A beleza, historicamente considerada um reflexo da ordem e harmonia de Deus, tem sido sistematicamente demolida pela cultura contemporânea. Desde a arquitetura brutalista e desconstrutivista até o design de automóveis e vestuário, que degradam a elegância, observamos uma tendência à feiura, ao grotesco e ao niilismo estético. Este fenômeno não ocorre ao acaso, mas é fruto de uma revolução ideológica, comuno-globalista, que busca destruir os padrões tradicionais de beleza e substituí-los pelo ideológico, efêmero, pelo vulgar e pelo caótico – sentimentos e sensações que pretendem difundir no cotidiano das pessoas.
Tendo tais aspectos em mente me propus investigar as causas profundas desse processo, cabendo lembrar que a destruição da beleza não é um fenômeno isolado, mas parte de um projeto ideológico que visa desconstruir a civilização ocidental – Escola de Frankfurt – a partir de suas bases simbólicas.
* A beleza como fundamento da civilização -
Historicamente, a beleza sempre foi vista como uma ponte entre o homem e o sagrado. Platão a entendia como reflexo do mundo das ideias, enquanto Aristóteles a vinculava à harmonia e proporção. Santo Tomás de Aquino a associava ao bem e à verdade, enfatizando sua dimensão transcendente. Edmund Burke diferenciou a beleza do sublime, e Kant defendeu a experiência estética como uma forma de conhecimento desinteressado.
Com o advento da modernidade – iluminismo – no entanto, essa perspectiva foi progressivamente abandonada. Nietzsche denunciou a morte dos valores tradicionais, enquanto Adorno e a Escola de Frankfurt prepararam o terreno para a desconstrução da arte clássica e da cultura elevada. Scruton argumenta que a perda da beleza na arte reflete uma crise moral e espiritual profunda, resultado do relativismo e do niilismo contemporâneos, provocados por intelectuais ditos “progressistas”.
* A arquitetura como expressão do declínio -
A arquitetura moderna, com sua rejeição à ornamentação e sua obsessão pela funcionalidade, reflete a corrosão dos princípios tradicionais da beleza. O brutalismo, com seu concreto exposto e linhas agressivas, contrasta com a harmonia das catedrais góticas ou a proporção áurea das construções clássicas.
Oscar Niemeyer, um arquiteto declaradamente comunista, criou monumentos que sacrificam a humanização do espaço em prol de abstrações formalistas. A cidade de Brasília, embora inovadora, tornou-se um exemplo de alienação urbana, onde o indivíduo se sente pequeno diante de edifícios impessoais – verdadeira ode à força do Estado-pai, sempre maior e mais poderoso que o indivíduo, sensação esta reforçada pelas enormidades de concreto armado e os vastos espaços vazios, onde jamais conseguiriam acumular multidões em protestos – as mesmas sempre pareceriam pequenas.
Além de Niemeyer, outros arquitetos tornaram-se símbolos do declínio estético. Le Corbusier, um dos precursores do modernismo, defendia cidades organizadas com edifícios uniformes e desumanizados, resultando em projetos como a Unité d'Habitation, que mais se assemelham a blocos monolíticos sem alma. Frank Gehry, expoente do desconstrutivismo, projeta edifícios deliberadamente caóticos e assimétricos, como o Museu Guggenheim de Bilbao, cuja aparência disforme rompe qualquer ligação com a ordem e proporção clássicas.
Filósofos esquerdistas e críticos da beleza tradicional, como Theodor Adorno e Walter Benjamin, ajudaram a legitimar essa transformação. Adorno, ao criticar a arte burguesa, via na rejeição da beleza um meio de contestação política, enquanto Benjamin, ao defender a estetização da política, abriu espaço para que a arte fosse instrumentalizada ideologicamente – largamente aproveitada por Adolf Hitler e prontamente imitada por todo o bloco soviético. Já Jacques Derrida, com sua filosofia da desconstrução, forneceu as bases teóricas para uma arquitetura que rejeita qualquer sentido de coesão ou continuidade histórica: é o homem solto, perdido em uma selva de concreto.
Roger Scruton denuncia essa tendência como uma forma de "arquitetura do desespero", na qual o feio e o inóspito se tornam normas. A rejeição da tradição arquitetônica ocidental é uma manifestação do desprezo pelo passado e pelo senso de comunidade. Em sua obra "The Aesthetics of Architecture", Scruton argumenta que a arquitetura deveria servir ao bem comum e inspirar as pessoas, ao invés de reduzi-las a meros consumidores de formas arbitrárias e alienantes.
Exemplos grotescos abundam: a Torre Montparnasse em Paris, um arranha-céu brutalista que destrói a harmonia da cidade; o Ryugyong Hotel na Coreia do Norte, um monólito piramidal inacabado e desprovido de qualquer charme; e até mesmo o prédio do Ministério da Saúde em Londres, que parece ter sido projetado para intimidar, em vez de acolher. Todas essas construções exemplificam a tendência de substituir a beleza pelo impacto visual agressivo, refletindo uma sociedade que perdeu seu senso de proporção e transcendência, subordinados a ideologias.
* Design de produtos, vestuário e a infantilização do estilo -
Os automóveis contemporâneos perderam a elegância e a sobriedade que caracterizavam modelos clássicos como o Rolls-Royce Silver Cloud, os antigos Cadillacs _ agora reduzidos a meros SUV’s – ou o Jaguar E-Type. Em seu lugar, surgiram veículos emasculados, assépticos e completamente alheios ao condutor, posto que completamente automatizados e eletrificados. Suas linhas infantis e caricaturais, formas desproporcionais e cores monótonas – os eternos preto, prata e branco, os fazem parecer brinquedos “Lego” gigantes e hoje, pilotar um automóvel não mais denota “masculinidade” – conceito abolido pelos globalistas.
Como destacou Baudrillard, o consumo passou a ser dominado por símbolos e simulacros, onde a superficialidade e semelhanças com a ficção ideológica imposta se sobrepõe à essência, beleza e harmonia transmitida pelo símbolo – a figura, em si, do automóvel. Os anúncios dos mesmos mais parecem vender telefones celulares, tablets ou computadores, pois enfocam somente as facilidades digitais embarcadas, esquecendo por completo do básico automotivo: potência, consumo, capacidade de carga, conforto e facilidade de manutenção.
A moda segue a mesma lógica: a sobriedade e a distinção cederam lugar ao grotesco e ao vulgar. A moda "streetwear", dominada por roupas largas, rasgadas e desproporcionais, reflete uma cultura que celebra a rebeldia vazia (contra o quê?) e a marginalidade. Essa estetização da vestimenta não ocorre ao acaso: é uma valorização ideológica do lumpemproletariado, como descrito por Marx e Engels, mas reinterpretada pelas correntes identitárias contemporâneas: quanto mais chocante, agressivo e feio, melhor – “não imponha seus padrões sobre mim”, dizem os adeptos do disforme.
Mais que isso, tal estética condena o homem atual, desde sua infância, à eterna adolescência. Um garoto de quinze anos veste-se exatamente igual a um senhor de cinquenta, e isso nivela e rebaixa quaisquer espécies de aspirações. Do mesmo jeito que um jovem enxerga a idade adulta apenas como um problema – fim de sua inimputabilidade legal – ele, igualmente, rejeita a maturidade como um passaporte para realizações, pois já as desfruta desde sempre, favorecido por pais permissivos e medrosos.
Já os maduros apegam-se às aparências de juventude, inerentes às vestimentas e mesmo gírias e hábitos. Com a mais primária vaidade masculina afagada, esticam a adolescência até o ponto em que o uso de bengalas seja inevitável, resultando que tal imposição cultural não apenas criou o conceito de “adolescência” como, igualmente a ampliou, abrangendo hoje dos dez aos sessenta anos de idade.
* A estética do vulgar e o controle cultural pela mídia -
A televisão, o cinema e a publicidade têm promovido uma estética deliberadamente vulgar, onde o clima apocalíptico, o grotesco e o chocante substituem a beleza clássica. Esse fenômeno não se limita à arte visual, mas também se reflete na música, na literatura e até mesmo no jornalismo, onde o sensacionalismo, a superficialidade e as doutrinações ideológicas dominam o espaço, antes ocupado por formas mais refinadas e elevadas – decentes e dignas – de expressão.
A mídia, dominada por uma agenda ideológica, utiliza a estética vulgar como ferramenta de controle cultural, promovendo comportamentos anti-sociais e desconstruindo referências tradicionais. Scruton adverte que essa degradação estética resulta da imposição de uma visão materialista e relativista do mundo, na qual a transcendência e a busca pelo belo são descartadas em favor do hedonismo imediato.
A estética do vulgar é um reflexo de uma estratégia cultural deliberada, impulsionada por forças ideológicas que buscam subverter as referências tradicionais da arte e da civilização. No contexto atual, onde a mídia – especialmente a televisão, o cinema e a publicidade – promove uma estética apocalíptica, grotesca e chocante, há uma substituição explícita da beleza clássica por formas de expressão que apelam ao sensacionalismo e ao imediatismo, rejeitando valores atemporais em favor de uma estética rasa e destrutiva.
Há um impacto corrosivo dessa tendência na experiência humana de significado e transcendência: a beleza não é um mero ornamento, mas sim uma porta para a elevação espiritual e moral do ser humano. O atual apogeu do vulgar e do grotesco na mídia é uma forma de "redução" da arte e da cultura a uma mera manifestação do desejo imediato e da gratificação instantânea. A estética vulgar, ao se contrapor à beleza clássica, rejeita a harmonia, a ordem e a profundidade que tornam a arte um reflexo das dimensões mais elevadas da vida. O clima apocalíptico e o foco no grotesco são indicativos de uma visão materialista e relativista do mundo, que descarta qualquer noção de transcendência e se limita ao que é terrivelmente mundano e efêmero. Essa "degradação estética", conforme Scruton já analisara, contribui diretamente para a perda de um senso de propósito e direção na vida, levando a um vazio cultural que mina as bases de uma sociedade civilizada.
Por outro lado, Olavo de Carvalho ampliaria essa análise ao observar que essa "estética vulgar" não é apenas um produto do mercado ou da cultura de massa, mas uma ferramenta conscientemente manipulada para a formação de uma agenda ideológica. A vulgarização da arte é um mecanismo de controle cultural, projetado para destruir as referências tradicionais e substituir a busca pela verdade, pela ordem e pelo belo por uma ideologia relativista e destrutiva.
A mídia, dominada por uma agenda esquerdista e progressista, utiliza a estética do vulgar para incutir comportamentos anti-sociais e subverter os valores morais e culturais que sustentam a civilização ocidental. O sensacionalismo e a superficialidade não são acidentes, mas partes de um projeto deliberado que visa desestabilizar as fundações da tradição, desvirtuando a cultura para favorecer uma visão ideológica que busca, entre outras coisas, a desintegração da autoridade, da moralidade e da hierarquia.
Tanto Scruton quanto Olavo – ambos são referências para mim – identificam nessa degradação estética uma consequência do materialismo e do relativismo que dominam a visão de mundo contemporânea. Para ambos, a busca pela beleza e pela transcendência não é apenas uma questão de gosto, mas de princípio. A ausência de beleza clássica nos meios de comunicação, ao ser substituída pelo vulgar, enfraquece a capacidade da sociedade de buscar algo maior do que o hedonismo imediato, promovendo uma visão de mundo onde os valores mais elevados – como o amor pela verdade, pela ordem e pela justiça – são relegados ao esquecimento. A arte e a cultura, nesse cenário, deixam de ser formas de expressão do belo e se transformam em instrumentos de manipulação que, em última análise, enfraquecem o espírito humano e a capacidade de resistir às forças que buscam subverter a civilização ocidental.
Essa crítica, tanto de Scruton quanto de Olavo, revela que a estética não é apenas uma questão de arte, mas uma questão profundamente moral e filosófica. Ao resgatar a beleza clássica, rejeitando a vulgaridade e o caos, a sociedade não apenas preserva uma forma de expressão artística, mas também resgata a capacidade de viver de forma mais elevada, buscando o bem, a verdade e a harmonia.
* A filosofia da feiura: ideologias e pseudociência contra a beleza -
Não há como deixar de citar como o marxismo cultural, o pós-modernismo e teorias como o construtivismo social influenciaram a destruição da estética. A noção de que a beleza é um conceito burguês e opressor tem sido usada para justificar a substituição do belo pelo disforme e caótico.
A filosofia da feiura revela-se como uma consequência direta de movimentos ideológicos que, ao longo das últimas décadas, tomaram de assalto a esfera cultural e intelectual. O marxismo cultural, o pós-modernismo e teorias como o construtivismo social, ao invés de celebraram a beleza como uma expressão autêntica da realidade, têm procurado subverter seus princípios em nome de uma agenda política disfarçada de liberdade estética.
Para o marxismo cultural (vide Pe. Paulo Ricardo, canal no YouTube), a beleza, uma vez considerada uma manifestação sublime da arte e da natureza, foi rebaixada a um conceito burguês, elitista, e portanto, "opressor"; uma construção ideológica que deveria ser desmantelada para dar espaço a uma nova concepção de arte e estética, mais alinhada com a "luta de classes".
Esta subversão é uma tentativa deliberada de desintegração do gosto estético clássico, que é um reflexo da busca humana por ordem, harmonia e transcendência. A beleza não é um luxo, mas uma necessidade para a experiência humana, uma expressão de valores que conectam o indivíduo ao transcendente, à tradição e à comunidade. As forças pós-modernas, ao promoverem o feio, o disforme e o caótico, negam ao ser humano a possibilidade de uma vida rica em significado, transformando a arte em uma ferramenta de subversão ideológica.
É possível ampliar essa crítica – de Scruton – se associarmos tal destruição estética à destruição moral e cultural mais ampla que caracteriza a modernidade. Para Olavo de Carvalho, o abandono do belo não é um simples erro ou uma mudança de gosto, mas uma tentativa consciente de corroer os alicerces da tradição ocidental. A beleza, para ele, é intrínseca ao bem e à verdade; sua destruição é, portanto, uma forma de minar os valores que sustentam a civilização. O ataque à beleza não é apenas estético, mas essencialmente moral e filosófico. Ele vê, no desdém pela beleza tradicional, uma estratégia de desconstrução que visa substituir a ordem natural e humana por um caos ideológico, onde o feio é celebrado e o belo é visto como um símbolo de opressão.
A substituição do belo pelo disforme, proposta por essas ideologias, não é uma mera inversão estética, mas uma reconfiguração do entendimento humano de ordem, beleza e virtude. Nesse contexto, a beleza torna-se não só um reflexo da perfeição, mas uma resistência à tirania do feio, da mediocridade e do caos que essas ideologias procuram instaurar.
O verdadeiro papel da estética, sob a ótica tanto de Scruton quanto de Olavo, é restaurar a dignidade humana, colocando a beleza como um princípio que eleva o espírito e que se opõe ao utilitarismo cultural que desumaniza e submete os indivíduos a uma visão reducionista da existência.
* A redenção da beleza: caminhos para a restauração cultural -
A restauração da beleza exige um resgate dos valores estéticos clássicos e uma rejeição da mediocridade imposta pela cultura dominante. A sociedade precisa revalorizar a arte elevada, a arquitetura harmoniosa e os padrões estéticos que refletem ordem e transcendência.
Se analisarmos o tema sob o pensamento de Roger Scruton e Olavo de Carvalho, o mesmo revela-se como um imperativo cultural e moral de suma importância para a preservação da dignidade humana e da tradição civilizacional. A restauração da beleza, conforme ambos os pensadores propõem, não é um movimento superficial ou nostálgico, mas sim um esforço profundo de recuperação daquilo que é essencial à experiência humana: a busca pela harmonia, pelo sublime e pelo transcendental.
Roger Scruton, em suas investigações sobre estética, argumentaria que a beleza é inseparável da experiência humana de ordem e propósito. Para ele, a arte elevada, a arquitetura harmoniosa e os padrões estéticos que evocam transcendência são manifestações concretas da busca por uma realidade mais profunda, além das limitações do mundo físico. Scruton vê a arte clássica, com sua busca pela perfeição formal e pela harmonia, como um reflexo de valores universais que transcendem o caos e a decadência da modernidade. Ao ressaltar a importância da beleza como um guia para a elevação espiritual, Scruton considera que a restauração desses valores estéticos não é apenas desejável, mas essencial para a preservação da saúde cultural e moral da sociedade.
Olavo de Carvalho, por sua vez, iria além ao abordar a restauração da beleza como parte de um movimento mais amplo de recuperação da tradição e dos valores que fundamentam a civilização ocidental. Para Olavo, o conceito de beleza não se dissocia do bem e da verdade. A arte elevada, longe de ser uma mera expressão de gosto, é uma expressão moral e filosófica que reflete a ordem natural do mundo. Ele vê a mediocridade da cultura dominante como um reflexo de uma crise profunda, não apenas estética, mas também espiritual e filosófica. A cultura contemporânea, ao se afastar dos valores clássicos e da busca pela transcendência, sucumbiu ao relativismo, ao niilismo e à desconstrução do sentido.
A restauração da beleza, para Olavo, não é apenas um retorno ao passado, mas uma necessidade urgente de restaurar a dignidade e a clareza do pensamento, a fim de reestabelecer uma cultura que, de fato, reflita a verdade e o bem.
Em conjunto, tanto Scruton quanto Olavo concordariam que a revalorização da arte elevada, da arquitetura harmoniosa e dos padrões estéticos que transmitem ordem e transcendência é um caminho necessário para a regeneração cultural. A sociedade, ao resgatar esses valores estéticos clássicos, não está apenas preservando a forma, mas restaurando a substância moral e filosófica que fundamenta a vida civilizada.
A beleza, entendida como algo que transcende o meramente utilitário, torna-se, assim, um farol que orienta o homem para uma vida mais plena, mais integrada à sua natureza e à sua herança cultural, e mais distante dos desvarios do caos e da mediocridade que a cultura dominante tenta impor.
Conclusão -
É urgente que as pessoas voltem a exigir a beleza e a harmonia, resistindo à degradação ideológica que reduz a arte a um instrumento de desconstrução. O futuro da civilização, da nossa civilização, depende da restauração de uma estética que celebre a verdade, o bem e o belo.
E se o leitor discorda que a beleza nos conduz a Deus, busque contemplar uma catedral gótica.
Walter Biancardine
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