segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

EXISTIRÁ CURA?


Gostaria muito de ter escrito sobre as manifestações de ontem, na Paulista.

Em minha cabeça, teria muito o que comentar sobre os discursos de Silas Malafaia e Jair Bolsonaro, bem como as implicações da absurda prisão do jornalista português, cujo nome me escapa agora. Um vasto campo de análise política e mesmo sociológica, filosófica e comportamental. Isso poderia me render artigos, ensaios, teses, vídeos – lives e etc – e mesmo livros, pois é preciso registrar em papel impresso o que um simples “decreto” do judiciário pode liquidar: a internet no Brasil.

Mas nada fiz, e sequer acompanhei as manifestações – preferi mergulhar em meus aborrecimentos costumeiros de trabalho e alhear-me por completo de tudo o que se passou.

As razões são poderosas e, creio, irretorquíveis: o portador de um distúrbio da personalidade, classificado como psicopata pela medicina e imune à empatia, compaixão ou qualquer espécie de sentimentos que não sejam os relacionados à si mesmo, não possui condições e equilíbrio psicológico para analisar o que seja.

O professor Olavo de Carvalho já alertava que, antes da filosofia, é necessária nossa cura: a mente sã e límpida é essencial para todos os que tenham a pretensão de buscar a verdade e, evidentemente, terem o equilíbrio necessário para distingui-la.

Não possuo conhecimento acadêmico ou mesmo prático para contestar quem me diagnosticou como portador da patologia denominada narcisismo. Tamanha era minha ignorância que, confesso, encarava o termo como um simples adjetivo, pejorativo e referente à alguém extremamente vaidoso e, por vezes, egoísta. Ao buscar inteirar-me do assunto, descobri ser uma doença grave, perigosa à terceiros e verdadeiramente incapacitante para o convívio social, sentimental e – logicamente – uma patologia que anula e invalida toda e qualquer espécie de análise e julgamento, feitas pelo doente.

Não bastasse seu conhecimento acadêmico, quem me diagnosticou – e mesmo recomendou que eu buscasse ajuda de um especialista – foi alguém que privou de um convívio diário de 15 anos comigo, alguém a quem confiei meus segredos, meus medos, minhas esperanças, toda a minha intimidade mais profunda – não, não pode haver engano e a prova foi a maneira como me deixou, obedecendo literalmente um “script” de ações (preventivas, de defesa e auto proteção) que, recentemente, vi em vídeos postados por terapeutas, recomendando-o fortemente como modo de fugir e proteger-se de tal ameaça.

A consciência de minha real situação mostrou-me, claramente, que não tenho – ou jamais tive, o que explicaria minha insignificância no ramo – condições de exercer a profissão de jornalista, analista político ou mesmo escritor. É o fim de uma triste e inglória carreira.

Mantendo esta mesma visão realista sobre a conjuntura de minha vida, portanto, devo cortar quaisquer contatos – por menores e esparsos que atualmente sejam – com quaisquer pessoas de minha família (pois certamente todos já sabem de minha condição), mantendo apenas minhas insistentes tentativas de aproximar-me de meu filho – e não é preciso ser um gênio para saber os motivos do afastamento dele.

Do mesmo modo, devo afastar-me de colegas de trabalho e jamais ter a ousadia inconsequente – e possivelmente até criminosa – de buscar um relacionamento afetivo qualquer, embora minha idade facilite por demais tal decisão.

Finalizando, devo entender que não tenho mais idade para trabalhos braçais. Não faço mais parte de quaisquer mercados de trabalho pela mesma razão e, mesmo a escrita, está eliminada de minhas opções pelas razões já demonstradas acima.

O que devo fazer, então, para ganhar meu sustento?

Não muito: agarrar-me ao trabalho atual enquanto o mesmo resistir e, ao findar-se, tentar a sorte como balconista de lojas de ferragens, material de construção, algo assim. Conseguindo sobreviver a esta etapa e chegando aos 65 anos, poderei tentar requisitar o “Benefício de Prestação Continuada” do Governo – uma pensão de um salário mínimo para quem jamais pagou INSS na vida, o meu caso – e agradecer toda a misericórdia de Deus, que me permitirá alugar uma casinha ao meu alcance e seguir trabalhando até o momento que o Pai me chame.

Este texto não é um exercício de auto piedade ou imbuído de quaisquer intenções, pois não tenho seguidores nesta página e o mesmo não será divulgado em minhas redes – as quais não tenho nenhuma vontade ou intenção de usar. Trata-se apenas de minha velha mania de falar sozinho, que talvez tenha sido a verdadeira causa que me levou à escrita: o diálogo egoísta e auto centrado comigo mesmo, o centro de meu mundo, o mundo de um narcisista.

E tal doença, descobri também, não tem cura.

Continuarei escrevendo por aqui ou andando nos pastos, falando comigo mesmo, nos momentos em que eu sentir necessidade – a eterna e doente necessidade de um narcisista mirar-se no espelho.


Walter Biancardine



Nenhum comentário: