Encontrei recentemente, em uma página do Facebook dedicada à filosofia, pequena postagem que entrega o viés de seu autor ou, ao menos, suas simpatias pelo modernismo no pensamento - esta perigosa peste que se alastra nas consciências humanas desde o triste advento do Iluminismo.
Reproduzo a tese do autor, seguida de minha antítese. E caberá ao meu leitor escolher, de acordo com seus valores e princípios, qual mais parece-lhe provável.
FILOSOFIA MODERNA:
1. No plano teórico, o mundo teria de ser pensado de modo novo e diferente.
2. No plano ético, o Universo perdendo suas qualidades de ordem e harmonia, fica inviável como modelo a ser seguido no plano moral. Onde encontrar os princípios que norteiam as relações humanas?
3. A doutrina de salvação não é mais segura e confiável.
Neste novo quadro que se inaugura, a humanidade se encontrava perturbada e desprovida de princípios orientadores: intelectual, moral e espiritual.
Surge uma nova teoria do conhecimento: a ordem do mundo não é mais dada, e sim construída.
A pós-modernidade seria uma crítica ao "projeto de Era Moderna", praticamente uma espécie de "desconstrução" das interpretações abrangentes e sistematizadas.
(Página "Filosofia Sempre", Facebook)
MINHA ANTÍTESE:
No plano teórico, o mundo teria realmente de ser pensado de modo novo e diferente? Não penso assim, e explico o porquê:
A necessidade de repensar o mundo não é, necessariamente, um imperativo positivo. Ao propor um rompimento radical com o passado, muitas vezes descartamos tradições e conhecimentos que já provaram seu valor, ao longo do tempo. É preciso acabar com este pensamento pré concebido de que o novo é sempre superior ao antigo, isso é puro marketing. O mundo deve ser compreendido e interpretado por princípios perenes — como a existência de uma ordem natural ou divina — que não dependem de reinvenções constantes e, quase sempre, nocivas. Por que abandonar o que foi testado e aprovado, preferindo algo incerto?
Já quanto a ética, se o Universo perde a ordem e harmonia, o mesmo se tornará inviável como modelo para o plano moral. Onde vamos encontrar os princípios que norteiam as relações humanas? A perda da percepção de ordem e harmonia no universo não é um fato objetivo, mas um erro filosófico - deliberado - dos "moderninhos".
Uma visão mais tradicional e segura, muitas vezes baseada em uma cosmovisão mais religiosa ou metafísica (como o cristianismo ou a filosofia clássica), sempre defenderá que o universo está a refletir uma ordem intrínseca, seja por vontade divina (cabe apenas aceitar e pronto) ou por leis naturais e imutáveis. Essa ordem serve como base para a moralidade humana, a qual não precisa ser inventada mas descoberta, preservada, e este é o ponto onde, talvez, mais incomode os filósofos "modernistas".
Os princípios que norteiam as relações humanas estão na tradição, na família, na religião e nas normas culturais que sobreviveram ao teste do tempo. Rejeitar o universo como modelo moral é um passo largo e nocivo rumo ao relativismo e ao niilismo que, atualmente, já implodiram a coesão social.
Assim, penso que o correto seria entender que os princípios estão nas instituições e valores herdados, como a fé, a lei natural e a comunidade.
Outra: se a doutrina de salvação não é mais segura e confiável, havemos de reagir com firmeza contra isso. A modernidade, se opondo às doutrinas de salvação (especialmente as religiosas), não oferece uma alternativa sólida para preencher o vazio espiritual que deixa.
A confiabilidade da salvação não depende de aceitação universal ou de validação científica, mas de sua coerência interna e de sua capacidade de orientar a vida humana para um propósito transcendente. O cristianismo, por exemplo, com sua promessa de redenção e sua base em escrituras e tradições, permanece um pilar para muitos. Abandoná-la em nome de uma suposta "insegurança" pode ser visto como um ato de arrogância intelectual, entregandoo homem à desesperança.
A salvação continua segura enquanto houver fé e adesão aos princípios eternos que a sustentam, essa é a verdade. Se temos realmente uma humanidade "perturbada e desprovida de princípios orientadores" hoje em dia, seguida por uma nova teoria do conhecimento que constrói a ordem em vez de recebê-la, essa transição é o "X" do problema.
Os modernos, ao substituirem a ordem dada (natural ou divina) por uma ordem construída pelo homem, abriram as portas para a instabilidade e a subjetividade desenfreada (lembranças ao "Iluminismo"). E os pós-modernos, com sua "desconstrução" das grandes narrativas, apenas pioram essa crise, rejeitando até mesmo as tentativas mais modernas de sistematização. Isso não pode ser progresso mas, sim, uma enorme decadência: ao desconstruir sem oferecer algo em troca, os pós-modernos deixam - deliberadamente - o homem sem direção, preso a um relativismo que explode valores como verdade, beleza e o bem.
O mundo não precisa ser reinventado, mas compreendido à luz da tradição e da ordem natural.
Os princípios éticos estão nas heranças culturais e espirituais, não em construções arbitrárias. A salvação permanece confiável para quem aceita a fé e rejeita o ceticismo moderno.
A crítica que faço à modernidade e aos pós-modernos deve-se ao fato de ambas falharem miseravelmente ao abandonar o que é eterno, em nome do que é passageiro e apenas satisfaz vaidades intelectuais.
Walter Biancardine
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