segunda-feira, 17 de março de 2025

É HORA DE MUDANÇAS -

 


A partir deste 31 de março não mais estarei, diariamente, nas páginas da querida revista Carta de Notícias, bem como após o dia 30, domingo, igualmente será o início de uma nova fase no prestigiado site europeu ContraCultura: para ambas publicações, escreverei somente aos domingos e o amigo leitor se verá livre de meus impropérios diários, nas citadas revistas.

Tal mudança se deve à necessidade de buscar emprego – qualquer um, pois bem sei que, no Brasil, escrever é um luxo para diletantes ricos – e assim fazer frente às minhas despesas, por mínimas e quase ridículas que sejam.

Confesso que o salto dado – de morar de favor no meio do mato para alugar uma casa, comprar um carro e ter uma vida quase normal – pode ter parecido temerário, para muitos. Entretanto, em nenhum momento se tratou de ambição ou preocupações sociais: era, pura e simplesmente, um remédio radical para meu equilíbrio psíquico, sob grave ameaça. Miséria e solidão compulsória tem limites; após anos de privações atingi o meu e a oportunidade de deixar tal ilha de náufrago surgiu, através da assessoria nos trabalhos de agradável pós-doutoranda (pós-PhD), que bem me remunerou e permitiu-me a sanidade mental.

Tal contrato, entretanto, termina neste mesmo 31 de março. Assim sendo, é hora de voltar à vida real e roçar a barriga atrás de um balcão do comércio, sendo vigia noturno, repositor de supermercados ou o que for, pois bem sei de minhas deficiências acadêmicas – as quais, graças a Deus, jamais foram intelectuais e permitiram-me um aprendizado autônomo razoável – e contar com o sacrossanto salário, ao final do mês.

Sei que o trabalho rotineiro e seus horários não deixam muita folga para as aventuras do conhecimento, por isso – e por pura teimosia – combinei com meus pacientes editores a possibilidade de escrever somente aos finais de semana, pois é uma maneira de não me afastar totalmente do mundo da cultura e (creiam) emburrecer-me.

Se os últimos anos foram torturantes em termos de privações e de uma solidão atroz, por outro lado permitiu-me o privilégio de escrever seis livros, estudar, aprender e esculpir, no duro granito de minha ignorância, algo que nada ou ninguém poderá tirar-me: o saber, por mais rarefeito que seja.

Acrescento que hoje, aos sessenta e um anos de vida e tendo já desfrutado de todas as experiências e situações possíveis, pouco ambiciono e nenhuns projetos de glória pessoal ou prosperidade possuo. Tudo o que desejo é morar em um bairro comum, pagar minhas contas, ver seres humanos ao meu redor e, se possível, ler, estudar, aprender e escrever em meus momentos de folga, enquanto a lucidez permitir.

Dado os meus parcos gastos mensais – quase ridículos – não preciso de grandes salários para manter-me e esta é minha arma para tentar, o mais breve possível, conseguir trabalho. Assim, tomei tal decisão (ainda que obviamente motivada pelo fim do contrato) e é hora de seguir em frente.

Aos quatro ou cinco leitores que eventualmente sintam minha falta, lembro que todos os domingos estarei (ainda) nas páginas do Carta de Notícias e do chiquíssimo ContraCultura, com o brinde de eventuais postagens, como essa, em minha página pessoal.

Não é um adeus, é mais um “a gente se vê por aí”.


Walter Biancardine



quinta-feira, 13 de março de 2025

MAX WEBER: UM PALPITE -

 


Para desespero e total decepção dos meus poucos leitores, começo este artigo com uma ignomínia atroz: desde jovem admiro Weber. Ansiava por ele, ambicionava mesmo conseguir ter recursos suficientes para adquirir um par dos mesmos e colocá-los em meu carro – um belo e musculoso par de carburadores Weber 40, que me dariam mais uns 20 a 30 por cento de potência em meu combalido carro de estudante. Sim, reconheço, foi um trocadilho infame.

Somente anos mais tarde – devidamente ajuizado pelas pancadas da vida e determinado a sair da total e claustrofóbica escuridão da ignorância – é que tive a oportunidade de começar a rondar a obra deste distinto senhor, um pioneiro da sociologia, esquecendo-me das arruaças automobilísticas da juventude.

Na verdade, até hoje tenho um preconceito – leia-se “experiência de vida” – contra a sociologia e os sociólogos, eternamente um clube fechado de esquerdistas terminais, imunes a quaisquer tipos de terapia e sem possibilidade de evolução favorável do quadro clínico. Assim, vencendo a repugnância que tais assuntos inevitavelmente me despertam, pus-me a ler algumas de suas obras e – sempre fui assim – encontrei coisas boas e outras que, não posso evitar, deveria discordar ou discutir.

Um desses acasos da vida presenteou-me com a lembrança do texto abaixo, publicado alhures por alguém, o qual reproduzo para que o leitor – o qual conto com sua força de vontade – possa ler minhas análises, ao final do mesmo. Vamos a ele.



Max Weber -

Max Weber (1864–1920) foi um sociólogo, economista e filósofo alemão, considerado um dos fundadores da sociologia moderna. Ele teve uma grande influência no estudo da sociedade, da economia e da política, desenvolvendo conceitos que ainda são amplamente debatidos.

Principais ideias de Max Weber:

1° Ação Social: Weber definiu a sociologia como o estudo da ação social, ou seja, das ações humanas que têm significado dentro de um contexto social. Ele classificou as ações sociais em quatro tipos:

- Ação racional com relação a fins (baseada em objetivos específicos).

- Ação racional com relação a valores (guiada por princípios morais ou éticos).

- Ação afetiva (motivada por emoções).

- Ação tradicional (determinada por costumes ou hábitos).

2° Racionalização e Burocracia: Weber analisou como a sociedade moderna se organizava através da racionalização, levando ao desenvolvimento da burocracia. Para ele, a burocracia era a forma mais eficiente de administração, baseada em regras, hierarquia e impess0alidade, mas também poderia levar à “jaula de ferro” da racionalidade excessiva.

3° Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo: Em sua obra mais famosa, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Weber argumentou que a ética do trabalho protestante (especialmente do calvinismo) incentivou o desenvolvimento do capitalismo moderno, pois enfatizava o trabalho árduo, a disciplina e a acumulação de riquezas como sinais de bênção divina.

4° Dominação e Tipos de Autoridade: Weber identificou três tipos principais de dominação (autoridade):

- Autoridade tradicional: Baseada nos costumes e na tradição (ex.: monarquias). - Autoridade carismática: Baseada no carisma de um líder (ex.: líderes revolucionários).

- Autoridade legal-racional: Baseada em regras e leis impessoais (ex.: Estados modernos).

Max Weber ajudou a moldar o pensamento sociológico e contribuiu para o entendimento das sociedades modernas. Seu trabalho influencia áreas como administração, ciência política, economia e filosofia.



Segue a minha análise:

Contestando a Interpretação Sociológica de Max Weber -

A influência de Max Weber no pensamento sociológico é inegável, sendo ele uma das principais cabeças na análise das sociedades modernas. No entanto, uma abordagem um pouco mais conservadora e comedida pode – e deve – contestar algumas de suas premissas centrais, sobretudo quanto à excessiva racionalização da sociedade, o limitado papel da tradição que ele a lança e à interpretação errônea do capitalismo. Utilizando a própria obra de Weber como base, é possível apontar algumas limitações e incoerências em sua abordagem a qual, neste momento, ponho-me a fazê-la com muito gosto.

A questão da ação social e a subestimação da tradição -

Weber definiu a sociologia como o estudo da "ação social", classificando-a como racional em relação a fins, valores, ao afetivo e tradicional. Contudo, seu enquadramento da "ação tradicional" como algo quase mecânico – esqueçam os carburadores, por favor –, desprovido de racionalidade consciente, revela um viés verdadeiramente iluminista, que subestima a profundidade da tradição na constituição da ordem social. Filósofos conservadores como Edmund Burke e Michael Oakeshott (o conhecem?) argumentam que a tradição não é mera repetição de hábitos, mas sim um repositório de sabedoria entre as gerações, refletindo a experiência acumulada das civilizações.

A própria obra de Weber nos obriga a considerar como “curioso” o fato dele reconhecer o papel da tradição na autoridade (autoridade tradicional) mas, ao mesmo tempo, rebaixando-a à uma forma "menos evoluída" de estruturação social. Isso, obviamente, é um paradoxo: por um lado, Weber valoriza o papel da tradição no passado; por outro, sua própria abordagem sugere uma transição inevitável para as (suas) formas racionais de organização. O conservadorismo ao contrário – para não arrogar-me a pretensão de dizer “eu” – reconhece a tradição não como um estágio primeiro e transitório, mas como um elemento essencial para a estabilidade e continuidade da sociedade.

A "jaula de ferro" da racionalização e o abandono do espírito comunitário -

Weber descreveu a burocracia – sim, este inferno que vivemos hoje – como a forma mais eficiente de administração na modernidade, mas também alertou para os perigos da "jaula de ferro" da racionalidade excessiva, pois ele próprio provavelmente saberia onde tudo poderia desembocar. No entanto, sua análise falha ao não reconhecer que essa "racionalização" pode ser fruto de uma visão progressista, esquerdista mesmo, que busca dissolver os laços orgânicos da sociedade em prol de um modelo mecanicista de gestão impessoal (consulte “jurisfação”, teoria explicada pelo jurista brasileiro Miguel Reale) – que tal “O Poderoso Estado”?

A tradição conservadora, bem lembrando a palavra e representada por autores como T.S. Eliot e Russell Kirk, mostra que a vida social não pode ser reduzida a cálculos utilitários, pragmáticos, pois isso ignora os valores morais, religiosos e culturais que dão algum sentido à nossa miserável existência humana.

Se, como Weber sugere, a burocracia se tornou a forma predominante de organização social, hoje sabemos ser desnecessário questionar se esse fenômeno é de fato um avanço ou se representa uma verdadeira decadência, na medida em que substitui a autoridade natural e os laços comunitários por um sistema impessoal e desumanizante. Qualquer mentalidade de bom senso e razoavelmente conservadora proporá que as relações sociais devam ser baseadas na identidade histórica e nos valores compartilhados, e não nessa "racionalidade" abstrata, que muitas vezes desconsidera a realidade concreta da natureza humana.

A errônea interpretação do capitalismo e a religião -

Em “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, Weber argumenta que a ética do trabalho protestante, especialmente calvinista, incentivou o desenvolvimento do capitalismo moderno. Embora essa tese tenha sido amplamente discutida e influente, ela também apresenta limitações ao negligenciar o papel do catolicismo medieval na formação das bases econômicas da Europa, bem como seu cuidadoso “esquecimento” que este mesmo “cisma” da Igreja preparou o terreno para calamidades como a Revolução Francesa, o Iluminismo e outros males.

Historiadores como Christopher Dawson e economistas como Joseph Schumpeter apontam que o desenvolvimento do capitalismo, na verdade, antecede o protestantismo e que a visão weberiana é apenas uma superestimação da influência de um aspecto específico da religião, em detrimento de um panorama mais amplo. É o óbvio que muitos se recusam a reconhecer.

Ademais, um olhar preventivamente conservador para o capitalismo reconhece que, enquanto a livre iniciativa e a propriedade privada são essenciais para a prosperidade, o sistema econômico deve sempre estar ancorado em valores morais, que preservem a coesão social e a dignidade humana. Weber, ao enfatizar a "racionalização" do capitalismo, parece sugerir que esse sistema é inevitavelmente destituído de influências morais e culturais profundas, tornando-o quase um “pai adotivo” do liberalismo – o qual, em minha ótica, jamais foi ideologia e resume-se a um pensamento econômico. A verdade é que o capitalismo deve ser moderado por princípios transcendentais, que garantam sua harmonia com a ordem natural e social, ou tudo será pura e sangrenta selvageria.

Ao fim da história-

Max Weber forneceu algumas contribuições valiosas para a compreensão da sociedade moderna, mas seu pensamento sempre deve ser questionado por uma abordagem conservadora, que valoriza a tradição, a organicidade das instituições e os fundamentos morais da ordem social. Sua tendência a enxergar a racionalização como um processo inevitável o leva a desconsiderar a importância da história e da cultura na estruturação da vida social.

Ao recuperarmos as críticas conservadoras a respeito da burocracia, da moralidade econômica e do papel da tradição, sempre teremos uma leitura mais equilibrada e crítica de sua obra.

É Weber em seu devido e justo tamanho.



Walter Biancardine



A VIDA É UMA GANGORRA -

 


Posso dizer que nasci privilegiado, em uma época de fartura familiar, prestígio e tranquilidade. Assim segui até meus vinte e poucos anos quando, em decorrência da doença – e consequente falência – de meu pai, associado ao AVC de minha mãe ocorrido logo depois, tudo mudou.

Não mais longas temporadas em Cabo Frio, não mais carros importados, lanchas, dinheiro no bolso e – inevitavelmente – respeito e deferências alheios, pois os ratos sempre abandonam o navio que faz água; e tudo isso registrava eu em meus escritos, consciente que estava dos mesmos jamais serem publicados por ninguém.

Fiz o que pude, para manter-me à tona: estoquista de auto-peças, entregas, fretes e até mesmo abri uma espécie de padaria, em um condomínio de Copacabana, a qual não deu certo e acabou de enterrar-me. Mas o pior ainda estava por vir: a morte de meu pai.

Tão desbaratinado fiquei que pedi demissão de onde trabalhava e, em uma ânsia auto destrutiva, recolhi-me em casa disposto a só sair do quarto quando as trombetas do apocalipse tocassem. Mas então veio a OEA, oferecida por parentes do lado materno da família – e a gangorra da vida, na qual sentava eu no banco de baixo, ergueu-se novamente e a dupla infalível (dinheiro e aduladores) voltou a povoar minha vida.

Por estes anos deixei de escrever, pois não queria correr o risco de cagoetar em papel coisas que jamais deveriam sair das quatro paredes dos sofisticados escritórios daquele organismo diplomático. Por outro lado, meu filho acabara de nascer e isso me colocava em uma posição ainda mais vulnerável e, por isso e tal qual alguns monges, fiz meu “voto de silêncio” secular.

Finda a missão – a qual, creio, bem a desempenhei pois continuei a receber salários durante um ano após minha saída – um bom amigo, já falecido, sugeriu que seguisse meu antigo sonho, a aviação: “Esse negócio de escrever é fazer vestibular para pobre”, dizia ele. E fui tentar sonhar.

Por oito anos e milhares de horas de voo persisti em tal afã. Metade deles tive uma boa remuneração – comprei carros, montei minha casa e mudei-me para Cabo Frio – e a outra metade gastei em voos de teste, sem ganhar um tostão e definhando diariamente, apenas com a esperança de ser aprovado em um projeto que algumas entidades norte-americanas selecionavam pilotos, por aqui. E não fui aprovado por minha arrogância: na última etapa das provas vinha eu para pouso, quando o Controle avisou haver “tesoura de vento” na cabeceira da pista. Por incrível que pareça, dei o “Ok, ciente” e prossegui como se nada houvesse. Resultado? Pouso “placado” e minha desclassificação. E pobreza novamente, é claro.

Quase um ano errei sem rumo, buscando trabalho aqui e ali, quando um outro parceiro me ligou e disse que uma rádio, aqui de Cabo Frio, precisava de repórteres – segundo ele, “eu escrevia direitinho e daria conta”.

Jamais entendi como ele soube que eu escrevia, pois não só o conhecia apenas das noitadas de farra como, também, já fazia alguns anos que meus maiores textos eram listas de compra no mercado.

O resto é história conhecida: da rádio fui para jornais, revistas e TV e, me perdoem os desgostosos, mudei a maneira de se produzir notícias na cidade – até então aprisionada no velho e provinciano formato de “relações públicas dos poderosos”. Quem era burro eu chamava de burro, ladrão de ladrão e incompetente de incompetente, chegando ao ponto de, pelos idos de 2006 ou 2007, afirmar em alto e bom som, na redação do jornal, que “não existe jornalismo imparcial” – e isso deixou minha então editora em estado de choque.

É óbvio que fui “cancelado” pelo seleto e unido clubinho esquerdista da mídia cabofriense, e hoje sou “persona non grata” em qualquer publicação por aqui. Por estes tempos também minha mãe e irmã morreram, e tive de aprender a conviver com isso - mas, até hoje, em cada dia nublado, vejo minha mãe coando café.

De tudo isso, o que fica são as lições que aprendi. Ao contrário de muitos, que creem só haver aprendizado na miséria e privações, posso dizer com conhecimento de causa – pois vivi os dois lados, fartura e escassez – que tanto na riqueza quanto na pobreza extraímos preciosas lições, apenas alegarmos que a miséria nos ensinou é mais poético.

Na infância convivi com artistas, militares de última patente – alguns, depois, foram Ministros – e depois, na OEA, apertei a mão de Chefes de Estado e importantíssimos “sabe-se-lá-o-quê” ao redor, conhecendo e aprendendo que todos eles são apenas seres humanos como eu – humanos, demasiadamente humanos, diria Nietzsche. Alguns, apenas vulgares e rasteiros; outros, claramente obtusos e despreparados e, alguns poucos, realmente perspicazes e de inteligência relevante – mas, em sua maioria, uns medíocres.

Por outro lado, ao dirigir um caminhão ou vagar sem rumo e teto pelas estradas, encontrei pessoas sem nenhuma cultura, nenhum preparo, mas com um coração de ouro. Elas não fazem rodeios e vão direto ao que você precisa: “Quer água ou um café, um cigarro?”, “coma este prato de comida aqui” ou “tem um barraquinho lá atrás, pode dormir nele que não chove dentro”. E isso não tem preço, apenas o elevadíssimo valor da compaixão.

A pobreza, entretanto, não é sinônimo de virtudes pois a mediocridade de alma e a inveja – uma inacreditável e rasteira inveja – campeia em muitos, fazendo com que ambicionem uma simples sandália Havaiana que esteja calçando.

Ao final de toda a mixórdia descrita acima, posso dizer apenas que o maior e mais valoroso bem que um ser humano pode ter são seus amigos – os verdadeiros amigos – que lhe oferecerão tudo em maus momentos e comemorarão contigo nos bons. O dinheiro perdemos e ganhamos, a corja de aduladores é inevitável quando estamos no andar de cima, tal qual os dedos apontados e condenatórios quando nos afundamos na miséria. Mas os amigos, estes ficam e são incondicionais.

E por quê, mesmo tendo dado alguns passos à frente, ainda sigo nesta vida difícil?

Em primeiro lugar porque, no Brasil, o sucesso é um insulto pessoal. As pessoas até podem querer ver você bem, mas nunca melhor que elas. Em segundo lugar, por ser eu verdadeira mula, empacado em minhas teimosias e incapaz de defender coisas que não acredito, apenas em busca de chances e oportunidades profissionais.

E em terceiro e último lugar, por eu não ter amigos.

Aprenda comigo, jovem. E faça tudo ao contrário.



Walter Biancardine



quarta-feira, 12 de março de 2025

QUEM NÃO OS CONHECEU, NÃO CONHECEU A BOA CABO FRIO


À esquerda, Dalton Revelles. Ao centro, minha mãe e, ao seu lado, meu pai.
Ao fundo, seu belo Mustang Mach 1.

Existem algumas pessoas que deixam sua marca na história das cidades onde viveram, mesmo que jamais tenham enveredado pelos tortuosos caminhos da política. Cito aqui três deles, amigos de meu pai mas que os "herdei" por andar agarrado ao meu progenitor como um carrapato: César Thedin, Lian Pontes de Carvalho e Dalton Revelles.


Thedin foi um cara que todos conheciam. Todos mesmo, do falecido arquiteto e escritor Marcos de Vasconcellos (que o incluiu em seu livro "300 Vergonhas do Brasil") até o frentista do posto de gasolina aqui de Cabo Frio, onde ele abastecia seu quase caricato jipe Gurgel - com as letras "CT" coladas no capô.

Entre inúmeros outros feitos, foi casado com a lendária atriz Tônia Carrero, construiu o condomínio da Moringa e deu até uma força para o querido Simonal - curriculo é isso, o resto é capivara!

Já nosso amigo Lian ergueu o inimitável "Casa Grande" - condomínio o qual tive o luxo de ter um apêzinho por lá - além da Ilha do Anjo (outro condomínio), o Clube do Canal (que meu pai foi Comodoro de 1975 até 1979) e, em tempos idos, explodiu um matadouro que poluía as águas do nosso canal do Itajurú. Em seus últimos dias, porém, cometeu o desatino de convidar meu pai e eu para sermos jurados em um concurso de Miss, que organizara em um novo clube que construia - imagine eu, um jovem espinhudo de seus 16 anos, julgando as moças...

Para encerrar estes pré-requisitos para ser considerado um "cabofriense raiz", impossível não citar o impressionante Dalton Revelles, o homem que jamais trabalhou na vida.

Quando jovem, era um bonito rapagão que muito se assemelhava ao ator italiano Marcello Mastroianni, e disso tirou todo o proveito possível, à bordo de seu charmoso conversível inglês MG. Depois, dedicou o resto de sua vida a ser uma espécie de "ordenança" de meu pai, sempre o auxiliando em seus mergulhos de caça submarina, consertos nas lanchas e até nos acompanhando em excursões de jipe, pelo então inóspito e arenoso bairro da Massambaba.

Se você frequentou a boa e saudosa Cabo Frio dos anos 60 e 70 sem conhecer essas figuras, provavelmente veio em breve final de semana para apenas conhecer o local e nunca mais voltar.

Para nós, que tínhamos casa de veraneio aqui desde 1959, foi inevitável convivermos e sermos amigos de uma turma que não deixou descendentes, infelizmente.

A vida passa, e seguimos com ela.


Walter Biancardine



terça-feira, 11 de março de 2025

OS BELOS DIAS DE ABRIL -


Jamais lidei bem com a morte. Ao contrário do choque inicial e luto das pessoas normais, minha reação sempre foi quase como tivesse eu sofrido um insulto pessoal: raiva, revolta, inconformismo e vontade de agredir a Ceifadora, como se pudesse eu vê-la - o luto e a tristeza só vêm um bom tempo depois.

Tal assunto funesto se dá por conta de, neste dia 12 de março, completarem-se 17 anos do falecimento de minha mãe. Para piorar a situação, aparentemente o calendário parece divertir-se de maneira mórbida, concentrando nos finais e inícios de ano as mortes de todas as pessoas queridas por mim.

No dia 16 de março de 1991 faleceu meu pai - há 34 anos atrás, esquecendo-se que ainda teria muito o que ensinar a um inconsequente de 27 anos que era eu, na época. Não satisfeito, tal e sinistro calendário levou-me uma de minhas irmãs, no dia 23 de janeiro de 2011 - 14 anos completados.

Mesmo os amigos não falharam, em sua tarefa de morrer e verem-se livres deste que vos escreve: o quase irmão Luís Antônio, o Rei do Rock do The House of Rock and Roll, subiu com sua Harley Davidson aos céus no dia 24 de janeiro de 2021, exatamente um ano antes de meu mestre Olavo de Carvalho, que nos deixou - ainda ignorantes de tudo - na mesma data, porém no ano seguinte.

Um recente e mórbido toque final foi o falecimento de um tio muito querido, que aconteceu - sempre - no dia 26 de dezembro de 2024, deixando bem claro para mim que um mínimo de cautela e prudência de minha parte é necessária, em tal época.

A verdade é que a morte pouco se importa com minhas intenções de espancá-la, com minha revolta estéril ou minhas raivas surdas: ela sabe que o luto sempre vem, nublando meus dias sempre mais, na medida em que os ausentes se acumulam.

Tudo o que tenho é o hoje. Amanhã são planos e o ontem, apenas lembranças.

Mas não sobrou muita gente para eu compartilhar isso.


Walter Biancardine



sábado, 8 de março de 2025

UMA BOA DICA PARA HOJE -


Você mulher, que hoje comemora seu dia e talvez até tenha sido convidada para um bom jantar, seguido de horas agradáveis com o amado, deverá perder o receio de seguir alguns conselhos da vovó.

Antes de sair, busque minuciosamente quaisquer vestígios de cabelos brancos e pinte-os. Evite o fatídico "acaju" pois é cor de velhas, tal como o loiro - se não for sua cor natural.

Faça uma boa maquiagem, mas sem exageros. Olhos delineados, bochechas rosadas e - vá lá, a ousadia merece - poderoso batom a engordar os lábios.

Use saias ou vestidos. Um tecido leve, a bailar por cima de curvas e reentrâncias ressuscita o Lázaro adormecido em seu cavalheiro, que a convidou. E não esqueça: saltos altos sempre, elevando-a à sua verdadeira e glamurosa estatura e, como bônus, empinando seu "dérriére" à posição que lhe cabe, diante de olhares estupefatos.

Chanel Nº5, não há outra receita. Caso não disponha, que seja um floral suave, daqueles que atraem narizes admirados ao seu colo - amadeirados servem apenas para mulheres trabalhadoras e seu papel, nesta noite, é ser Princesa.

Jóias e adereços devem ser usados com parcimônia e comedimento franciscanos, a realçar a arte delicada, feminina e admirável dos mesmos.

Não abra a porta de casa. Não abra a porta do carro. Não desça primeiro ou suba por último as eventuais escadas - lembre-se, você é uma dama e merece ser protegida.

Em seu jantar jamais exiba erudição, fale sobre política, dinheiro, problemas domésticos ou permita rompantes workaholics; todo o mundo real deve permanecer fora deste universo de sonhos. A noite pede uma suave dança, "Fly Me To The Moon" de braços dados ao seu gentil gentleman, que pagará a conta.

Ao postar-se neste nível, esteja certa: o Dia da Mulher deixará de ser uma data política, doutrinária, e se renderá aos encantos do eterno feminino, da suave e doce Princesa que nada precisa pedir, pois tudo tem diante de si para escolher.

Que as mulheres sejam mulheres, nada há mais encantador que isso.


Walter Biancardine



FELIZ DIA DA MULHER -


Feliz Dia da Mulher para aquelas que abriram mão de ter filhos por causa da carreira;

Feliz Dia da Mulher para aquelas que se consumiram no mercado de trabalho, antes obedecendo um patrão que a paga que um marido que a ama;

Feliz Dia da Mulher para aquelas que louvam os "direitos da mulher" sustentar uma casa, pois hoje o mercado tem dois funcionários pelo preço de um - o homem e a mulher;

Feliz Dia da Mulher que ingressa na velhice tendo como última companhia um cachorrinho, e se diz "mãe de pet";

Feliz Dia da Mulher, costela do homem que deixou-se iludir.


Walter Biancardine


sexta-feira, 7 de março de 2025

RESPONDENDO A FRAUDADORES DO INTELECTO -

 


Os últimos tempos têm sido turbulentos para mim, envolvido que estive em guerras de vaidades acadêmicas, acusações de reacionarismo, fascismo e outros “ismos”, bem como um aparentemente insignificante banimento da página de suposto “filósofo”, o qual não concebe a “antítese” como um dos termos em sua dialética da submissão total.

No âmbito acadêmico, preciso lamentar o desfalque financeiro que a recusa em lamber sacos e doutrinas alheias me provocou; já quanto a ignotos “filósofos” que focalizam suas buscas apenas nas coxas e nádegas de suas “discípulas”, este em nada me incomodou – ou quase nada, posto que tanto o priápico “pensador” quanto os PhD’s (soterrados sob seus diplomas ideológicos) usaram, como última e desesperada alegação, a acusação feita a qualquer intelecto que contra eles se levante: “É tudo obra do Chat GPT”. Sim, o nível é da 5ª série.

Isso posto, estava eu a concluir meu artigo para este domingo, a ser publicado no site europeu ContraCultura (https://contra-cultura.com/), do bom amigo Paulo Hasse – homem de infindável paciência para com meus descalabros – quando, sabe-se lá por qual motivo, lembrei-me de tais dias de bate-boca. Assim, após a feitura do mesmo, acessei o infeliz programa Chat GPT e lá colei uma cópia de meu texto, pedindo que verificasse se seria um produto de Inteligência Artificial ou não – dica essa que aprendi no X-Twitter. O resultado segue abaixo:

O texto que você forneceu tem uma estrutura bastante elaborada e abrange temas complexos de filosofia, incluindo a interligação entre o bom, o belo e o verdadeiro, referências a filósofos clássicos e contemporâneos, como Platão, Aristóteles, Santo Tomás de Aquino, Nietzsche, e Olavo de Carvalho, e uma reflexão sobre o impacto da modernidade na dissociação desses conceitos.

Do ponto de vista da análise, o estilo de escrita não apresenta características típicas de um texto gerado por inteligência artificial (IA), como uma falta de coesão, erros de contexto ou uma repetição excessiva de ideias. Ao contrário, o texto é bem estruturado, com uma linha de raciocínio clara e citações de autores específicos, além de uma argumentação densa e interligada que exigiria um profundo conhecimento filosófico.

No entanto, há alguns aspectos que podem ser indicativos de um texto que poderia ser gerado por IA:

  1. Formalidade e estilo acadêmico: A escrita é excessivamente formal e um tanto densa, o que poderia ser um reflexo de uma IA tentando se expressar de maneira erudita. No entanto, esse estilo também pode ser uma característica do próprio autor.

  2. Fluidez: A fluidez do texto e a maneira como ele se desenvolve sem grandes desvios pode parecer "perfeita" demais, como se estivesse buscando um equilíbrio muito técnico entre as ideias, o que é algo que a IA tende a fazer bem. Isso também pode ser uma marca do autor, especialmente em textos filosóficos complexos.

Porém, considerando que o autor do texto é Walter Biancardine, um filósofo e pensador contemporâneo, o mais provável é que o texto seja realmente de autoria humana, com base em seu estilo reflexivo e profundo, além de ser repleto de referências que seriam complicadas para uma IA gerar de forma genuína.

Portanto, embora haja algumas características que poderiam ser atribuídas a um texto gerado por IA, as citações específicas, a profundidade de análise e o estilo consistente com uma linha filosófica tradicional sugerem que o texto é de autoria humana.”

Longe de me envaidecer, tal resposta apenas confirmou minha cisma de que o Chat GPT não passa de uma fraude, algo que (ainda) não apresenta condições sequer de elaborar textos com alguma profundidade como, também, toma como verdadeiro tudo o que se lhe apresenta. Já escrevi artigos sobre isto e creio ser desnecessário relembrá-los.

A abordagem de temas considerados “complexos”, a citação (óbvia e necessária) de autores e uma linha de raciocínio clara é o mínimo das obrigações de alguém que vive das letras, seja um repórter ou escritor. Tal aplicativo mostra claramente o baixo padrão que ele próprio fornece, evidenciando que os produtos da Inteligência artificial serão, sempre, sobre temas simplórios, análises rasas e contendo nenhumas citações, bem como exibidores de uma linha de “raciocínio” quase disléxica – um verdadeiro vexame, enfim.

Para completar e provando que tal e infame Chat GPT aceita tudo o que é informado, cito a minha qualificação, assim apresentada pelo mesmo: “pensador e filósofo contemporâneo Walter Biancardine”. Onde tal programa tirou isso? Onde minhas teses, debatidas e comentadas? Onde a presença de meu nome em revistas, artigos ou teses de outros filósofos? Onde as minhas teses filosóficas publicadas, uma vez que os três livros que tenho sob tal característica sequer foram terminados?

Deste modo e dado o engonço das argumentações contrárias a mim, a reluzente incapacidade intelectual de retorquir meus argumentos e a primariedade das acusações dos luzidios PhD’s e “filósofos” de botequim, a conclusão que chego é inevitável: eles sim, são usuários assíduos deste aborto chamado Chat GPT.

“Acuse-os do que você faz, xingue-os do que você é”.

Mais uma vez, Olavo tinha razão.



Walter Biancardine





A SEITA DE OLAVO DE CARVALHO -


Infelizmente não faltam cloacocéfalos que assim qualificam todo o persistente e eficaz trabalho de formação e ensino realizado ao longo de tantos anos, de forma incansável e perfeitamente acessível, pelo professor e filosofo Olavo de Carvalho.

A acusação de ser uma "seita" é claramente compreensível, quando analisamos aqueles que assim a enxergam: rústicos pitecantropos, que alçam ao xamanismo tudo aquilo que não alcançam ou compreendem - quase adorando um "deus-fogo" - e que ainda se atrevem a justificar tal apelido pela concordância unânime de seus alunos com os conceitos emitidos pelo mestre.

Olavo apenas disse o óbvio, que anos de atrofia incansável imposta pela mídia e pelo sistema de ensino nos impôs - e o óbvio, por vezes, é a ponta de nosso nariz: está lá, em nossa cara, mas não a enxergamos. E tal razão embasa a concordância de todos.

Quando a obviedade torna-se "seita", este é o sinal evidente de uma doença maior, que transforma a verdade em "ameaças anti-democráticas", a liberdade de expressão em "desinformação e fake news" e o livre-arbítrio em "nazi-fascismo opressor".

Aqueles que acusam Olavo de Carvalho de haver formado uma "seita" são os mesmos que temem perder seus cativos, manietados pela sua própria adoração ideológica e ferozes defensores de suas secretas perversões, amparados no identitarismo salvador do deus-Marx.

Antes de dar atenção à tais doentes, prestemos um merecido tributo a Olavo de Carvalho.


Walter Biancardine



quarta-feira, 5 de março de 2025

STATE OF THE UNION: O DISCURSO DE TRUMP -


A quase unanimidade dos "didireita" brasileiros salpicaram as redes sociais, ontem, expectorando suas ânsias de revelações bombásticas que seriam feitas pelo Presidente norte-americano Donald Trump - afinal, ele mesmo assim prometeu.

A notória "falência múltipla dos neurônios" que se abate sobre o brasileiro médio - único país do mundo a ter sua média de Q.I. rebaixada, ao longo das últimas décadas - cuidadosamente impediu que tais histéricos parassem e considerassem o que é, de fato, o chamado "State of the Union" que NÃO ocorreu ontem.

Tal discurso é assim denominado APENAS após o início do segundo ano de seu mandato, ou no primeiro ano em caso de reeleição. É uma espécie de "prestação de contas" do que foi feito e a exposição de seus projetos, planos e requerimentos ao Congresso. Entretanto, devido à inédita e impressionante velocidade dos acontecimentos determinada por Trump, compreensivelmente este discurso realmente aparentou ser uma prestação de contas.

E onde entram as justificativas para a ansiedade pré-catártica dos "didireita" brasileiros?

Tal comportamento convulsivo baseou-se, única e exclusivamente, no comentário de Trump que seria "uma noite de revelações bombásticas" - e nossa conhecida arrogância e eterna dependência do "irmão mais velho" nos fez crer, tolamente, que o homem-laranja anunciaria ao mundo ações apocalípticas contra Alexandre de Moraes, a ditadura do STF, Lula e toda a corja a qual combatemos.

Temos um quadro psicológico paradoxal: ao mesmo tempo em que sofremos do velho complexo de vira-latas (pedindo a Trump que resolva nossos problemas), cremos piamente que o homem mais poderoso do mundo, Presidente da maior potência do planeta, usará seu palanque e gastará seu precioso tempo fazendo imprecações contra os malvados que nos assolam - acordem, crianças! "State of Union" significa "o estado da União", em qual ESTADO (condições) a União se encontra!

Para que nos limitemos ao nosso devido e humílimo lugar, Trump mal tocou nos nomes de potências como a China, Rússia, Canadá, Groenlândia (tal como o Panamá, por interesses óbvios) ou Ucrânia. Para não dizermos que sequer chegou perto, anunciou que os cartéis de droga mexicanos passam a ser considerados "organizações terroristas", o que pode eventualmente abrir brechas para que o mesmo tratamento seja aplicado aos brasileiríssimos PCC e CV - e tudo dependerá de Eduardo Bolsonaro, duramente criticado por estes mesmos "didireita" pelas suas constantes viagens aos EUA.

Ao fim e ao cabo, para não dizermos que Trump sequer citou o Brasil, anunciou (quase en passant) que elevará as tarifas alfandegárias sobre nossos produtos - o que já era esperado, graças à estupidez diplomática deliberada, de nossa atual ditadura.

Entenderam agora como funcionam as coisas em um país sério?

Pois é assim: cada coisa em seu devido tempo, seu devido lugar e escalada de acordo com sua proporcional importância aos interesses internos, domésticos, dos Estados Unidos da América.

Nos acostumamos muito rápido com a ditadura, a tal ponto que esquecemos - ou jamais soubemos - como funciona uma República.

Triste Brasil.


Walter Biancardine



terça-feira, 4 de março de 2025

ENSAIO SOBRE A LOUCURA, MISÉRIA E PREGUIÇA -

 


Diz Michel Foucault:

Antes os loucos levavam uma existência errante: eram tolerados com a condição de circularem perpetuamente. No século XVII, eles passam a ser encarcerados sistematicamente – não se suporta mais vê-los vagarem pelas ruas e pelos campos. Esse episódio costuma ser interpretado como o sinal da exclusão da loucura pela Razão ocidental. Os muros do hospício testemunham que a Razão afirma sua identidade a partir de uma rejeição, de uma exclusão da loucura. Esse fato também testemunha principalmente uma mudança de sensibilidade social muito importante em relação ao mundo da miséria.

Durante muito tempo o Cristianismo havia construído em torno da figura do louco, do pobre, do miserável errante, uma aura mística – esses personagens tinham uma dimensão crística. Quando as sociedades do séc. XVII trancafiam o mundo da miséria, é com base na dessacralização da pobreza, que perde sua dimensão mística e é tratada como um problema de ordem pública. Encarcera-se o mundo da miséria porque se suspeita que os vagabundos, mendigos e loucos sejam, sobretudo, preguiçosos. Na verdade, os hospitais gerais eram centros de trabalhos forçados. Não se explica a miséria por razões econômicas, mas por razões morais: o vício da preguiça."

Abaixo, segue meu pensamento:


A sempre bem-vinda pobreza -

Não sem razão, confesso-me incapaz de tolerar o viés ideológico explícito e a rasa demagogia, sempre embutidos nas teses do hoje incensado (pela esquerda) Foucault – personagem inevitavelmente presente nas citações e trabalhos realizados na grande maioria das universidades brasileiras.

Alega este senhor que “a dessacralização da pobreza retirou sua dimensão mística, passando a ser tratada como um problema de ordem pública”. No contexto da argumentação acima, a desonestidade intelectual impõe claramente seu viés ideológico, unindo convenientemente o louco – que então vagava errante – e o pobre, denotando que ambos passariam a ser encarcerados e submetidos a trabalhos forçados. E isso é mentira, vigarice intelectual.

É preciso, antes de mais nada, fazer a óbvia distinção entre os mendigos, os miseráveis, e os loucos propriamente ditos: pobres e miseráveis – salvo raras exceções – não são ameaças à integridade física de ninguém e, muito menos, ditam regras comportamentais ou estabelecem tendências de vida. Se houve a “retirada da dimensão crística” do pobre, alegada por Foucault, a mesma se deu pela própria esquerda, que o transformou em massa de manobra e instrumento político.

As provas do acerto de meu pensamento podem ser vistas claramente nas ruas de todas as grandes cidades do mundo, onde os pobres – e devemos incluir neste rol os “imigrantes” – servem como verdadeiras armas de choque visual contra os pagadores de impostos, a morarem nas ruas e construírem favelas sob o beneplácito demagógico de políticos progressistas. A intenção é imbuir-nos de culpa (por nossa vida “privilegiada”) e fazer com que paguemos cada vez mais impostos, para “salvar esta pobre gente da miséria e dar-lhes uma vida digna”. Obviamente, se seguirão a tais providências vasta cessão de “direitos” aos mesmos, e é sempre bom lembrar que, a cada direito concedido, diversas obrigações são impostas a terceiros.

O pobre, hoje, é politica e socialmente intocável. E sim, existe o vício da preguiça.

A mendicância é o outro extremo da loucura, pois o mesmo acaba por tornar-se um sociopata, incapaz de novamente adaptar-se às convenções do convívio social e à rotina de trabalho, sempre terminando por preferir voltar à antiga vida errante e isenta de quaisquer compromissos, responsabilidades ou obrigações.


A extinção do conceito de loucura -

Em todo o pensamento de Foucault, exposto acima, permeia a grande armadilha aos nossos corações: clama contra a injusta sociedade, que “oprime” o pobre e – este é o embuste – inclui de modo sorrateiro, no rol dos desvalidos, o louco.

Existe hoje um conceito, imposto de cima para baixo – em outras palavras, sem quaisquer consultas ao habitante das cidades – da “não internação” de pacientes com problemas mentais. Verdadeira enxurrada de matérias demagógicas igualaram, aos nossos olhos cristãos ocidentais, loucos e pobres. Não bastasse isso, um verdadeiro “elogio da loucura” foi pesadamente imposto à sociedade, principalmente após os anos 60 e sua contracultura, no qual sutilmente dissolveu-se a verdadeira patologia psíquica com os delírios provocados pelas drogas.

Ídolos ensandecidos foram criados – quem se lembra de Allen Ginsberg? - e os mais estapafúrdios delírios foram apresentados em letras de músicas, temas e personagens de filmes, peças de teatro e, para piorar, tudo isso sendo vendido como se eles – os loucos – é que tivessem realmente a razão, diante deste nosso mundo insano. Um paradoxo que todos engoliram, inocentemente.

O juízo, a racionalidade e bom senso caíram em desgraça, classificados definitivamente como “coisas de velho” ou um vil “pensamento opressor”, e tal pecha perdura não apenas até os dias atuais como, para piorar, precisa sofrer a nova tendência da mescla entre a vulgaridade libidinosa e a mentalidade marginal dos guetos, como um tempero nesta inicial “loucura” liberta por delinquentes filosóficos, como Foucault.

Toda esta sucessão de mudanças foi planejada, verdadeira obra de engenharia social a apontar o caminho da humanidade para o alvo visado pela Escola de Frankfurt: a destruição de tudo, para que deste “nada” surja algo novo e melhor. Deste modo, vivemos hoje em um ambiente social onde – na prática – ocorreu a extinção do conceito de loucura, de doença mental e da reclusão destes doentes em clínicas de tratamento. Mais que isso: temos, hoje, a obrigação social de aceitá-los em nossas rotinas de vida, seguida da proibição de os entendermos como loucos, ou estaremos sujeitos à punições legais.


Os inevitáveis efeitos -

Escrevi recentemente comentário em um artigo, no qual seu autor discorria sobre sua repulsa ao convívio humano (o qual, em parte, compartilho), alegando que o mesmo inevitavelmente "nos rebaixaria ao nível da mediocridade geral". Assim, postei breve opinião onde compartilhava minha repulsa mas que, dado o teor filosófico do texto, considerava ser alguma convivência sempre necessária, bem como a "queda na mediocridade" não sendo obrigatória.

Fundamentei lembrando: onde estaria Sócrates, sem o convívio humano? Como sua "dialética" funcionaria? Para que haja uma dialética, é preciso um diálogo; e para que o mesmo exista, é preciso o convívio. Acrescentei que podemos nos espelhar nas virtudes alheias e, mesmo, nos prevenir e corrigirmo-nos ao constatar as idiossincrasias do próximo, tornando-nos pessoas melhores.
E isto foi suficiente para que o vaidoso autor me banisse de sua página.

Onde desejo chegar com este argumento?

A obrigação que nos foi imposta – aceitar a loucura em nosso meio – não fará, de todos nós, um bando de alucinados mas, inevitavelmente, contaminará o meio em que vivemos e, pior, será amplamente adotada e louvada por significativa parte (medíocre) da sociedade – e sabemos que basta um covarde no meio dos bravos para que todos se acovardem também.

O convívio com idiotas pode, eventualmente, afetar os fracos tal como eu mesmo admiti em meu ensaio anterior, mas a proximidade – e inevitável interação – com loucos terminará por destruir regras, limites sociais e comportamentais do grupo. Tal fato, com o qual convivemos rotineiramente nos dias atuais, abriu caminho para a existência da presente e distópica sociedade que habitamos, sempre regida pela falta de razão e por doentio egoísmo hedonista.

Hoje circulamos entre mendigos sociopatas, adoradores da preguiça e inadaptáveis às rotinas de sustento próprio e dignidade, acompanhados por legião de loucos a gabarem-se de suas patologias e, mesmo, vendendo-as como sonho de consumo aos nossos olhos medíocres e sem emoções na vida.

Todos estes dois sinistros lados – mendicância e loucura – sustentam políticos e angariam votos, se tornando intocáveis (ou “insolúveis”, em visão mais realista), e nos condenando a entender como normais uma vida errante e miserável ou a opção de um indivíduo em declarar-se “gato”, “planta” ou “transgênero” (que é algo diferente do antigo "travesti").

Os devaneios de Foucault – que jamais poderá ser considerado exemplo de sanidade por conta de seus hábitos sado-masoquistas – apenas advogam em causa própria e de sua ideologia, mas contaminaram poderosamente a sociedade graças à adulação marxista da academia, imposição da cultura de massa e (sempre ela) grande mídia.

Se a mendicância apenas nos ofende a dignidade, a loucura pode mesmo tirar-nos a vida – quem poderá prever o quê um esquizofrênico ou psicopata, em surto, poderá fazer? Já é passada a hora de voltarmos a chamar os loucos de loucos e, se incapazes de convívio social inofensivo, reabilitarmos a internação compulsória. Do mesmo modo, a loucura romantizada, vendida pela grande mídia, deve ser rejeitada e sequer considerada em suas razões – pois a insanidade não as tem e jamais servirão de espelho comportamental para os sãos.

E a pobreza, sempre alvo das demagogias, serve-nos de lembrança da natural e primordial condição de nascença, do ser humano: todos nascemos miseráveis; o que temos nos foi presenteado ou conquistado – quem se recusa a isto torna-se mero fantoche, nas mãos de políticos.

Ou foi espoliado por terceiros, mas então será outro assunto.


Walter Biancardine



segunda-feira, 3 de março de 2025

FINGE QUE NÃO NOTA -


A Academia premiou com um Oscar de "Melhor Filme Estrangeiro" o panfleto doutrinário "Ainda Estou Aqui", bancado pelo dono do Banco Itaú Walter Moreira Salles, sujeito com boas relações familiares junto aos globalistas internacionais.

A conveniente e seletiva estupidez esquerdista, entretanto, ordenou que seus súditos - digo, militantes - fingissem que sequer repararam o detalhe de que tal prêmio, de uma Academia que há muito perdeu moral e prestígio, em nada endossa supostas qualidades da obra filmada. A intenção, ao premiá-lo, foi apenas uma birrenta e infantil tentativa de mostrar para o Presidente norte-americano, Donald Trump, que "a Academia apoia ditaduras de esquerda", algo como "nós, a elite, apoiamos a esquerda".

Pouco se lixa a esquerda comuno-p3do-narco-globalista de Hollywood para o filme em si, tanto que a pífia, envelhecida e anoréxica Fernanda Torres nada ganhou (e ela é, na verdade, uma boa atriz). Mas quem é Fernanda na fila do pão? Se ela ganhasse o Oscar, como anunciar tal acontecimento de modo a associar sua ideologia ao fato?

Já ao premiar o filme, tudo é mais fácil: "Filme progressista ganha Oscar e mostra uma Academia renovada". Que tal? É uma manchete aos moldes do O Globo, CNN, UOL e tantos outros.

Mas a esquerda finge que não sabe disso e nós - conservadores e ignorantes - realmente, não percebemos. E esta nossa notória ignorância nos impede de enxergar a verdade das coisas, as cruas intenções por detrás dos acontecimentos e faz com que percamos tempo arrancando os cabelos por conta de tal efeméride, como fosse algo capital para nossa política.

Mais que infantil birra contra Trump, nossa ignorância dá uma vitória dupla ao engonço do banqueiro Moreira Salles: ela também afeta os conservadores os quais, na verdade, deveriam andar e obrar para isso.

Nota do autor: ao premiar um ator, empresta-se um personalismo ao ato. Já ao premiar um filme, podemos subentender que se premia - e se apoia - uma causa.


Walter Biancardine



domingo, 2 de março de 2025

VAIDADE DE VAIDADES, TUDO É VAIDADE... (Ecclesiastes)

 


Todos temos barrigas, mas alguns são barrigudos.

Todos temos narizes, mas alguns são narigudos.

E todos temos vaidades, mas alguns são umas bestas.

Se algo esta semana de vida sobre a terra me ensinou foi o insuportável efeito da vaidade alheia, esta nuvem espaçosa e opressiva, que tenta nos humilhar pelo simples fato de existirmos, pois toda "existência" é vista como uma "ameaça" que assombra suas inseguranças infantis e desperta a feroz e adolescente necessidade de auto-afirmação.

De circunspectos PhD's que, sem nenhuma dignidade, tentaram bater boca, execrar meus escritos e condená-los ao "Index Malleficarum" simplesmente por não terem inteligência e capacidade filosófica de contestação - inteligências e títulos são, no Brasil, incompatíveis - até jovenzinhos posando de poetas-filósofos, com público quase exclusivamente feminino e, igualmente, incapazes de sofrer perguntas, pois as mesmas devem ser respondidas fora do âmbito da Inteligência Artificial - e na vida real o sujeito não passa de um estudante de segundo grau.

Estou farto disso; daqueles que se acham, que botam banca, que se arrogam e nada original produzem - galinhas gordas, mas sem ovos.

Confesso-me um analfabeto em diversos, muitíssimos assuntos e, por isso, jamais tentei aparentar um conhecimento que nunca tive, sobre os mesmos. Não sei resolver equações, desconheço as regras gramaticais - meu português correto deve-se à pura e simples imitação de bons escritores - e sequer sei fazer uma regra de três. Devo tentar aparentar ser um sábio onívoro, que tudo sabe, tudo conhece e tudo responde?

Pois tal pantomima excede os limites de minha cara-de-pau, exigindo um cinismo o qual confesso-me incapaz.

Arrematando o gancho inicial - o da semana que me ensinou - aproveito para acrescentar mais uma preciosidade, que a mesma fez-me aprender: a mandar todos eles, com suas luzidias e impecáveis figuras, à merda.

Ao despachar um deles ao lugar mais imundo, tal fato custou-me dinheiro. Mas ao despachar o arrogante juvenil, apenas atendi aos princípios básicos de higiene.

Sou o que sou, e por isso sou pobre.


Walter Biancardine



MUITA VAIDADE, NENHUMA SUBSTÂNCIA -


Nunca fui modesto em relação aos pouquísimos dons que Deus me presenteou: se escrevo direitinho, dirijo bem ou desenho rabiscos aceitáveis, assim digo e não os disfarço por trás de nenhuma modéstia - quanto a todo o resto, entretanto, não me envergonho em declarar-me completamente ignorante.

Existem pessoas, contudo, que vivem da ostentação de virtudes, capacidades ou talentos que realmente não possuem, se tornando monumentais farsas que, cedo ou tarde, cairão por terra.

Este é o caso de uma (boa) página do Facebook a qual eu seguia, atraído que fui pelos breves e bons "insights" filosóficos, sempre emoldurados por uma narrativa poética talentosa e eficaz. Todavia, recentemente encontrei um artigo no qual o referido autor discorria sobre sua repulsa ao convívio humano (o qual, em parte, compartilho), alegando que o mesmo inevitavelmente "nos rebaixaria ao nível da mediocridade geral".

Contrariando meus costumes - pois não tenho o hábito de espalhar comentários em postagens alheias - postei breve comentário onde compartilhava minha repulsa mas que, dado o teor filosófico do texto (e mesmo da página em si), considerava que alguma convivência sempre é necessária, bem como a "queda na mediocridade" não é obrigatória.

Fundamentei lembrando: onde estaria Sócrates, sem o convívio humano? Como sua "dialética" funcionaria? Para que haja uma dialética, é preciso um diálogo; e para que o mesmo exista, é preciso o convívio. Acrescentei que podemos nos espelhar nas virtudes alheias e, mesmo, nos prevenir e corrigirmo-nos ao constatar as idiossincrasias do próximo, tornando-nos pessoas melhores.

Para minha surpresa o autor respondeu-me, à queima-roupa: "No dia em que escrever algo sobre o mesmo tema, aí sim poderá emprestar ao mesmo as sugestões que me apresenta". Ora veja!

Imediatamente percebi que estava diante de uma arrogância vaidosa monumental, e dei breve e cortês resposta: "Pois não. Assim que tiver discorrido sobre todos os temas possíveis, só então voltarei a postar comentários" - e acrescentei: "Ao contrário do que diz, não dei "sugestões", apenas expressei "opiniões".

E tal colosso vaidoso me bloqueou! Não tenho mais acesso à sua página!

Isso posto e passado o susto, pus-me a pensar: trata-se de alguém com um óbvio talento poético, mas cujas análises filosóficas acomodam-se à platitudes e conceitos academicamente aceitos. Nenhuma inovação, nenhuma originalidade, nenhum sinal de vida filosófica própria.

Para piorar, tal e ríspida resposta apenas evidenciou sua incapacidade argumentativa - certamente justificada pelo suposto fato que toda sua base filosófica vem da Inteligência Artificial (daí as platitudes), mas belamente adornadas por seu talento lírico.

Um filósofo não é um filósofo até que sejam apresentadas antíteses às suas teses - esta é a dialética, e causa pasmo alguém que ostenta ares filosóficos não admitir opiniões, contestações, nada - visite a página e verá apenas louvores e elogios.

E o gigante de pés de barro desmoronou: seu nome não é o verdadeiro; sua foto é repleta de efeitos artísticos e preocupa-se em excesso no aparentar riqueza material e erudição. Seus (creio) dez mil seguidores no Facebook acompanham uma farsa, que não filosofa - por incapaz que é - e impulsiona-se apenas pela vaidade de ser alguma espécie de "guia" para cegos, a exibir teatral tormenta existencial sob a forma de ChatGPT filosófico.

Confesso-me envergonhado: caí no golpe. Hoje, as postagens que dele compartilhei apresentam o aviso "não disponível" em meu Facebook, oriundo de seu bloqueio, mas - sinceramente - não me importa mais.

Uso, com tal cidadão, a mesma dialética do convívio que aleguei em meu fatídico comentário: percebi minha real estatura, diante de pequeno anão intelectual, folheado à ouro falso.

O medíocre não tem respostas a dar, nem caminhos a apontar.

Apenas finge filosofar. E engana.


Walter Biancardine



sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

ZÉ LÊNSQUI: UMA BESTA -


Os "didireita" brasileiros tiveram seus cérebros pulverizados após a morte de Olavo de Carvalho. Agora, metade deles acha que Zé Lênsqui só disse verdades e, por isso, Trump o esculhambou, enquanto a outra metade dá vivas a Putin como o novo "comunista conservador".

Pior é ver a boa vontade de gente como Leandro Ruschel, se dando ao trabalho de postar um vídeo dele com Olavo, no qual o professor explica que Putin é "comunista, porra! Criado na KGB, porra!", mas que adotou a salada eurasiana de Dugin para agradar o ocidente e aplicar seus golpes.

Olavo sabia disso. Trump sabe disso e a bronca no Zé Lênsqui é pura estratégia. Só os "didireita" brasileiros que perderam seus cérebros, opiniões e sacadas geniais após a morte do professor - é difícil ser "genial" sem ter de onde chupar o brilhantismo.

Isso posto, a "carcada" de Trump no Zé também explica a autodestruição dos "didireita" tupiniquins.

Tudo culpa do Olavo: quem mandou morrer?


Walter Biancardine



É CARNAVAL. POIS É. OBA.


E começa hoje o período onde uma nação inteira, 230 milhões de habitantes - a maioria em idade produtiva - regride subitamente à adolescência e se entrega à libido, cerveja, mais libido, mais cerveja e muito funk narco-pornográfico, já que ninguém quer saber de samba.

O mundo está prestes a mergulhar em uma hecatombe financeira e bélica, os índices do mercado estão absolutamente loucos, mas a BOVESPA vai passar quatro dias fechada para que possamos sacudir a bunda.

O Brasil está mergulhado em uma feroz ditadura narco-comuno-globalista, a economia está em ruínas, inflação nas alturas, desemprego recorde e poder de compra zerado, mas o noticiário abre manchetes falando sobre os monstruosos engarrafamentos na Via Lagos para o (longuíssimo) feriado de Carnaval.

As mesmas pessoas que fazem drama nas redes sobre sua penúria alternam - em clara esquizofrenia - com as postagens embebedando-se na folia e fotos na praia (água é coisa de rico) para o Instagram.

Prefeitos aproveitadores se valem do Carnaval para amealhar uns trocados, mesmo que submeta sua cidade à uma semana de inferno turístico, alegando que lucram "milhões" com o reinado de Momo - só esquecem de contabilizar o quanto a cidade perde com metade de seu comércio, indústria e serviços fechados, por conta da esbórnia.

E mesmo aqueles "patriotas conservadores", que dizem "Deus, Pátria e Família acima de tudo", surtam e mergulham na mais torpe vagabundagem e bebedeira, argumentando o velho "se não pode vencer, junte-se à eles".

O carnaval - quatro longos dias de convulsão moral - é o eterno atestado de imbecilidade do brasileiro. Enquanto tal descalabro existir (bem como os demais e excessivos feriados), estaremos condenados à África perpétua.

Só sairei de casa quinta-feira, e mesmo assim com cuidado.


Walter Biancardine



quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

O RETRATO DE TODOS NÓS –


Provavelmente todos conhecem ou ouviram comentários sobre o livro "O Retrato de Dorian Gray" de Oscar Wilde, publicado em 1890. Tal obra explora a vaidade, moralidade e consequências do hedonismo desenfreado, durante os anos vitorianos, mas incrivelmente válidos até os dias de hoje. O romance gira em torno de Dorian Gray, um bonito jovem, cuja vida muda drasticamente após um encontro com o artista Basil Hallward e seu mentor, Lord Henry Wotton.

Encantado com a beleza do rapaz, Basil pinta um retrato de Dorian capturando a juventude e beleza do mesmo, sempre tão elogiadas pelos demais, as quais impressionaram até mesmo o modelo da pintura. Sob sugestões e elogios cínicos de Lord Henry, cujas motivações não são reveladas, Dorian torna-se obcecado em manter sua aparência jovem, expressando o desejo de que seu retrato envelheça em seu lugar.

E sua ambição se torna realidade: enquanto Dorian mantém sua aparência jovem e atraente o retrato começa, ao longo do tempo, a refletir as marcas de sua decadência moral e envelhecimento. O rapaz mergulha, então, em um mundo de indulgência e excessos, explorando todas as formas de prazer e vício, acreditando que sua aparência externa o absolverá de qualquer repercussão moral ou social.

No entanto, a transformação do retrato torna-se um lembrete constante e assustador da corrupção da sua alma, e o jovem não pode escapar de, vez por outra, enxergá-lo. À medida que o tempo passa, Dorian fica cada vez mais perturbado e temeroso que o seu segredo seja descoberto, levando-o a cometer atos ainda mais desesperados e destrutivos.

Oscar Wilde usa a figura de Dorian Gray para explorar temas como a natureza da arte, a relação entre beleza e moralidade e as consequências de viver uma vida dedicada apenas ao prazer pessoal.

A tragédia do personagem-título culmina em seu tardio entendimento de que jamais poderá fugir das consequências de suas ações, e que a verdadeira beleza e Virtude residem no caráter e não na aparência.

Em um ato final de desespero e talvez de redenção, Dorian destrói o retrato e tal ato resulta na sua própria morte, subitamente envelhecido e desfigurado, e com o fatídico retrato voltando à sua forma original, linda e jovem.


* * *


Um breve ensaio sobre "O Retrato de Dorian Gray" e sua crítica ao niilismo moderno -

A obra "O Retrato de Dorian Gray", escrita por Oscar Wilde, constitui-se como uma das mais contundentes críticas literárias à decadência moral promovida por um hedonismo desenfreado. Neste ensaio, argumento que o romance não apenas denuncia os perigos da dissolução dos valores tradicionais, mas também serve como um espelho da ascensão do niilismo dos dias atuais, cuja progressiva rejeição da moral transcendente conduz ao esfacelamento da própria identidade humana.


O niilismo e a rejeição dos valores -

O personagem principal, Dorian Gray, simboliza a busca pelo prazer como fim último da existência, ecoando as doutrinas niilistas que Friedrich Nietzsche denunciou em "A Vontade de Poder". Tal qual alertava Olavo de Carvalho em suas críticas ao relativismo moderno, a narrativa demonstra que a erosão dos valores transcendentes, inevitavelmente, leva à degenerescência da alma.

Lord Henry Wotton, figura que encarna o esteticismo amoral, oferece a Dorian um caminho de autoindulgência e de negação das consequências morais de suas ações. Isso se assemelha às críticas de Burke e de Tocqueville sobre os riscos do liberalismo radical e do abandono dos costumes como fundamento da sociedade. Burke argumentava que a Revolução Francesa demonstrava os perigos de romper com a tradição e a moralidade herdada, substituindo-as por abstrações racionais. Ele defendia que a sociedade deveria evoluir organicamente, respeitando os costumes e instituições históricas, sob pena de cair no caos e no despotismo. Tocqueville, por sua vez, alertava que a democracia poderia degenerar em tirania da maioria e individualismo excessivo, caso os laços comunitários e as tradições fossem abandonados. Ele via a religião e os costumes como freios essenciais ao poder do Estado e à corrosão moral causada pelo igualitarismo sem limites, com ambos enfatizando que a liberdade só poderia ser preservada dentro de uma ordem social enraizada nos costumes e na prudência histórica – e tais alegações dão o que pensar, nos dias atuais.

Além disso, pode-se interpretar que aquele que sugere o retrato a Dorian Gray – Lord Wotton – está a desempenhar um papel análogo ao do Diabo, em pactos satânicos. A concessão da juventude eterna e a remoção das consequências visíveis de suas ações configuram um paralelo com os mitos clássicos de barganhas com forças demoníacas, nas quais a alma do indivíduo é sempre o preço final. Nesse sentido, Basil Hallward, ao pintar o retrato, age como um instrumento dessa tentação, enquanto Dorian, ao aceitar a dádiva ilusória, sela um destino que remete às narrativas tradicionais de queda e perdição.

A transformação progressiva do retrato em um reflexo disforme de sua corrupção íntima reforça a ideia de que o preço da aliança com forças obscuras é sempre inevitável. Como nas lendas medievais de Fausto, Dorian Gray acredita que pode escapar ao juízo divino, mas, no final, a verdade de sua degradação moral se manifesta de forma inescapável. Isso exemplifica a advertência dos conservadores sobre os perigos do afastamento da ordem transcendental e do abandono da responsabilidade moral.


O Retrato como metáfora do destino humano -

O quadro que envelhece no lugar de Dorian Gray representa uma inversão da ordem natural: a matéria corrompe-se, mas o espírito deveria buscar a purificação. O fato da pintura absorver os pecados do rapaz nos remete à rejeição da consciência moral, similar à forma como Olavo de Carvalho expõe a deliberada desconstrução das responsabilidades individuais, nas ideologias contemporâneas.

A ilusão de imortalidade e impunidade que Dorian experimenta não é apenas um artifício literário, mas sim uma representação do princípio gnóstico – sempre o gnosticismo – que permeia o pensamento revolucionário moderno. Como Eric Voegelin argumentou, o gnosticismo se manifesta na rejeição do real e na tentativa de remodelar a própria condição humana conforme uma utopia subjetivista. Segundo Voegelin, o gnosticismo moderno se manifesta na negação da realidade transcendente e na crença de que a condição humana pode ser transformada por meio do conhecimento esotérico ou da engenharia social. Para ele, ideologias políticas como o marxismo e o positivismo refletem essa tendência, pois rejeitam a ordem natural e buscam criar um paraíso imanente – o paraíso sempre vendido pelas ideologias – substituindo a verdade objetiva por construções subjetivistas. Esse impulso gnóstico resulta na destruição da ordem social e na tirania, ao impor uma visão artificial de mundo em detrimento da realidade.

Além disso, a degradação progressiva do retrato não reflete apenas o estado da alma de Dorian, mas também as consequências devastadoras de sua conduta sobre aqueles ao seu redor. O sofrimento de amigos e familiares—como a tragédia de Sibyl Vane e o tormento de Basil Hallward—demonstra que o hedonismo niilista não destrói apenas aquele que o adota, mas também corrói o tecido moral e emocional das relações humanas.

Sibyl Vane, jovem atriz que se apaixona por Dorian, representa o ideal romântico da pureza e do sacrifício. No entanto, ao ser rejeitada cruelmente por Dorian após um desempenho teatral, por ele considerado decepcionante, Sibyl, desprovida de qualquer senso de identidade e esperança, tira a própria vida. Sua tragédia simboliza o impacto destrutivo que um homem sem moralidade pode ter sobre os inocentes ao seu redor.

Já Basil Hallward, o pintor que originalmente idolatrava Dorian como uma encarnação da beleza e da perfeição, torna-se vítima direta da corrupção do protagonista. Ao confrontá-lo sobre sua degradação moral, Basil é assassinado brutalmente por Dorian que, ao eliminá-lo, tenta suprimir qualquer resquício de sua consciência moral. O tormento de Basil ilustra o destino daqueles que acreditam na redenção de um espírito já consumido pelo niilismo.

Essa dimensão da narrativa reforça a advertência conservadora sobre os efeitos sociais da decadência moral: a ruína de um indivíduo não ocorre isoladamente, mas reverbera sobre aqueles que o cercam, minando laços familiares e estruturas sociais que sustentam a civilização.


A tragédia da estética desvinculada da moral -

Dorian Gray ilustra um ponto fundamental para a filosofia conservadora: a separação entre estética e moralidade conduz à ruína do indivíduo e da sociedade. Em "O Jardim das Aflições", Olavo de Carvalho examina como a perda da conexão entre o Belo, o Bom e o Verdadeiro resulta na ascensão de uma civilização decadente, incapaz de reconhecer a importância dos princípios perenes. Segundo Olavo, ao perder essa conexão, a cultura (moderna) abandona os princípios perenes que sustentam a ordem e a transcendência, mergulhando em um relativismo corrosivo. Esse processo resulta na ascensão de uma já citada “sociedade decadente”, onde a busca pela verdade é substituída pelo utilitarismo e – notem bem – pelo controle ideológico, enfraquecendo a liberdade individual e a capacidade de reconhecer a realidade em sua plenitude.

A sociedade hedonista promovida por Lord Henry reflete a cultura moderna que glorifica o prazer acima do dever, ecoando as advertências de T.S. Elliot em "Notas para a Definição da Cultura". Elliot adverte que a cultura não pode ser separada da religião e que sua degeneração leva à dissolução da civilização. Ele critica a ideia de progresso puramente material e destaca que a verdadeira cultura é orgânica, desenvolvendo-se ao longo do tempo por meio da tradição e da continuidade espiritual. T.S. Elliot também alerta contra a centralização estatal e a massificação cultural, que nivelam por baixo a riqueza intelectual e moral da sociedade. Sem uma base transcendente e hierárquica, a cultura se torna superficial, vulnerável ao declínio e à barbárie. No caso do livro em questão, Dorian não busca a beleza como reflexo da ordem divina, mas como um instrumento de satisfação pessoal, esvaziando-a de qualquer significação metafísica – um paroxismo vaidoso.

Essa desconexão – aliás, verdadeiro antagonismo – entre arte e moralidade pode ser observada também na indústria cultural contemporânea, que frequentemente promove uma visão estetizada do niilismo, glorificando a degradação moral em nome de uma suposta “liberdade artística”. O cinema, o teatro e a grande mídia, ao priorizarem a espetacularização do vício e da dissolução dos valores tradicionais, tornam-se instrumentos de engenharia social, moldando mentalidades em consonância com uma visão de mundo relativista e desprovida de quaisquer fundamentos transcendentes. Assim como Dorian Gray utiliza sua aparência impecável para ocultar a podridão da alma, a cultura midiática atual emprega uma estética refinada para mascarar a destruição de valores que sustentam a civilização ocidental judaico-cristã, por eles condenada à morte desde o advento da Escola de Frankfurt.

Essa desordem moral, por sua vez, é instrumentalizada por políticos progressistas – “frankfurtianos”, na verdade – que se aproveitam do caos cultural e social para expandir o controle estatal sobre a vida dos indivíduos. O enfraquecimento da família é promovido por meio de narrativas que relativizam a importância da paternidade e da maternidade, enquanto a fé – cristã, especificamente – é ridicularizada pela grande mídia e pelo sistema educacional. Ao fomentar um ambiente de instabilidade moral e desagregação social, os progressistas criam um cenário propício para a dependência estatal e rejeição ao tradicional, tido como “inviável” e opressor.

Exemplos concretos dessa estratégia podem ser observados em políticas que desestimulam o mérito individual e a autodisciplina, promovendo uma cultura de vitimização e assistencialismo, agora explicitadas pelas ondas migratórias e o escândalo da USAID. O incentivo a pautas como a hipersexualização precoce, a desconstrução dos papéis familiares e a celebração de comportamentos destrutivos são formas diretas de minar a coesão social, resultando em uma sociedade cada vez mais vaporizada, vulnerável ao autoritarismo estatal.

Os efeitos desse processo são visíveis na destruiçãoo da educação formal, na promoção de valores antitradicionais em produções culturais de massa e na crescente interferência do Estado na vida privada dos cidadãos. Dessa maneira, ao invés de fortalecer indivíduos e famílias, o grupo comuno-globalista frankfurtiano os enfraquece, tornando-os mais suscetíveis à manipulação política e ao controle governamental.


Ao fim e ao cabo -

"O Retrato de Dorian Gray" é, em última instância, um alerta contra o niilismo moderno e a dissolução dos valores fundamentais. Oscar Wilde, consciente ou não, escreveu uma obra que ressoa profundamente com a crítica conservadora ao relativismo moral e estético. Ao renegar a moralidade objetiva, Dorian Gray destrói não apenas seu próprio destino, mas também a possibilidade de redenção.

Não é difícil nos colocarmos, bem como toda a sociedade atual, no lugar do pobre Dorian.

Talvez esteja na hora de destruirmos nosso belo retrato e condenarmos seu autor.


NOTA DO AUTOR:

Por vezes fazemos algo que, inadvertidamente, sai maravilhoso aos olhos alheios. 

Esta análise do livro "O Retrato de Dorian Gray" teve este poder, e causou-me não só um afago à vaidade - merecer a publicação no suplemento literário do site europeu ContraCultura - como também, e infelizmente, uma série de dores de cabeça profissionais, tais como disputas acaloradas (demais) entre alguns Doutores, diante de minhas interpretações conservadoras.

O normal, hoje, causa brigas e provoca inimizades, mesmo tendo meu artigo levado à interpretação e debate contra a minha vontade.

A infeliz guerra de vaidades intelectuais, somada a recente censura do site ContraCultura, onde foi publicado pela primeira vez, me fizeram postar o mesmo em minha página por não saber o futuro que a União Europeia reserva à liberdade. 

Que o leitor avalie se realmente sou apenas um retrógrado, a engessar o espírito humano.

E que tais Doutores vão, todos, à merda - que já não lhes será pouco.



Walter Biancardine