quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Da Redação

Gastando o latim

Em um momento agnóstico-ateu-melancólico-exibicionista, nós outros no “Da Redação” resolvemos ostentar nossos conhecimentos em latim, considerando que é uma língua morta e que um cadáver lingüístico seria o ideal para espelhar em comentários o falecimento de nossas crenças mais sagradas, como sejam: Papai Noel, Duendes, Mula-sem-cabeça, Urnas Eletrônicas e Saci-Pererê.

Nosce te ipsum “Conhece a ti mesmo”

Existem pessoas cujas personalidades dependem diretamente do momento que vivem: seja da sua profissão, do cargo ocupado ou até mesmo de seu estado civil. Assim, temos jornalistas que – fora do ramo – reduziriam sua capacidade na nobre arte de fazer amigos e influenciar pessoas à, no máximo, três ou quatro amigos do boteco. Da mesma forma existem homens públicos que, sem um cargo, nada seriam além de – digamos – um bom rapaz. Vale a sabedoria dos antigos, que nos aconselha a nos certificarmos do poder de nossas asas antes de intentarmos um vôo longo.

Audi, vide, tace, si vis vivere in pace, "Ouve, vê e cala, se quiseres viver em paz"

Relendo antigos textos, é possível constatar queixas incomodamente freqüentes sobre fumaças de ditadura nos ares da região. Considerando as atuais circunstâncias, nós aqui do “Da Redação” – cientes de nossa condição de café-pequeno-raia-miúda – entendemos por bem calar nossa boca, antes que entre uma mosca municipal.

Prudência e caldo de galinha, já dizia vovó...

Ecce homo, "Eis o homem".

Uma antiga lenda conta que um burro carregava, nas procissões da igreja, a imagem da santa em desfile pela cidade. O pobre animal cada vez mais se envaidecia, inchado de orgulho e soberba, pelos aplausos, choros emocionados, agradecimentos comovidos e pela verdadeira histeria que se formava à sua passagem, acreditando que ele seria o motivo das honras. Isso perdurou até o cavalariço da igreja resolver empregar outro animal neste serviço, já que o nosso burro – noviço, xucro e sem jeito – poderia acabar derrubando a santa de seu andor. Como o cavalariço era muito bonzinho, permitiu que os dois animais desfilassem na procissão, e só então caiu a ficha de nosso amigo, o burro jovem: finalmente percebeu que os aplausos e vivas eram pra santa, não pra ele.

Olho vivo gente, que cavalo – e muito menos burro – não desce escada...

Aquila non captat muscas, "A águia não cata pega moscas", isto é, uma pessoa importante não se incomoda com minudências

Odacir Gagau agora nem se dá ao trabalho de olhar para a plebe ignara que o cerca. Impando de soberba, o empresário boteco-etílico-mediúnico-jornalistico passa ao largo da turba e ruma em seu iate, o “Blood Mary”, sem escalas para a Bahia. Segundo consta, ele teria que quitar algumas dívidas no Gantois. Saravá, zi fio.


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