Cansaço infinito, que sempre se repete de uma forma quase cíclica, intermitente, renitente, tentando vencer – claro – pelo cansaço.
De tudo cansei. Da sensação à certeza de ser uma página negra na vida de tantas pessoas; estôrvo, peso, incômodo, fardo para uns; vergonha, embaraço, disparate para outros. Mas em tudo isso, onipresente, a decepção imposta a todos.
Pensam que discuto muito, que gosto de brigas. Mas o que ninguém enxergou ainda é que uma vida de encrencas traduz apenas minhas eternas desculpas – para mim mesmo ou para os que me cercam.
A polêmica, para uns, é temperamento. Para mim é saída de emergência, manual de usuário.
Mas o tempo passa, a idade chega e seus primeiros e ingênuos sinais são um cansaço e descrença nos outros e na vida. Ledo engano.
Passam dias, meses, mais anos ainda e mais velho fico. O estágio agora é outro, pois no alto de minha vivência constato, horrorizado, que a desilusão, a decepção e a pequenez é comigo mesmo. Afinal os outros caminham, progridem, conquistam – e eu, com minha imensa sabedoria e prepotência, onde cheguei?
A auto-piedade é uma fase rápida, passa assim que o nojo consigo próprio se instala.
Manda a educação que se afaste dos outros um ser tão abjeto, e assim me embrenho cada vez mais em minha toca. Envergonhado por ser a fraude que um dia despertou admiração e amor em alguém, mas que revelou-se obscena miudeza ao longo dos anos, esquivo-me cada vez mais.
E o cansaço transforma-se em exaustão.
Agora sou incapaz sequer de discutir. A vergonha é tão grande que impede qualquer contestação defensiva, e o pensamento fixa-se apenas em parar de incomodar. Sim, mas como fazê-lo?
Não o sei.
Em outros tempos, mais jovem e apenas amargo, tais sentimentos renderiam laudas e laudas de auto-piedade mas hoje as letras e frases pingam tal qual as últimas gotas de uma caixa dágua vazia.
E assim à aflição soma-se a mordaça.
Mas talvez seja o melhor, mesmo. Para que eu acredite que Deus zela por mim e me impede – ao menos – que minha vergonha aumente ainda mais em ganidos miseráveis.
O pensamento cessa, as ideias se acabam – e as desculpas também.
O cansaço vence a dor.
E existe algo de divino e piedoso nisso.
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