Existem certos insights que muitos de nós temos, de maneira eventual e sem nenhuma prévia e aparente razão, que por vezes nos fazem vislumbrar e compreender, deslumbrados, todo o aspecto de determinada situação. Em outras ocasiões tal epifania não se afigura tão maravilhosa – pelo contrário, nos ensombrece diante do triste, ou mesmo terrível, daquilo contido em tal e súbita percepção.
E o mesmo se deu comigo hoje, em uma manhã perfeitamente normal, na qual estava eu a escrever com uma das mãos e tomar o café da manhã com a outra.
TV ligada, a desfilar vídeos aleatórios do YouTube sem que eu desse atenção, até que a escutei tocar a indefectível música Moon River. Neste momento abateu-se sobre mim, sobre o que ainda me resta de puro e verdadeiro nos sentimentos, a sombria certeza de que, para sempre, tomarei café sozinho: não mais uma Tiffany’s ao meu redor, não mais uma Audrey Hepburn a dar-me, com esmeraldas ainda sonolentas, seu doce “bom dia”. Não mais; nunca mais.
No filme “Breakfast at Tiffany’s” o personagem do ator George Peppard descobre-se apaixonado pela bela Audrey Hepburn e seus olhos de gazela. Reluta contra tais sentimentos, chega a abordar os mesmos com cinismo, pois bem sabe quem é a mulher que o destino irônico o fez amar, e tal luta interna – a inseparável distância – se desenrola ao longo da história. Mas havia um futuro pela frente, a insubstituível perspectiva de ainda ter tempo e vida diante de si.
Em meus dias não há mais Tiffany’s. Em lugar do cinismo adotei o escapismo, pois bem enxergo a viuvez por um coração que ainda vive e palpita – a inseparável distância.
E não há um futuro pela frente; meu insight foi a terrível certeza que os dias, os anos, o tempo, tudo passou e nada mais resta.
A loja fechou, as prateleiras estão vazias, não há mais Audreys, fim do expediente.
Restam-me músicas e lembranças.
Coisa de velho.
There are no Audrey Hepburns in my Moonriver.
The Tiffany's in my life went bankrupt.
Walter Biancardine
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