Tudo é passivel de vícios: pessoas, famílias, relacionamentos.
Existem pessoas aparentemente exuberantes, falam alto, riem alto, a ansiedade estampada nos olhos exoftálmicos, gesticulantes, a verdadeira “alegria da festa” - pois, segundo elas mesmas, “precisam de gente, precisam viver!”
Ser a alma da festa, dominar, impor opiniões ou mesmo proclamar com orgulho que “fulano come aqui, na minha mão” é característica deste tipo de gente. E elas realmente conseguem impor. Se não pela racionalidade, que seja através da lavagem cerebral de um discurso ininterrupto anos a fio.
A compulsão de dominar é evidente quando toda uma família possui a mesma caracteristica: as brigas olímpicas só cedem lugar quando o rompimento iminente e definitivo os obriga a substituir a gritaria pseudo alegre e comunicativa pelos “veneninhos” cotidianos, destilados ad nauseam – verdadeiro esporte familiar, derivativo de prazeres mais construtivos. E tome veneninhos – uns contra os outros, outros contra um e todos contra os execrados pelo atrevimento de não prestarem reverência a suas superioridades.
De nada adianta proclamarem-se radiantemente felizes, pois a realidade de suas solidões – não de amigos de farras, pois isso é fácil. Falo de amores – desmascara a verdadeira impossibilidade de convívio com quem quer que seja.
Não existe ninguém totalmente santo nem totalmente demônio, é bom que se diga. Mas, à parte a boa indole ou os bons sentimentos destas pessoas, o fato é que elas vencem. E não apenas vencem, elas massacram, deformam a mente de quem não pode fugir de perto e não tem consciência do estrago que fazem.
E é aí que vencem.
Quando terceiros – inocentes, sem parâmetros comparativos ou com os mesmos determinados por estas mesmas pessoas – são envolvidos neste insano redemoinho, tentar demovê-los de suas convicções herdadas é rematada perda de tempo. Tenta-se, tenta-se e nada. Não há como expor pontos de vista contrários sem que isso não envolva desnudar as falhas daquele que moldou suas ideias. E aí, o recolhimento – sair de cena – impõe-se.
Resta esperar que o tempo cumpra seu papel – com todo o sofrimento que isso acarreta – e que o machucado envolvido involuntário amadureça para pensar por sí próprio, ainda que a custa de abominar ambas as duas partes do triângulo conflitante.
Só aí, quando a criatura descobre-se independente de seu criador, ela poderá ver o mundo com seus próprios olhos.
E então, de nada mais valerá a alegria sufocante e insana; a necessidade de viver e de ver gente será finalmente inferior ao fato, perfeitamente natural, de que ninguém é dominado e teleguiado por ninguém, eternamente.
Bem aventurados os que enxergam o mundo por seus próprios olhos, decidem quem merece seu afeto e são capazes de dar, a cada um deles, a justa medida de seu merecimento.
Aos turbulentos, ofereça a paz.
Aos recolhidos, a boa vontade de ouvir.
As portas do mundo sempre estão abertas aos homens de boa vontade.
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