, outro boteco... ah, e uma porrada de pedras portuguesas soltas pelas calçadas. 
Vila Valqueire: Um bairro nos confins (realmente lá no inferno) do subúrbio habitado por uma gente muito feliz só por não estar na merda total que estão seus vizinhos Campinho, Oswaldo Cruz, Bento Ribeiro e Marechal Hermes. Se for telefonar para alguém que mora lá faz um 21... O bairro mais próximo fica várias léguas de distância. 
Vicente de Carvalho: Dividido pelo metrô, tem o lado da favela (favela sem shopping) e o lado do shoping (favela com shoping). tem como cidadão ilustre o falecido Escadinha, traficante famoso. Assim como o binômio Tijuca-Rio Comprido, os seres viventes nessa área juram que moram na Vila da Penha, bairro "nobre"(??) das adjacências. 


ZONA SUL: Largo do Machado: Esse "bairro" não existe. Devia se chamar estreito do Machado. Há lá apenas uma estação de Metrô com esse nome, mas do tipo que nem tem escada rolante. Se você está num carro e fala: olha estamos entrando no Larg... já está no Catete. 
Leme: Um bairro vizinho de Copacabana, cercado de pensionistas que residem lá há mais de 100 anos, muitos bêbados e pivetes da favela local que infestam a maravilhosa praia de Copacabana. 
São Conrado: Abriga uma das maiores favelas do mundo, a Rocinha, embora os cegos moradores do bairro falem que a Rocinha é um bairro à parte de São Conrado ou ainda tentem empurrá-la para a Gávea ou mesmo pro Leblon. Todas as janelas de casas e edifícios têm vista eterna pra Rocinha. Bem, os apartamentos de frente pro mar não dão vista pra Rocinha. Só pros seus moradores que pela manhã tomam sol, tarde assaltam turistas e à noite se acasalam nas mornas areias do Pepino. 
Copacabana: Bairro decadente habitado por funcionários públicos que andam em bandos. A área é dominada jogadores de dama e xadrez de rua. O maior hobby é fazer compras na Av. Nossa Senhora de Copacana, o Champs-Élysées deles. Consta do Guiness Book de records, junto com o Catete, como a maior concentração de quitinetes no ocidente. 
Gávea: Passagem de luxo pra Rocinha. 
Botafogo: Se botá fogo num prédio, lambe tudo. Prédios velhos, apertados, escuros e sufocantes. Paraíso da fumaça negra. 
Flamengo, Glória e Catete: Além dos mendigos e de gente afastada pelo instituto (que respondem por 98% da população desses bairros), os outros 2% são de velhos falidos, principalmente portugueses que empobreceram junto com o bairro e ex-suburbanos que vão morar lá em vilas antigas, cortiços e quitinetes só para dizerem que moram na zona sul e não precisarem aguentar horas de trem ou ônibus até o trabalho.
 Ipanema: Abriga as mulheres mais gostosas da cidade. Só que elas não moram no bairro, mas vêm da Tijuca, Méier, Campo Grande, atrás de um mauricinho com um carro bacana. O resto é só viado e praia (fechada para moradores aos domingos). Também freqüentado por lutadores de jiu-jítsu e seus pit-bulls. Parece um grande estacionamento porque o trânsito fica parado das 8 às 23h. Os moradores são todos neuróticos por causa dos buzinaços intermináveis. Já está sendo apelidado de Nova Botafogo. 
Laranjeiras: É tão ruinzinho que tem um palácio que nem o governador quer morar. Faz fronteira com lugares bonitos (Catumbi, Santa Teresa...) O filme melhor impossível com Jack Nicholson foi inspirado nos moradores de Laranjeiras que andam nas ruas se desviando de cocô de cachorro. 
Leblon: É um bairro com gente rica. Grande concentração de corruptos, colarinhos brancos e, evidentemente, políticos. Também tem cocô de cachorro. 
Lagoa: Lindo. Espaçoso. Visual espetacular. Mas por causa das duas bocas do Rebouças fica inacessível das 8 às 23 h. Conhecido como a Abaeté carioca. A lagoa tem a água escura e podre. Se você molhar as mãos na água pode escolher: tifo ou hepatite. Os moradores possuem máscaras antigás para usar durante o período de mortandade de peixes. Com assaltos freqüentes, é um veradeiro buraco negro de bicicletas.
 Urca: Único bairro aposentado do mundo. 



ZONA OESTE: Vargem Grande e Vargem Pequena: São como o Acre é para o Brasil: Ninguém lembra que existe e só tem mato. Rumores sobre a existência de um parque aquático falido ou sobre uma mansão habitada por Xuxa não foram confirmados, já que ninguém conseguiu achar esses bairros para conferir de perto. 
Barra da Tijuca: (do espanhol Baja - Baixada) Uma espécie de Brasília com praia. Habitado por emergentes e pseudo-socialites que não têm grana pra morar no Leblon ou em Ipanema, a Barra da Tijuca é um bairro que adotou o Paulista way of life, onde as pessoas ficam em shoppings a maior parte da sua vida. Pela sua distância do resto do Rio de Janeiro, é considerado por muitos como sendo uma outra cidade. O governo de São Paulo inclusive já entrou com um processo para anexar esta "cidade" ao seu território por ela ser mais próxima de São Paulo do que do Rio de Janeiro. Alguns habitantes da Barra, aliás, acreditam que moram em Miami. 
Recreio: Uma roça de luxo, que tenta se equiparar à Barra. Habitada por emergentes que não conseguiram ir pra Barra e vão pra lá pra dizerem que moram na Barra. É como um "estepe", um "consolo" para os emergentes que não tiveram grana pra morar na Baja. A padaria mais próxima está 1 ano-luz de distância.
 Cidade de Deus: É disputado por dois bairros: Jacarepaguá e Barra da Tijuca. Quem mora em um diz que a favela faz parte do outro bairro e vice-versa. Graças ao filme de mesmo nome (e que não ganhou nenhum Oscar também) a Cidade de Deus agora é conhecida no mundo todo, principalmente por causa dos traficantes, dos tiroteios frequentes e das drogas, como maconha, cocaína e Tati Quebra-barraco. 



Autor desconhecido
O cara que escreveu isso é um gênio.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Fraudes, erros, enganos, decepções, etc...

O que fazer quando descobrimos que somos uma fraude?
Que tudo aquilo que diziam admirar na gente não passa de uma camuflagem involuntária, de gestos, opiniões, o que mais seja mas todos cuidadosamente arrumados pelo destino e encanto alheio para vestir-nos com a aparência de príncipes?

O que fazer quando descobrimos que somos um erro?
Um erro da natureza, um aborto; que nossos hábitos, gostos, manias e limitações - principalmente as limitações - são socialmente inaceitáveis?
Mudar, tentar mudar, é o que todos dizem. Mas há um limite para isso, pois só descobrimos que somos um erro quando constatamos que somos 100% errados, nada escapa. E aí? Devolver para a fábrica? Reinventar-se?
Reinventar...palavra fácil de dizer, mas impossível de fazer quando o ato envolve praticamente nascer de novo.

O que fazer com nossos eternos enganos?
Consertá-los, pedir perdão, é o normal. Mas se os enganos são nosso pão de cada dia, alimentados vigorosamente pelo fato de sermos uma fraude, um erro da natureza? Rezar por uma paciência infinita alheia, que nos perdôe? Ou tentar a impossível reinvenção, com o fim de parar de errar?

O que fazer com a decepção inexorável dos outros, sobre nossa pessoa?
Nada. Talvez este seja o ponto final do raciocínio - que muitos poderão chamar de conformista, derrotista, comodista e outros "istas". Como fazer com que um megalomaníaco torne-se modesto franciscano? Como fazer com que um vaidoso torne-se insensível aos espelhos? Como mudar a essência, a natureza de um ser, por pior que ela seja?
A ciencia ainda não tem a resposta.

Talvez devamos buscá-la no que de aproveitável este ser abortivo ainda tenha - quem sabe um bom senso de isolar-se, por mais que condenem essa atitude (incompreensível de início mas com benefícios sempre sentidos ao longo do tempo).

Quem sabe a auto crítica de saber-se um erro da natureza e, se não há como parar de errar, que ao menos tenha a grandeza de errar sozinho.
Quem sabe a honestidade de, amando, permitir que a amada seja finalmente feliz, longe de todo o mal que ele a causa.
Quem sabe fechando os ouvidos para todos os argumentos compreensivelmente contrários, que virão.
Quem sabe, finalmente, a coragem?

L'audace, l'audace...toujour l'audace...

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Delírios morféticos de um pescoço empenado

Quando o urubú tá de azar o debaixo, realmente, consegue cagar no de cima.
O caso é que, em um ato bucolicamente doméstico, fui dar uma agachadinha (hummmm...boiola) para pegar meu chinelo e arrumei uma ingrizia no pescôço, resultando em uma fantástica dor de cabeça de uma semana, incurável, misturada com um portentoso torcicolo e mais um monte de merda originadas pela velhice, sedentarismo e falta de hábito - graças à Deus - em dar agachadinhas.
Estando agora eroticamente rígido, tal qual um falo em prontidão procriatória, a única solução encontrada pela moderna medicina para aliviar a dor e meus queixumes foi a administração de morfina, a qual tem produzido altas ondas - tão boas que já escreví 14 músicas de sucesso internacional, gravei 3 álbuns históricos que me colocarão ao lado de Jimmi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison e aquela cachaceira da Amy Whiskyhouse, além de ter realizado expedições astrais por toda a galáxia - uma delas, inclusive, ao banheiro nefasto de uma rodoviária, tendo eu chegado em péssima hora, pela tardinha.
Ia eu dizer mais alguma coisa, mas não lembro mais o que é. Deve ser o efeito da tal codeína - nome chique da morfina - que me permite, ao menos, virar o pescoço e passar os dias sem ganir de uma dor tão filha da puta que não desejo nem à Dilma. Mentira. À Dilma eu desejo, sim.
Não sei que fim vai levar este tratamento, se à rehab ou à cura. Estou já há uma semana nessa balada e nem sinal de melhoras. Fui ontem tirar radiografias mas os facultativos me disseram que eu "estou muito bem!", que foi só uma distensão. Vamos ver no que vai dar. O que sei é que andar de moto assim é uma loucura! Nem escuto os xingamentos e a sensação é de estar em um tapete voador de Ali Maluf e os 40 Ladrões.
Assim, sem mais para o momento,escrevo esta portentosa catilinária sobre a ameaça das drogas em minha vida burguesa, a "onda do mal" que pode prejudicar minha juventude e adolescência dos meus poucos 47 anos tolhendo, de vez, todo o radioso futuro que terei ao alcançar, finalmente, a idade adulta.

Encerro perguntando se alguém teria o enderêço de um japonês pra me estalar e ver se conserta essa merda, antes que eu me transforme num Keith Richard.



Amigos leitores, aceitem um grande abraço de seu amigo venusiano, e de todos os Incas Venusianos e do Nacional Kid.

Muito doido.

sábado, 23 de julho de 2011

Flertando com o Diabo


Pretendia escrever hoje a segunda parte de meu Febeapá cabofriesco mas a morte da cantora Amy Winehouse sobrepujou qualquer vontade de fazer o que fosse, além de encher a cara em respeito à defunta.
A maldição dos 27 continua viva: Janis Joplin, Jimmy Hendrix, Jim Morrison e agora, Amy.
É isso aí garotada. o diabo não flerta - ele quer um relacionamento profundo. Quer seu corpo, sua alma, seu sangue, sua vida. Quem acha que vai fumar unzinho, bater uma carreirinha e sair na boa, se prepare porque perdeu, maluco.
Perdí a conta do número de amigos que se foram por overdose. Só agora, de relance, posso listar uma meia dúzia sem muito esforço. Garotada que pegava onda comigo no Arpoador, que comia sanduíche natural no Pepê, mas que caia de cabeça na marofa achando o mesmo que todo otário acha: "Quando eu quiser, saio dessa". Sai não, brôu. Só se for num saco preto.
Se a onda da droga fosse ruim, ninguém entrava, essa é que é a verdade. Dá barato, é a maior loucura. O único problema é o preço: sua vida. Tá disposto a pagar? Então vai em frente maluco, mas se lembra que além da sua vida, a grana que você deixa na mão do vagabundo paga a bala que vai matar sua mãe, otário.
Não cheguei aos 47 anos impune. Fiz muita porcaria por aí, me arrependo mas não vou bancar a Madalena Arrependida aqui. Meu caso é raro, pois tive sorte - muuita sorte. E a sorte é aleatória, injusta, não vê cara nem coração.
Que a partida estúpida da Amy sirva de lição aos milhares de deslumbrados que acham um fuminho a maior onda, a maior transgressão, coisa de descolados. Saiam enquanto é tempo, porque o Diabo canta suavemente, sua música é doce, mas o preço é sua vida.
Um epitáfio comum à todos os que acharam a viagem melhor que a vida: "Perdeu, otário".
Descanse em paz, Amy. Vou continuar meu porre em sua homenagem.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Respeito

Havia eu jurado que não mais escreveria nada, enojado que estou da política, das pessoas, do mundo e de todo o vasto elenco das calhordices humanas que vicejam nesta infeliz cidade.
Acabei com meu jornal, esquecí do "Crônicas e Agudas" e nem rádio ou TV presto mais atenção.
Isolei-me do mundo e tanto se me dá os assassinatos inexplicáveis e impunes, as falcatruas judiciárias, os trambiques, conchavos e, principalmente, a decepcionante pequenez de pessoas que brigam entre sí, esquecendo um adversário comum. A vaidade, soberba, ira e bajulação desmedida entranhou no DNA dessa gente e por isso lembrei-me de esquecê-las.
Mas a verdade é que minha decisão refletiu apenas um egoísmo idiota, de quem usa o cansaço da vida e processos judiciais absurdos como desculpa.
É certo que não mais quero saber de política ou de toda a imundície que a cerca, mas deixei profundo débito perante a pessoa que mais amo na vida e que me conheceu jornalista.
Sei que ela aprendeu a amar e admirar não apenas o homem, mas aquele que escrevia, que dava a cara pra bater, que se desnudava em público e rasgava seus tormentos para quem quisesse ler. E até hoje, do momento em que cessei minhas atividades até estas mal-tecladas, ela conheceu apenas um destroço, a sombra de um homem que um dia fez seus olhos brilharem e que embaçou-se em sua covardia.
Tenho sido um zumbí, vagando sem função pela vida e empurrando o corpo de um (outrora) homem que não tem significado para ela, já que havia me tornado um amontoado de carne não-pensante.
Mesmo o meu filho, do qual não sei por onde anda, como está e o que faz, dedicou-se à escrever pelo meu feio cacoete literário e se nenhuns motivos de orgulho ele tem de mim, ao menos encontrou ocupação mais nobre que dopar-se em frente à TV e video-games, e creio que isto serve de um pouco de sombra do sol inclemente do desprêzo que ele me devota.
E é em respeito à estas pessoas que tento voltar a escrever. Para que eu ao menos pareça com a pessoa que um dia fui.
Talvez, bem lá no fundo de mim, em algum oásis dentro do meu deserto, ainda exista uma água salvadora que me dê inspiração.
Não mais política. Não mais ódios, denúncias ou ira.
Apenas histórias, tal qual minhas redações da sexta série.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

3 ANOS DE "CRÔNICAS & AGUDAS"

Pois é amigo leitor, já se passaram 3 anos em nosso mútuo e lisérgico convívio.
E é em respeito à você, que me atura há tanto tempo, que resolví sair do silêncio auto-imposto em protesto pela censura absurda de um prefeito em férias.
Saio do silêncio para não deixar passar em branco nossos 3 anos juntos. E peço perdão se a festa soa um tanto quanto soturna, mas convenhamos que comemorar sob ditadura, censurado, processado e ainda na expectativa de uma repressão e mordaça piores ainda em nosso direito de opinião, é dose.
Como presente (desculpem a soberba!) de aniversário, deixo aqui uma promessa: que nosso simpático bloguinho - um dos pioneiros da Região dos Lagos, acredite! - será novamente merecedor de atualizações constantes.
E como desejo de aniversário, formulado no assoprar das 3 velinhas, peço que dona Dilma crie juízo e pare de tentar calar a boca de todos que a incomodam, pois isso é uma peste que já contagiou estados e municípios.
Feliz aniversário, gente!
E muitos anos de vida!

Walter Biancardine

sexta-feira, 2 de julho de 2010

A culpa é do Mick Jaegger, aquele macumbeiro desgraçado!

E foi o que se viu, caros amigos: a Seleção Caralhinho tomou uma enorme jabulani pelas costas e saiu destroncada do campo, completamente ardida e desequilibrada em seu psico-emocional ao ver a enormidade holandesa em comparação com seu pobre amarelinho, que já entrou em campo azul de medo - o raio do azul excomungado, que só faz a gente ganhar tôco quando joga com ele.
Não há como negar que existe um complô mundial para nos deixar complexados com o tamanho de nosso Canarinho: tudo é feito para nos desestabilizar, para nos prejudicar mesmo; inclusive colocando lá na arquibancada aquele pé-frio do cacête, o macumbeiro-mor Mick Jaegger - o qual, desde que declarou sua Simpathy for the Devil, não esconde mais de ninguém que é chegado a bater um tambor e fumar um charuto. Ok, fumar o charuto ele já fumava, mas o recheio era outro. Agora é de erva-de-entrevar-caminho.
O sr. Jaegger, com aquela boca que poderia chupar um ôvo para fora de uma galinha, esteve presente em todos os jogos - sempre torcendo pela seleção perdedora - e agora, com a desculpa de levar o filho brasileiro, o pequeno Ganhapão Gimenes da Silva Jaegger para ver o jogo, lascou mais uma curimba fatal em nossos jogadores.
Caros leitores: para provar que não faço acusações infundadas, segue abaixo um vídeo feito com câmera oculta, o qual mostra uma sessão de descarrêgo realizada no abaitolá do Pai Keith Richards de Ogum, onde o trevoso Jaegger bate um poderoso tambor contra os meninos do Dunga.
Vejam só:

sábado, 26 de junho de 2010

CRÔNICAS & AGUDAS E OPINIÃO: UM SUCESSO MUNDIAL!


Pois é, caros leitores: o meu, o seu, o nosso OPINIÃO é um sucesso mundial!
Trilhões e trilhões de leitores como você - cultos, bem informados e que fazem a diferença no mundo estão ligados no nosso blog-jornal.
Cada bolinha no mapa acima representa acessos de internautas ao nosso blog naquelas localidades - tais como Estados Unidos (costa a costa!), África, Europa e até Portugal (bricadeirinha...)!
Onde houver uma cabeça pensante, ela estará lendo o OPINIÃO!
Quantidade não é nada - qualidade é tudo!
Cabeças seletas em todo o globo!
OPINIÃO: todo mundo tem!

E NÃO É SÓ APENAS ISSO! O BLOG "CRÔNICAS & AGUDAS TAMBÉM ESTÁ BOMBANDO NO MUNDO!
Pois é amigos! O blog "Crônicas & Agudas", do lisérgico e desvairado jornalista Walter Biancardine também está botando pra quebrar! Por todo o mundo só se fala em outra coisa!
EUA, México, Europa e até na Rússia, uma legião de seguidores!

OPINIÃO E CRÔNICAS & AGUDAS - PARA QUEM PENSA POR SUA PRÓPRIA CABEÇA!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Carta à um Irmão Motociclista

Prezado Maluco Beleza:


Aos que nos invejam, digo que temos a Liberdade Absoluta, tão assustadora que é quase um vácuo - não caiamos no erro de crê-la solidão, pois assim a chamou a voz do que clama ao deserto de homens e idéias.
Há que se ter juízo para tê-lo na hora e medida certa.
Há que se ter juízo e culhões para dispensá-lo, na hora, medida e necessidade - nessecissanidade mental - certas.
Em nossos encontros nas estradas, contemos as novas;
mas contemo-nas à dedo pois as esperamos bem fornidas de glúteos e reentrâncias para que nos invejemos de esbórnias alheias!
Bebei cerveja, Jack Daniel´s, acendei os charutos, alegrai-vos!
Além das novas, contemos também as novidades eis que nada sabemos de nossos paradeiros, sonhos, esperanças, viagens, rumos, estradas, aventuras ou ocupações atuais – tantos são os caminhos que tomamos, os quilômetros que rodamos, as ausências sentidas... e tudo isso é deveras necessário saber, para que conjuminemos nosso próximo encontro, em algum posto de gasolina, à beira do asfalto.
Fazei uma tatuagem - dragões, caveiras e tribais inspiram e apontam o norte bússola à ser seguido.
Se não ainda a tens, comprai uma parruda moto estradeira - ou um sinistro triciclo, se o labirinto já foi condenado pelo otorrino - e pegai o asfalto, eis que não importa o destino e sim as estradas.
Usai o preto, necessário para que haja a claridade das certezas;
Deixai seus cabelos longos ao vento e, mesmo que já não mais os tenha,
mesmo que a barriga repouse sobre vosso tanque de gasolina,
sinta o vento e a poeira das estradas em seu rosto, na barba mal-feita.
E creiam todos: há vida após a morte.
Há vida após os 40.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Cachimbo da charge

O meu amigo e excelente cartunista Zel é uma das poucas pessoas que conheço que estampam, à olho nú, seu bom caráter. Homem de paz e avesso às quizumbas que eu, como exemplo de temperamento oposto, sempre me metí em toda vida, segue tranquilo em meio à sua arte cativando amigos e nos encantando com seu blog - certamente o mais ZEN da Região dos Lagos.
Deve ser por isso, por essa coisa ZEN, astral purificado, muita meditação transcedental, incenso e outros quetais, que meu amigo Zel, muito ZEN, produziu o texto que - peço aqui a devida autorização, e se for negada prontamente retirarei a postagem, pois o cara é gente boa e merece todo meu respeito - juro por Deus, não consegui entender nada.
Peço apenas ao meu caro amigo que me mande a receita do que ele tomou antes de escrever, que eu quero também!
Abração, Zel!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

O Diabo somos nós - e o inferno são os outros

Momento introspectivo-confidente-político-roqueiro de Walter Biancardine
Enjoy it..
Simpatia pelo Diabo

Por gentileza deixem me apresentar
Sou um homem de fortuna e requinte
Estou por aí já faz alguns anos
Roubando almas e a fé de muitos homens

Estava por perto quando Jesus Cristo
Teve seu momento de duvida e dor
Fiz muita questão que Pilatos
Lavasse suas mãos e selasse seu destino

Prazer em lhe conhecer
Espero que adivinhem o meu nome
Mas o que lhes intriga
É a natureza do meu jogo

Esperei em São Petersburgo
Quando percebi que era hora para mudanças
Matei o Czar e seus ministros
Anastácia gritou em vão

Pilotei um tanque
Usei a patente de general
Quando a Blitzkrieg urgiu
E os corpos apodreciam

Prazer em lhe conhecer
Espero que adivinhem o meu nome
Mas o que lhes intriga
É a natureza do meu jogo

Assisti com orgulho
Enquanto seus reis e rainhas
Lutaram por dez décadas
Pelos deuses que eles criaram

Gritei bem alto
"Quem matou os Kennedys?"
Quando, afinal de contas,
Foram apenas você e eu

Permita-me por gentileza me apresentar
Sou um homem de fortuna e requinte
Deixei armadilhas para menestréis
Que morreram antes de chegarem a Bombaim

Prazer em lhe conhecer
Espero que adivinhem o meu nome
Mas o que lhes intriga
É a natureza do meu jogo

Assim como todo polícia é criminoso
E todos os pecadores, Santos
Como cara é coroa

Basta me chamar de Lúcifer
Pois estou precisando de alguma restrição

Então se me conhecer
Tenha alguma delicadeza
Tenha simpatia, e algum requinte
Use toda sua polidez bem aprendida
Ou deitarei sua alma para apodrecer

Prazer em lhe conhecer
Espero que adivinhem o meu nome, oh yeah
Mas o que lhes intriga
É a natureza do meu jogo

Diga-me baby, qual é o meu nome
Diga-me doçura, qual é o meu nome
Diga-me baby, qual é o meu nome
Lhe digo uma vez, é sua culpa