Recentemente dei-me conta do estágio terminal de epicurismo contido em minha obsessão pelo passado. Era meu esconderijo, minha fuga, zona de conforto psíquico, um verdadeiro jardim de Epicuro.
Pus-me a pensar: curioso como, por vezes, nos abrigamos sob o pensamento de filósofos (?) que abominamos. Seriam minhas idiossincrasias um caso clássico de paralaxe cognitiva?
Vejamos:
Em seu livro "O Jardim das Aflições", Olavo de Carvalho discorre sobre a profunda e preocupante impressão que sofrera ter assistido uma conferência de José Américo Mota Peçanha, nos anos 80, versando - e elevando aos píncaros filosóficos - Epicuro e seu pensamento, diante de uma plateia universitária, indefesa e ignorante.
Louvando o escapismo, a fuga aos "jardins de Epicuro, poderia nos permitir encontrar conforto em nossas lembranças e sonhos, negando a realidade ostensivamente - para Epicuro, a realidade era insolúvel, incompreensível e insuportável, por isso deveríamos nos refugiar em um mundo próprio.
Tal pensamento é a antítese da filosofia, pois abstém-se da busca pela verdade primeira e aliena-se em delírios - verdadeira delinquência filosófica que, até nos dias de hoje rende frutos (quem não se lembra de Xuxa repetindo, incessantemente, na cabeça dos "baixinhos": "basta querer para poder!"?
O pensamento epicuriano foi devidamente absorvido pelas esquerdas, em seu desejo de construção de um mundo próprio, uma realidade paralela, e nela vivem até hoje. Esta é a razão da impossibilidade de debate com um esquerdista, pois vive em outra dimensão mental.
Para meu espanto, descobri-me criando um mundo próprio - meu jardim particular epicurista - ao esconder-me e proteger-me no passado obsessivo que me persegue, e que já foi até objeto de livro versando sobre o mesmo tema: "Pretérito Perfeito".
Quando acreditamos em uma coisa mas agimos de modo diverso em nossa vida pessoal, tal patologia é denominada "paralaxe cognitiva", termo criado por meu professor Olavo de Carvalho.
Por isso insisto nos benefícios da meditação em solidão: até nossas verdades mais pútridas acabam por vir à tona.
Walter Biancardine
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