sexta-feira, 24 de abril de 2009

CLICK

ou
“O momento da foto para a posteridade”
ou
“Como reconhecer a hora exata em que rotulam você”

Todo mundo que escreve sobre si mesmo tende a romancear - ou ao menos amenizar um pouco - sua história ou seus vexames, a depender do caso. O que é óbvio, por que ninguém vai sair por aí batendo caixa de suas derrotas ou deslizes.
Quem roubou não vai contar que meteu a mão no que não era seu. Quem corneou não vai contar de sua plantação de galhos em testa alheia e quem soltou um pum em uma festa, cuja autoria foi conhecida dos demais, nunca vai admitir – mesmo com testemunhas contra si – que foi o responsável por abrir uma clareira de gente em seu entorno. Então, ao leitor que se atrever a ler as mal traçadas que seguem abaixo, recomendo filtra-las com a lente preto e branco da realidade carnívora que todos nós conhecemos. Vamos aos contos:

1 – “It´s a long, long highway, baby”

“Já haviam transcorrido mais de nove horas de viagem e o que eu via em minha frente era somente a longa e infinita linha de asfalto cinza poeirento, indicando mais chão a percorrer.
Minhas mãos eram apenas bolhas, de tanto segurar o bendito guidom que vibrava sem parar nos trechos mais esburacados. Meus companheiros de viagem contabilizavam as baixas: três pneus furados que quase os levaram ao chão, uma roda traseira empenada, um tombo de fato, bagagem que se soltava por causa dos trancos daquela infeliz estrada sem fim, a ameaça dos ônibus, carros e caminhões que nunca deram a mínima para quem anda em duas rodas, suor, exaustão, cara coberta de poeira, chuva, sol, frio, calor – todos os climas do mundo em apenas um dia – mas estávamos lá. Pelos meus cálculos ainda precisaríamos encarar mais umas dez horas de estrada até nosso destino, mas mesmo assim nenhum de nós quereria estar em outro lugar ou outra situação. Murmúrios eventualmente se erguiam, reclamações, sugestões que desistíssemos – todas rechaçadas pelo mais poderoso dos argumentos: a consciência exata de estarmos, enfim, vivendo nosso sonho de liberdade.
E a recompensa sempre chega para os que persistem, pois exatas dez horas depois adentrávamos na cidade que traçáramos como objetivo. Felizes, incrédulos com nossa própria façanha e força de vontade, dispostos a gritar para o mundo nosso grande feito.
E os amigos nativos deste lugar se reuniram para nos recepcionar, brindando-nos com uma grande festa onde a alegria da realização não faltou.
Acordamos no dia seguinte refeitos, guindados à posição de heróis, e mesmo afamados por nossa camaradagem travada na recepção – tantos abraços, tantos sorrisos, tantos brindes que a marca indelével e eterna de heróis quase ficou para trás, sobrepujada pela grata surpresa de conhecerem-nos tão humanos e cordatos.”
FIM

TRADUÇÃO (a lente preto e branco)
Com a bunda em carne viva depois de nove horas sentado no quase obsceno selim de minha bicicleta, eu amaldiçoava a hora em que tivera aquela idéia de merda: sair do Rio de Janeiro rumo à Cabo Frio, pedalando.
Para tal mister convoquei (ok, é força de expressão: foram os únicos que aceitaram) dois inconseqüentes em grau tão grande quanto o meu: Ailton, o da Silva, e "ooo meeeeu amiiiigo...Marcelo Marino (é uma brasa, mora?) que em tais funduras expressavam indubitavelmente suas claras intenções de motim, pretendendo jogar-me Serra do Mato Grosso abaixo na primeira ribanceira propícia, além de brindarem-me com epítetos variados e pitorescos.
É bom que se diga que nos idos de 1982 a estrada para Cabo Frio era um caminho de cabras. Via Lagos? Nem em projeto, tinha de ir pela serrinha mesmo. Pista dupla com acostamento asfaltado? Não me façam rir! Era uma tripinha de asfalto – dos ruins – e sem nem mesmo uma mísera faixa sinalizadora pintada. Celulares para chamarmos mamãe em caso de Danôsse? Ficção científica. Graal? Postos de gasolina? Serviços diversos? No máximo um capiau vendendo laranja lima. A estrada era mato, barro, buraco e deserto. E essa era a grande aventura.
Tudo me atraía: para chegarmos a Niterói, tivemos de embarcar com bicicletas e bagagens na barca da Cantareira, Praça XV. Ainda escuro, sob o nevoeiro gelado do fim da madrugada e balançando na proa com os pés para fora, eu sonhava com o dia em que, realizado aquele sonho em que eu me metêra, planejaria outro que tinha mais a ver com ventos e mares – a navegação desbravadora do quase pós-adolescente de recém-feitos dezoito anos.
O fato é que – claro milagre, para tanta irresponsabilidade – conseguimos chegar vivos em Cabo Frio, após dezenove horas pedalando. E lá fomos, realmente, recepcionados como heróis: lógico, três adolescentes sozinhos na enorme casa de meu pai, bar cheio, quartos à vontade e um belo som só poderia dar no que deu.
Vizinhos noticiaram ao Poderoso Waltão, o Senhor Meu Pai, Big Boss, dos ocorridos nas funções contínuas organizadas em nossos cinco dias de estadia sob aquele telhado: um entra e sai de uma corja de vagabundos com cara de maconheiros à toda hora do dia ou da noite, som alto, gritaria, mulheres peladas correndo pelas paredes e, eventualmente, gritando rua afora; violões, birita – muuita birita – desmazelo, comportamentos inadequados aos padrões morais cristãos (tudo provocado por eu ter rifado aquela mulatinha que não lembro o nome, mas o fato é que o empreendimento rendeu-nos numerário suficiente para custear mais umas cinco garrafas de Praianinha e Ki-Suco, para fazermos batidas), entre outros eventos menos lembrados.
Pois o fato é que nada mais importou, após este momento.
Esqueceram-se das dezenove horas, dos riscos, do sonho realizado (isso eles queriam mais é esquecer, mesmo. Realizar sonhos dá uma puta inveja) e só se lembravam da exótica criaturinha que um dia eu comerciara.
E foi aí ( aí: palavra que define e une tempo e espaço) que minha imagem congelou para os que me cercavam: o cafajeste ébrio que rifou aquela dona esquisita.
E assim nasceu Walter, o beberrão.

2 – “O Senhor dos Mares”

“Ninguém brinca com o mar. É uma força da natureza, que pode acolher você, alimentar ou decretar sua morte inapelável, se assim o entender.
Vivo com o mar desde não me lembro quando, mas na verdade só comecei a planejar coisas mais ousadas já quase em idade de me barbear, ao tomar as barcas que ligam o Rio á Niterói apenas para navegar um pouco.
Comprei um dia uma canoa canadense, longa, estreita, bem marinheira, e entendi que era chegada a hora de me aventurar pelas águas salgadas – conhecidas ou não.
Posso relatar um acontecido, digno de nota, ao estrear a embarcação: se deu nas águas da Baía de Guanabara. A bordo, eu, o eterno Marcelo Marino, desprovido de instinto de conservação de si mesmo, e o igualmente infalível Ailton, o da Silva parente do Molusco. O plano era sair da enseada de Botafogo, contornar o costão de pedra e aportar – heróicos e garbosos – nas areias da Praia de Copacabana.Nenhum de nós imaginava o mar grosso que enfrentaríamos, com ondas inacreditáveis que pareciam querer engolir a pobre canoa e mais as correntezas, que exigiram toda nossa força nos remos, para que não soçobrássemos nas pedras da Urca.
Na qualidade de Capitão da embarcação fiz o que pude: incentivei ao máximo meus companheiros, sem um minuto sequer de desistência, até que aportamos – sãos e salvos – nas areias mansas da prainha da Urca.”
FIM

TRADUÇÃO (a lente preto e branco)
Matei muita aula na Barca da Cantareira, e lá imaginava – cérebro bem estrumado, fértil – minha nova aventura pelos mares.
Desisti da faculdade de arquitetura, vendi minha caríssima mesa de desenho e – vagabundo – comprei a tal canoa canadense, uma porcaria irretocável que emborcaria se você tossisse, pois não tinha quilha, era tão estreita quanto uma bunda e tinha fundo chato. Um horror, enfim.Tão ruim que não dava pra remar sozinho e por isso tive de recorrer aos eternos inconseqüentes – Marino e Ailton – para estrear o artefacto nas águas da Urca.
O plano era de uma imbecilidade de dar dó e só não morremos por que Netuno ajudou, pois contornar o Pão de Açúcar é coisa pra barco de gente grande e não para aquela bostinha.
No meio do horror, a cena era a seguinte: ondas catastróficas, uma canoa de merda, três idiotas à bordo – um deles remando com as mãos, pois faltara-lhe remos e sobrava-lhe cagaço – e eu berrando, tresloucado, branco e espavorido: “Rema! Rema, porra! A gente vai morrer, cacete! Remaaa!!!” E para disfarçar o pavor, ainda me atrevi a cantar feito um gondoleiro, berrando impropérios ao mau tempo, gargalhando ensandecido enquanto meus amigos se acabavam nos remos.
Conseguimos voltar. Todos exaustos, borrados e lívidos. E eu, além de tudo isso, sem voz.
Nesse instante, o rótulo eterno, adesivo, se firmou.
E assim nasceu Walter, o atormentado.

3 – “Born to fly”

“Voar é um dom e posso afirmar, sem nenhuma modéstia, que um dia eu o possuí.
Pilotos são uma raça competitiva e vaidosa, e por conta destas características, inúmeras encrencas podem brotar como cogumelos no jardim se você mostrar que ensina urubu a voar.
Me lembro, já em fim de carreira como piloto de testes, de uma demonstração feita para alto dignitário cujo nome não ouso dizer, de aparelhos fabricados por nação pouco amiga mas, forçoso é reconhecer, eficazes.
De um lado, as pérolas da engenharia belicosa alada, empreendendo demonstrações de sua invulnerabilidade com a óbvia finalidade de auferir uma portentosa encomenda governamental. Do outro nós, os outsiders, os coadjuvantes que – voando calhambeques da década de sessenta – evidentemente seríamos todos abatidos triunfalmente pela tecnologia à venda.
A verdade é que o bicho deles era bom mesmo: radares na proa e popa denunciavam a aproximação inimiga à milhas de distância e eram – além de tudo – capazes de engajar estes ecos radares como alvos de suas armas.
E aí? O que fazer? Aceitar o papel de bandido que morre no início do filme ou lembrar que sou brasileiro, não desisto nunca e nunca respeito uma lei, se o objetivo supremo for sacanear alguém metido a fodão?
O caso é que descobri que os tais radares captavam até moscas, mesmo. Mas só se estivessem voando em um nível de vôo ao menos aproximado do deles. E aí veio a idéia: contrariando os procedimentos descritos e aprovados nos manuais, mergulhei, segui rasante até estar exatamente embaixo de uma daquelas maravilhas, apontando o narigão do meu avião pra cima já com o dedo apertando o gatilho.
A telemetria registrou o que, na vida real, faria um belo rombo na fuselagem do sujeito e conseqüente pulverização de sua máquina. O resultado seria – se ele sobrevivesse aos tiros – uma bela ejeção para cair de bunda em campo inimigo.
A façanha resultou em constrangimento geral para as autoridades presentes, mas nada que não pudéssemos resolver na costumeira camaradagem entre pilotos, na cantina da base aérea.”
FIM

TRADUÇÃO (a lente preto e branco)
Vamos direto ao que interessa: a cantina.
A verdade é que entrei lá e já fui recepcionado por xingamentos em língua estrangeira, acusações de roubalheira e desacatos vários por eu não seguir os procedimentos que constam nos manuais, como bom escoteiro que eu deveria ser. Avisado por companheiro poliglota, tive ciência que eles pretendiam invalidar toda a manobra taxando-me de desleal e sujo - como se em uma guerra fossemos todos uns gentlemans.
Gentilmente tentei contra-argumentar mas, em cessando as fundamentações teóricas, a bolacha comeu solta. O pau roncou tão sério que a cantina ficou destruída, teve gente que baixou enfermaria para costurar a cara, cortada de garrafa, e uma queixa contra mim foi formalizada junto às autoridades.
O bom da história é que a manobra foi incluída nos manuais de operação da aeronave.E o ruim é que estou aqui escrevendo essas besteiras enquanto eles ainda estão lá, voando felizes e sorridentes, seus aviões com radar no rabo.
Naquela tarde um novo personagem foi criado, nas mentes daqueles presentes.
E assim nasceu Walter, o anti-social.

4 – “Route 66”

Uma vida inteira pela metade. Uma vida em que nunca pude – ou nunca tive coragem – de ser o que minha alma mandava.
Me obriguei a gostar das noites. Usei ternos e gravatas, cortei o cabelo no padrão, me preocupei com griffes e locais certos para ir. Quis ser um homem de sucesso aos vinte e poucos anos, quando nem ao menos homem – na acepção mais madura da palavra – eu era. Me deixei conduzir por outros, ser influenciado, manipulado mesmo - aquilo que as mulheres chamam de "transformar o seu rascunho em arte-final".
Tive altos e baixos. Muitos baixos, longos, sofridos, traumatizantes, que geraram seqüelas não apenas para mim e que, novamente, me obrigaram a ser e me comportar contra meu íntimo, agindo de acordo com minha penúria, pois um sujeito modesto existe modestamente – quase não ocupa espaço e muito menos dá o que falar.
Tive uma chance de ter dinheiro e joguei pro alto – a OEA.
Tive uma chance de me realizar profissionalmente mas a vida me cortou – a aviação.
E tive uma coisa que poucos podem se gabar: uma segunda chance.
Vivo hoje do jornalismo e da TV. Cercam-me pessoas das mais variadas: Ricos, pobres de marré, poderosos, anônimos, influentes ou doidos de pedra, artistas plásticos, gente que cria, inova e forma - ou crê que forma - conceitos e opiniões.
A vaidade me cerca, mas igualmente a criação e a oportunidade de deixar minha marca neste mundo e isto é o que vale, pois a morte nos nivela a todos por baixo.
Não tenho dinheiro, nem barganho favores com os poderosos. Apenas faço o que gosto e o que sei ser muito competente – e quantas pessoas poderão dizer o mesmo?
Quando minha vida profissional rumou de encontro ao que minha alma pedia, mais um presente do destino: a vida pessoal se resolveu, uma longa história de quase quarenta anos foi finalmente encenada - os quarenta anos de travessia do deserto até a Terra Prometida; os quarenta anos que precisei para aprender a ser gente o suficiente para merecê-la.
Deste ponto em diante, não faria mais sentido ser, agir, me comportar ou me vestir representando um personagem, um estereótipo de consumo fácil para os outros.
Hoje, sou o que sou. Monto em minha enorme motocicleta – o cavalo que me conduz pelos meus sonhos – e sonho sem medo novos delírios, pois a felicidade de existir traz as realizações, invariavelmente.
Os infelizes, os atormentados, estes nunca realizam – apenas pululam no palco armado por aqueles que nunca têm nada a acrescentar em nossas vidas, só o desejo de nos controlar e nos reduzir ao que eles acham como “suficiente e ajuizado” para nós.
Nada, nem ninguém, tem mais o poder de mandar em mim ou nublar minha vida.
Agora sou livre, e diante de meus olhos vejo a estrada.
Sinto em minhas pernas o calor do motor me levando à um destino que certamente É feliz. E o vento em minha cara, por todo o longo caminho, me lembra sempre que estou vivo.
Não é mais hora de morrer. Not yet.

Hoje, finalmente, sou eu mesmo.
Vista o que quiser. Ame quem quiser. Pense o que quiser. Só não faça o mal para os outros, esta é minha filosofia.

Hit the road, Jack!

TRADUÇÃO (a lente preto e branco)
Este último conto não tem tradução. Se você não percebeu a sinceridade nas linhas, é porque já me rotulou.
Mas se viu a diferença, minha Shadow tem garupa e ainda temos muito chão para andar.
Seja bem vindo!

Walter Biancardine é jornalista. E prolixo, também.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Lendas pessoais

É um fato a existência de algo que podemos chamar de “lenda pessoal”. Ela é construída a partir de nossas reações aos acontecimentos, nossa própria interação com o mundo e isso cria todo um folclore – pessoal e intransferível – em torno de seu possuidor.
Mais de três quartos de minha vida vivi sob o signo do “atormentado”, ou mesmo o “maluco”, decorrentes não apenas de meu despudor em gritar minhas agonias íntimas em meus escritos como também oriundos de uma vida – graças à Deus – repleta de acontecimentos, contrastante com o marasmo geral.
Com a mesma sem-cerimônia que eu destilava minha solidão nas crônicas cometidas até bem pouco tempo atrás, eu convocava outros doidos como eu para embarcarmos em uma canoa e remarmos pelo mar até Araruama.
Escrevia versinhos de amor e voava como um demônio pelos céus, senhor de minha inconseqüência e sedento de uma vida que deveria ter algo mais que viciar-me em TV, refrigerantes ou o sedentarismo obrigatório dos que nada arriscam.
O resultado de meus escritos insanos, seja gemendo minhas misérias pessoais ou defendendo meus ideais – pois nada mais falso e cômodo que o ceticismo que esconde a profunda ignorância – criou a pesada corrente intelectual que carrego, e que nunca tive medo de arrastar. Já os frutos da necessidade de arriscar o pescoço resultou em peripécias hollywodianas no Corpo Diplomático, piruetas e encrencas sem fim na aviação de teste além de uma coleção volumosa de anos e anos dedicados à caça, pesca submarina, navegação, motociclismo, surf – isso sem contar as inevitáveis sessões de pancadarias pelos mais diversos motivos – todos relevantes.
Entretanto, o inevitável acontece: a idade chega e somos obrigados a frear o ritmo.
Sem abrir mão de meus ideais e forçado por uma pressão acima de qualquer argumentação, cedi o espaço destinado aos meus vitupérios políticos à um estilo mais leve, bem humorado. Igualmente os gemidos de solidão foram exterminados pelo acontecimento que poucas pessoas podem gabar-se, que é encontrar o amor verdadeiro – eis que a felicidade alheia é a mais profunda ofensa que podemos assoar contra quem quer que seja, principalmente fantasmas infelizes e errantes do passado.
Mas a verdade é que lendas pessoais nos acorrentam à um passado, nos vestem na camisa de força dos personagens - estereotipados e imutáveis por definição - e podem nos condenar a viver situações, sentir e pensar de maneiras que já ultrapassamos. A lenda pessoal nos condena a nunca evoluir.
Sábio Raul Seixas, que propôs para si mesmo ser uma "metamorfose ambulante", e com isso assinou sua carta de alforria.
Venho tentando seguir seus passos.
Juro que tento.

Nota: Esta postagem foi alterada substancialmente, em todo seu conteúdo e intenção, pelo autor entender que desavenças e afastamento geram apenas solidão e tristeza.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Anônimo, teu nome é covardia


Desde que me entendo por gente que enfrento meus desafetos olhando nos olhos.
Me acostumei de tal modo com esta prática que delas resultaram algumas contusões, cicatrizes, fraturas mas - o que é mais importante - nenhuma dúvida sobre meus pontos de vista.
Ultimamente tenho desfrutado da oportunidade de ver um tipo de comportamento com o qual, confesso, não sou muito acostumado: o jeito covarde de ser.
Fico admirado de ver homens feitos e mulheres, ambos teoricamente adultos e maduros, comportarem-se como camundongos em todos os sentidos. Estas espécimes alimentam-se de restos da felicidade alheia e possuem uma digestão esquizofrênica, eis que necessitam deste alimento para preencherem o seu nada interior, mas ao mesmo tempo revolvem-se em convulsões cujos resultados são - invariavelmente - o despeito invejoso vomitado através de recadinhos anônimos, trotes telefônicos tão espirituosos que refletem exatamente a ralé periférica que os serviu de pobre berço, além de outras ações que demonstram o desejo desesperado de infligir qualquer espécie de aborrecimento - mas que, pela absoluta falta de culhões, acaba aborrecendo seus próprios autores que se remoem de ódio ao se saberem covardes demais para um mano-à-mano.
Sejam homens ou mulheres os pertencentes à esta casta de mendigos morais, o máximo que é possível sentir acaba mesmo sendo uma profunda piedade.
Mulheres que não são ninguém, que precisam desesperadamente se apropriar da personalidade alheia para se sentiram providas de uma honra que por toda a vida lhes faltou, gastam mais tempo criando um câncer na alma do que pensando em sua própria e pobre vida. São aquelas mulheres que crêem-se espertas, que vendem o traseiro por um carro, um apartamento ou uma posição social. E recebem em si a devida recompensa de seus erros, a paga de seu mesquinho michê, por elas apelidado "relacionamento": a companhia de um côrno. E qual mulher digna deseja amigar-se com um chifrudo enganado por ela mesma?
Já o homem deste tipo é mais digno de piedade ainda, pois é o retrato falado do recalque: quer falar grosso mas não consegue (somente escondido através de meios de comunicação ou outros artifícios que impeçam o contato cara à cara), quer socar, bater, mas - suprema humilhação! - sabe perfeitamente o quanto é frouxo; quer botar moral, ser o gostosão, mas tudo o que consegue é comprar companhia - seja pagando um drink ou uma casa - e assim segue sua triste vida, sem realizações e apontando um destino medíocre nas fileiras da velhice precoçe.
Realmente, tenho de agradecer muito por ser quem sou, ter o que tenho e, principalmente, quem eu tenho.
Pois tudo foi conquistado como manda o figurino: com atitudes de macho, olhando no olho.
E qualquer dúvida, todos sabem onde me encontrar.

Vovó já dizia: "O que é de berço, só a tumba tira, meu filho"...
Velha sábia, essa...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A favelização do pensamento

Os recentes acontecimentos do bairro Jacaré parecem ter servido de verdadeiro divisor de águas no pensamento da segurança pública cabo-friense; ao menos é o que se espera, aduzindo-se esta conclusão pelas falas das autoridades envolvidas.

A 20ª Subseção da OAB e o Lagos Jornal tiveram pontos de vista convergentes no que se referia ao problema e, principalmente, na necessidade que ambos acreditavam essencial que fosse divulgada: a verdadeira criminalidade por detrás dos números.

Atualmente, entretanto, esta folha observa que a cidade se encontra em uma segunda etapa deste problema e expôs esta crença na reunião do Conselho, através de seu representante que cobria o evento. Pensamos ser necessário, agora, a discussão em torno da questão da “política de segurança pública”, e grifamos isto na reportagem da semana passada, onde expusemos: “A segurança hoje é uma questão de política, e não mais de polícia”, ponto de vista igualmente compartilhado pelo presidente do Conselho de Segurança, Flávio Fontani.

A tal ponto avançou a criminalidade na região que resulta perda de tempo e discussão vazia debater as estratégias policiais ou o estado das viaturas do batalhão. Agora estamos em um segundo tempo e o que urge é a discussão em torno das políticas de segurança pública, que passarão necessariamente pela construção da Casa de Custódia e implantação da Delegacia Legal, além do desdobramento do 25º BPM em mais uma ou duas unidades, com conseqüente aumento de efetivo militar. Tudo isso coroado, é claro, pela óbvia melhoria das condições operacionais da PM, proporcionada pela destinação de um quinhão bem maior do orçamento público estadual ao quesito segurança – carência observada inclusive pelo governador Sérgio Cabral em recente visita à Cabo Frio, coincidentemente realizada no mesmo dia em que eclodiram os tumultos no Jacaré.

Tal é a urgência dos pontos listados acima que mal podem ser discutidos em seu destaque merecido, uma vez que outra questão crucial vem à reboque, já pressionando as atenções para sua gravidade – esta sob única e exclusiva responsabilidade do poder público municipal: a favelização da cidade.

É sabido que a ocupação desordenada do solo gera este tipo de comunidade-feudo, onde o Estado nunca está presente e o crime faz as vezes de assistente social, polícia, tribunal e pelotão de fuzilamento. O processo já é por demais conhecido, estudado, entendido e – pior – praticado em toda a capital carioca e não existem desculpas plausíveis para a sua repetição em nossa cidade que não passem, necessariamente, pela irresponsabilidade e pelo verdadeiro crime contra a dignidade humana e integridade física e material dos cabo-frienses, levado à efeito pela omissão municipal.

Temos hoje 7 ou 8 favelas, todas ainda passíveis de fácil urbanização e permeáveis – ainda – à presença do poder público através de postos de saúde, DPO’s, escolas e outros serviços. Temos também um início tímido de uma escalada habitacional Morro do Telégrafo acima – igualmente ainda resolvível de modo tranqüilo.

O que se observa, entretanto, é a absoluta inércia das autoridades responsáveis por estas providências. Não há por que esperar pelas ações do governo do Estado, uma vez que sua área de atuação é outra e alegar esta razão é pura e simples má fé. Igualmente, estacionar o Governo Municipal na casa da omissão é praticar, com dolo, um crime contra todo e qualquer cidadão de Cabo Frio que não quer viver, ou conviver, com o cenário de degradação social e guerrilha urbana existente na capital, por obra e graça dos mesmos vícios de inércia, apatia, omissão e – quiçá – oportunismo e malícia política que os permitiram nascer, na extinta Cidade que já foi Maravilhosa.

Da Redação


Eu vou beber pra esquecer "môs pobrema"

É com muita frustração, com o orgulho em cacos e com a baixa-estima latejante em agonia que temos de dar a mão à palmatória e concordar com Odacir Gagau: só bebendo, mesmo.

Imagine que o cidadão sai do Rio de Janeiro corrido, sob uma chuva de balas, crente que vai se livrar de todo aquele perrengue que perfaz a triste rotina das grandes cidades – tiros, seqüestros, roubos, furtos, e mais um monte de trambicagens que fazem a alegria dos vendedores de alarmes cariocas – e vem se abrigar em Cabo Frio, o oásis de paz, tranqüilidade, gente amiga, águas transparentes e vento nordeste constante a limpar os ares da cidade.

Pois é, e deu no que deu: já tem gente com saudades do Morro do Alemão.

É Jacaré na cabeça

Mais que um palpite para os corretores zoológicos, a frase acima quer dizer a figura de um imaginário bairro-crocodilo, à martelar nossos crânios com a insistente e irrespondível pergunta: e agora, José ?

- “E agora”, perguntou Odacir, “desce mais uma gelada aí”, gritou o empresário boteco-etílico-crocodilesco-jornalístico, que tem até medo de botar em seu jornal os boatos que correm por aí, dando conta que a chapa vai esquentar no bairro, neste fim de semana.

E assim foi: depois de descer umas cinco dúzias, a gente fica surdo mesmo, e nem ouve os tiros.

Ai de ti, Cabo Frio

Um só batalhão para tomar conta de sete cidades, que vão de Saquarema até Rio das Ostras. Engraçado como acharam por bem separar Arraial do Cabo de Cabo Frio, um município que se a gente gritar no Foguete, respondem lá da Prainha, mas ninguém tem a mesma agilidade pra separar a jurisdição do 25º BPM. Caberiam, com folga, uns 3 ou 4 batalhões novos.

Será que estão tão ocupados que nem pensaram nisso?

No hospício, eu era Napoleão Bonaparte

Todo doido tem essa mania, e nós não poderíamos deixar de ter as nossa, afinal somos completamente insanos.

Só um maluco pensaria que, na prática, apenas 3 rodovias conduzem tudo e todos à cidade e, portanto, bloqueando-as com fiscalização severa, muita arma e droga poderia ser apreendida.

Só um 22 de carteirinha imaginaria em mandar a Guarda Marítima dar uma incerta em tanto barco que entra e sai de nossas águas, afinal – bom maluco que somos – em nossa mania conspiratória, poderíamos achar que indivíduos poderiam estar introduzindo – no bom sentido, é claro – sub-repticiamente, armas e drogas nos porões das embarcações.

Só um completo demente teria a louca idéia de montar uma fiscalização braba no aeroporto, afinal, já dizia vovó: “Cautela e caldo de colega não fazem mal a ninguém”.

E é só por isso que nos conformamos deles não terem feito isso ainda, porque sabemos que eles têm o juízo em perfeitas condições, ao contrário de nós outros, cujos miolos cozinham nas mãos do palhaço já há tempos.

A diferença entre o policial e a Segurança Pública

Tem sido constante os clamores da OAB, na pessoa de seu presidente seccional, Dr. Eisenhower Dias Mariano, as queixas e mesmo denúncias contra a Segurança Pública de Cabo Frio, opinião compartilhada por nós outros do Da Redação.

Entretanto, cabe ressaltar a diferença fundamental entre o policial, o ser humano que veste a farda, e a Segurança Pública, a política estabelecida para manter a sociedade segura e protegida – um dever do Estado.

Salvo as exceções – pois que canalhas permeiam profissões que vão do sacerdócio ao jornalismo – os policiais são homens e mulheres decentes, íntegros e que convivem todos os dias na triste fronteira entre a Lei e a imundície. Não há salário que pague o bastante à alguém para que ele se julgue recompensado materialmente por expor-se, todos os dias, à uma bala na cara. Se alguém abraça a carreira das armas, é por um ideal que o motiva, um ideal que não pode ser pago e sim recompensado pelo sentimento de servir ao próximo e cumprir, com honradez e brilho, o seu papel.

E é difícil um ideal resistir, mesmo sabendo que não há salário que o pague à altura, quando nem ao menos seu papel de homem provedor, de mãe de família, de cidadão digno ele – ou ela – consegue cumprir ao receber as parcas moedas dadas pelo Estado ao fim de mais um mês em que conseguiu escapar ileso, ou nem tanto.

É difícil um ideal resistir quando o ímpeto é agir, mas a realidade não o permite – não há balas, armamento tôsco, não há viaturas e, mesmo se houvessem, não haveria gasolina para as mesmas – e é aí o ponto onde a falibilidade humana se revela nos mais fracos que, sem pretender justificar seus atos, descambam para a corrupção conivente enquanto os mais resistentes procuram outros empregos.

No outro lado da questão está a Segurança Pública, a política de Segurança Pública, concebida no ar rarefeito dos gabinetes refrigerados e blindados daqueles que, na melhor das hipóteses, desconhecem a realidade da terra em que vivem.

Erros são cometidos todos os dias, todos somos humanos, e graças à eles nossos acertos merecem um brilho especial – mas não é o que acontece em determinadas e precisas áreas da administração pública. Curioso tripé: por que será que o ensino, a saúde e a segurança – obrigações básicas de um governo, as quais não mereceriam sequer ser discutidas, pois é o mínimo pelo qual temos direito em troca de nossos impostos – sempre são, de uma maneira repetitiva através das décadas e por todo o Brasil, os pontos mais ridículos, pífios, uma verdadeira piada de mau gosto arremessada em nossa rotina?

O que um governante ganha com um cidadão ignorante? O voto inconsciente?

O que um governante ganha com um ensino e saúde pública precária? O agradecimento generoso dos donos de redes de ensino particulares ou das redes de hospitais privados?

E o que um governante ganha com uma política de segurança deliberadamente ineficiente? A privatização da polícia, sempre sujeita à corrupção e, portanto, transformada em quadrilha de jagunços ao serviço de poderosos?

São as perguntas que escutamos desde a mais tenra infância e que, temo, morreremos todos sem que elas tenham sido respondidas.

Deixo aqui meu mais profundo respeito àqueles que arriscam suas vidas todos os dias, noites e madrugadas, chuvosas, frias ou de lua, para nos proteger: os policiais.

Mas quero deixar bem claro o mais raso desprezo àqueles que brincam com nossas vidas e com as daqueles que as protegem, ao transformarem-nos em meros joguetes de seus interesses mesquinhos de poder, ambição e desumanidade.


Da Redação


See you later, Aligator

Cabo Frio assistiu, pasma, as cenas deploráveis que aconteceram no bairro Jacaré.

A verdade é que os responsáveis pela segurança pública estão perdendo o controle e, o que é pior, sobre uma criminalidade que está longe de dispor do arsenal bélico dos traficantes cariocas. Espremidos entre as pressões que exigem um falso paraíso de paz e tranqüilidade para os turistas e eleitores, e a realidade do cada vez maior número de vítimas desta mesma violência que começam a cobrar com veemência uma atitude decisiva, a Segurança Pública de Cabo Frio estaciona inerte, indecisa e embasbacada, sem saber o que fazer.

Enquanto pensam, a bala come solta.

“Des-imigrando”

O crescimento exponencial da violência na cidade começa a se refletir em um recém-detectado movimento inverso ao que vinha acontecendo durante os últimos anos: símbolo de um Eldorado do petróleo, promessa de vida melhor e com mais qualidade, Cabo Frio somou o desemprego, que persiste sem freios, à violência provocada pela política obtusa de tentar resolver um problema negando a existência dele. O resultado é que já se começa a observar a partida de algumas famílias, expulsas – tal qual o foram de um Rio de Janeiro, por exemplo – pela violência, cujo crescimento suscita muitas explicações, mas nenhuma justificativa é admissível.

Agora a sociedade cobra

Tem sido evidente, em todas as aparições públicas as quais foi chamado, que o Comandante do 25º Batalhão tem, como único argumento a oferecer, as tão faladas estatísticas de criminalidade que, segundo elas, apontam decréscimo da violência.

É um constante e já irritante remexer de papéis, em busca de índices salvadores, números que provem exatamente o contrário que os rios de sangue que são derramados na cidade nos mostram.

Também é notório o constrangimento do próprio coronel, já que certamente ele se vê impelido a pintar um quadro cor-de-rosa que só existe nas cabeças de alguns iluminados da corte. O coronel Adilson não chegou ao coronelato à toa, tem seus méritos, anos e anos de polícia nas costas e certamente sabe muito bem o que fazer para acabar com o abuso de reizinhos do tráfico, como os que têm aparecido por aqui.

Talvez o que falte – muito mais do que solucionar a crônica carência de efetivo e de condições do 25º BPM – seja, finalmente, deixarem o coronel trabalhar.

Ironia do destino

A 25ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil em Cabo Frio reclama, há tempos, sobre o que é mostrado nas estatísticas da criminalidade na região. Seu antigo presidente, Dr. Rulis, foi assassinado e até hoje o caso se arrasta em indecisões; membros da entidade sofrem ameaças com uma regularidade assustadora; denúncias chovem em seus balcões – ao invés de serem feitas nos órgãos de segurança – por medo do quê uma queixa pode representar em termos de represálias e agora um evento, programado para ser realizado no CIEP do Jacaré, obviamente foi cancelado.

Mais do que a segurança das leis, talvez a Ordem precise mesmo é se benzer.

Cruz, credo.


quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Da Redação

A festa da portuguesa

Povo de jornal adora boca-livre e, imprudentemente convidados, fomos todos à festa da Dona Jesuína, brava portuguesa roliça, de braços fortes, caveludos, além de possuidora de grossos, lustrosos e avantajados bigodes, para saborearmos seus afamados “volinhos de vacalhau” além de outros acepipes, tão ao agrado dos gajos que cá escrevem.

Quem também lá estava era nada mais, nada menos que Odacir Gagau – o famosíssimo empresário boteco-etílico-vascaíno-jornalistico, que se entregava – sem a menor cerimônia – à esbórnia e à vinhaça, chafurdando-se na mulataria promovida por Seu Man’el, dono da afamada Padaria Mulata d'Ouro, conhecido como “O herdeiro de Sargentelli” e verdadeiro organizador da função.

O quibe

Foi o que nosso amigo Gagau mais estranhou, entre as iguarias oferecidas por Dom Man’el, eis que não faz parte das tradicionais comidas lusitanas d'além mar e sim da Arábia.

Odacir chamou a atenção do ilustre anfitrião, Man’el que, sem se abalar, apenas abanou as mãos em cima do ovo cor de rosa oferecido: eram moscas.

O vinho, ou melhor, o binho

Já nas mãos do palhaço, Odacir Gagau se abusou com portentosa mulata que fazia parte do show tipicamente português que Seu Man’el oferecia, mas a preciosa já tinha dono: “A pessoa do jornalista tá querendo se engraçar com a pessoa da minha nega?”, perguntou a enorme pessoa de um negão, lá pelos seus dois metros e com sotaque da estiva.

Sem saber direito o que responder devido aos efeitos do álcool, Gagau viu tudo escurecer de repente e, ao que parece, desmaiou. Acordou já em casa, se recuperando e bem melhor. Seus amigos fiéis ainda fizeram-lhe o favor de catar todos os seus dentes, esquecidos na calçada.

A coisa ficou preta pro Gagau.

Seu Man’el e Dona Jesuína

Emocionados com o sucesso de sua festa, o casal declarou para a imprensa mundial que vivia um momento de pura felicidade. Disse Seu Man’el, em seu statement: “Quero agradeceire aos gajos que cá se encontram a me prestigiaire, a mim e aos meus volinhos de vacalhau, ao meu binho e as comezainas, que me foram aos bagos de tão caras que saíram, mas que trouxeram tanta gente cá a Padaria Mulata d'Ouro, pois. Quero dizer que, ano que vem, a festa vai continuaire sendo em minha padaria, mesmo que digam que a faço só para favoreceire aos meus interesses, ó pá”.

De sua cama e sem dentes Gagau apenas comentou: “Enfão, fá”.

A inveja move montanhas

Machucado pelo sucesso retumbante da festa da portuguesa e pelas mãos de chumbo da pessoa do negão namorado da mulata, aquele cavalo, Odacir Gagau fez questão de não perder a chance oportuna da presença da mídia mundial para fazer o seu merchã: “Fra vofê que fá canfado de comer facalhau”, disse ele ainda sem seus novos dentes incisivos, “o negófio agora é curfir o Armafém da Manguafa, onde vofê bebe afé cair”, disse o ressentido e invejoso empresário boteco-etilico-odonto-jornalistico.

E caiu no riçada fampirro transilfânica.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Da Redação

O Ministério da Saúde adverte:
viver é prejudicial à saúde

No tranco, o cérebro pegou e nós outros aqui do Da Redação pusemo-nos a pensar e constatamos que, a continuar assim a grande mídia nos tornará, a todos, irremediáveis hiponcondríacos. Atente o leitor para a seguinte relação, elaborada após uns poucos 15 minutos assistindo as TV’s abertas:

1 – Fumar dá câncer, enfisema, bronquite, impotência, mau-hálito e é fedorento;
2 – A gordurinha da picanha causa colesterol, o colesterol entope as artérias e artérias entupidas matam;
3 – Sal pode causar pressão alta;
4 – Açúcar pode causar diabetes;
5 – Bebidas alcoólicas causam cirrose;
6 – Frutos do mar podem estar contaminados por mercúrio ou outras substancias tóxicas piores ainda;
7 – Frutas, verduras e legumes podem conter agrotóxicos letais;
8 – Andar de moto sem capacete pode ser um prazer, mas você pode rachar a cara;
9 – Ir numa rave, dançar e suar a noite inteira pode desidratar, além de fazer você pegar uma pneumonia com as costas suadas no sereno;
10 – Virar a noite não é bom, pois médicos afirmam que falta de sono causa câncer em mulheres;
11 – Pegar sol pode causar câncer de pele;
12 – Não pegar sol pode causar hipovitaminose;
13 – As drogas matam. E dão cadeia, o que dá quase no mesmo;
14 – Tudo o que você encosta a mão, segundo o Dr. Bactéria do Fantástico, está podre de contaminado. Coliformes, ingrizias e ziquiziras são o mínimo que você pode receber em um simples aperto de uma mão que ninguém sabe onde foi enfiada antes;
15 – Ambientes fechados são um meio propício de transmissão de doenças;
16 – Ambientes abertos contaminam você com pólen, fungos e esporos, que podem desencadear processos alérgicos;
17 – Andar descalço é bom, mas pode dar vermes;
18 – Nadar é bom, mas pode dar hepatite;
19 – Fazer um cooper faz bem à saúde. A menos que você enfarte no meio da corrida e caia morto no chão quente;
20 – Sexo sem camisinha pode dar AIDS, hepatite, sífilis, gonorréia, corrimento, varicocela, herpes genital, estreitamento de uretra e até mesmo pensão alimentícia.

Por isso caro leitor, a triste conclusão que chegamos é uma só:

VIVER É FATAL!

Seja prudente: morra logo!

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Da Redação

Lá vem Obama

Os americanos escolheram ontem o novo presidente da nação mais fuderosa do planeta, Barak Hamilton. Após uma longa e árdua campanha eleitoral, “uma verdadeira maratona”, conforme a mídia americana classificou, Lewis Obama atribuiu sua vitória ao fato de ser filho de um queniano: “Nas maratonas, só dá Quênia”, disse ele.

Lá e cá

Seguro de sua vitória, o senador havaiano pelo estado do Illinois fez um pequeno discurso, dizendo que se "alguém ainda duvida que alguma coisa é possível para os EUA, hoje veio sua resposta. É a resposta que veio das escolas e igrejas, de pessoas que ficaram de três a quatro horas em filas, muitos pela primeira vez", em referência aos eleitores que votaram nesta terça.

Ele falou sobre as vozes que fizeram a diferença, "brancos, negros, hispânicos, gays, héteros. A América manda uma mensagem para o mundo que não é uma coleção de indivíduos, mas sim os Estado Unidos da América".

"Essa é a resposta para aqueles que tinham dúvidas, e eram cínicos acerca do que poderíamos alcançar na esperança de dias melhores (...). Hoje, pelo que fizemos nesta eleição, a mudança virá para a América", disse Obama.

Brasil, sempre o pioneiro

O Brasil precedeu os EUA na imposição de minorias no poder, sentando na cadeira de presidente o ex-retirante, ex-torneiro mecânico, ex-sindicalista e ex-perto Luizinácio, o Lula. Só que, ao contrário do discurso engravatado e sisudo do primeiro afro-presidente crioulo-americano, nosso ex-tadista tropical preferiu uma fala muito mais descontraída, cheia de suíngue e simpatia, mais de acordo com a malemolência do brasileiro: chorou e agradeceu "o primeiro diproma que recebia na vida", que era justo o de presidente.

Devemos, entretanto, parar de considerar diplomas e graduações como quesitos indispensáveis ao homem público. Se fosse assim, estaríamos em clara vantagem, pois o Obama fez apenas uma faculdade, enquanto nosso presidente fez três . Mas ao começar a fazer a quarta, acabou o tijolo.

No cafôfo de Obama

Um bom tema para meditação sobre os novos tempos do mundo foi sugerido pelo inoxidável professor Sepúlveda, em recente artigo: Barak Lewis Obama Hamilton, com sua elegância de Paulinho da Viola do Illinois, será o primeiro presidente negro e crioulo a governar na Casa Branca.

Para pensar no boteco:

"Barak Hamilton só não é hoje um alvo-ambulante porque ele é crioulo. Então é um negro-ambulante"

John Harvey Oswald, neto de Lee Oswald, que acabou de adquirir uma carabina Uzi novinha.

Sem medo de mudanças

A vitória de Barak Obama nas eleições norte-americanas reflete claramente que a mentalidade conservadora, direitista – a “maioria silenciosa” de Ronald Reagan – sucumbiu aos oito devastadores anos do governo mais bronco da história daquele país.

Levado ao poder pela fraude explícita, suspeito de incompetência conivente na catástrofe das Torres Gêmeas e promotor de uma estúpida fuzilaria nas areias do Oriente Médio e que só não se tornou um novo Vietnam por pressão do próprio povo americano, o governo Bush deixa como legado muito mais que uma depressão financeira mundial: sua maior herança será a quase destruição moral dos Estados Unidos.

O pais que, sob a tutela de Bush filho apenas colheu guerras, 11 de setembro, crises e a antipatia mundial, estará agora com seus destinos nas mãos do mais cotado alvo de atentados da história presidencialista mundial. É notória a mentalidade racista que predomina no meio-oeste, e mesmo com a maioria obtida devido também ao buraco cavado por Bush, não é improvável que um candidato a Lee Oswald resolva promover uma eugenia racista no Oval de Washington.

Seja como for, Barak Obama quer dizer mudança. É o grito de ‘basta’, dado pela nação do norte à uma política arrogante e ultrapassada. E Barak Obama, pelo que representa de oposto ao que o americano médio considera como o estereótipo do líder – branco, direitista, belicoso e com postura de xerife – é a versão made in USA de um Luis Inácio Lula da Silva.

Tanto lá como cá o desejo de mudanças refletiu-se nas urnas, mas a experiência brasileira servirá de base para que o primeiro negro na Casa Branca não repita os mesmos erros do primeiro retirante no Palácio do Planalto e descambe para o populismo continuísta.

Mas aí cabe a pergunta: e nós outros com isso? O que temos a ver é que o novo presidente chega cercado por uma aura de esperança, de desejo de renovação como poucas vezes se registrou no passado, e o mercado financeiro sabe muito bem como a simples troca do gestor de uma crise pode produzir saltos positivos em indicadores anteriormente desesperadores e aparentemente sem soluções viáveis.

Trocando em miúdos, um novo alento no mercado financeiro mundial – capitaneado pelo sangue novo – certamente refletirá nas bolsas também do Brasil, gerando o alívio tão desejado por todos, do ministro da Fazenda ao dono da padaria, que compra o trigo cotado em dólar para vender pãezinhos pagos em reais – pãezinhos que são comidos pelo ministro e também pelo pescador que mora na Figueira.

Que Deus, o FBI e a CIA dêem vida longa e saúde ao novo presidente da (novamente) mais influente nação do planeta.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Da Redação

Dia das Bruxas

Uma das mais legítimas e tradicionais festas do puro folclore from Brazil, of course, é o Reloím, que em bom português se escreve Halloween.

O Dia das Bruxas, ou Dia das Barangas, como é conhecido na Comunidade do Churrasquinho na Laje, é um acontecimento que reúne a fina-flor das mocréias brasileiras. Todas cuidadosamente produzidas, radiantes de felicidade por serem lembradas ao menos uma vez por ano. O ponto alto deste tradicional genuine brazilian muquifo’s party são as provas que os tribufús enfrentam, a fim de obterem a coroação de Miss Bagulho 2009. A competição é constituída de diversas etapas, que devem ser superadas pelas xapocas, sempre num crescendo de peso e dificuldades. Vejam alguns exemplos:

A) Pelanca em distância

B) Salto com varise

C) Lançamento de peito

D) Estrias com barreira

E) Sumô, categorias “peso pena – 300 arrôbas, peso leve – 350arrôbas, peso médio – 400 arrôbas e peso pesado, 450 arrobas em diante.

O halloween e a religiosidade brasileira

O Dia do Canhão, enquanto manifestação barango-popular-anti-estética, tem na tradicional religiosidade brasileira uma de suas principais vertentes. O santo mais lembrado no dia é São Jorge, que foi canonizado por ter encarado um dragão assustador que ninguém mais quis, ou melhor, na secura até poderiam encarar, desde que fosse escondidinho lá em Iguaba.

Finados

Não é de hoje que os mortos tem seu dia garantido no calendário. Ao contrário de sua versão pagã, que só acontece de 4 em 4 anos e vem precedido de uma sangrenta liturgia chamada “Horário Eleitoral Gratuito”, a versão católica foi criada por uns padres aporrinhados com os celtas – povo britânico de taxistas que só rodavam com o simpático carrinho da Chevrolet – que insistiam em homenagear as vítimas de suas Bandeiras 2 e voltas desnecessárias pela cidade.

Como todo mundo sabe que dirigir faz crescer a barriga, os taxistas celtas eram conhecidos na antiguidade como os “Cabruncos de Asa”, razão pela qual também se enquadraram no epíteto “Tribufú”. Esta foi a origem da correlação entre o Reloím e o dia de Finados, que tem muita gente boa que insiste em dizer que se “comemora” a data.

A bruxinha que era boa

Mas nem só de tristezas vivem estas datas tão soturnas. A conhecidíssima escritora Maria Clara Machado tem uma sobrinha que é um pitéu, toda gatinha, um xuxú!

A danada tem por hábito praticar artes mágicas, e por isso ficou conhecida por este apelido tão sexy. Merlin, o mago, bem que tentou mostrar sua varinha de condão à ela, mas foi solenemente rechaçado pela diva, que prefere homens sem barba – mesma preferência que a maioria das cantoras de MPB no Brasil hoje em dia, que curtem uma carinha lisinha e peitos grandes.

Da Redação

...E por falar em saudades, onde anda você?

Um dos integrantes da Boca Maldita afirma que, toda vez que escuta Cauby Peixoto cantar, sente até uns arrepios. Pobre rapazinho. Mas o fato é que, saudades do Cauby à parte, no meio jornalístico (no bom sentido, é claro) só se fala em outra coisa: o sumiço de Odacir Gagau.

Nós outros aqui do Da Redação andamos muito carentes da sua presença, de seus escritos completamente insanos em sua tripinha de papel na qual ele debulha seu vale de lágrimas. Como sabemos que ele também sente nossa falta, puxando assunto quando andamos sumidos, mandamos nosso alô para o conhecido empresário boteco-etílico-evanescente-jornalístico: volte para seu vale de lágrimas, sentimos sua falta. Até porque, considerando o salário pago em sua nababesca folha, sustentada por anúncios-vagalume (aparecem ou somem, segundo as conveniências), vale é uma coisa que não deve faltar por lá.

Falando em falar...

Foi o que se viu: as elites encasteladas no Poder desembarcaram de três ônibus com sua farofinha, seu óleo diesel de bronzear, sua bola pra bater pelada e correram – em hordas – pela praia, formando um verdadeiro arrastão de VIP’s de primeiro escalão ocupando, incomodamente, todos os espacinhos nas estações de rádio e TV.

Os farofeiros do Poder batucavam na lataria das rádios e TV’s gritando que com eles ninguém podia e acabaram incomodando o sono de muita gente, inclusive o sono da Dona Justa, que tirava um cochilinho ali perto. Perguntada pelos nossos inúmeros repórteres sobre o que ela achou da confusão, a senhora – que, mesmo deficiente visual e muda, enxerga longe e o que diz tem peso – respondeu de modo lacônico: “Não quero conversa com vocês”

Mau-humor desgraçado, essa mulher.

Hospitalidade

O verão já está pegando o ônibus na Rodoviária Novo Rio e daqui a pouquinho bate ás portas de Cabo Frio, caros co-anfitriões. O problema é que, como todo veranista, o verão é um cara muito abusado e que gosta de bagunçar nosso coreto aqui na terrinha. Vai daí, um dos piores hábitos desta criatura inconveniente é o de, além de só aparecer uma vez por ano, quando vêm passa três meses direto, mexe em nossos relógios e ainda traz aquele amigo chato, o mosquito da dengue.

Precisamos dar um jeito nisso e fazermos com que essa turma bote a cabeça no lugar. Simancol é bom e esse mosquito é um cara muito enjoado. Por isso, antes que eles cheguem trazendo sua farofinha, esvazie as garrafas que você guarda no fundo do quintal; venda aqueles pneus velhos, que empoçam água, pro borracheiro; não deixe a água empoçar naquele vaso em que seu vizinho esquisitão plantou aquela coisa estranha que parece um pé de mamona e, principalmente, fique de olho vivo pra ver se acha algum fumacê rodando por aí, porque eles só gostam de passar onde tem restaurante, pra esfumaçar a comida dos outros e gozar da cara dos clientes.

Um conhecido empresário, careca-restauranteur, disse que vai criar a picanha defumada por conta desses carros. Como diria Odacir, então tá.

Da Redação


Meio ambiente é metade de um ambiente?

Muita gente boa ainda acha que cuidar do meio ambiente é coisa daqueles eco-chatos que proliferaram por aí a partir da década de 80. Desde naturebas que não comiam carne para não maltratar os bichinhos até as ações do Green Peace, marqueteiro que só ele, com muitas dessas intervenções claramente questionáveis – quase com um cheirinho terrorista – aprendemos que pode até ter acontecido algum exagero, do tipo promover um concerto reunindo Sting, Bono Vox e o U2 para salvarem as baleias canhotas do Afeganistão, mas a causa em si é mais que justa: é uma questão de sobrevivência do planeta, e quem não acredita nisso é por pura ignorância.

Uma ótica mais real e palpável

A distância anestesia, é um fato. Ver pingüins besuntados de petróleo após a catástrofe do Exxon Valdez, mesmo sendo uma imagem chocante, não nos causa tanto impacto como vermos, ao vivo e em nossas barbas – ou melhor – em nossas praias e matas, a natureza apodrecer e morrer. E o que é pior: por nossa culpa.

Já há um bom tempo setores da sociedade se mobilizam para conscientizar o público do perigo que objetos aparentemente inofensivos se tornaram, para o meio ambiente. Pilhas, baterias de celulares, garrafas pet ou sacolas plásticas se transformam em verdadeiras placas do pior colesterol, entupindo e sufocando as artérias do planeta após serem descartados. No caso das garrafas pet e das sacolas plásticas, o mundo acaba e elas continuarão lá, indestrutíveis, contaminando, poluindo e enfeiando mais ainda um planeta sem vida.

Selecionando o alvo

Vamos apontar com uma mira mais seletiva: as sacolas plásticas. Além do risco óbvio que elas representam nas mãos de crianças – qualquer plantonista da emergência de um hospital pode atestar a quantidade absurda de atendimentos de urgência feitos – elas se incluem na funesta categoria dos materiais praticamente indissolúveis, isto é, uma vez jogados no lixo lá permanecerão por milhares de anos, sem sofrer alterações significativas com o passar do tempo. E aí cabem algumas perguntas: quantas sacolas plásticas você utiliza e joga fora, por ano? Quase sempre, o destino final destas sacolas é servir de saco de lixo. Pois bem: você conhece o destino final de seu lixo doméstico? Existe algum programa de coleta seletiva ou mesmo de tratamento de resíduas em sua cidade? Será que as lojas e supermercados não poderiam contribuir, adotando outros tipos de embalagens para você carregar suas compras?

Procure saber, pois perguntar não ofende.

Esmiuçando

Nós outros aqui no Da Redação e no Lagos Jornal resolvemos começar a escarafunchar o assunto. Isso não significa que iremos sair por aí vasculhando o lixo alheio em busca de pistas comprometedoras, como os agentes secretos da TV ou de alguns governos, mas sim através de matérias e reportagens sobre o assunto. Vamos levantar dados técnicos, estatísticos, tomar declarações de pessoas relacionadas ao tema, enfim, trazer para você leitor o quadro real que convivemos e causamos todos os dias, com nossas ações ou mesmo omissões.

Da Redação

Fomos despejados, mas voltamos!

Uma coisa que nos magoa profundamente é a intolerância: só porque atrasamos uns poucos 9 ou 10 meses o aluguel deste espaço cultural-edificante-transcendental, nosso senhorio nos despejou assim, de uma hora pra outra e sem mais aquelas. Nossos milhões de leitores, indignados, cobriram as dependências deste jornal de cartas iradas, exigindo nossa volta ao espaço habitual, e só por isso – graças à vocês, leitores! – nosso empedernido senhorio cedeu (no bom sentido, é claro) aos clamores do público e permitiu que voltássemos com nossa Kombi cheia de colchões, armários, cabideiros, estrados e nosso bujão de gás com capa de renda de bilro.

Não tem solução, solucionado está

Como não podíamos nos furtar a veicular nossos vitupérios no dia de ontem, o único jeito foi arrumar um laranja que assinasse uma falsa coluna, onde despejaríamos nossa produção. E foi o que se viu na edição de ontem: pagamos 20 contos e dois maços de Hollywood à um ilibado profissional para que assinasse nosso quebra-galho. Assim, a bem da verdade, é nosso dever informar que o referido cidadão não é o responsável por escrever estes desatinos, e que quaisquer processos não devem tê-lo como réu. O cara é gente fina, não merece isso e nem tem nenhum tostão furado no bolso idem pra pagar indenizações, coitado.

A vaca foi pro brejo?

Assim é a vida, caros leitores: uma grande cópula. Um dia se está por cima, noutro, por baixo – segundo bela definição de Cospe-Grosso, renomado filósofo e dono de botequim do Buraco do Boi. E é justamente lastreado pela sua experiência bovina que o pensador se abalou a tecer considerações e paralelos entre a nossa situação atual e a de conhecidos prefeitos eleitos aqui na região. Vejam suas palavras: “Considerando que o boi baba porque não sabe cuspir e que o cuspe é a dispensa sumária, enquanto a baba é algo assim como um ‘vai ficando enquanto pode’, vocês aí no Da Redação continuem se agarrando neste local privilegiado enquanto puderem, enquanto ninguém vier lembrar a vocês quem é o dono e os expulsem de novo daí, só por causa de uns caraminguás. Igualmente é o que está sendo feito por prefeitos mal-feitos, porém eleitos: vão ficando, ficando, fingindo que nada sabem, pois quem sabe a Justiça esquece. Assim, enquanto uns estão de mansinho, primeiro esquecendo uma calça no quarto, depois trazendo uma escova de dentes e deixando na pia, e por aí vai, outros deram um chá de sumiço – igualmente confiantes em uma eventual memória curta dos homens de toga”, disse ele, e concluiu: “Não vos iludis, pobres mortais, eis que Justiça talha mas não farda e a vaca poderá ir para o brejo: vacum brejus est”, arrematou, brilhantemente.

Amanhã, se ninguém se lembrar de nós, estaremos aqui novamente.

Da Redação


Quem vai pro paredão?

O Big Brother da Câmara de Cabo Frio

Fontes absolutamente seguras do Cartório Eleitoral de Cabo Frio, sem dar certeza, afirmaram que não sabem de nada e, se soubessem estariam na dúvida, sobre a situação de quem sai e quem não sai com a entrada (no bom sentido, é claro) de Bento, o Silas, na Casa Legislativa do município. Segundo um incerto amanuense, que não assegurou nada – muito pelo contrário – o TSE ainda não remeteu um único e miserável processinho pra eles se divertirem. Ficam lá em Brasília, gastando tempo comendo bobagens no Gilberto Salomão ou passeando de toga embaixo da antena de televisão (uma cidade que tem uma antena como ponto turístico não pode ser uma cidade séria!) ao invés de se aplicarem à complicada matemática logarítimo-eleitoral-quântica, que irá definir, juntamente com os telefonemas dos Ministros telespectadores, quem levará o pé supremo, ou melhor, do Supremo – Supremo Tribunal do Bial.

Explicando a matemática eleitoral para todos

Para entender a conta que define quem cederá (no bom sentido, é claro) a vaga para que o Bento Silas a ocupe, basta prestar atenção às seguintes explicações, que são muito simples: Primeiramente cada um no seu quadrado, após o que, basta multiplicar o quociente de eleitores com joanete no pé esquerdo pelo índice já manipulado das estatísticas de criminalidade. Com o resultado, divide-se pela terceira potência elevada ao Viagra, cujo resto será o multiplicador de opiniões introduzidas sub-repticiamente (no bom sentido, é claro) nas urnas fabricadas pela Amy Winehouse Company – que também produz roletas, dados e baralhos, todos viciados, que calcularão – com a ajuda imprescindível daquelas calculadorazinhas que apitam – o número final. De posse deste número, basta fazer a análise numerológica do nome dos candidatos. O que tiver o número igual ou mais próximo, roda.

Existe também uma segunda opção, mais curta, que é o par ou ímpar, mas este não está sendo muito cotado diante da impossibilidade de se introduzir, na soma dos fatores que alteram o produto, os acordos cochichados nos bastidores do Poder.

Notícias que abalam e influenciam o destino do mundo

Juntamente com a sucessão do xerife norte-americano Billy The Bush – que poderá colocar na liderança o primeiro negro, Obama Hamilton, outros fatos de transcendental importância estão por acontecer, e o Brasil pode se orgulhar de ser o palco de vários deles, tais como a origem da crise que derrubou as bolsas do mundo, que foram as especulações do mercado internacional sobre quem sairá – Braz Enfermeiro ou Ruy Machado; ou o desconhecido paradeiro do Eleito do Arraial, ou ainda o destino político de Dona Jura e seus 9 votos.

Um outro acontecimento capital, que abala as fundações do mundo, é a inauguração do banheirinho do coreto da praça, em Cabo Frio. Este é um assunto que preocupa particularmente a Bush, que tem obrado muito na política internacional, ultimamente.

Da Redação


Apertem os cintos, o eleito sumiu!

Aqui na região, só se fala em outra coisa: o sumiço do prefeito eleito de uma cidade vizinha.

Tamanha é a preocupação, a agonia e – por que não admitir – o desespero do povo, que a única coisa que se observa pelas ruas da referida localidade é o povo assobiando de pavor, gargalhando de medo, fazendo compras de preocupação, passeando pelas praias de angústia, paquerando de tensão, trabalhando de paúra ou mesmo dormindo à sono solto, de tão horrorizados que estão.

A Justiça Eleitoral bateu às portas do suntuoso puxadinho do Eleito, em busca de explicações sobre o que ele estaria fazendo de madrugada, escondidinho, pulando o muro de seu programa eleitoral para o do vizinho da outra cidade, calças na mão e intenções inconfessáveis. Atendeu Dona Velhinha, a progenitora do mesmo, que disse que ele tinha saído pra comprar cigarros há 5 dias, mas já voltava, dentro de mais uns 10. Se quisessem sentar e esperar, ela trazia uma água.

O Eleito

Rapaz atlético e saudável, nosso amigo Eleito nem de longe admite que está desaparecido em paradeiro incerto e não sabido. Pelo contrário: em uma sessão mediúnica, ele baixou no terreiro pra comunicar que está tranquilinho, pegando mariongo escondido dentro da Gruta Azul, mode fritar com aperitivo de baratinha dágua e Itaipava bem gelada.

Ele também declarou que seu repouso transcedental se deve ás pressões da campanha eleitoral, a qual, como é sabido por todos, foi acompanhada bem de perto – aliás, de dentro – por um conhecido médico de nossa cidade. Uma junta médica, pra ser mais exato, que garantiu a integridade física de sua mente e o perfeito equilíbrio emocional de seu corpo.

O Triângulo das Bermudas

Já saiu de moda, mas não custa lembrar. Afinal, nem precisa ser eleito para entrar no rol dos sumidos. Tiramos como exemplo Forrest Gump, derrotado em suas pretensões de reeleição em outra cidade vizinha à nossa, que misteriosamente também desapareceu sem deixar sequer o habitual rastro de declarações desastrosas.

Fontes da Boca Maldita dão conta, entretanto, que o mesmo cidadão teria sido visto na Funda, uma localidade onde ele jurava que seria imbatível, raspando o casco de uma canoa de pau. Pé Rachado, conhecido pescador do local, jurou que Forrest Gump tem estocadas em uma palafita diversas tarrafas, todas compradas com dispensa de licitação e com preço simbólico de 5.000 reais cada uma. Mas isso deve ser história de pescador.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Da Redação

São tantas emoções...
Nem tudo são tapas e farpas entre os dois principais periódicos da nossa progressista cidade: Odacir Gagau abandonou seu merecido descanso na Rehab Saint Jack Daniel’s, da qual rumaria direto para o Gantois, e pousou na redação de seu jornal para solidarizar-se com nós outros.
Ao que parece, o jornalista compartilha o ponto de vista de que eventuais aplausos dados pela imprensa à quaisquer governantes devem ser feitos através das páginas de seus jornais, e não pelas mãos ávidas da claque editorial presente à pantomima coletiva da última semana.
Merece nosso brinde.



Es muele o quieres más?
Desde que Guttenberg imprimiu sua primeira folha que criou-se o hábito da troca de mimos entre governantes e os arautos dos seus feitos. Até aí, nada de novo sob o sol.
A novidade que veio dar na praia, na qualidade rara de vexame, foi a declaração prestada na coletiva (s.f., do verbo ‘coletar’, ex: “eu coletei todo o dinheiro que pude”), na qual indigitado orador prefeito desceu da dignidade de seu cargo e veio fazer do evento um comício, expondo sem nenhuma vergonha a nudez de suas intenções: quebrar na solda a brava rapaziada do Lagos Jornal , arrotando a enormidade que nenhuns anúncios ou auxílios o ousado e intrépido nos prestaria.
Enquanto a inacreditável claque editorial da - vá lá - imprensa local urrava em regozijo exigindo sangue e tripas, ninguém lembrou de esclarecer que nunca pedimos nada.
Mas latiram mesmo assim, pro mestre ver.
Triste abanar de rabos, que condena toda uma imprensa à subserviência mais abjeta.
Fausto Wolf deve estar socando sua tumba de raiva, após estas eleições.



quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Da Redação

O Mercado é um rapazinho muito nervoso

Todos que conhecem o homo de negócios porto-riquenho Sr. Mercado (“ligue djá!”) sabem que ele é um mocinho com os nervos à flor da pele.
Histérico porque seus negócios estavam afundando (no bom sentido, é claro) no mercado imobiliário norte-americano, o investidor multicolorido enterrou tudo (no bom sentido, é claro) o que tinha nos mercados europeus: “Jô quiero poner mis mijones (en el bueno sentido, claro) en un lugar que tenga seguridad”, disse ele aliviado – sem trocadilho – graças à palavra forte e máscula de Gordon Brown, o Bofe Bom das Libras Esterlinas.



Mercado assustadinho

“Ele é assim mesmo, gente. Não judia não, que ele é doentinho e tem problema de nervo”, disse Dona Creuza, a avó brasileira que criou o jovem Mercado. Assustadiço por natureza, Memê tem como uma das características principais de sua complexa personalidade o horror ao risco. Foge espavorido ao menor espirro das instituições financeiras norte-americanas ou européias e, ultimamente, tem levado sua fobia do incerto até aos mercados asiáticos que, segundo ele, “ultimamente tem parecido avião da Gol, cai toda hora”.
Entendam o pobre rapaz, gente: tudo o que ele quer é a mão forte e segura de um Banco Central másculo, onde ele possa descansar sua cútis (no bom sentido, é claro) já marcada pela pátina das tensões desta vida de incertezas.
Uma pena, pois é sabido o seu lado mau: a cada susto mundial, Mercado foge com as economias de alguém. No mau sentido, é claro.

Ele vive do que põe no banco

Esta era a dura (no bom sentido, é claro) rotina de Mercado: sentadinho na praça, assistia a vida passar vivendo do que punha no banco.
Cansadinho desse marasmo, a mona resolveu dar um “up”, rodou a baiana e abriu seu próprio banco, o “Poupança de Ouro”.
Cruel, o destino que sempre perseguiu este bom menino criado pela avó trouxe a medonha crise financeira que agora põe em pé (no bom sentido, é claro) os cabelos dos banqueiros de todo o mundo.
Graças a Deus Mercado tem um senhor que ajuda, o tio Bush do Big Stick, que prometeu segurar (no bom sentido, é claro) sua barra bancando todos os seus eventuais prejuízos, desde que o espertinho não use o dinheiro para comprar títulos do governo americano ou de sócio da Le Boy, no Rio. Tio Bush mandou que enterre tudo no mercado, e não no dele – quer dizer, no do governo.
Uma lição clássica de economia.

E o Kiko?

Mercado tem um parceiro (entendam como quiserem, cansei) chamado Kiko Ygnácio, mais conhecido por seus apelidos: Kiko Tencoisso ou o mais curto, KY. Todos sabem que, a cada crise de Mercado, o KY entra em ação, pedinchando favores aos poderosos encastelados no governo para tapar os rombos (no bom sentido, é claro) em suas contas. A fórmula é simples: se dá lucro, é do Mercado. Se dá prejuízo, pega o KY e empurra na gente.
Quem vive de comprar e vender imóveis aqui na terrinha deve ter muito cuidado com Mercado. E mais ainda com KY.
Afinal, só quem pode prever o futuro são os marqueteiros de algumas campanhas eleitorais, e estes já gozam (no bom sentido, é claro) de merecidas férias em Miami.
Provavelmente em um dos hotéis do menino Mercado.

Esse é o capitalismo que não ousa dizer seu nome...

Da Redação

Gastando o latim

Em um momento agnóstico-ateu-melancólico-exibicionista, nós outros no “Da Redação” resolvemos ostentar nossos conhecimentos em latim, considerando que é uma língua morta e que um cadáver lingüístico seria o ideal para espelhar em comentários o falecimento de nossas crenças mais sagradas, como sejam: Papai Noel, Duendes, Mula-sem-cabeça, Urnas Eletrônicas e Saci-Pererê.

Nosce te ipsum “Conhece a ti mesmo”

Existem pessoas cujas personalidades dependem diretamente do momento que vivem: seja da sua profissão, do cargo ocupado ou até mesmo de seu estado civil. Assim, temos jornalistas que – fora do ramo – reduziriam sua capacidade na nobre arte de fazer amigos e influenciar pessoas à, no máximo, três ou quatro amigos do boteco. Da mesma forma existem homens públicos que, sem um cargo, nada seriam além de – digamos – um bom rapaz. Vale a sabedoria dos antigos, que nos aconselha a nos certificarmos do poder de nossas asas antes de intentarmos um vôo longo.

Audi, vide, tace, si vis vivere in pace, "Ouve, vê e cala, se quiseres viver em paz"

Relendo antigos textos, é possível constatar queixas incomodamente freqüentes sobre fumaças de ditadura nos ares da região. Considerando as atuais circunstâncias, nós aqui do “Da Redação” – cientes de nossa condição de café-pequeno-raia-miúda – entendemos por bem calar nossa boca, antes que entre uma mosca municipal.

Prudência e caldo de galinha, já dizia vovó...

Ecce homo, "Eis o homem".

Uma antiga lenda conta que um burro carregava, nas procissões da igreja, a imagem da santa em desfile pela cidade. O pobre animal cada vez mais se envaidecia, inchado de orgulho e soberba, pelos aplausos, choros emocionados, agradecimentos comovidos e pela verdadeira histeria que se formava à sua passagem, acreditando que ele seria o motivo das honras. Isso perdurou até o cavalariço da igreja resolver empregar outro animal neste serviço, já que o nosso burro – noviço, xucro e sem jeito – poderia acabar derrubando a santa de seu andor. Como o cavalariço era muito bonzinho, permitiu que os dois animais desfilassem na procissão, e só então caiu a ficha de nosso amigo, o burro jovem: finalmente percebeu que os aplausos e vivas eram pra santa, não pra ele.

Olho vivo gente, que cavalo – e muito menos burro – não desce escada...

Aquila non captat muscas, "A águia não cata pega moscas", isto é, uma pessoa importante não se incomoda com minudências

Odacir Gagau agora nem se dá ao trabalho de olhar para a plebe ignara que o cerca. Impando de soberba, o empresário boteco-etílico-mediúnico-jornalistico passa ao largo da turba e ruma em seu iate, o “Blood Mary”, sem escalas para a Bahia. Segundo consta, ele teria que quitar algumas dívidas no Gantois. Saravá, zi fio.


Da Redação

Odacir Gagau, o médium

Morcegão Cabramal está orgulhoso e feliz, com a grande sorte que deu: apostar nos poderes mediúnicos (únicos mesmo!) do empresário boteco-etílico-curimbeiro-jornalístico Odacir, o Gagau. Graças à esse dom, Cabramal conseguiu convencer meia dúzia de empresários e políticos a gastarem dinheiro antecipadamente produzindo – e pagando, é claro – comerciais de página inteira em seu jornal, que foi às bancas noticiando a vitória de seu arrimo, digo, candidato, poucas horas após a divulgação dos resultados.
Bom de lábia, Morcegão convenceu Gagau que somente seu DOC – Diário Oficial do Cabo – poderia ostentar tais anúncios de felicitações sem levantar suspeitas sobre a lisura do pleito. Cabramal sempre bate na tecla de que seu jornal é imparcial, e portanto nós não precisamos ler mais nada, só o dele.
Neste momento, Cabramal está na residência do Chefe do Executivo servindo para ele, em sua cama, um caprichado café da manhã com açúcar e com afeto. Mas com a maior imparcialidade, é claro.

Podres poderes

Odacir Gagau perdeu o bonde da história, nessas eleições. Se deixou levar pela conversa mole de Cabramal e desperdiçou seus poderes em benefício de outros.
Paranormal desde criancinha, Gagau sempre ouvia de seus coleguinhas: “Odacir, você é um mérdium!”, dentre eles seu amigo de infância – o sinistro Morcegão.
Traumatizado em não conseguir utilizar seus poderes para o bem, Odacir abandonou sua pequena São Traíres natal juntamente com seu amiguinho Cabramal, para tentar a vida em paragens mais propícias. Perseguidos pelo remorso de um passado e de uns cheques obscuros e sem fundos, a dupla deu com os costados – no bom sentido, é claro – em terras cabo-frienses, onde rapidamente descobriram que o meio mais rápido de ser importante o suficiente para merecer uma mesadinha municipal era ser dono de um jornal.
A trajetória de ambos, daí em diante, é sobejamente conhecida: separaram-se litigiosamente e hoje um é dono do DOC – Diário Oficial do Cabo – e o outro dirige o Release dos Lagos.
Ultimamente tem sido bastante comentada a volta da dupla, graças à amizade providencial de Biugueites da Silva, um conhecido hacker que mudou-se há pouco para a região.
Resta saber o que adivinhações inexplicáveis, cheques ariscos e acrobacias digitais reunidas podem produzir nos destinos de uma cidade, quando associadas à jornais domesticados.

Nada muda

Odacir Gagau, após árdua participação eleitoral, já está com sua reserva feita na Rehab Saint Jack Daniels, nas Highlands escocesas, para uma bela temporada de descanso ao lado de sua parceirona, Amy Winehouse, e de seu mais novo amigo inseparável, Keith Richards.
Não se sabe ainda quem vai pagar a conta de estadia tão luxuosa, em companhia tão chique.
Keith Richards prometeu levar umas cinzas das boas. Amy Winehouse também prometeu alguma coisa, mas esqueceu o que era.

Para pensar pendurado no saco de alguém:

“Mais vale uma urna na mão do que dois eleitores voando”

Guerra civil

Enquanto o Sr. José Elias Alves Pinto, pai de Danillo Lopes Barros Pinto, assassinado em uma festa nesta ultima sexta-feira, concede uma entrevista á minha colega e editora Keetherine Giovanessa, não posso deixar de escutar seu depoimento.
Manda a regra que um jornalista não escreva na primeira pessoa e muito menos se emocione com o que à ele é dito, mas não há outra maneira de relatar as palavras de um pai perplexo, que ainda fala do filho morto conjugando o verbo no presente, sem aceitar a brutalidade injustificável, motivada por um mero empurra-empurra em uma festa.
Um animal, menor de idade, que se julga imune e impune, acima do bem e do mal, muito macho por portar uma arma – que seria bem melhor utilizada explodindo seus próprios miolos inúteis – sente sua macheza ofendida por um aparte dado pelo rapaz e resolve, como “justa” retaliação, matar o responsável por ofender sua realeza de menor impune.
Sangue, dor, tragédia. E nenhuma testemunha, das centenas de presentes à festa.
A polícia é feita de homens, e homens se emocionam. O delegado Rodrigo Santoro da 126ªDP, segundo as palavras do Sr. José Elias, tem prestado um grande e solidário apoio. Mesmo a PM, ou melhor, os homens da PM, se solidarizaram na dor de um pai que perdeu o filho para a animalidade de alguém que, perante a hipocrisia legal brasileira, não sabe o que faz e precisa ser tutelado.
Homens da PM, homens da Polícia Civil, homens de bem, ricos, pobres ou remediados, todos são iguais, hoje, na desgraça da insegurança pública de Cabo Frio e na dor de tantas mortes sem sentido. Ou quase: falta incluir neste rol as centenas de testemunhas, presentes à fatídica festa, que ainda não tiveram a humanidade e hombridade, a atitude digna de prestar um testemunho perante a Polícia.
Com certeza as polícias conseguirão algum resultado nas investigações, motivadas muito mais pela dor humana, pelo que de inevitavelmente pessoal a tragédia alheia nos toca, do que pelas condições oferecidas pelo Estado e por aqueles que determinam as políticas de Segurança Pública.
Essas políticas são feitas de estatísticas, de frios números, que – se em sua insensibilidade numerária não refletem o trágico – muito menos espelharão a verdade, na vergonhosa interpretação destes mesmos índices. Onde está agora o Comando do 25ºBPM e suas boas notícias de queda na criminalidade? Determinando a fiscalização severa, para evitar a “ameaça” que um IPVA atrasado pode trazer aos motoristas, engarrafados em suas blitzes diárias?
Atônito, desfilhado, sem norte e mais surpreso ainda com as recentes notícias do estupro de uma criança em Arraial do Cabo, com o assassinato em plena luz do dia, no centro de Cabo Frio, de outro rapaz – sete tiros à queima-roupa e uma despreocupada fuga de bicicleta – o pai do rapaz organiza agora uma passeata pela paz.
Todos de preto, todos de luto, todos indignados, mas ninguém seguro.
Esta é a verdade da segurança pública da região.
A verdade é a nossa dor, e não os números alheios.
Mais mortes virão, na medonha rotina da guerra civil do Rio de Janeiro. Mais protestos, mais passeatas, mais choro e mais dor. E tudo continuará igual.
Até quando iremos agüentar calados? Quando será a nossa vez?
Quando?
Quem viver, verá.