sábado, 15 de junho de 2024

UM PEQUENO PASSO PARA O HOMEM, MAS UM GRANDE PASSO PARA MIM -


Não sei se, por efeito da idade ou do aprendizado imposto por rigorosa e longa solidão, mas o fato é que antigos interesses - que sempre me acompanharam desde longínqua juventude - tornaram-se verdadeiros imperativos, em meus dias atuais.

Tenho mergulhado nos estudos de teologia, filosofia, sociologia, antropologia, história, arqueologia e mesmo dedicado profunda atenção às ciências naturais e às artes.

Isso, entretanto, não me afasta da pessoa comum que sempre fui - por vezes, demasiadamente comum - e os meus pés, firmemente plantados no chão da realidade, trazem-me a preocupação sobre que espécie de homem serei, se um dia sair da provação em que vivo, tiver um emprego e buscar o convívio dos antigos amigos.

Apavora-me a possibilidade de ser considerado um esnobe ou, pior, louco e incompreendido.

É verdade que, quanto mais adquirimos algum conhecimento, menos interesse dispensamos aos assuntos ditos "mundanos" (olha o esnobismo aí!) mas, à bem da verdade, sempre fui um desenturmado justamente por esta pouca atenção dispensada - não por precoce sabedoria mas por pura índole.

Neste momento, aguardo ser chamado para uma pequena intervenção cirúrgica mas programo meus dias posteriores - assim que estiver com a cara cicatrizada - a buscar trabalho de maneira incessante, garantindo minha estranha ambição de pagar um aluguel, contas de água, luz e, principalmente, tentando sentir-me novamente alguém integrado à sociedade - o fim de meus dias de náufrago, em uma ilha de mato cercada de solidão por todos os lados.

Que Deus preserve meus pés no chão e me conceda a graça de ser aceito em algum trabalho.

Inúmeros defeitos, que certamente possuo, não podem ser tão horríveis que me impeçam de trabalhar e viver dignamente.

O tempo dirá.


Walter Biancardine



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