quarta-feira, 22 de maio de 2024

CRIANÇAS PRECISAM DE TÉDIO!


Sim, elas precisam por mais absurdo que pareça.

Pais calouros vivem uma vida infernal de sobressaltos, onde o pobre "petit" não pode dar um soluço sequer sem que ambos corram exasperados pelas paredes de casa, entre telefonemas para as respectivas mães e até o pobre pediatra é incluído em tal carnaval. E que dirá do tédio?

Existe a concepção doentia - e atualmente em vigor - de que crianças precisam sorrir (sorrir não, gargalhar) enquanto permanecerem vivas e isso faz com que progenitores menos destituídos de bom senso - ou movidos por secreto desejo de impressionar os outros e a si mesmos - entupam o raio de visão dos guris com toda a espécie de traquitana, uma poluição visual geradora de verdadeira overdose de informações simultâneas as quais, inevitávelmente, resultarão ao menos em uma TDAH - para pasto e gáudio dos pais, pois agora é moda.

Nos anos mais recentes, um novo e fatal veneno foi adicionado ao arsenal dispersante dos filhos: os celulares, games ou mesmo computadores. E isso é o verdadeiro decreto da morte imaginativa, criativa dos pequenos.

Não há o que criar: tudo, nas telinhas, já vem pronto e de modo exuberante, avassalador e viciante, basta clicar.

Um conselho ao casal "nouveau": experimente deixar, por algumas tardes, seus filhos sem nada para fazer - sim, nada, nem TV; tédio mesmo.

Se seu garoto começar a destruir os carrinhos para ver como funcionam ou mesmo para montar outros; se sua menininha recortar as folhas de sua revista predileta para fazer vestidinhos para as bonecas, parabéns: você acaba de salvar o cérebro de seus filhos.

E tudo isso graças ao tédio.


Walter Biancardine



terça-feira, 21 de maio de 2024

EU BUSQUEI A PALAVRA MAIS CERTA -


Qualquer ser humano se aborrece quando escreve algo pensado, ponderado – grave e profundo, mesmo – e a seriedade do que expôs não é compreendida obtendo, em resposta, algumas palavras de consolo, estímulo ou mesmo críticas, sem que as houvesse pedido.

Tais contratempos, eventuais na vida dos indivíduos, tornam-se uma constante quando nascemos com o incômodo traço de personalidade que nos leva a sempre perguntar o porquê de tudo, a buscar a verdade primeira e a expressá-la com as palavras exatas, cuidadosamente escolhidas para que não existam interpretações dúbias – estas pessoas adotaram, conscientemente ou não, a filosofia como modo de vida.

Sim, a filosofia é um modo de vida e nunca uma profissão. Quem assim se intitula não passa de um arrogante pretensioso pois, já dizia meu professor Olavo de Carvalho, “o verdadeiro filósofo filosofa para sua própria salvação”.

Assim, tal traço de personalidade – que, nos dias de hoje, mais soa como um desvio irritante de caráter – nada mais é do que o resultado da liberdade que alguns adultos se deram ao manter uma das principais e melhores características humanas, manifestadas a princípio na juventude de seus cinco, seis anos de vida – sim, crianças nascem com o germe da filosofia, é a “idade dos porquês” e quem é pai ou mãe bem sabe disso.

Abro aqui um parêntese para recordar minha infância, repelido de quaisquer círculos de conversas adultas (que eu adorava imiscuir-me) pelo meu deseducado hábito de sempre perguntar – “Mas, por quê?

Tão exasperante era esta minha característica que, em boa hora, minha mãe lembrou-se da enorme enciclopédia “Tesouro da Juventude”, cujos fascículos colecionara dedicadamente de 1956 até 1960, a fim de saciar a mesma sede de porquês (embora infinitamente menor, ou seja, uma sede normal) de meus irmãos mais velhos. E tais volumes foram meus “amigos imaginários” da infância, cujos ensinamentos reli incontáveis vezes, principalmente seu conveniente tópico, o “Livro dos Porquês” – para alegria e sossego de meus pais e irmãos.

Tal enciclopédia abriu-me as portas para, ao fim e ao cabo, com menos de 13 anos de idade já haver lido toda a vasta biblioteca que dispúnhamos em casa, pouco me importando se os livros abordavam temas adultos (sic) como sociologia, política (e mesmo aí cabe um Shakespeare, os Anais de Tácito, etc.) ou ainda voltados à medicina, psicologia e direito – verdadeiro cupim de livros, a tudo devorei, quis mais e meu contágio pelo germe da alta cultura tornou-se irreversível. Cresci e a patologia permaneceu: praia de dia, Platão de noite – ou Platão de dia mesmo, a depender de quem estivesse lá no Posto 4, em Copacabana.

Pessoas com a mesma trajetória de vida pagam um preço e ele é cobrado de duas formas: primeiramente, seus dias serão escassos de amigos, companhias, gente em torno – na verdade os interesses deslocam-se, deslocando também os assuntos e conversas; as amizades, se não impossíveis, tornam-se raras e difíceis. E, em segundo lugar, quem muito quer saber precisa igualmente muito bem saber expressar o que aprendeu, e aí entra o inevitável mergulho de cabeça na língua portuguesa e seus luminares. Adicione-se a isso a precisão no expressar-se, exigida por qualquer tese ou mesmo pensamento, criado desde jovem em cultura filosófica (ou mesmo para os que se aventuram na área jurídica), e você certamente ficará bastante irritado quando seus interlocutores não derem o devido peso e significado a cada palavra que você escolheu, ainda que manifestando um sentimento aparentemente banal como, por exemplo, “- Estou no limite de minha solidão”.

Ora, fosse banal para mim e eu não o manifestaria!

A absoluta maioria das pessoas se valeria da expressão acima apenas para dizer que está sentindo falta de uma namorada/namorado, que os amigos estão longe há tempos e que uma mistura de vazio e tédio os irrita, ou ainda outras desventuras de nossas vidas sociais ou mesmo amorosas.

Mas não aqueles que trilharam o mesmo tortuoso caminho intelectual que eu: a palavra “limite” é literal, expressa horas, dias, meses ou anos sofrendo, cumulativamente, os efeitos psicológicos e emocionais que tal condição impõe e nossa inevitável incapacidade de continuar lidando com isso, racionalmente, dentro de pouco tempo. Um fusível psíquico queimado será algo certo de acontecer, não se trata de usual desabafo, tal como um “estou de saco cheio” que, à primeira vista e normalmente, todos interpretariam.

Do mesmo modo emprego a palavra “solidão” tendo o significante apontado, explicitamente, para o significado: um cotidiano sem seres humanos interagindo, sem um trivial “bom dia” ou – pior – sem tê-los em seu campo de visão, para assegurar que você ainda vive em um planeta habitado. As consequências em seu estado emocional e psíquico sempre serão quase impossíveis de avaliar, por terceiros, dado que pouquíssimos seres humanos neste planeta enfrentaram – compulsoriamente, não por livre desejo de isolar-se – tal deserto em suas vidas.

Até recentemente atrevia-me, ainda, a escrever sobre temas de minhas desventuras pessoais, mas os aboli tão logo dei-me conta do quanto de autopiedoso e narcisista tal comportamento se afigurava. Entretanto e por óbvio, não apenas em meus antigos queixumes tencionava eu empregar a palavra exata, o termo preciso e insubstituível – cheguei mesmo a escrever artigo no qual ressentia-me do desconhecimento em línguas estrangeiras, por impedir-me redigir com a mesma pontaria que possuo, na língua portuguesa – mas tais termos, precisos e exatos, igualmente uso ao compor (é a palavra certa: textos são compostos, não escritos. Precisam de métrica, ritmo, sonoridade e conteúdo) meus artigos sobre política, sociologia, filosofia ou teologia.

Creio que, para aqueles dotados de infinita paciência e que acompanham meus escritos há anos, seja algo de fácil identificação o momento em que escrevo algo sério ou – também sou humano – apenas divirto-me, publicando descalabros e bobagens diversas nas redes sociais. A diferença de “clima”, de ritmo ou, por vezes, até de linguagem são evidentes, quero crer que ninguém fará tal confusão – embora, quando da publicação de meu livro “Pretérito Perfeito”, algumas pessoas tenham me perguntado se tentei me suicidar ou, pasmem, se o governo militar havia me perseguido.

A intenção deste artigo é, em suma, pedir aos mesmos seres excepcionais, dotados de paciência infinita para lerem o que escrevo, que entendam os artigos que produzo sempre em seu sentido literal – raramente usarei expressões de “sentido figurado” e, se o fizer, as destacarei com as devidas aspas.

Ao lerem meus artigos, peço que assim façam lembrando-se de Maria Bethania e seu “Grito de Alerta”:


Veja bem, eu usei a palavra mais certa,

Vê se entende o meu grito de alerta.




Walter Biancardine




segunda-feira, 20 de maio de 2024

AS BENDITAS EMERGÊNCIAS DA ESQUERDA -

 


É inegável o peso psicológico e emocional de situações excepcionais, ao surgirem no cotidiano das pessoas. A rotina pacata – ou mesmo torturante – dos nossos dias é, na triste realidade, uma das únicas referências de estabilidade e segurança em nossas vidas.

Entretanto, quando catástrofes – climáticas, políticas, biológicas (COVID) ou mesmo sociais – se abatem sobre o ser humano comum suas reações são, invariavelmente, as mesmas: entregam-se, pressurosos, aos cuidados do “Estado Grande” e confiam suas vidas, as vidas de seus amados, seu patrimônio e destinos a quem “sabe o que é melhor para nós”.

Toda e qualquer nota ou comunicado expedido por qualquer órgão público é considerado uma verdade incontestável; notícias divulgadas pela grande mídia – sempre cúmplice de governos – passam a ser indiscutíveis e quaisquer atrevidos que tenham ideias ou soluções diferentes entram na conta de verdadeiros hereges, traidores que merecem uma surra, ao menos. O Estado é “pai”.

Não há dúvidas sobre a infantilidade endêmica do povo brasileiro. Nossa imaturidade, a ausência quase completa de coragem física e moral em grande maioria da população e uma verdadeira cultura da covardia, fazem coro com o comodismo preguiçoso tipicamente brasileiro – “vou ficar quieto, alguém vai fazer algo primeiro. Se alguém for, eu vou” – e estes são os traços mais negros de nosso caráter nacional, verdadeira pedra, que nos soterra e condena uma nação inteira à mediocridade e miséria.

O estamento burocrático muito bem conhece tais traços, e aproveita-se disso sempre que o acaso – muitas vezes um “acaso” cuidadosa e diabolicamente planejado – o favorece.

Desnecessário falar sobre o verdadeiro e trágico apocalipse psíquico mundial, provocado pelos governos do planeta, quando do surgimento da COVID; pagamos e pagaremos o preço de tal descalabro ainda por algumas décadas, acrescida da paranoia ambiental cotidianamente incutida nas mentes, pela grande mídia e cultura de massas. Considerando as consequências judiciais de quaisquer comentários sobre isso – sim, o Brasil vive em um “estado de exceção”, lembra-se? - melhor é a abstenção, restringindo as análises à tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul.

Não é segredo que um decadente e alcoólatra mandatário tenciona comprar arroz – provavelmente da Venezuela, China ou de algum califado muçulmano amigo – para “evitar o desabastecimento do mercado, devido aos problemas com as enchentes”. Isso é o que ele, entre um Engov e doses de chá de boldo, alega.

Imediatamente os produtores gaúchos se levantaram e tornaram público o fato da colheita ter ocorrido antes das enchentes, que prejudicaram apenas 11% da safra – percentual insignificante, no todo. Ainda assim, a proposta persiste por duas grandes razões, a saber o ódio infinito da atual gestão ao agronegócio e a oportunidade – em ano eleitoral – de distribuir arroz com embalagens devidamente “carimbadas” com a funesta estrela vermelha de nossa ditadura esquerdista. Sim, propaganda pura, atingindo onde mais dói: na fome de cada família.

Ora, tal atitude idiota advém de uma “emergência climática”, que fornece a desculpa perfeita para compras sem licitação, importações desnecessárias, propaganda eleitoral gratuita e muito, muito dinheiro no bolso.

Não bastasse tal desvergonha, este mesmo governo pretende agora declarar “estado de emergência” no Rio Grande do Sul – isso depois de ter apeado o frouxo e subserviente governador local e imposto um “interventor”, antes mesmo de quaisquer decretos neste sentido.

Na prática, os gaúchos já se encontram sob intervenção, o que agora pretendem é apenas a regularização do fato em trâmites burocráticos, para que comece a farra das compras sem licitação, contratações sem concurso, decisões arbitrárias e unipessoais e verdadeiras montanhas de dinheiro destinadas a sabe-se lá qual bolso – mas sempre sob as mais nobres e humanitárias intenções.

Tão tentador é o aspecto “situação emergencial” que mesmo nosso ditador de plantão – calvo e togado, pertencente a um poder completamente alheio e sem ingerência sobre este tipo de ocorrência, o judiciário – não resistiu e deixou escapar, em ato falho, que “tomaria providências quanto à questão do Rio Grande”. Sim, compreendemos: é por demais tentador exibir poder e entupir bolsos, todos querem enfiar suas colheres nesse pirão.

Em raia completamente à parte, desprestigiadas e acéfalas, correm nossas Forças Armadas. É público e notório o desprezo que nosso governante – aquele assim vendido como tal, não o de fato – dedica à farda. Mesmo com todas as advertências do maléfico José Dirceu de que “deveriam cooptá-los”, o alcoólatra prefere insistir na criação de sua própria guarda pretoriana, aos moldes da “Guarda Nacional” do ditador Maduro da Venezuela.

Movidas pela obrigação constitucional de auxiliarem e socorrerem o povo em tais catástrofes, nossas pobres FFAA revelam o mais bisonho descomando, nenhum profissionalismo, nenhuma liderança e mesmo total incapacidade de manejar os equipamentos que dispõem – resultando disso tudo um grotesco e quase cômico espetáculo de uma soldadesca perdida, a baterem cabeças uns contra os outros, nada mais provocando além de tristeza, desamparo e, mesmo, piadas e memes.

Sim, o pensamento positivista instilado no ensino militar do Alto Comando – verdadeira sífilis que corrói brios e valores dos mais altos estrelados – provocou tal estado de coisas, e muito detalhadamente expliquei isso em meu livro “Mais Olavo, Menos Oliva”(1), onde demonstro o parentesco consanguíneo entre o positivismo, o comunismo e mesmo o pensamento globalista, que hoje financia tudo isso.

Ao fim e ao cabo vivemos hoje em verdadeira anomia institucional, consequência inevitável da crise civilizacional imposta ao povo brasileiro pela grande mídia. Quando tudo está fácil demais, relaxar e entregar-se à esbórnia – dinheiros, poder, ausência de princípios – é algo líquido e certo. E um “estado de emergência” só torna tudo mais fácil.

Infelizmente, os prognósticos que faço para o desenrolar desta tragédia gaúcha – bem como para nosso futuro como nação – não são dos melhores. Somando-se os feios traços brasileiros de caráter, expostos acima e que resultaram em nossa crise civilizacional, com a já citada anomia institucional e as contingências conjunturais de nossa política – ditadura judiciária, dominância política totalitarista de esquerda, grande mídia criminosa e um Alto Comando das FFAA imersos no carreirismo e vácuo de valores e princípios – torna-se impossível, aos meus olhos, uma saída eficaz para tal situação. Importante lembrar que toda e qualquer “solução política” de nosso impasse passará, necessariamente, pela acomodação dos interesses daqueles que estão no poder, atualmente, e nada mais será que continuar o mesmo jogo com atores diferentes.

Claro e óbvio que podemos e devemos analisar tais e feias hipóteses, mas não apenas este artigo já vai por demais longo como, também, assunto tão importante merece estudos aprofundados – bem mais agudos que simples parágrafo em laudas aleatórias.

Que fique, para o leitor, os seguintes pontos: toda “emergência” é uma porta aberta para o esbulho e exercício de poder ditatorial, se somos governados pela esquerda. Igualmente, o poderoso agronegócio gaúcho já demonstrou que não haverá desabastecimento e o arroz “vermelho” é, portanto, apenas roubalheira e fraude eleitoral.

Já quanto as preciosas vidas, esqueçam as FFAA pois vale o ditado: “civil salva civil”, por mais desvirtuado que a mídia o tenha tornado. O aplauso é merecido, e o heroísmo de alguns poucos não haverá de fazer com que esqueçamos a covardia de tantos.

Que Deus esteja com os heróis do sul, e acolha as almas dos que faleceram em tal descalabro criminoso.



Walter Biancardine


(1) Livro "Mais Olavo, Menos Oliva", disponível na Editora Clube de Autores, no link abaixo.

https://clubedeautores.com.br/livro/mais-olavo-menos-oliva-2


quinta-feira, 16 de maio de 2024

CHUTANDO CACHORRO MORTO -


Eu sou o cachorro morto.

Digno de estudos psiquiátricos e sociológicos é o impulso que algumas pessoas sentem em terminar de moer quem já está, publicamente, estraçalhado.

Uns desferem seus pontapés como tardia vingança pelo atrevimento que tive em expor, sem nenhumas reservas, a vida feliz que um dia desfrutei. Outros - não sei se mais ou menos doentes - acertam seus chutes somente pelo prazer sádico de soterrar quem não pode reagir. Em menor número, existem aqueles que agridem pelo simples fato de - mesmo sob tamanha decadência - termos o atrevimento de aparentar um mínimo de dignidade - o que, aos olhos dessa raça, soa como insuportável arrogância.

Nada posso fazer, não tenho meios de reagir sem que minha situação piore ainda mais. Aguento calado, pois, todos os inúmeros e quase cotidianos desaforos e ameaças, respirando fundo e fingindo que não doeu.

Entretanto, sempre bom é lembrar que dor de barriga não dá só nos outros. Os dias passam e tudo pode mudar.

Se e quando isso acontecer, o sangue calabrês falará mais alto. E haverá choro, ranger de dentes; muita gente aos prantos, dizendo-se injustiçada.

Mas somente se e quando o vento mudar.

Até lá, sofro em silêncio.


Walter Biancardine



segunda-feira, 13 de maio de 2024

TEMPOS MODERNOS -


Nos tempos do Império Romano os cidadãos que caíam em desgraça - fosse por atos vis de traição, por conspirarem contra o Imperador ou mesmo por insuflarem revoltas civis - eram banidos de Roma, suas casas demolidas e sal era jogado sobre os escombros para que nada mais nascesse ali. Igualmente, eram apagados da Acta Populi quaisquer registros que incluissem seu nome, eventuais estátuas suas eram derrubadas e sua memória, abolida do Senado.

Note-se que tais atitudes eram reservadas para personagens proeminentes e que cometessem atos além de qualquer perdão. 

Não há como acusar os antigos romanos de rancorosos ou cruéis, pois tais extremos - ao que parece - são inerentes à raça humana: nos dias atuais as relações desfeitas - sejam amizades ou mesmo namoros e casamentos - acabam por resultar no mesmíssimo processo de "abolição da memória", quando maridos ou mulheres, incapazes de admitir seu próprio passado, acabam por bloquear seu (sua) ex no WhatsApp, Twitter, Telegram, Facebook, Instagram e qualquer outra rede social com alguma popularidade.

Abolem o passado, apagam sua memória, jogam sal em seus próprios corações, matando todo o amor que juravam sentir e, por vezes, mudam o nome e endereço - passado morto, enterrado e vendido aos mais próximos como "página virada".

Darwin foi muito otimista em seu evolucionismo, pois atitudes assim mostram que somos os mesmos de 2000 anos atrás: negamos nossos conflitos e cremos, desesperadamente, que os resolvemos.

Para os que ambicionam a felicidade, agir como os antigos romanos é a receita certa para a estagnação bárbara e a morte do próprio coração. 

Fica o conselho: não tenha medo de seu passado. 

Ou jamais haverá um amanhã. 


Walter Biancardine



quinta-feira, 9 de maio de 2024

AOS 60, LEMBREI QUE NOS 80 EU TINHA 20 -

 


"Deixa as vinte?" - era a senha para a socialização dos cigarros e o que mais fizesse fumaça, "rodando na carioca", nos enlouquecidos anos oitenta.

Juventude e hormônios nos traziam a posse de verdades esculpidas em versos, contos, músicas, e mesmo parábolas, pelos mais atrevidos. 

E vomitavamos certezas e absolutos descontroladamente, todos os dias e em todos os lugares, para quem quisesse - ou não quisesse - ouvir. E o Baixo Leblon era o palco.

Pouco provável que sobreviventes destes anos lembrem o que fizeram naquele indefectível e lotado cruzamento de ruas, iluminado pelos neons da Pizzaria Guanabara e outros tantos. Lembrar como chegamos, com quem fomos, é fácil. O que fizemos, quem beijamos, abraçamos ou mesmo com quem fomos embora - ou se fomos embora - são outros quinhentos, para arrematar lembranças tão cheias de números.

Quem, nos dias de hoje, usaria uma sunga de crochê? Quem ainda acharia normal sair da praia já de noite - e o Arpoador era o local - e rumar, corpo salgado mas de carnes firmes, direto para o Baixo? Pior: não era programa de fim de semana, era a rotina de nossos dias (in)úteis.

Éramos eternos, imortais e lindos. Sabíamos de todas as verdades da vida - aliás, ela era nossa - e o futuro estava muito, muito distante. Tinhamos todo o tempo do mundo, e jamais pagaríamos o preço das nossas viagens.

Cazuza quase me atropelou com sua moto, em um ensaio que faziam no colégio Sacre Coeur de Marie, em Copacabana. O Barão Vermelho não existia, eram ilustres desconhecidos mas, sem graça, me presenteou com uns ingressos para suas primeiras e enlouquecidas apresentações. E me ensinou duas lições: que o futuro imprevisível sempre chega e, é claro, que o tempo não para.

O tempo não parou e o futuro chegou, trazendo com ele a overdose de aniversários por mim cumpridos.

Dei sorte. A maioria de meus amigos da época morreu ou enlouqueceu; alguns poucos conseguiram construir uma vida normal - "careta", diríamos na época - e outros, ainda, foram premiados com heranças ou influências paternas em suas colocações profissionais. Não tive nada disso, a minha boa ventura foi manter a sanidade psíquica, a forma física espantosamente em dia e jamais ter sido aprisionado pelos excessos de então, cigarros à parte. E não premeditei, foi pura sorte.

Este é o lado que me traz alegria, mas os dados seguiram rolando, o jogo prosseguiu e, mais de meio século nas costas, me dou conta que nada fiz de marcante: nenhum legado, nenhuma façanha, sem obras primas ou algo digno de se lembrarem de mim.

Não voltarei aos 80 como data, nem os alcançarei como idade; mas enquanto houver bambú haverá flechas - e quem sabe o que o restinho de meus dias poderá trazer?

Aprendí com Cazuza, no Baixo Leblon: o tempo não para. E morrer não dói.


Walter Biancardine


NOTA PÓS PUBLICAÇÃO (10/05/24):

Recebi WhatsApp de um amigo comentando sobre o texto que escrevi, a respeito de nossa desvairada juventude nos anos 80.
Em boa hora a mensagem chegou, pois lembrei do principal: toda essa vida enlouquecida tinha o amparo fundamental de um pai, uma mãe, contas pagas e confortável casa para morar.
Ser maluco com toda essa garantia é fácil.
Doido, sim. Revoltado? Nunca!



domingo, 5 de maio de 2024

VERGONHA QUATRO ESTRELAS: A OMISSÃO CRIMINOSA DE SOCORRO -

As Forças Armadas do Brasil conseguiram superar o triste recorde da outrora gloriosa Polícia Federal e despencaram vertiginosamente, em queda livre, sem freios ou pára-quedas, do céu ao inferno do desprezo - e até mesmo ódio - popular, com rapidez jamais vista.

Não satisfeitas com as declarações desastrosas e alinhamentos verdadeiramente traiçoeiros com a atual ditadura judiciária em vigor, feitas pelo Alto Comando - com destaque especial à birra infantil em  decidir bloquear nas redes sociais aqueles que critiquem a instituição, ameaçando jogá-los à sanha carnívora e arbitrária do STF - todos os responsáveis pelo Alto Comando das três Forças, de motu proprio, mergulharam de cabeça no pior dos lamaçais: serem os causadores da morte de centenas de crianças, idosos e adultos que esperavam um resgate que jamais veio, ilhados na maior tragédia humanitária já acontecida no Rio Grande do Sul.

Não só este resgate nunca chegou - desculpas pífias como "as estradas estão alagadas e não podemos passar" foram a tônica, sem jamais lembrarem-se que estes mesmos caminhões foram projetados para trafegar em quaisquer condições, bem como o "esquecimento" em utilizarem helicópteros - como, pasmem, decidiram bloquear civis munidos de botes, canoas, jetskis que voluntariamente arriscavam suas vidas em operações de salvamento, exigindo "habilitação para a condução" de tais embarcações - e isto é assassinato premeditado, com dolo explícito e requintes de crueldade e tortura para aqueles que, empoleirados nos tetos de suas casas, viram as águas subirem até os alcançarem e levarem-nos para a morte

Impossível acreditar em incompetência militar, desorganizações na logística ou carência de meios (viaturas, helicópteros ou mesmo contingente) pois, por muito menos - a vergonhosa perfídia do 8 de janeiro em Brasília - demonstraram um planejamento e coordenação cinicamente impecáveis, mobilizando um imenso contingente de praças fardados para levarem presos - sob a pútrida mentira que "os deixariam em um lugar seguro" - velhinhas com a Bíblia nas mãos, inválidos e multidão que chegou aos quatro dígitos de gente, cujo único crime foi protestar rezando o Terço.

Ainda não foram divulgadas notícias se este mesmo Alto Comando assassino estaria, de algum modo, tentando impedir atitudes humanitárias como a do empresário Luciano Hang (dono da Havan), por exemplo, que disponibilizou seus três helicópteros para tentar resgatar o maior número possível de vítimas do desastre - mas o auxílio jurídico da mais inconstitucional das Cortes, o STF, pode ser providencial: não duvidem se Alexandre de Moraes baixar algum decreto que simplesmente impeça o socorro prestado por cidadãos comuns - sim, algumas prefeituras gaúchas já fazem isso e seria coerente com sua fala recente, verdadeiramente autocrática, de que "anunciaria medidas para o Rio Grande do Sul".

Na rede X, antigo Twitter, a catarinense Larissa de Luca divulga que, em alguns lugares, as águas já chegam ao quinto andar dos prédios, enquanto o Alto Comando positivista de nossas Forças Armadas delicia-se em sua vingança contra o povo brasileiro e Alexandre "o Glande" exibe, para quem quiser ver, a realidade de quem manda, de fato, nesta pobre ditadura.

Vivemos uma inegável anomia institucional, onde não somente as forças de segurança como, igualmente, todo o estamento burocrático vive seus dias sob o único propósito de consolidarem a mais tenebrosa e soviética das ditaduras já impostas nas Américas - é apenas uma questão de tempo até que o impensável de hoje seja nosso pesadelo - e causa mortis - de amanhã.

Obviamente a brutalidade da atual conjuntura, amparada pelo recurso recorrente e impune à pura e simples ilegalidade, não será exorcizada por meios institucionais (lembrem-se: não temos mais instituições, o Congresso está fechado pela força do dinheiro e do STF) pacíficos e ordeiros. A melhor e mais "tranquila" solução que podemos conceber será a vitória de Donald Trump nos EUA e algum auxílio externo (norte americano) que nos salve de tais absurdos - e mesmo assim haverá choro e ranger de dentes.

Não há como impor o impeachment de onze ministros do STF, de três oficiais dos Altos Comandos das FFAA, dos presidentes da Câmara e do Senado, do Presidente da República e de mais um batalhão de militantes infiltrados em todas as nossas instituições - seria o mesmo que pretender resolver o problema de uma casa infestada por baratas matando-as, uma por uma, com um chinelo.

Um novo Tribunal de Nuremberg seria necessário mas - peculiariedades brasileiras - não temos homens honestos em quantidade suficiente para tal empreitada, a verdadeira dedetização que poderia resolver a realidade felliniana em que vivemos. E o quê nos resta?

Desde que Jair Bolsonaro começou a declarar que tudo teria de ser resolvido "dentro das quatro linhas da Constituição", discordo e escrevo em meus artigos que Moisés não teria libertado os judeus do Egito se obedecesse as ordens de Faraó. Somente um povo em combate, firmemente decidido a derrubar a atual ditadura, seus sequazes e militantes, poderá - talvez - resolver. E não se iludam: nossas "gloriosas" Forças Armadas estarão à postos, prontas para defenderem os ditadores e seus inúmeros filhotes, pendurados em suas generosas tetas. Será, portanto, um combate duro e que certamente custará o sangue (como já previra o Gen. Figueiredo no passado) de milhares de brasileiros.

Parece que, ao menos, as máscaras caíram e as FFAA finalmente revelam sua verdadeira e tenebrosa face positivista (ideologia prima-irmã do comunismo), a qual denunciei, tempos atrás, em meu livro "Mais Olavo Menos Oliva", impresso pela editora Clube de Autores e com o link postado nesta minha página pessoal, basta procurar na coluna do lado direito.

O que nos resta fazer é tentar - ao menos tentar - salvar a vida de nossos irmãos gaúchos e desobedecer, descaradamente, toda e qualquer ordem advinda de guarnições militares. Você tem uma canoa? Vá, e que se dane. 

Milhares de brasileiros estão em vias de morrer, outros tantos já pereceram - alguém disse, no local, que após as águas baixarem a cidade se tornará um verdadeiro campo de batalha, com milhares de cadáveres espalhados pelas ruas - enquanto Lula bebe, Janja desfila com Anitta no show da Madonna e Alexandre, "o Glande", masturba-se para sua própria onipotência, diante do espelho.

Algo precisa ser feito e não podemos ser como nossos inimigos: simplesmente omissos.

Se você tem um mínimo de condições, vá e faça! Por nossos irmãos gaúchos, por sua honra, sua família, pelo Brasil e por Deus!


Walter Biancardine



Fonte do vídeo: depoimentos colhidos pelo canal VISTA PÁTRIA, no YouTube



sexta-feira, 26 de abril de 2024

Aрбузы ("Melancias", em russo) -


Mal acabo de escrever artigo sobre o tanto de poder oculto por trás dos descalabros do Ovo togado, e recebo a notícia de xilique fardado expedido pelo General Tomás Paiva, afirmando que não tolerará críticas às FFAA, e que encaminhará os casos ao STF.

Parece que, desta vez, a mente criminosa de José Dirceu trilhou os passos certos, cooptando os altos oficiais que ele, até recentemente, lamentava-se não haver feito.

O que temos agora não é o Ovo dobrando a aposta contra Elon Musk, e sim o sistema deixando claro que a ditadura veio para ficar e que, se necessário, usará a força das armas contra os descontentes.

As FFAA brasileiras são useiras e vezeiras em apoiar ditaduras avermelhadas - basta ver o que fizeram após depor João Goulart: implementaram 99% de suas propostas e fizeram vistas grossas à infiltração comunista no sistema de ensino, nas instituições, na mídia e ainda deram dinheiro para cineastas esquerdistas e editoras de mesmo teor.

A infeliz declaração de tal melancia fardada mostra a evidencia do cerne positivista - primo irmão do comunismo - da caserna, sem corar por sua passividade bovina ao serem xingados e caluniados nas piores formas possíveis pela esquerda, mas repentinamente se tomando de brios ao serem desprezados pelos conservadores e direitistas.

Tão macabra é a situação nas casernas que o Alto Comando da Marinha quer punir o comunista Lindbergh Farias (ora, ele é "da turma"!) por pretender homenagear os marinheiros revoltosos do triste episódio da "Revolta da Chibata", sublevados contra os castigos corporais impostos aos marinheiros naquela época. 

Segundo a Marinha, "não é hora de permitir pensamentos revoltosos de insubordinação na tropa" - o que só corrobora a tese que expus em meu livro "Mais Olavo, Menos Oliva", afirmando que o positivismo avermelhado contamina apenas o Alto Comando: suas patentes medianas e inferiores são, em sua maioria, como nós: conservadores.

O quadro que temos, neste momento, é o seguinte: um Alto Comando alinhando-se à uma ditadura comunista e temeroso com possível insubordinação de seus oficiais e praças.

Quem dobrou a aposta não foi o Ovo e sim o sistema.

E isso pode terminar em guerra civil.


Walter Biancardine



OVO PRESIDENTE ou PAX ALEXANDRINA

 


Muito se discute sobre os desaforos constitucionais e a audácia infinita de um dos personagens mais sinistros da atual República Ditatorial do Brasil, com tempo precioso sendo utilizado em especulações sobre possibilidades de retaliações, punições ou outros itens da extensa prateleira de vinganças pessoais disponíveis no mercado.

Aparentemente o foco é castigar o líder do Soviet Judiciário Supremo, com poucas – ou melhor, inexistentes – preocupações sobre o que está por trás de tamanho atrevimento desta cínica e negra toga, verdadeiro símbolo de um impensável – para os incautos – totalitarismo verde e amarelo. E, dada a cegueira juvenil que grassa entre analistas políticos das redes sociais e mesmo em alguns poucos e corajosos jornais, creio ser conveniente considerar algumas hipóteses que exporei abaixo, para que todo o sofrimento atual não se resuma a um simplório desejo de vingança o qual, uma vez satisfeito, concederá ao vigente e perverso sistema, a permissão de manter-se no poder.

Audace, audace...toujour l'audace...

Antes de mais nada não podemos esquecer que um projeto de poder dirige o Brasil. A esquerda jamais elaborou ou mesmo preocupou-se, verdadeiramente, com qualquer coisa que lembre um projeto de governo. O que a motiva não é o "governar", e sim "o poder" puro e simples.

Por mais que malabarismos filosóficos e ideológicos se esforçem em divorciar o socialismo, a centro-esquerda ou o progressismo do carnívoro comunismo marxista, todas as vertentes tem em comum os genes da revolução e do exercício arbitrário do poder. Ainda que existam bibliotecas colossais de obras redigidas com o fim de impor a crença em tal divórcio - como fossem ideologias diferentes - a simples constatação sobre sua origem em comum e de assumirem classificações como "ideologias" já serão suficientes para que os mais avisados enxerguem o verdadeiro valhacouto de sociopatas, que são tais pensamentos¹.

"Ganhar eleições é uma coisa, ter o poder é outra", disse recentemente um dos membros da Junta Ditatorial, que hoje nos governa.

Tal poder não foi obtido nas urnas, por mais obedientes que as mesmas sejam. O mesmo é oriundo de uma longa preparação, de anos intermináveis de aparelhamento ideológico estatal, institucional, religioso e do sistema de ensino, sempre amparados pela então única voz da verdade, a grande mídia: "se deu no jornal, então realmente aconteceu" - este foi o pensamento dominante do povo de qualquer país até o advento da internet, que extinguiu tal monopólio.

Ainda assim, temos diante de nós o assustador - e sempre ignorado - quadro de um sistema de opressão verdadeiramente escravocrata, composto por personagens terríveis e poderosos, alguns deles enumerados abaixo:

1 - Sistema de ensino;

2 - ONG's;

3 - Movimentos sociais;

4 - Instituições (governamentais, igrejas, etc.);

5 - Crime organizado internacional;

6 - Metacapitalistas (George Soros, Klaus Schwab, Bill Gates, etc.);

7 - Grande mídia, indústria cultural e do entretenimento;

8 - Obediência a "blocos de poder" (Globalismo, Eurasianismo, Califado Mundial Muçulmano).

Discorrer sobre o aparelhamento do sistema de ensino, das instituições, ou mesmo a respeito das interferências da grande mídia e dos metacapitalistas em nossa realidade nacional seria chover no molhado, já que muita gente boa já denuncia tais ações e personagens - sem jamais, entretanto, ligá-los diretamente à um sistema de poder, composto aqui no Brasil por partidos políticos, traficantes de drogas e um descapilarizado e atrevido cidadão togado, que ora ocupa o centro de nossas atenções. E isso é preocupante, sempre me fazendo questionar as razões de não unirem os pontos. Medo? Prudência? Ou simplória ignorância?

Posso, entretanto, comentar sobre outros atores - sempre esquecidos ou subestimados - do horroroso cozido citado, e cito aquilo que a blandícia jornalística costuma chamar - apoiada por políticos - de "sociedade civil organizada": as ONG's e os movimentos sociais, colocando-os juntos por serem, ao fim e ao cabo, apenas seis e meia dúzia - ou seja, a mesma coisa.

Ligando os pontos

Ambos adotaram com sucesso o princípio criado por Karl Marx e sua fantástica droga sintética chamada Ditadura do Proletariado: a tese é levar os proletários, o povo, ao poder. Entretanto, evidentemente seria uma temeridade convocar toda uma população para decidir sobre os mais comezinhos atos administrativos e, por isso, seriam instituídos os "Comissários", que representariam toda essa choldra de gente chamada "povo", e decidiria por eles - até aí, nada diferente de uma Câmara de Deputados, com exceção do fato de que os mesmos seriam escolhidos pelo "chefe dos Comissários" - sim, pois haveria de ter alguém que coordenasse tudo! - e que tanto o chefe quanto seus subordinados jamais seriam substituídos, afinal, eles eram "o povo no poder"!

A "sociedade civil organizada", seja em ONG's ou em movimentos sociais, funciona exatamente da mesma maneira: exibe-se uma cenoura diante do burro (oferece-se uma proposta ou ideia tentadora, que represente vantagens financeiras ou atenda a idiossincrasias pessoais) e recruta-se, deste modo, milhares de pessoas - agora finalmente chamadas de "povo" - para, através de seus altos níveis de adesão, conferirem à proposta um peso numérico, uma "expressão da vontade popular" agora já recheada de peso político, peso este representado unicamente pela quantidade - nunca qualidade - de pessoas apoiadoras.

E então caímos no mesmo problema dos marxistas primatas - perdoem, primitivos - sobre quem, afinal, coordenará tudo isso.

Ao fim de todo o engôdo, entidades representantes da "sociedade civil organizada" acabam por ser pura e simples massa numérica de manobra, nas mãos de um indivíduo ou pequeno grupo, que as utiliza para a obtenção de seus propósitos pessoais ou corporativos sob a capa de "vontade do povo" e que, tal qual os antigos comissários, jamais sairão de seus postos de comando.

Tal e qual são as ONG's, com pequeno e perigoso diferencial substanciado pela possibilidade de apoio financeiro de governos, grupos privados e a concessão - obtida destes mesmos governos financiadores - de atuação monopolística e verdadeiramente feudal sobre áreas cada vez maiores e mais importantes do território nacional.

Ora, tanto o governo quanto os grupos econômicos (mal distinguem-se uns dos outros, em nosso capitalismo verdadeiramente fascista²) são a última instância diretiva de tais organismos, e os utilizam para a consecução de seus objetivos - a instituição ou consolidação de um sistema ditatorial de poder, por exemplo. A grande mídia, por fim, encarrega-se de transformar tal teatro de marionetes em "apoio popular" às mais abstrusas formas e métodos de governo, sempre escoradas em "pesquisas de opinião pública" ou na cobertura descaradamente favorável a eventos, "protestos" ou manifestações de tais grupos. E se você não consegue enxergar pontos de contato com sua realidade cotidiana, lembre-se da "associação de bairro" de onde você mora (e seus apoios ou repúdios velados a determinados entes políticos) ou das ONG's sempre assíduas em frequentar matérias do Jornal Nacional (por vezes até com o cantor Sting visitando indígenas em uma área onde brasileiros não tem permissão de acesso e que, por coincidência, são riquíssimas em minérios ou biodiversidade) e descaradamente louvadas por emissoras de TV, políticos esquerdistas e até levando índios para protagonizarem danças rituais com nosso conhecido Ovo Togado.

Seria demais especular se alguns indígenas (humanos, demasiadamente humanos, diria Nietzsche), de algum modo favorecidos, impusessem uma contrapartida na dificuldade de atuação da Polícia Federal em suas reservas? Afinal, nem só de aviões vive o tráfico de drogas e o mesmo - basta ver no site do Foro de São Paulo - é figura atuante e poderosa na geopolítica da América Latina.

Descendo um pouco o nível, não apenas na geopolítica da América do Sul, mas igualmente em nossos desejos eleitorais verde-amarelos - afinal, não só financiam partidos políticos brasileiros como - verdadeiro troféu - podem exibir conhecido careca como um de seus (ex?) advogados, e estou falando do PCC.

Nosso buraco é mais embaixo

Parece que agora sim, temos finalmente um ponto de contato entre tanto palavrório intelectualóide e nossas desgraças cotidianas, e se o leitor viu sentido nisso tudo, será forçado a admitir que as verdadeiras forças por detrás da tirania suprema que nos aflige é o tráfico de drogas, o Foro de São Paulo, e tudo isso secundado e comandado - acirrada disputa - por globalistas e eurasianistas, ampla parceria que vai de Vladmir Vladmirovicht Putin até George Soros e Bill Gates, dando antes uma passadinha na mansão de Pablo Escobar e do Cartel de Los Soles.

Pergunta pornográfica: e onde entra o Ovo, nisso tudo?

É pública e notória a clamorosa perda de poder da esquerda no Brasil, iniciada por Olavo de Carvalho e endossada por Jair Bolsonaro - não há como contestar ou combater, dentro dos limites da razão. E isso desagradou (leia-se "deu um baita prejuízo, perderam bilhões de dólares") aos grupos que sempre ocuparam o poder em nosso país. Tais grupos lá estão desde a instauração desta infeliz República e não seriam quatro míseros anos de Bolsonaro - ainda que fortemente amparados por, ao menos, dez anos de um Olavo de Carvalho furioso, tentando abrir os olhos tupiniquins - que os removeriam de lá.

Estes grupos e seus sócios internacionais não podiam mais contar com um ex-presidiário, alcoólatra em fase terminal, cuja única arma era o apoio popular - ainda que metade do mesmo fosse fabricado pela mídia. Era preciso achar alguém que, diante da impossibilidade racional de vencer por argumentos, impusesse pela força e brutalidade os meios necessários para mantê-los no poder - e o senhor Michel Temer criara, em seu castelo na Transilvânia, o monstro necessário para tal tarefa, colocando-o no Supremo Tribunal Federal - local preparado adrede por pífia, confusa e marxista Constituição Federal, parida por cripto-comunistas contumazes como Ulisses Guimarães e Tancredo Neves, que impunha o parlamentarismo (soviete) em presidencialismo, sem sequer corar com isso.

Mais que corajoso, o Ovo é louco. Verdadeiro sociopata com delírios de grandeza, ostenta como pior de seus defeitos a pretensão absurda - gerada pela sempiterna bajulação do poder - de chegar à Presidência da República, mas nunca pelos meios tradicionais. Não, o Ovo é louco, quer o poder absoluto e metade de sua audácia temerária é o caminho que traçou para chegar ao trono via "estado de exceção", e lá permanecer ad nauseam.

De fato, temos um caminho já traçado para nos preocupar: ele controla o STF, controla o TSE e suas urnas mágicas, controla os meios de comunicação (agora o Judiciário premia a TV Globo com um troféu, pelo seu engôdo do 8 de setembro) e controla - via processos engavetados - políticos que vão de deputados até o Presidente da República, sem esquecer os presidentes do Senado e da Câmara.

Mas, como eu disse anteriormente, o Ovo é louco e passou dos limites.

O fato de ter um Bill Gates, um Mark Zuckerberg e seu Facebook, WhatsApp ou mesmo YouTube como parceiros de ditadura mexeu com seu frágil equilíbrio emocional, e passou a entender os mesmos como "submissos à sua autoridade". Daí a fazer tábula rasa e considerar Elon Musk como apenas um "rebelde birrento, merecedor de uns corretivos", foi um pulo.

Ainda é cedo para dizer se este pulo quebrará as pernas do Ovo e se o mesmo será defenestrado do STF, mas é importante lembrar antes do inevitável carnaval, subsequente à queda do descapilarizado, que ele é (ou foi?) apenas um mero instrumento - enlouquecido pela soberba e planos pessoais, é verdade - de um sistema infinitamente maior e sua queda, nem de longe, significará o fim desse sistema. Existem outros para ocupar seu lugar, alguns com apetite evidente - tal como Flávio Dino - e se o impeachment vier a acontecer, o máximo que veremos é uma guerra interna de quadrilhas: o calvo PCC sendo obrigado a dar a vez a um CV cada vez mais obeso.

Putin, Kin Jon Yun, George Soros, Bill Gates, Zuckerberg, Ford Foundation ou mesmo a Escola de Frankfurt se resumirão a assinar o cheque do FGTS do careca e vida que segue. Tudo como dantes, no quartel de um Abrantes positivista, carreirista e venal, cuja única função é pintar meio-fios.

O Brasil tem tudo o que o mundo inteiro precisa, desesperadamente. Existe todo um sistema poderosíssimo, enorme e podre, que precisa ser derrubado - e dificilmente faremos isso dentro das quatro malditas linhas da maldita Constituição.

Pense nisso, antes de comemorar o Ovo caído.



Walter Biancardine

(1) - Toda e qualquer ideologia apenas reflete os desejos e opiniões de uma pessoa ou grupo, sobre não apenas a forma de governo vigente como, inclusive, seus padrões morais e valores. Ora, aqueles que não se adaptam ao meio social vigente são catalogados pela medicina como sociopatas. Esta é a grande diferença do conservadorismo, pois não é nem nunca foi ideologia: é apenas o resultado de milênios de convivencia do homem, em sociedade. O que é bom, preserva-se. O que é ruim, modifica-se.

(2) - O capitalismo fascista é, infelizmente, o adotado no Brasil desde o advento da "redemocratização". Consiste no conluio entre governo e grandes grupos - até com troca de funcionários entre eles - e o recebimento de benesses e privilégios, em troca de financiamento de campanhas e etc, inclusive vedando o crescimento de novas empresas via impostos, excessos trabalhistas e outras armadilhas legais. Hitler o criou na Alemanha, mas é amplamente adotado em muitos países emergentes. Quem não se lembra, no Brasil, de Lula e seus "Campeões Nacionais"? (JBS, Friboi, Odebrecht e outros)







FAZUELI, CABO FRIO!


Nas últimas eleições para prefeito, havia um empate. Eu estava com as pesquisas na mão e via isso. Mas no último momento, houveram "boatos" que volumosa "pasta" havia chegado às mãos do partido ao qual falecido cidadão, candidato, era filiado e o mesmo, para surpresa de ninguém, venceu o pleito.


Tal partido é filiado ao Foro de São Paulo - entidade supranacional que congrega ditadores, traficantes de drogas, crime organizado e ONG's milionárias - e, em seus quadros, havia um candidato à Presidência da República. Sim, um pretendente conhecido por seu destempero e por um irmão que tentara passar em cima de outras pessoas com uma retro escavadeira.

Este narco-partido precisava da vitória em Cabo Frio, para que os dinheiros da prefeitura impulsionassem seu candidato em Brasília. Todos sabiam, todos foram avisados e sabiam, principalmente, não apenas do triste estágio terminal de seu prefeito doente como de sua única e financiadora função à frente de nosso município. Todos sabiam, e nada fizeram - pelo contrário: a esquerda, sempre refém de seu epicurismo incurável, festejou sem pejo.

Mas a esquerda é o refúgio ideológico das ditaduras e sempre - sempre - volta-se contra si mesma, quando os "contra pesos" não são mais necessários. E o artista Caó (pouco importando em quem votou mas, como artista, sempre esquerdista) foi a mais recente vítima.

Longe de mim pretender abordar a obsessão financeira característica de todo esquerdista, superior a de qualquer capitalista, mas o fato é que agora o pobre artista caloteado chora.

Tal qual o pobre povo cabofriense chora com os resultados da passagem de falecido prefeito pela cadeira mais importante da cidade, e chora mais ainda pela presença insípida, inodora e incolor de sua vice - alçada ao cargo após o falecimento mais que previsto (embora sempre triste e doloroso) do titular do cargo.

Não adianta chorar, Cabo Frio. Não adianta chorar, esquerda demoníaca. Vocês plantaram, vocês colheram.

A única coisa que resta ao povo de Cabo Frio é mostrar que não tem compromisso com o erro e pensar, cuidadosamente, em quem votará nas próximas eleições. Não reclame que nossa cidade está um lixo, ela é fruto de décadas de governos esquerdistas. Tenham vergonha na cara, libertem-se desta "síndrome de Estocolmo" e votem no que é certo.

Quanto ao pobre Caó, uma dica: a boa arte vende-se sozinha. Esqueça o mecenato dos governos.

Isso é doença esquerdista primária, conto do vigário gramscista, e você caiu.

Exponha suas obras e venda-as a particulares. O dinheiro privado é sempre mais honesto que os dinheiros públicos.

Walter Biancardine



domingo, 31 de março de 2024

REFLEXÕES DE UM DOMINGO DE PÁSCOA -

 


A Páscoa possui um significado particularmente marcante para mim, pois nesta data batizei-me tardiamente, puxado pelas orelhas por Santa Therezinha de Lisieux.

Mais que limpar-se de uma vida de erros, o batismo – tal qual o domingo pascal de hoje – representou um real renascimento para mim. Mal compreendido por uns, gerador de expectativas frustradas para outros, esta ressurreição pessoal custou-me um preço exorbitante, doloroso, mas vejo por fim ser impossível arrepender-me.

Vivendo este dia, cujo significado pessoal reputo possuir algo além do usual, achei-me particularmente disposto a escrever, produzir artigos e exercer o simples desejo de contribuir para que outras pessoas compartilhem pontos de vista e observações que considero importantes. Se para mim funcionou, talvez funcione e ajude outros igualmente.

Os mesmos seguem abaixo.


A POBREZA TEM SOLUÇÃO?

Um problema insolúvel não é um problema, é uma contingência.

O "problema social", "problema da pobreza", tudo isso é histórico e contingente à condição humana.

Políticos, filósofos, intelectuais e mesmo setores da igreja que conclamam "soluções", ou dizem possuí-las, para tais questões - apresentadas como "problemas" - não são nada além de fraudes, aproveitadores carreiristas ou singelos proclamadores de sua própria ignorância.

Quando não há solução, sempre restará a misericórdia.


SEM TÍTULO -

Neste domingo de Páscoa lembro que, ao menos por três dias, Nietzsche esteve certo: "Deus está morto", escreveu.

Até o mais miserável dos pecadores merece a misericórdia.

Agnus Dei, quis tollit pecatus mundi, miserere nobis.

Kirie Eleison


SEM TÍTULO II -

É fácil compreender o mundo e solucionar todos os problemas quando somos progressistas.

A causa é a burrice apoteótica do marxismo, que a tudo simplifica, dividindo conflitos em "nós" e "eles" e tornando tudo palatável, com "figurinhas para colorir".

Apenas a mais reles semântica.

O esquerdismo é burro.


A Palavra de Deus - A Revelação:

As Escrituras e a tradição da Igreja, ensinando ao longo dos séculos o que não está registrado nas Escrituras, compõem a Palavra de Deus, ou seja, a soma das Escrituras e da tradição é a Palavra de Deus.

O Magistério da Igreja Católica é o intérprete legítimo disto, e este é o tripé da Igreja e da fé cristã.

Ora, a teologia se extrai a partir deste Magistério mas, por razões outras, iniciou-se um movimento para se obtê-la a partir de outras óticas. E estas outras óticas podem ser as mais diversas e absurdas possíveis, tais como vê-las sob o ponto de vista dos pobres (teologia da libertação), dos gays, dos gordos, dos sem-terra e por aí em diante; tudo que fomente uma reflexão que quebre com a tradição será válido.

Um exemplo claro de tal pensamento - que fizeram de padres meros "coaches" motivacionais ou militantes ideológicos - é a "Campanha da Fraternidade 2024", elaborada por um sindicato de padres militantes chamado CNBB.

Quem se der ao trabalho de ler tal publicação, incansavelmente anual, verá que mais parece uma cartilha do PSOL, em suas exposições.

Hoje, é público e notório que a CNBB é o marxismo dentro da Igreja e que é dever, obrigação do verdadeiro católico, denunciar, combater e demonstrar publicamente seu repúdio à estes elementos - travestidos de sacerdotes - para sanear a Igreja.

O próprio Santo Tomás de Aquino já conclamava os fiéis a este bom combate, dizendo que "toda reação, se destinada a restabelecer a verdade, não só é correta como necessária.

Quem realmente possui algum estofo intelectual saberá que somente salvando a Igreja Católica, salvaremos o Brasil.


MISSA NÃO É FESTA -

Aplauso em uma missa, não importam as razões, é estupidez qualificada.

A missa é o ato de reviver o sacrifício de Jesus. Ora, e quem - fariseus à parte - aplaudiria o Cristo crucificado?

Não à toa as missas tradicionais (missas tridentinas, recomendo) tem, como única música, um soturno e transcendente órgão - nada de violões, baterias ou palmas.

Lembro tudo isso para manifestar minha estranheza, ao ver o padre de minha cidade conclamar os fiéis a aplaudirem o Cristo ressuscitado.

Pouco importa sua boa intenção: o estimado sacerdote esqueceu-se do caráter sacrificial desta liturgia, cedendo - na melhor hipótese - à postura de "coach motivacional".

Recomendo aos que me leem buscar, no Google, as igrejas de rito tridentino em seus estados.

É rezada em latim, segue a liturgia pré Concílio Vaticano II e o sacerdote está de costas para os fiéis, nunca para o altar de Deus.

Entendam: não se trata de condenar iniciativas como a Renovação Carismática, este é um outro assunto e merece artigo à parte. O que intenciono é vacinar o irmão católico, mostrando como é a liturgia tradicional, e imunizá-lo contra as inovações ce-ene-be-bistas (CNBB) que contaminam muitas paróquias em nosso país.

Irmão católico, salve sua igreja e você salvará o Brasil.


SOBRE COMO UM PRÉ-CONCEITO PODE ATROFIAR O PENSAMENTO -

Jamais escondi minha admiração e dilecção pelo filósofo francês Jacques Maritain.

Pensador profundíssimo, fui por ele cativado tal qual um leitor deixa-se seduzir pela capa de um livro, e a publicação que me chamava atenção era sua orientação tomista, pois Santo Tomás de Aquino – creio que todos sabem – é um dos objetos perenes de meus estudos. E este foi o pontapé inicial, para que eu mergulhasse em suas obras e pensamentos.

Portador de orientação católica, as obras deste filósofo influenciaram o conceito europeu de Democracia cristã – um conceito amplamente discutível mas que eu, em minha inocência intelectual de simples jovem dos anos 80, nada via de mal – pelo contrário.

Maritain escreveu mais de sessenta obras e é considerado por alguns como um dos pilares da renovação do pensamento tomista no século XX – o que não consigo concordar plenamente – e por outros, como inspirador ideológico das democracias cristãs na América Latina. Talvez nisto resida a explicação para a difusão de muitas obras suas, em um Brasil particularmente avesso à filosofia e cultura.

Segundo sua biografia, o filósofo nasceu em Paris em 1882, num ambiente familiar republicano e antiliberal, e morreu em Toulouse, 1973. Seus pais, Paul Maritain e Geneviève Favre, não o quiseram batizar – uma estranha coincidência com vicissitudes de minha própria vida, que tive de batizar-me de motu proprio.

Maritain estudou Filosofia na Sorbonne, onde prevalecia uma orientação positivista e ateia, pouquissimamente recomendável para a formação intelectual de qualquer pensador. Em Heidelberg conhece o poeta Charles Péguy e Raissa Oumansoff, uma imigrante judia cheia de intensa inquietude pela verdade, com a qual contrai matrimônio civil em 1904 em Berlim.

Maritain não encontrou no cientificismo da Sorbonne, onde estudou, as respostas para as suas inquietudes existenciais, o que o fez sintonizar-se com a aflição existencial de Raissa. Ambos decidem se suicidar – um comportamento explicitamente existencialista – mas, seguindo o conselho do seu comum amigo Peguy, o casal segue cursos com Henri Bergson, e apreendem dele o "sentido do absoluto", que será incorporado na peculiar metafísica "maritainiana". Trajetória estranha e arrítmica, que ora decide dar cabo de suas próprias vidas e, logo após, embrenham-se em cursos e aprendizados filosóficos.

Mas tarde conhece Leon Bloy, que o aproxima da Igreja Católica a ponto de converter o casal ao catolicismo e se tornar seu padrinho de batismo.

Acontecimentos posteriores levaram-no a se tornar um ácido crítico ao partido Democrata Cristão – quase uma obra sua – preferindo a criação de um movimento democrata-cristão que transcendesse os três partidos católicos franceses, local que adotara para viver. Seu pensamento teve profunda repercussão na América Latina, onde o "maritanismo" foi importante para as democracias-cristãs, mãe parideira de teatralidades políticas tais como Fernando Henrique Cardoso, PSDB e outras tristes lembranças – ainda ativas, contudo – na cena política brasileira.

Entre os autores influenciados por suas ideias estão Gabriela Mistral, Victoria Ocampo, Esther de Cárceres, Alceu Amoroso Lima, Gustavo Corção e Mário de Andrade – e esta breve lista nos fornece mais uma explicação para a difusão de seu pensamento em nossas terras.

O pensamento de Maritain provém de espírito positivista da Sorbonne e isso, entretanto, não me impediu de admirar a profundidade intelectual deste filósofo. O fato é que, após seu encontro com a filosofia de Bergson, na França, ele recupera suas esperanças na metafísica e a constrói, em seu modo sui generis.

Graças a sua esposa – paradoxalmente uma judia – e a Charles Peguy, conhece a Leon Bloy e se converte ao cristianismo, como já disse. Mas, neste contexto, conhece um dominicano (Padre Clérissac) que o aproxima da obra de Santo Tomás e, posteriormente, de Aristóteles.

Vivendo na França, cercado de todos os venenos filosóficos que o século XX fartamente produziu e de alguns de seus autores, encontrou naquele ambiente várias heresias: o modernismo, a teologia liberal, o personalismo e o pensamento social entre outros, além da alarmante iminência da eclosão da Segunda Grande Guerra. O período entre as guerras – Primeira e Segunda – é muito carregado de questionamentos da realidade e de procura existencial mas, tendo enfim se aprofundado na filosofia, estaria destinado a influenciar a ideologia da democracia-cristã.

O propósito deste artigo é mostrar, para aqueles que me seguem, que é possível divergir sem abominar e que existem alguns poucos autores, dos quais é sempre possível extrair contribuições e acréscimos, na construção de nosso intelecto, sem que venhamos a adotar seu pensamento na integralidade.

Em um momento excessivamente dualista como o que vivemos, onde a realidade é apresentada como binária – bem contra o mal – será pouco provável algum progresso intelectual, adotando-se esta postura. E não se trata de dar voz ou palco à "perniciosidades" já amplamente divulgadas mas, sim, utilizá-las discretamente em nosso favor, em nossas proposições dialéticas particulares e que podem – por quê não? - parirem teses filosóficas sadias.

Caso perguntem se recomendo a leitura de Jacques Maritain, responderei tal qual um comercial de bebidas: aprecie com moderação.



Walter Biancardine




sábado, 30 de março de 2024

BEBEDEIRA


Existem homens que passam uma vida bêbados de si mesmos;

Bêbados de suas vontades, de suas birras, de seus mimos e caprichos.

Aparentam lucidez, ponderação e bom senso, mas é a moeda que usam para pagar o próximo engradado de um ego em garrafas.

E seguem os dias de festa, o eterno brinde solitário, até que a sobriedade da desgraça os faça cair - não "em", mas "de" si.

E terão o resto de seus miseráveis dias de velhice e solidão para curar a ressaca de sua existência;

Que se evaporou como álcool. 


Walter Biancardine

quinta-feira, 28 de março de 2024

JÁ DISSE E REPITO: MAIS OLAVO, MENOS OLIVA!

As declarações absurdas do presidente do Superior Tribunal Militar (STM), Tenente-Brigadeiro do Ar e ministro Francisco Joseli Parente Camelo, afirmando candidamente que "a esquerda só quer um Brasil melhor", apenas corrobora toda a longa demonstração do verdadeiro e pernicioso caráter da instrução militar fornecida ao Alto Oficialato, que fiz em meu livro "Mais Olavo, Menos Oliva" https://clubedeautores.com.br/livro/mais-olavo-menos-oliva-2 .

Neste livro, demonstrei claramente o positivismo que empesta a caserna e tracei um comparativo ideológico, através do qual pode-se ver claramente que comunismo e positivismo são consanguíneos. O infame Brigadeiro, de motu proprio, endossou minha tese ao declarar - em tom quase de deboche - que "as pessoas tem mania de pensar que ser de esquerda é ser comunista. Isso não existe. Ser de esquerda é querer um Brasil melhor, um Brasil mais solidário, um Brasil mais próspero, um Brasil que pensa no mais pobre, é tudo isso que a esquerda pensa. Ser de esquerda não é ser comunista e o comunismo, para mim, não existe no nosso País”,

Para aqueles que ainda pensam em Bolsonaro como um covarde, que não soube se valer das Forças Armadas na hora certa, fica o lembrete que as mesmas jamais estiveram à serviço do povo brasileiro - basta ver o golpe de estado em que derrubaram o Imperador Dom Pedro II, amado e respeitado por brasileiros e estrangeiros - e instituíram, de cara, uma ditadura militar.

Para que um próximo Presidente conservador consiga de fato impor o pensamento dominante da maioria dos brasileiros, será necessária uma profunda reformulação, que não cabe neste pequeno artigo - apenas adianto, à título de "spoiler", que a destituição de todo o Alto Oficialato deverá ser sua primeira atitude.

Mais tarde desenvolverei este assunto.


Walter Biancardine