Já quebrei metade dos ossos de meu corpo, e me acostumei a isso.
Perdi meu pai, perdi minha mãe, perdi minha irmã, perdi meu mestre, mal vejo meu filho e me acostumei a isso.
Perdi empregos, perdi minha casa, perdi família, perdi amigos, perdi minhas referências, hábitos, história de vida, e me acostumei a isso.
Perdi ilusões, esperanças, forças, ânimo, e me acostumei também a isso.
A tudo me acostumei, improvisei, adaptei, superei.
Muito me irrita quando percebo-me um sobrevivente, calejado (calcinado?) pela vigorosa surra das consequências de meus erros, a vagar em doloroso prazer por lembranças da cumplicidade que se foi, por sentimentos e desejos que se recusam a morrer.
Se tudo a minha volta morreu, por que esta condenação sentimental insiste?
Por isso busco a misericórdia Divina, desesperadamente ansioso por merecer o purgatório, já que "in inferno, nulla est redemptio".
Só Deus me salvará de um amor imortal.
Walter Biancardine
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