O que fazer quando descobrimos que somos uma fraude?
Que tudo aquilo que diziam admirar na gente não passa de uma camuflagem involuntária, de gestos, opiniões, o que mais seja mas todos cuidadosamente arrumados pelo destino e encanto alheio para vestir-nos com a aparência de príncipes?
O que fazer quando descobrimos que somos um erro?
Um erro da natureza, um aborto; que nossos hábitos, gostos, manias e limitações - principalmente as limitações - são socialmente inaceitáveis?
Mudar, tentar mudar, é o que todos dizem. Mas há um limite para isso, pois só descobrimos que somos um erro quando constatamos que somos 100% errados, nada escapa. E aí? Devolver para a fábrica? Reinventar-se?
Reinventar...palavra fácil de dizer, mas impossível de fazer quando o ato envolve praticamente nascer de novo.
O que fazer com nossos eternos enganos?
Consertá-los, pedir perdão, é o normal. Mas se os enganos são nosso pão de cada dia, alimentados vigorosamente pelo fato de sermos uma fraude, um erro da natureza? Rezar por uma paciência infinita alheia, que nos perdôe? Ou tentar a impossível reinvenção, com o fim de parar de errar?
O que fazer com a decepção inexorável dos outros, sobre nossa pessoa?
Nada. Talvez este seja o ponto final do raciocínio - que muitos poderão chamar de conformista, derrotista, comodista e outros "istas". Como fazer com que um megalomaníaco torne-se modesto franciscano? Como fazer com que um vaidoso torne-se insensível aos espelhos? Como mudar a essência, a natureza de um ser, por pior que ela seja?
A ciencia ainda não tem a resposta.
Talvez devamos buscá-la no que de aproveitável este ser abortivo ainda tenha - quem sabe um bom senso de isolar-se, por mais que condenem essa atitude (incompreensível de início mas com benefícios sempre sentidos ao longo do tempo).
Quem sabe a auto crítica de saber-se um erro da natureza e, se não há como parar de errar, que ao menos tenha a grandeza de errar sozinho.
Quem sabe a honestidade de, amando, permitir que a amada seja finalmente feliz, longe de todo o mal que ele a causa.
Quem sabe fechando os ouvidos para todos os argumentos compreensivelmente contrários, que virão.
Quem sabe, finalmente, a coragem?
L'audace, l'audace...toujour l'audace...
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