Manda a regra que um jornalista não escreva na primeira pessoa e muito menos se emocione com o que à ele é dito, mas não há outra maneira de relatar as palavras de um pai perplexo, que ainda fala do filho morto conjugando o verbo no presente, sem aceitar a brutalidade injustificável, motivada por um mero empurra-empurra em uma festa.
Um animal, menor de idade, que se julga imune e impune, acima do bem e do mal, muito macho por portar uma arma – que seria bem melhor utilizada explodindo seus próprios miolos inúteis – sente sua macheza ofendida por um aparte dado pelo rapaz e resolve, como “justa” retaliação, matar o responsável por ofender sua realeza de menor impune.
Sangue, dor, tragédia. E nenhuma testemunha, das centenas de presentes à festa.
A polícia é feita de homens, e homens se emocionam. O delegado Rodrigo Santoro da 126ªDP, segundo as palavras do Sr. José Elias, tem prestado um grande e solidário apoio. Mesmo a PM, ou melhor, os homens da PM, se solidarizaram na dor de um pai que perdeu o filho para a animalidade de alguém que, perante a hipocrisia legal brasileira, não sabe o que faz e precisa ser tutelado.
Homens da PM, homens da Polícia Civil, homens de bem, ricos, pobres ou remediados, todos são iguais, hoje, na desgraça da insegurança pública de Cabo Frio e na dor de tantas mortes sem sentido. Ou quase: falta incluir neste rol as centenas de testemunhas, presentes à fatídica festa, que ainda não tiveram a humanidade e hombridade, a atitude digna de prestar um testemunho perante a Polícia.
Com certeza as polícias conseguirão algum resultado nas investigações, motivadas muito mais pela dor humana, pelo que de inevitavelmente pessoal a tragédia alheia nos toca, do que pelas condições oferecidas pelo Estado e por aqueles que determinam as políticas de Segurança Pública.
Essas políticas são feitas de estatísticas, de frios números, que – se em sua insensibilidade numerária não refletem o trágico – muito menos espelharão a verdade, na vergonhosa interpretação destes mesmos índices. Onde está agora o Comando do 25ºBPM e suas boas notícias de queda na criminalidade? Determinando a fiscalização severa, para evitar a “ameaça” que um IPVA atrasado pode trazer aos motoristas, engarrafados em suas blitzes diárias?
Atônito, desfilhado, sem norte e mais surpreso ainda com as recentes notícias do estupro de uma criança em Arraial do Cabo, com o assassinato em plena luz do dia, no centro de Cabo Frio, de outro rapaz – sete tiros à queima-roupa e uma despreocupada fuga de bicicleta – o pai do rapaz organiza agora uma passeata pela paz.
Todos de preto, todos de luto, todos indignados, mas ninguém seguro.
Esta é a verdade da segurança pública da região.
A verdade é a nossa dor, e não os números alheios.
Mais mortes virão, na medonha rotina da guerra civil do Rio de Janeiro. Mais protestos, mais passeatas, mais choro e mais dor. E tudo continuará igual.
Até quando iremos agüentar calados? Quando será a nossa vez?
Quando?
Quem viver, verá.
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