Eu sou o cachorro morto.
Digno de estudos psiquiátricos e sociológicos é o impulso que algumas pessoas sentem em terminar de moer quem já está, publicamente, estraçalhado.
Uns desferem seus pontapés como tardia vingança pelo atrevimento que tive em expor, sem nenhumas reservas, a vida feliz que um dia desfrutei. Outros - não sei se mais ou menos doentes - acertam seus chutes somente pelo prazer sádico de soterrar quem não pode reagir. Em menor número, existem aqueles que agridem pelo simples fato de - mesmo sob tamanha decadência - termos o atrevimento de aparentar um mínimo de dignidade - o que, aos olhos dessa raça, soa como insuportável arrogância.
Nada posso fazer, não tenho meios de reagir sem que minha situação piore ainda mais. Aguento calado, pois, todos os inúmeros e quase cotidianos desaforos e ameaças, respirando fundo e fingindo que não doeu.
Entretanto, sempre bom é lembrar que dor de barriga não dá só nos outros. Os dias passam e tudo pode mudar.
Se e quando isso acontecer, o sangue calabrês falará mais alto. E haverá choro, ranger de dentes; muita gente aos prantos, dizendo-se injustiçada.
Mas somente se e quando o vento mudar.
Até lá, sofro em silêncio.
Walter Biancardine
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