Depois deste artigo, misto de análise e crônica pessoal,
certamente pouco ou nada falarei sobre mim no que escreverei,
futuramente. Entretanto, é necessário que seja – ainda desta vez
– publicado tal depoimento pelo fato de jamais ter escondido
fracassos ou sucessos, e aqueles que me acompanham certamente
testemunharam um longo e doloroso abismo, vivido por mim, nos últimos
tempos.
O mês de fevereiro foi-me particularmente terrível por coincidir
duas rejeições simultâneas em minhas aspirações de trabalho e o
fato, aleatório, de haver buscado o que era afinal o “narcisismo”
o qual, um dia, fui “diagnosticado”. Assim, somou-se à uma auto
estima nanica, desconsiderada profissionalmente, a terrível
“descoberta” de ser um sociopata – verdadeira ameaça,
escondida por trás de uma palavra que jamais julguei ir além da
forma pejorativa de criticar o excesso de vaidade alheia.
Vamos direto ao ponto: decepções profissionais sempre são
ruins, mas não o suficiente para abalar um profissional com décadas
de experiência e – ainda que velado, raivoso – reconhecimento.
Por outro lado, “descobrir” um sociopata habitando dentro de si,
solerte e vitimando a mulher amada – causando mesmo o fim desta
relação – equivale a saber, já na velhice, que todos os
relacionamentos de sua vida foram baseados na tolerância dos outros
para com sua doença – explícita, nociva, asquerosa, mas que
apenas você não a enxergava. Ou seja, você foi alvo da piedade
alheia; possuía amigos e relações apesar de ser quem você é. Uma
farsa, enfim.
Todos sabem de tudo o que me aconteceu, de 2022 para cá: perdi
mulher, casa, amigos, história de vida, raízes, família e fui
morar de favor em uma ilha de nada, cercada de coisa nenhuma por
todos os lados. Essa é a única desculpa que encontro para minha
análise precipitada sobre esta “patologia”, a mim imputada, e
por haver tomado como fontes válidas apenas vídeos de YouTube,
ainda que apresentados por gente que se intitula “terapeuta”,
“psicólogo” ou o que o valha.
Os nervos jamais foram bons conselheiros e ultimamente, mais calmo
após assimilar a pancada recebida, busquei rever toda a longa série
de avisos e advertências, anunciados por tais profissionais, nos
vídeos que tanto mal me causaram.
A primeira coisa que chamou-me atenção foi o fato de 90% deles
ser protagonizado por terapeutas mulheres, e a segunda foi o fato de
tais vídeos – mais que técnicos – serem verdadeiros
depoimentos: testemunhos que, em alguns deles, chegaram ao choro
(!!!), vozes trêmulas e balbuciantes, demonstrando claramente que o
fatal diagnóstico devia-se prioritariamente a mágoas pessoais,
relacionamentos desfeitos, ódios e desejos claros de vingança
destas profissionais contra seus antigos pares. E pouco se me dá a
acusação de “machismo”, pois tal comportamento é, de fato,
feminino. Homens vingam-se de modo diferente: arranjam outra mulher,
compram carro novo e desfilam com ambos na frente da ex.
Como diabos não percebi isto antes? E por que raios uma
profissional expõe-se deste modo, arriscando sua credibilidade e
reputação? E concluí que a grande maioria de psicólogos e
terapeutas abraça esta profissão muito mais pelo desejo de se
compreender do que curar seus pacientes.
A afirmativa acima não deve ser refutada com ódio: a brilhante dra. Ana
Beatriz Barbosa – reconhecida nacionalmente e que não possui canal no YouTube, apenas
participa como convidada – é a prova e modelo de alguém que,
realmente, está no ramo para ajudar e tem substância a oferecer.
Assistindo vídeos nos quais ela participa, percebi a evidente
diferença de tom e ausência de frustrações pessoais em suas
análises – explicou o que realmente é a patologia narcisista, os
diferentes graus que pode alcançar e deixou bem claro que um doente
deste mal, para chegar a tornar-se uma ameaça a terceiros,
certamente apresentará comportamentos destoantes em todas as áreas
de sua vida – indisfarçáveis, os quais certamente terminarão por
fazê-lo ouvir, de mais de uma pessoa, a recomendação de tratar-se,
buscar ajuda.
Incentivado pela serenidade da dra. Ana Beatriz, reconheci o
ridículo de minhas buscas – instruir-me e diagnosticar-me em redes
sociais é o fim da picada, tal como aceitar balizamentos leigos
apenas pelo fato de amar esta pessoa profundamente.
Assim, era hora
de usar um dos poucos dons que possuo – o autodidatismo – e
buscar fontes literárias, sérias e de profissionais gabaritados,
como parâmetro para análises.
Sei do perigo que isto representa, pois pouco ou nada enxergamos
de nós mesmos. Entretanto, os que me acompanham sabem de minha longa
jornada no deserto, no confessionário da solidão involuntária,
enumerando para Deus os poucos pecados que em mim enxergo e
escutando, Dele, os incontáveis que jamais vi. Deste modo, embora
sabedor de minha miopia, percebi possuir uma auto consciência
(ensinada e pregada por Olavo de Carvalho) infinitamente maior que a
média das pessoas, e digo isso sem nenhuma modéstia.
E o que pude apurar? Ora, na respeitavelmente grande e densa
bibliografia consultada (tudo em PDF, por falta de recursos), vi que
as “terapeutas histéricas” das redes sociais não mentiram, ao
revelar os extremos que um doente narcisista pode chegar.
Apenas
esqueceram de dizer que são casos raros, exceções notáveis a olho
nu – mas amores mal resolvidos realmente cegam as pessoas.
Um doente médio (chamemo-lo assim) narcisista é, de fato, uma
pessoa que pode trazer inúmeros problemas a qualquer relacionamento.
Entretanto, todos eles – sem exceção – possuem alguns traços
em comum, dentre eles a certeza de serem criaturas acima da média. E
foi a incapacidade alheia de distinguir entre comportamentos
arrogantes eventuais e a hipótese de eu me considerar alguém
“superior” que, certamente, decretou meu diagnóstico e o fim de
meu casamento.
Nenhum narcisista reconhece sua postura “superior”. Já eu
reconheço – e por vezes lamento tal auto defesa – minha
arrogância pontual: Deus me deu poucos dons: dirigir ou pilotar
qualquer coisa como aviões, motocicletas ou caminhões, aprender
sozinho (suportar a solidão), uma inteligência funcional e o gosto
em escrever. É só isso que tenho e sei fazer em minha vida, nada
mais.
Quem comigo conviveu quando ainda voava, viu meu pior:
definitivamente arrogante, competitivo, desafiador, agressivo no voo
e nas discussões nas cantinas dos hangares, que sempre terminavam em
pancadaria.
Mas resumia-se à isso. Jamais me gabei por suposta inteligência
– e muitas vezes duvidei da mesma, quem me lê sabe – ou por
escrever com alguma competência ou estilo. Mas sempre fui
cabeça-dura: é difícil mudar minhas crenças, opiniões, valores;
uma tarefa quase impossível e que pode conduzir o interlocutor à
fatal suposição de “narcisismo”. Imagine conviver com alguém
assim, em reuniões familiares?
Mas uma coisa é ser um sujeito desagradável e outra, bem
diferente, é ser um sociopata.
O ponto central deste texto é, na verdade, pedir desculpas aos
que me seguem por eu haver cedido ao pavor – descobrir-me
incompetente na profissão e doente da psique – pavor infundado,
agravado por todas as aflições já conhecidas de vocês, chegando
ao ponto de considerar atitudes mais drásticas. Envergonho-me por
tudo o que pensei e considerei, envergonho-me por desabar em uma
fraqueza tamanha, ao ponto de provocar a solicitude de amigos como o
dr. Vitor Travassos. E envergonho-me, principalmente, por esquecer a
ponderação, serenidade e prudência na análise de uma situação –
ainda que explicada (mas não justificada) por minhas misérias
pessoais – que poderia ter me levado a atitudes estúpidas e,
certamente, sem retorno ou perdão.
Havia prometido não mais escrever, não mais opinar, analisar.
Pois neste momento revogo tal promessa.
Os livros, os estudos, a escrita; esta é minha vocação e nela
continuarei. Neste momento, não tenho a segurança de realmente ter
algo a oferecer além de análises, lastreadas não em sagacidade
própria, mas em tudo que aprendi nos livros e com o professor Olavo
de Carvalho – mas já é alguma coisa.
Minha situação pessoal
continua a mesma mas, como dizem, “o que não pode ser solucionado,
solucionado está” e, assim, continuarei tentando contribuir
enquanto tiver um teto para me abrigar e condições mínimas de
vida.
Decidi não mais deixar-me seduzir por sonhos – bom emprego,
casa, carro – nem vencerem-me os pesadelos – sociopatias,
incompetência, miséria e solidão.
Já é tempo de arregaçar as mangas e voltar ao trabalho. O país
inteiro agoniza e, se posso contribuir com um só tijolo que seja, em
nosso muro de combate, assim o farei.
Não mais falarei de mim, nunca mais. Ou serei, realmente, um
narcisista.
É hora de curar o Brasil.
Agradeço a paciência e compreensão de todos. De volta ao
trabalho.
Walter Biancardine