domingo, 31 de março de 2024

REFLEXÕES DE UM DOMINGO DE PÁSCOA -

 


A Páscoa possui um significado particularmente marcante para mim, pois nesta data batizei-me tardiamente, puxado pelas orelhas por Santa Therezinha de Lisieux.

Mais que limpar-se de uma vida de erros, o batismo – tal qual o domingo pascal de hoje – representou um real renascimento para mim. Mal compreendido por uns, gerador de expectativas frustradas para outros, esta ressurreição pessoal custou-me um preço exorbitante, doloroso, mas vejo por fim ser impossível arrepender-me.

Vivendo este dia, cujo significado pessoal reputo possuir algo além do usual, achei-me particularmente disposto a escrever, produzir artigos e exercer o simples desejo de contribuir para que outras pessoas compartilhem pontos de vista e observações que considero importantes. Se para mim funcionou, talvez funcione e ajude outros igualmente.

Os mesmos seguem abaixo.


A POBREZA TEM SOLUÇÃO?

Um problema insolúvel não é um problema, é uma contingência.

O "problema social", "problema da pobreza", tudo isso é histórico e contingente à condição humana.

Políticos, filósofos, intelectuais e mesmo setores da igreja que conclamam "soluções", ou dizem possuí-las, para tais questões - apresentadas como "problemas" - não são nada além de fraudes, aproveitadores carreiristas ou singelos proclamadores de sua própria ignorância.

Quando não há solução, sempre restará a misericórdia.


SEM TÍTULO -

Neste domingo de Páscoa lembro que, ao menos por três dias, Nietzsche esteve certo: "Deus está morto", escreveu.

Até o mais miserável dos pecadores merece a misericórdia.

Agnus Dei, quis tollit pecatus mundi, miserere nobis.

Kirie Eleison


SEM TÍTULO II -

É fácil compreender o mundo e solucionar todos os problemas quando somos progressistas.

A causa é a burrice apoteótica do marxismo, que a tudo simplifica, dividindo conflitos em "nós" e "eles" e tornando tudo palatável, com "figurinhas para colorir".

Apenas a mais reles semântica.

O esquerdismo é burro.


A Palavra de Deus - A Revelação:

As Escrituras e a tradição da Igreja, ensinando ao longo dos séculos o que não está registrado nas Escrituras, compõem a Palavra de Deus, ou seja, a soma das Escrituras e da tradição é a Palavra de Deus.

O Magistério da Igreja Católica é o intérprete legítimo disto, e este é o tripé da Igreja e da fé cristã.

Ora, a teologia se extrai a partir deste Magistério mas, por razões outras, iniciou-se um movimento para se obtê-la a partir de outras óticas. E estas outras óticas podem ser as mais diversas e absurdas possíveis, tais como vê-las sob o ponto de vista dos pobres (teologia da libertação), dos gays, dos gordos, dos sem-terra e por aí em diante; tudo que fomente uma reflexão que quebre com a tradição será válido.

Um exemplo claro de tal pensamento - que fizeram de padres meros "coaches" motivacionais ou militantes ideológicos - é a "Campanha da Fraternidade 2024", elaborada por um sindicato de padres militantes chamado CNBB.

Quem se der ao trabalho de ler tal publicação, incansavelmente anual, verá que mais parece uma cartilha do PSOL, em suas exposições.

Hoje, é público e notório que a CNBB é o marxismo dentro da Igreja e que é dever, obrigação do verdadeiro católico, denunciar, combater e demonstrar publicamente seu repúdio à estes elementos - travestidos de sacerdotes - para sanear a Igreja.

O próprio Santo Tomás de Aquino já conclamava os fiéis a este bom combate, dizendo que "toda reação, se destinada a restabelecer a verdade, não só é correta como necessária.

Quem realmente possui algum estofo intelectual saberá que somente salvando a Igreja Católica, salvaremos o Brasil.


MISSA NÃO É FESTA -

Aplauso em uma missa, não importam as razões, é estupidez qualificada.

A missa é o ato de reviver o sacrifício de Jesus. Ora, e quem - fariseus à parte - aplaudiria o Cristo crucificado?

Não à toa as missas tradicionais (missas tridentinas, recomendo) tem, como única música, um soturno e transcendente órgão - nada de violões, baterias ou palmas.

Lembro tudo isso para manifestar minha estranheza, ao ver o padre de minha cidade conclamar os fiéis a aplaudirem o Cristo ressuscitado.

Pouco importa sua boa intenção: o estimado sacerdote esqueceu-se do caráter sacrificial desta liturgia, cedendo - na melhor hipótese - à postura de "coach motivacional".

Recomendo aos que me leem buscar, no Google, as igrejas de rito tridentino em seus estados.

É rezada em latim, segue a liturgia pré Concílio Vaticano II e o sacerdote está de costas para os fiéis, nunca para o altar de Deus.

Entendam: não se trata de condenar iniciativas como a Renovação Carismática, este é um outro assunto e merece artigo à parte. O que intenciono é vacinar o irmão católico, mostrando como é a liturgia tradicional, e imunizá-lo contra as inovações ce-ene-be-bistas (CNBB) que contaminam muitas paróquias em nosso país.

Irmão católico, salve sua igreja e você salvará o Brasil.


SOBRE COMO UM PRÉ-CONCEITO PODE ATROFIAR O PENSAMENTO -

Jamais escondi minha admiração e dilecção pelo filósofo francês Jacques Maritain.

Pensador profundíssimo, fui por ele cativado tal qual um leitor deixa-se seduzir pela capa de um livro, e a publicação que me chamava atenção era sua orientação tomista, pois Santo Tomás de Aquino – creio que todos sabem – é um dos objetos perenes de meus estudos. E este foi o pontapé inicial, para que eu mergulhasse em suas obras e pensamentos.

Portador de orientação católica, as obras deste filósofo influenciaram o conceito europeu de Democracia cristã – um conceito amplamente discutível mas que eu, em minha inocência intelectual de simples jovem dos anos 80, nada via de mal – pelo contrário.

Maritain escreveu mais de sessenta obras e é considerado por alguns como um dos pilares da renovação do pensamento tomista no século XX – o que não consigo concordar plenamente – e por outros, como inspirador ideológico das democracias cristãs na América Latina. Talvez nisto resida a explicação para a difusão de muitas obras suas, em um Brasil particularmente avesso à filosofia e cultura.

Segundo sua biografia, o filósofo nasceu em Paris em 1882, num ambiente familiar republicano e antiliberal, e morreu em Toulouse, 1973. Seus pais, Paul Maritain e Geneviève Favre, não o quiseram batizar – uma estranha coincidência com vicissitudes de minha própria vida, que tive de batizar-me de motu proprio.

Maritain estudou Filosofia na Sorbonne, onde prevalecia uma orientação positivista e ateia, pouquissimamente recomendável para a formação intelectual de qualquer pensador. Em Heidelberg conhece o poeta Charles Péguy e Raissa Oumansoff, uma imigrante judia cheia de intensa inquietude pela verdade, com a qual contrai matrimônio civil em 1904 em Berlim.

Maritain não encontrou no cientificismo da Sorbonne, onde estudou, as respostas para as suas inquietudes existenciais, o que o fez sintonizar-se com a aflição existencial de Raissa. Ambos decidem se suicidar – um comportamento explicitamente existencialista – mas, seguindo o conselho do seu comum amigo Peguy, o casal segue cursos com Henri Bergson, e apreendem dele o "sentido do absoluto", que será incorporado na peculiar metafísica "maritainiana". Trajetória estranha e arrítmica, que ora decide dar cabo de suas próprias vidas e, logo após, embrenham-se em cursos e aprendizados filosóficos.

Mas tarde conhece Leon Bloy, que o aproxima da Igreja Católica a ponto de converter o casal ao catolicismo e se tornar seu padrinho de batismo.

Acontecimentos posteriores levaram-no a se tornar um ácido crítico ao partido Democrata Cristão – quase uma obra sua – preferindo a criação de um movimento democrata-cristão que transcendesse os três partidos católicos franceses, local que adotara para viver. Seu pensamento teve profunda repercussão na América Latina, onde o "maritanismo" foi importante para as democracias-cristãs, mãe parideira de teatralidades políticas tais como Fernando Henrique Cardoso, PSDB e outras tristes lembranças – ainda ativas, contudo – na cena política brasileira.

Entre os autores influenciados por suas ideias estão Gabriela Mistral, Victoria Ocampo, Esther de Cárceres, Alceu Amoroso Lima, Gustavo Corção e Mário de Andrade – e esta breve lista nos fornece mais uma explicação para a difusão de seu pensamento em nossas terras.

O pensamento de Maritain provém de espírito positivista da Sorbonne e isso, entretanto, não me impediu de admirar a profundidade intelectual deste filósofo. O fato é que, após seu encontro com a filosofia de Bergson, na França, ele recupera suas esperanças na metafísica e a constrói, em seu modo sui generis.

Graças a sua esposa – paradoxalmente uma judia – e a Charles Peguy, conhece a Leon Bloy e se converte ao cristianismo, como já disse. Mas, neste contexto, conhece um dominicano (Padre Clérissac) que o aproxima da obra de Santo Tomás e, posteriormente, de Aristóteles.

Vivendo na França, cercado de todos os venenos filosóficos que o século XX fartamente produziu e de alguns de seus autores, encontrou naquele ambiente várias heresias: o modernismo, a teologia liberal, o personalismo e o pensamento social entre outros, além da alarmante iminência da eclosão da Segunda Grande Guerra. O período entre as guerras – Primeira e Segunda – é muito carregado de questionamentos da realidade e de procura existencial mas, tendo enfim se aprofundado na filosofia, estaria destinado a influenciar a ideologia da democracia-cristã.

O propósito deste artigo é mostrar, para aqueles que me seguem, que é possível divergir sem abominar e que existem alguns poucos autores, dos quais é sempre possível extrair contribuições e acréscimos, na construção de nosso intelecto, sem que venhamos a adotar seu pensamento na integralidade.

Em um momento excessivamente dualista como o que vivemos, onde a realidade é apresentada como binária – bem contra o mal – será pouco provável algum progresso intelectual, adotando-se esta postura. E não se trata de dar voz ou palco à "perniciosidades" já amplamente divulgadas mas, sim, utilizá-las discretamente em nosso favor, em nossas proposições dialéticas particulares e que podem – por quê não? - parirem teses filosóficas sadias.

Caso perguntem se recomendo a leitura de Jacques Maritain, responderei tal qual um comercial de bebidas: aprecie com moderação.



Walter Biancardine




sábado, 30 de março de 2024

BEBEDEIRA


Existem homens que passam uma vida bêbados de si mesmos;

Bêbados de suas vontades, de suas birras, de seus mimos e caprichos.

Aparentam lucidez, ponderação e bom senso, mas é a moeda que usam para pagar o próximo engradado de um ego em garrafas.

E seguem os dias de festa, o eterno brinde solitário, até que a sobriedade da desgraça os faça cair - não "em", mas "de" si.

E terão o resto de seus miseráveis dias de velhice e solidão para curar a ressaca de sua existência;

Que se evaporou como álcool. 


Walter Biancardine

quinta-feira, 28 de março de 2024

JÁ DISSE E REPITO: MAIS OLAVO, MENOS OLIVA!

As declarações absurdas do presidente do Superior Tribunal Militar (STM), Tenente-Brigadeiro do Ar e ministro Francisco Joseli Parente Camelo, afirmando candidamente que "a esquerda só quer um Brasil melhor", apenas corrobora toda a longa demonstração do verdadeiro e pernicioso caráter da instrução militar fornecida ao Alto Oficialato, que fiz em meu livro "Mais Olavo, Menos Oliva" https://clubedeautores.com.br/livro/mais-olavo-menos-oliva-2 .

Neste livro, demonstrei claramente o positivismo que empesta a caserna e tracei um comparativo ideológico, através do qual pode-se ver claramente que comunismo e positivismo são consanguíneos. O infame Brigadeiro, de motu proprio, endossou minha tese ao declarar - em tom quase de deboche - que "as pessoas tem mania de pensar que ser de esquerda é ser comunista. Isso não existe. Ser de esquerda é querer um Brasil melhor, um Brasil mais solidário, um Brasil mais próspero, um Brasil que pensa no mais pobre, é tudo isso que a esquerda pensa. Ser de esquerda não é ser comunista e o comunismo, para mim, não existe no nosso País”,

Para aqueles que ainda pensam em Bolsonaro como um covarde, que não soube se valer das Forças Armadas na hora certa, fica o lembrete que as mesmas jamais estiveram à serviço do povo brasileiro - basta ver o golpe de estado em que derrubaram o Imperador Dom Pedro II, amado e respeitado por brasileiros e estrangeiros - e instituíram, de cara, uma ditadura militar.

Para que um próximo Presidente conservador consiga de fato impor o pensamento dominante da maioria dos brasileiros, será necessária uma profunda reformulação, que não cabe neste pequeno artigo - apenas adianto, à título de "spoiler", que a destituição de todo o Alto Oficialato deverá ser sua primeira atitude.

Mais tarde desenvolverei este assunto.


Walter Biancardine



terça-feira, 26 de março de 2024

NÃO HÁ RELÓGIOS, NÃO HÁ LUGARES - APENAS RESPOSTAS

Manter-se raso talvez seja a melhor maneira de evitar o assombro diante do inefável, devidamente aquilatado por mente mais profunda, e que sequer seria reconhecido como tal por temerosos.

O que deve acontecer se dá sem hora marcada, sem local solene, conjunturas dramáticas ou teatrais músicas de fundo. Simplesmente se dá; apenas aceite, contemple e cresça.

Um local e situação prosaicos, em pé no ônibus, nada possuem de transcendental ou que induzam o pobre mortal à ascese. Talvez medicamentos poderosos tenham este condão, seus colaterais facilmente desviados rumo ao inexplicável mas o fato, em si, permanece o mesmo.

Um suor frio desce da testa, a escuridão invade o canto dos olhos, pernas enfraquecem e o primeiro pensamento é clínico: queda de pressão, desmaio, há que se buscar onde sentar - mas não há, ônibus cheio e implacável.

Seria desagradável manter-se apenas nisso e no exato momento em que um cérebro pragmático busca culpar medicamentos controladores da pressão arterial ou mesmo péssima alimentação duradoura, o mesmo é soterrado - de modo inopinado e sem razões prévias - por incrivelmente velozes lembranças de toda uma vida. E nossa infame existência passa, fast forward, diante de um perplexo ser pensante e que, até então, sequer recordava ou tinha consciência do tanto desfilado perante sua consciência.

Ver-se em terceira pessoa é desagradável e pior se torna quando assistimos, compungidos, os próprios pecados, felicidades ou banalidades sendo praticadas por aquela criatura que somos, mas não estamos. Ou, graças à Deus, fomos e não mais somos.

Se o melhor professor é o exemplo, estranha situação é nos enxergarmos diante de nossos olhos cometendo coisas boas e atos vis, o imbecil que fomos ensinando o convalescente que aspiramos ser.

Racionalizar o acontecido, organizar mentalmente a perplexidade, tentar dar um sentido e transformar o indizível em lição ou intervenção seria reduzir o transcendente ao concreto, o espírito à carne, o que flui ao que pesa. Não é a intenção.

Trata-se apenas de constatar que, aos que anseiam por respostas, as mesmas estão todas diante de nós.

Basta saber qual resposta cabe em cada pergunta.


Walter Biancardine 



sábado, 9 de março de 2024

SOLA SCRIPTURA - ou A AUSÊNCIA FILOSÓFICA


Dizer que a Bíblia é a palavra de Deus é uma metonímia, uma figura de linguagem, pois o Pai não aparece para mim a cada vez que a leio. Sequer foi ditada e sim, como sabemos, inspirada.

Assim, todo o Livro Sagrado é uma compilação feita pelos mesmos homens, católicos, e obra da Santa Madre Igreja tão desconsiderada por muitos crentes. Não fosse a Igreja Católica e não haveria a Septuagenta; não fossem os Doutores, Santos, frades, padres - criaturas, a carne insuflada pelo Espírito Santo - e não haveria, sequer, Bíblia. 

Ora, um mínimo de coerência exigiria uma menor "adoração" ao Livro Sagrado, afinal - usando um argumento que discordo mas muito ouço - ele é uma "criação", ainda que inspirada.

Sei, entretanto, que o acima escrito não fará nenhuma diferença para muitos - seja por ignorância filosófica ou preguiça de ler - e por isso sigo tranquilo, crendo na Igreja Católica como o corpo de Cristo e na determinação de Deus em salvar o homem pela humanidade de Nosso Senhor Jesus Cristo - uma explícita referência Teológica à ordem divina para que Moisés sacrificasse seu filho, seu único filho. 

Deus poupou o menino, mas não poupou seu próprio filho, Jesus, e o ofereceu em holocausto pela salvação do homem. 

Sigo crendo no magistério infalível da Santa Madre Igreja e que, só através dele, podemos alcançar as páginas Santas.

A Igreja é o Deus vivo, fundada por Ele para nossa salvação. 

Lutero foi um homem histórico mas, filosoficamente, analfabeto funcional.

Um fruto do humanismo de seu tempo.


Walter Biancardine 



quarta-feira, 6 de março de 2024

BATISMO EVANGÉLICO

 


Recentemente testemunhei, pela primeira vez, uma cerimônia de batismo de uma igreja evangélica, a comunidade eclesial Lagoinha, e que foi realizada no local onde trabalho.

Foi-me gentilmente oferecida a oportunidade de também batizar-me, convertendo-me, mas recusei polidamente – ciente de que a verdadeira fé nos impele à conversão do próximo mas, também, firme em minha própria fé católica e na certeza de que um juramento faz-se apenas uma única vez na vida.

Esta certeza de um único juramento lembrou-me do Credo Niceno-Constantinopolitano: Confiteor unum baptisma/ In remissionem peccatorum – “Creio em um só batismo/ Em remissão de meus pecados”. E este é um ponto de importância capital em nossa vida espiritual, dada a absoluta maioria católica e evangélica/ protestante (leia-se Batistas, Adventistas, etc.) no Brasil: a Igreja Católica aceita o batismo evangélico/ protestante, considera estes fiéis já unidos – embora não integralmente – ao corpo da Igreja Viva, e não impõe um novo batismo em caso de conversão.

Confesso ignorar se as Comunidades Eclesiais evangélicas exigem o batismo de novos membros, se oriundos da Igreja Católica. Caso exijam, fica a pergunta se não estariam sendo anabatistas – e apresso-me a explicar o que tal denominação significa: o termo significa "re-batizadores", do grego ανα (novamente) + βαπτιζω (batizar); em alemão: Wiedertäufer.

É a chamada "ala radical" da Reforma Protestante, iniciada por Lutero – daí o motivo da expressão em alemão, acima ilustrada.

Os anabatistas não formavam um único grupo ou igreja, pois havia diversos grupos assim chamados, genericamente, com crenças e práticas diferentes e divergentes. O ponto que julgo necessário destacar é que os convertidos eram batizados apenas na idade adulta e, por isso, re-batizavam todos os que já tivessem sido quando crianças, pois criam que o verdadeiro batismo só teria valor quando as pessoas se convertessem conscientemente a Cristo.

Pois bem, é evidente que o conceito acima exposto refere-se à pessoas já nascidas neste meio, mas cabe a pergunta: e os neófitos? E aqueles oriundos da Igreja Católica? Serão rebatizados ou o convite a mim dirigido foi uma gentileza, uma honra – certamente imerecida – que recebi?

Quero crer que as comunidades eclesiais evangélicas – Lagoinha inclusive – sigam ainda a orientação anabatista original, de Lutero, já que suas origens são protestantes. Assim, considerando a liberdade maior que tais comunidades possuem sobre suas práticas litúrgicas, deixo a sugestão de considerarem uma recíproca à esta fraternal postura da Santa Madre Igreja, dispensando o batismo de católicos convertidos, pois nosso Deus é Uno.

No mais, necessário é expressar novamente o reconhecimento da ação meritória e piedosa da Lagoinha, evidentes nos rostos e no trato de seus fiéis.

E que Deus Pai, Todo Poderoso, abençoe e proteja a todos nós.


Walter Biancardine





A MONTANHA PARIU UM RATO

 

Depois deste artigo, misto de análise e crônica pessoal, certamente pouco ou nada falarei sobre mim no que escreverei, futuramente. Entretanto, é necessário que seja – ainda desta vez – publicado tal depoimento pelo fato de jamais ter escondido fracassos ou sucessos, e aqueles que me acompanham certamente testemunharam um longo e doloroso abismo, vivido por mim, nos últimos tempos.

O mês de fevereiro foi-me particularmente terrível por coincidir duas rejeições simultâneas em minhas aspirações de trabalho e o fato, aleatório, de haver buscado o que era afinal o “narcisismo” o qual, um dia, fui “diagnosticado”. Assim, somou-se à uma auto estima nanica, desconsiderada profissionalmente, a terrível “descoberta” de ser um sociopata – verdadeira ameaça, escondida por trás de uma palavra que jamais julguei ir além da forma pejorativa de criticar o excesso de vaidade alheia.

Vamos direto ao ponto: decepções profissionais sempre são ruins, mas não o suficiente para abalar um profissional com décadas de experiência e – ainda que velado, raivoso – reconhecimento. Por outro lado, “descobrir” um sociopata habitando dentro de si, solerte e vitimando a mulher amada – causando mesmo o fim desta relação – equivale a saber, já na velhice, que todos os relacionamentos de sua vida foram baseados na tolerância dos outros para com sua doença – explícita, nociva, asquerosa, mas que apenas você não a enxergava. Ou seja, você foi alvo da piedade alheia; possuía amigos e relações apesar de ser quem você é. Uma farsa, enfim.

Todos sabem de tudo o que me aconteceu, de 2022 para cá: perdi mulher, casa, amigos, história de vida, raízes, família e fui morar de favor em uma ilha de nada, cercada de coisa nenhuma por todos os lados. Essa é a única desculpa que encontro para minha análise precipitada sobre esta “patologia”, a mim imputada, e por haver tomado como fontes válidas apenas vídeos de YouTube, ainda que apresentados por gente que se intitula “terapeuta”, “psicólogo” ou o que o valha.

Os nervos jamais foram bons conselheiros e ultimamente, mais calmo após assimilar a pancada recebida, busquei rever toda a longa série de avisos e advertências, anunciados por tais profissionais, nos vídeos que tanto mal me causaram.

A primeira coisa que chamou-me atenção foi o fato de 90% deles ser protagonizado por terapeutas mulheres, e a segunda foi o fato de tais vídeos – mais que técnicos – serem verdadeiros depoimentos: testemunhos que, em alguns deles, chegaram ao choro (!!!), vozes trêmulas e balbuciantes, demonstrando claramente que o fatal diagnóstico devia-se prioritariamente a mágoas pessoais, relacionamentos desfeitos, ódios e desejos claros de vingança destas profissionais contra seus antigos pares. E pouco se me dá a acusação de “machismo”, pois tal comportamento é, de fato, feminino. Homens vingam-se de modo diferente: arranjam outra mulher, compram carro novo e desfilam com ambos na frente da ex.

Como diabos não percebi isto antes? E por que raios uma profissional expõe-se deste modo, arriscando sua credibilidade e reputação? E concluí que a grande maioria de psicólogos e terapeutas abraça esta profissão muito mais pelo desejo de se compreender do que curar seus pacientes.

A afirmativa acima não deve ser refutada com ódio: a brilhante dra. Ana Beatriz Barbosa – reconhecida nacionalmente e que não possui canal no YouTube, apenas participa como convidada – é a prova e modelo de alguém que, realmente, está no ramo para ajudar e tem substância a oferecer.

Assistindo vídeos nos quais ela participa, percebi a evidente diferença de tom e ausência de frustrações pessoais em suas análises – explicou o que realmente é a patologia narcisista, os diferentes graus que pode alcançar e deixou bem claro que um doente deste mal, para chegar a tornar-se uma ameaça a terceiros, certamente apresentará comportamentos destoantes em todas as áreas de sua vida – indisfarçáveis, os quais certamente terminarão por fazê-lo ouvir, de mais de uma pessoa, a recomendação de tratar-se, buscar ajuda.

Incentivado pela serenidade da dra. Ana Beatriz, reconheci o ridículo de minhas buscas – instruir-me e diagnosticar-me em redes sociais é o fim da picada, tal como aceitar balizamentos leigos apenas pelo fato de amar esta pessoa profundamente.

Assim, era hora de usar um dos poucos dons que possuo – o autodidatismo – e buscar fontes literárias, sérias e de profissionais gabaritados, como parâmetro para análises.

Sei do perigo que isto representa, pois pouco ou nada enxergamos de nós mesmos. Entretanto, os que me acompanham sabem de minha longa jornada no deserto, no confessionário da solidão involuntária, enumerando para Deus os poucos pecados que em mim enxergo e escutando, Dele, os incontáveis que jamais vi. Deste modo, embora sabedor de minha miopia, percebi possuir uma auto consciência (ensinada e pregada por Olavo de Carvalho) infinitamente maior que a média das pessoas, e digo isso sem nenhuma modéstia.

E o que pude apurar? Ora, na respeitavelmente grande e densa bibliografia consultada (tudo em PDF, por falta de recursos), vi que as “terapeutas histéricas” das redes sociais não mentiram, ao revelar os extremos que um doente narcisista pode chegar.
Apenas esqueceram de dizer que são casos raros, exceções notáveis a olho nu – mas amores mal resolvidos realmente cegam as pessoas.

Um doente médio (chamemo-lo assim) narcisista é, de fato, uma pessoa que pode trazer inúmeros problemas a qualquer relacionamento. Entretanto, todos eles – sem exceção – possuem alguns traços em comum, dentre eles a certeza de serem criaturas acima da média. E foi a incapacidade alheia de distinguir entre comportamentos arrogantes eventuais e a hipótese de eu me considerar alguém “superior” que, certamente, decretou meu diagnóstico e o fim de meu casamento.

Nenhum narcisista reconhece sua postura “superior”. Já eu reconheço – e por vezes lamento tal auto defesa – minha arrogância pontual: Deus me deu poucos dons: dirigir ou pilotar qualquer coisa como aviões, motocicletas ou caminhões, aprender sozinho (suportar a solidão), uma inteligência funcional e o gosto em escrever. É só isso que tenho e sei fazer em minha vida, nada mais.

Quem comigo conviveu quando ainda voava, viu meu pior: definitivamente arrogante, competitivo, desafiador, agressivo no voo e nas discussões nas cantinas dos hangares, que sempre terminavam em pancadaria.

Mas resumia-se à isso. Jamais me gabei por suposta inteligência – e muitas vezes duvidei da mesma, quem me lê sabe – ou por escrever com alguma competência ou estilo. Mas sempre fui cabeça-dura: é difícil mudar minhas crenças, opiniões, valores; uma tarefa quase impossível e que pode conduzir o interlocutor à fatal suposição de “narcisismo”. Imagine conviver com alguém assim, em reuniões familiares?

Mas uma coisa é ser um sujeito desagradável e outra, bem diferente, é ser um sociopata.

O ponto central deste texto é, na verdade, pedir desculpas aos que me seguem por eu haver cedido ao pavor – descobrir-me incompetente na profissão e doente da psique – pavor infundado, agravado por todas as aflições já conhecidas de vocês, chegando ao ponto de considerar atitudes mais drásticas. Envergonho-me por tudo o que pensei e considerei, envergonho-me por desabar em uma fraqueza tamanha, ao ponto de provocar a solicitude de amigos como o dr. Vitor Travassos. E envergonho-me, principalmente, por esquecer a ponderação, serenidade e prudência na análise de uma situação – ainda que explicada (mas não justificada) por minhas misérias pessoais – que poderia ter me levado a atitudes estúpidas e, certamente, sem retorno ou perdão.

Havia prometido não mais escrever, não mais opinar, analisar. Pois neste momento revogo tal promessa.

Os livros, os estudos, a escrita; esta é minha vocação e nela continuarei. Neste momento, não tenho a segurança de realmente ter algo a oferecer além de análises, lastreadas não em sagacidade própria, mas em tudo que aprendi nos livros e com o professor Olavo de Carvalho – mas já é alguma coisa.

Minha situação pessoal continua a mesma mas, como dizem, “o que não pode ser solucionado, solucionado está” e, assim, continuarei tentando contribuir enquanto tiver um teto para me abrigar e condições mínimas de vida.

Decidi não mais deixar-me seduzir por sonhos – bom emprego, casa, carro – nem vencerem-me os pesadelos – sociopatias, incompetência, miséria e solidão.

Já é tempo de arregaçar as mangas e voltar ao trabalho. O país inteiro agoniza e, se posso contribuir com um só tijolo que seja, em nosso muro de combate, assim o farei.

Não mais falarei de mim, nunca mais. Ou serei, realmente, um narcisista.

É hora de curar o Brasil.

Agradeço a paciência e compreensão de todos. De volta ao trabalho.



Walter Biancardine



domingo, 3 de março de 2024

LUTA SEM FIM: RAZÃO X EMOÇÃO, INTELECTO X FÉ

 

Os adversários do título foram dispostos de maneira deliberada, pois não há como confrontar a razão com a fé, após Santo Tomás de Aquino e sua Suma Teológica: para quem leu – e entendeu – o santo Doutor da Igreja Católica, ambas coexistem interdependentes e pacificamente.

A razão e a emoção -

Um adversário melhor e constantemente utilizado contra a razão são as emoções – e mesmo sabendo o quão batido é este duelo, ouso oferecer uma análise em decorrência de um acontecimento o qual tive a inusitada oportunidade de estar presente, neste sábado, em meu trabalho: o amigo (e patrão) Alair Corrêa cedeu as instalações da pousada a qual gerencio para que pastores e membros da igreja Lagoinha lá realizassem uma cerimônia de batismo coletivo de quase cem fiéis.

Profissionais gabaritados – oriundos desta mesma igreja – exibiram como realmente se deve trabalhar, no preparo do evento. Ágeis, divididos em equipes autônomas mas sob comando central, eficientes e disciplinados, preencheram todas as minhas expectativas sobre como deve ser cumprida uma missão: com planejamento, disciplina, rapidez e eficiência. Em duas horas, tudo estava pronto. As cinco centenas de fiéis que compareceram e de tudo desfrutaram, somados ao apuro organizacional já citado, confesso, impressionaram minha razão.

Não estaria sendo justo, entretanto, se restringisse a boa impressão aos afagos feitos ao racional: observando os fiéis – em especial os casais, jovens ou nem tanto – pude perceber expressões de enlevo mútuo; ambos olhando-se com admiração e amor, carinhos e cuidados normalmente vistos apenas em raríssimos momentos de nossa brutal e cotidiana vida, tão raros que provocam o deboche de hordas invejosas que, igualmente, os percebam. E esta emoção me levou ao velho hábito de pensar, de buscar a razão primeira, a verdade – o feio cacoete filosófico, moribundo, que insiste em viver dentro de mim. E começou o jogo, provocado pela razão.

Ora, nisto tudo certamente haverá algo de muito poderoso, que harmoniza casais, que faz pessoas exibirem, involuntariamente, uma felicidade verdadeira, que equilibra e estabiliza mentes torturadas e sequeladas por traumas, vícios ou por nossa infeliz ausência completa de valores – gnósticos terminais que somos. São quase um bando à parte, tais fiéis: não digo sobre a maneira de falarem entre si, quase um dialeto o qual creio desnecessário, mas como se tratam. Fisionomias que exibem uma paz interior que, confesso, só posso recordar de enxergar quando da lembrança de pessoas muito antigas, tempos idos, modos de vida que hoje seriam tidos como inaceitáveis e retrógrados. Ponto para a emoção.

Então o pastor – cujo nome não lembro – começou a falar. Enquanto o mesmo fazia sua pregação, pude notar os rostos deslumbrados dos que o ouviam e a razão apressou-me a considerar uma espécie de catarse coletiva, somada ao tom motivacional dos melhores “coaches” de auto-ajuda, mas era na verdade uma histeria – e emprego a palavra em seu sentido original, hysteros (útero, em grego), para evitar um errado entendimento sobre o que vi: muito mais uma absorção completa da felicidade emanada, verdadeira ascese, do que mentes baratinadas sob treinamento pavloviano.

Teimoso, insisti na hipótese “auto-ajuda” e sentia-me pronto a dar a vitória à razão neste round, quando uma frase – uma só, única mas com a precisão de um sniper, dita pelo pastor – atingiu-me em cheio: “(…) porque Deus está aqui! Deus não está lá no céu, está aqui, entre nós!

Todos temos pontos fracos e quem me acompanha, conhece os meus: a solidão, o desamparo, a desesperança, causados pela (não tão) recente e brutal guinada em minha vida. E tal frase fez com que todo o enorme arranha-céu de concreto frio e impassível, erigido como um obelisco social às minhas misérias, implodisse. Não lembro se fiz algum gesto, se me portei de forma diferente, mas provavelmente algo de vexaminoso em mim chamou a atenção de meu amigo, Dr. Vitor Travassos – membro desta igreja e que também lá estava – fazendo com que ele se aproximasse e oferecesse sua boa vontade ao moribundo moral que encontrou.

O intelecto e a fé -

Habitué da solidão, aluguei-lhe a pobre orelha durante uns dez minutos, vomitando minhas mágoas, medos, frustrações – certamente o doutor, com seus anos de experiência, sabe muito bem dos riscos que representa à paciência de qualquer um, o oferecimento para ouvir solitários – mas, ainda assim, mostrei um comportamento que eu próprio jamais pude imaginar em mim: muito mais fácil escrever sobre meus tormentos para quem jamais verá meu rosto, que lastimá-los a alguém ao nosso lado.

Mesmo sabendo que sou católico, crismado e devoto de Santa Terezinha de Lisieux, o bom doutor perguntou se eu não desejava ser batizado. E nisto enxerguei um homem de profunda fé, pois foi ao encontro do que igualmente acredito: o verdadeiro crente respeita todos os crentes, mas nenhuma de suas religiões – pois só a sua é a verdade e salvação. Ponto para o intelecto, e para o doutor também.

Confesso que balancei, mas prioritariamente por mágoas pessoais já que minha madrinha – minha tia – igualmente acha-me hoje um psicopata narcisista, por conta de feridas sentimentais de sua filha – minha prima e ex mulher – e o verdadeiro papel de uma mãe é estar ao lado dos filhos, contra tudo e contra todos.

Somado a isso também há o fato que as igrejas evangélicas são muito mais acessíveis aos que sofrem: entre em uma delas e prontamente haverá alguém a perguntar em quê pode ajudar, qual sua dor – além das falas pastorais tocarem em pontos cotidianos que atormentam e desgraçam tantas vidas e famílias, apontando as direções para a cura. Você não se sente mais só, existem mãos e boa vontade para ajudá-lo, ânimo e perseverança são injetados em você – mas em boa hora percebi que tudo isso relaciona-se à nossa vida terrena, não à redenção de minha alma, que busco desesperadamente.

Em uma igreja católica você entra e está só, é você e Deus. Silêncio, meditação, confissão e penitência – tal como a existência de náufrago empurrou-me a viver, nos últimos tempos. O deserto, real, interior ou ambos; objeto de meus estudos a ponto de considerá-lo (uma tese filosófica minha) verdadeiro personagem bíblico, por sua presença necessária e decisiva em toda a Verdade Revelada.

Deus não veio a mim em uma epifania, milagres, portentos ou maravilhas. Jamais ouvi a voz do Pai, mas cada dia escuto mais forte – em seu silêncio grave – o que Ele me diz. E se minha porca fé claudica, há um Santo Tomás de Aquino, um Santo Agostinho, doutores, santos e santas (em especial Santa Terezinha, que levou-me pelas orelhas à Deus) ao longo de dois milênios de sabedoria, liturgia, ponderação, sempre confirmadas pelo tempo.

E este foi o ponto final, vitorioso, da fé.

Talvez falte aos padres o senso prático, a realidade da vida para ser aconselhada, tal como os pastores fazem. Talvez falte à igreja católica as mãos estendidas, oferecidas pelas evangélicas, aos desesperados.

Mas também faltam aos evangélicos o silêncio introspectivo, a meditação e – principalmente – sacramentos católicos, que nos fazem meditar e ter uma grande empatia com terceiros, ainda faltante no universo protestante.

Falta, aos que seguiram após Martinho Lutero, dois mil anos de uma teologia sólida, perene e eterna.

Mas não será a abissal ignorância de alguém como eu que conciliará a salvação evangélica da vida com a grandeza católica da salvação das almas, que são imortais.

Permaneço em minha fé, ela venceu.

Kyrie eleison.



Walter Biancardine



segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

EXISTIRÁ CURA?


Gostaria muito de ter escrito sobre as manifestações de ontem, na Paulista.

Em minha cabeça, teria muito o que comentar sobre os discursos de Silas Malafaia e Jair Bolsonaro, bem como as implicações da absurda prisão do jornalista português, cujo nome me escapa agora. Um vasto campo de análise política e mesmo sociológica, filosófica e comportamental. Isso poderia me render artigos, ensaios, teses, vídeos – lives e etc – e mesmo livros, pois é preciso registrar em papel impresso o que um simples “decreto” do judiciário pode liquidar: a internet no Brasil.

Mas nada fiz, e sequer acompanhei as manifestações – preferi mergulhar em meus aborrecimentos costumeiros de trabalho e alhear-me por completo de tudo o que se passou.

As razões são poderosas e, creio, irretorquíveis: o portador de um distúrbio da personalidade, classificado como psicopata pela medicina e imune à empatia, compaixão ou qualquer espécie de sentimentos que não sejam os relacionados à si mesmo, não possui condições e equilíbrio psicológico para analisar o que seja.

O professor Olavo de Carvalho já alertava que, antes da filosofia, é necessária nossa cura: a mente sã e límpida é essencial para todos os que tenham a pretensão de buscar a verdade e, evidentemente, terem o equilíbrio necessário para distingui-la.

Não possuo conhecimento acadêmico ou mesmo prático para contestar quem me diagnosticou como portador da patologia denominada narcisismo. Tamanha era minha ignorância que, confesso, encarava o termo como um simples adjetivo, pejorativo e referente à alguém extremamente vaidoso e, por vezes, egoísta. Ao buscar inteirar-me do assunto, descobri ser uma doença grave, perigosa à terceiros e verdadeiramente incapacitante para o convívio social, sentimental e – logicamente – uma patologia que anula e invalida toda e qualquer espécie de análise e julgamento, feitas pelo doente.

Não bastasse seu conhecimento acadêmico, quem me diagnosticou – e mesmo recomendou que eu buscasse ajuda de um especialista – foi alguém que privou de um convívio diário de 15 anos comigo, alguém a quem confiei meus segredos, meus medos, minhas esperanças, toda a minha intimidade mais profunda – não, não pode haver engano e a prova foi a maneira como me deixou, obedecendo literalmente um “script” de ações (preventivas, de defesa e auto proteção) que, recentemente, vi em vídeos postados por terapeutas, recomendando-o fortemente como modo de fugir e proteger-se de tal ameaça.

A consciência de minha real situação mostrou-me, claramente, que não tenho – ou jamais tive, o que explicaria minha insignificância no ramo – condições de exercer a profissão de jornalista, analista político ou mesmo escritor. É o fim de uma triste e inglória carreira.

Mantendo esta mesma visão realista sobre a conjuntura de minha vida, portanto, devo cortar quaisquer contatos – por menores e esparsos que atualmente sejam – com quaisquer pessoas de minha família (pois certamente todos já sabem de minha condição), mantendo apenas minhas insistentes tentativas de aproximar-me de meu filho – e não é preciso ser um gênio para saber os motivos do afastamento dele.

Do mesmo modo, devo afastar-me de colegas de trabalho e jamais ter a ousadia inconsequente – e possivelmente até criminosa – de buscar um relacionamento afetivo qualquer, embora minha idade facilite por demais tal decisão.

Finalizando, devo entender que não tenho mais idade para trabalhos braçais. Não faço mais parte de quaisquer mercados de trabalho pela mesma razão e, mesmo a escrita, está eliminada de minhas opções pelas razões já demonstradas acima.

O que devo fazer, então, para ganhar meu sustento?

Não muito: agarrar-me ao trabalho atual enquanto o mesmo resistir e, ao findar-se, tentar a sorte como balconista de lojas de ferragens, material de construção, algo assim. Conseguindo sobreviver a esta etapa e chegando aos 65 anos, poderei tentar requisitar o “Benefício de Prestação Continuada” do Governo – uma pensão de um salário mínimo para quem jamais pagou INSS na vida, o meu caso – e agradecer toda a misericórdia de Deus, que me permitirá alugar uma casinha ao meu alcance e seguir trabalhando até o momento que o Pai me chame.

Este texto não é um exercício de auto piedade ou imbuído de quaisquer intenções, pois não tenho seguidores nesta página e o mesmo não será divulgado em minhas redes – as quais não tenho nenhuma vontade ou intenção de usar. Trata-se apenas de minha velha mania de falar sozinho, que talvez tenha sido a verdadeira causa que me levou à escrita: o diálogo egoísta e auto centrado comigo mesmo, o centro de meu mundo, o mundo de um narcisista.

E tal doença, descobri também, não tem cura.

Continuarei escrevendo por aqui ou andando nos pastos, falando comigo mesmo, nos momentos em que eu sentir necessidade – a eterna e doente necessidade de um narcisista mirar-se no espelho.


Walter Biancardine



sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

DEPRESSÃO OU NARCISISMO?

 

As coisas em minha vida parecem vir por atacado, em lotes: no dia 15 de novembro de 2022 perdi - em 3 dias - a mulher que amo, minha casa, minha família, referências e história de vida. Tive de implorar um local, na roça, para viver de favor.

No dia 24 de dezembro deste mesmo ano, meu canal no YouTube foi desmonetizado, a plataforma excluiu 26 vídeos meus, ficou com meu dinheiro das visualizações e superchat e, para completar, recebi email do Governo Federal ameaçando cancelar meu Bolsa-família. No dia seguinte, a UOL publica matéria me difamando e me usando como exemplo de punição aos divulgadores de fake news. 

Esta semana, após ficar muito feliz com a possibilidade de escolher trabalhar na Revista Oeste ou em conceituado jornal paulista, recebo a notícia que fui rejeitado em ambos - ou seja, sequer a única coisa que acreditava ser competente, eu realmente era. Uma farsa, em suma.

Desconsolado, buscava aleatoriamente vídeos no YouTube para assistir quando vi alguns que tratavam sobre narcisismo, e lembrei que um dia me acusaram disso.

Confesso que não sabia a real extensão da coisa, para mim um narcisista era apenas alguém extremamente vaidoso e fiquei chocado ao perceber que o portador deste transtorno de personalidade é um psicopata, incapaz de amar, que usa todos em volta, os manipula e que pode significar até mesmo uma real ameaça física e psicológica a quem convive com ele.

Muitos vídeos apresentavam verdadeiros "planos de fuga" para se livrar de tais doentes - basicamente arrumar outro lugar para morar e só comunicar o fato ao doente no dia da partida. Após isso, cortar de maneira radical toda e qualquer possibilidade de comunicação (redes sociais, telefones, etc.).

E então tudo fez sentido para mim. As peças do longo e doloroso quebra-cabeças - buscava uma explicação da maneira inflexível com que foi decretado o fim de meu casamento - se encaixaram e entendi que não apenas sou considerado um doente mental, manipulador como, também, uma ameaça física. 

Não bastasse descobrir que sou um incompetente em minha profissão, vi que sou igualmente considerado um psicopata pela mulher que amo e, certamente, por toda a minha família. 

É preciso ser blindado como um tanque de guerra para resistir a tudo isso, com o agravante da a solidão absurda, da miséria e desesperança. 

Peço a Deus forças. Ou minha morte, tanto faz.

Todos tem um limite. E cheguei no meu.


Walter Biancardine 


quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

COMUNICADO E DECISÃO IMPORTANTE


“Nosce te ipsum” – conhece a ti mesmo, era uma frase escrita na entrada do templo de Delfos, na Grécia. E esta pode ser a base da sabedoria, principalmente se conhecermos o tamanho de nossas deficiências, de nossa incultura, do quanto nos falta para sabermos alguma coisa ou tornarmo-nos hábeis no exercício de algum ofício.

Por longo tempo busquei conhecer a mim mesmo, perambulando nos desertos de minha solidão. Resvalei perigosamente na mais abjeta auto piedade e não me envergonho de admitir que, em diversas vezes, mergulhei descaradamente nela. Enxerguei minhas ações erradas, meus equívocos ao longo de uma vida inteira, meus defeitos, manias, mas em nenhum momento questionei meu intelecto: o fato de ter produzido três livros, em tais e desumanas condições, era-me um motivo de orgulho e atestava a mim mesmo não apenas sanidade mental, lucidez, quanto – principalmente – destreza e capacidade no ato de escrever.

Julgava-me surrado pela vida, mas ainda dono de um intelecto são e poderoso, pronto para ser empregado em quaisquer empreitadas que me fossem destinadas. Ledo engano.

Nas últimas semanas vivi dias de grande orgulho de mim mesmo, às voltas que estava entre uma proposta de trabalho em um tradicional jornal de São Paulo e a possibilidade de fazer parte da brilhante equipe da Revista Oeste. Em ambos os casos seria obrigado a mudar-me para a capital paulista e ainda, convenientemente, me afastaria de uma cidade que tomou-me a juventude, a alegria, a mulher que amava, minha família, sonhos e esperanças.

Em minha arrogância intelectual – autor de três livros, aluno de Olavo de Carvalho e com vídeos postados por ele, chamado de “professor” por seguidores do YouTube – acreditava-me em posição de poder escolher qual proposta seria a mais conveniente para mim, até que a realidade da vida – transmitida por meio do fato de não ser aceito em ambos os locais – despertou-me de tal sonho e, de quebra, mostrou o quão pequeno sou diante de monstros como Augusto Nunes, J.R. Guzzo, Jorge Serrão, Rodrigo Constantino, Ana Paula Henkel e tantos outros.

Sim, há muito o que aprender. Sim, enxerguei minha pequeneza intelectual, meu despreparo jornalístico – até pela longa ausência das redações – e o quanto enganei, ainda que involuntariamente, tantas pessoas que se deram ao trabalho de acompanhar meus artigos, vídeos ou mesmo compraram meus livros. Sim, uma lástima.

Compreendi que não possuo condições de voltar a fazer vídeos, escrever livros ou mesmo artigos, pois nada tenho a ensinar à ninguém. Enxerguei o tamanho – imenso – de minha ignorância e a necessidade urgente de somente estudar, de modo profundo e sério. Percebi que, novamente, tornei-me um “foca” (novato) no jornalismo, dado os anos que não piso em uma redação.

Assim, por uma questão de honestidade com os que me seguem, não mais usarei o YouTube. Certamente continuarei a escrever artigos em minha página pessoal e Facebook, mas peço encarecidamente que não os considerem e, preferencialmente, não os leiam. O fato de permanecer escrevendo é muito mais uma concessão que faço à minha compulsão em redigir do que a certeza de entregar ao leitor algo que ele realmente precise saber. Não, nada tenho a dizer a ninguém.

Não mais vídeos, não mais livros, não mais artigos.

E peço que não leiam o que por ventura caia em suas mãos, se de minha autoria.

Encerro com a esperança de ser perdoado por tamanha pretensão, e que não se sintam enganados: eu enganei até à mim mesmo.


Walter Biancardine



segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

PINGO NOS IS: SHALOM


É bíblica a posse de Israel e do povo judeu sobre as terras que hoje ocupam, não há como contestar tal fato e nem alegar que, com o passar dos séculos, essa posse foi perdida.

Não, não foi. A diáspora judaica - verdadeira monstruosidade contra um povo cujo elo de ligação é seu (nosso) Deus - tratou de espalhar seus habitantes originais pelo mundo, embora muitos permanecessem por lá, contra tudo e todos.

A atuação do chanceler brasileiro Oswaldo Aranha apenas tratou de devolver aos judeus o que já era - e sempre foi - deles, ainda que hoje soframos a vergonha de termos narcotraficantes no governo do mesmo país que ajudou a (re) criar Israel, agora cúmplices de terroristas assassinos que desejam implantar aqui um regime de terror, tal qual o vigente na maioria das nações islâmicas.

O ataque do Hamas sobre Israel obedeceu ao método usual: a perfídia.  Em outubro do ano passado escrevi:

"E esta mesma mídia – convenientemente cega – jamais, em todos os inúmeros conflitos em que Israel esteve envolvido, seja como Estado ou povo judeu, lembrou-se de noticiar a perfídia sempre utilizada contra eles. Dos vagões de trem nazistas, onde atulhavam-se judeus rumo á “campos de trabalho” (diziam os nazistas, os mesmos que os levavam às câmaras de gás “para uma chuveirada”) á mais recente guerra do Yom Kippur – onde o povo foi pego de surpresa em seu mais importante dia religioso, o Dia do Perdão – jamais, repito, a grande mídia teve o pudor de lembrar ao mundo que, se todas as guerras são horríveis, as contra os judeus sempre foram mais, fruto de criminosa perfídia, sempre empregada e nunca denunciada.
O atual e tétrico momento que Israel atravessa não foi diferente: os ataques foram realizados ontem (shabbath), com o agravante que, nesta mesma data, era relembrado o dia da Festa da Torá, a Festa do Tabernáculo – era o último dia de tal festa, um dia de alegria, de famílias reunidas e, novamente, tal perfídia nenhum grande jornal lembrou. Todos pegos de surpresa e mortos como moscas: homens, mulheres, pais, mães, avós, crianças, bebês, turistas, todos."

A esquerda exige a covardia daqueles a quem ataca. Para a ralé vermelha, o Estado Judeu tem de sofrer, ter suas mulheres estupradas, crianças esquartejadas na frente de seus pais, jovens decapitados e não pode reagir, ou será um "holocausto" nazista promovido pelos judeus. 

Caso reaja, caso exista testosterona e hombridade entre suas vítimas e o revide seja avassalador (legítima defesa), prontamente hordas de imbecis - repórteres, analistas políticos ou mesmo simples hipócritas em busca de atenção - logo se arvoram em "denunciar' as "monstruosidades" de quem apenas defende seu povo e seu território do ambicionado califado mundial islâmico, sócio e cúmplice da esquerda mundial.

Não há lugar moral para um Estado Palestino, islâmico. Essas mesmas "vítimas" que a esquerda chora usam os hospitais, serviços médicos e até compram tecnologia de Israel, já que seu "maravilhoso" Estado Islâmico nada oferece além de chibatadas, humilhação, exigir subserviência e condenar à morte.

Não há lugar para uma mídia cúmplice, que faz parecer existirem apenas crianças e hospitais na Palestina, já que os bombardeios – segundo eles – sempre os atingem, em suas manchetes diárias.

Não há lugar para imbecis que apoiam um movimento que condena à morte os mesmos homossexuais que eles dizem defender e, de modo oportunista, incensam.

Não há lugar para néscios que convenientemente creem ter Israel matado 30 mil civis de um Estado que mal possui exércitos regulares – caso um terrorista seja morto por forças adversárias, o mesmo será computado como “civil” e, para alegria da mídia, todo o exército do Hamas se resume à milhões de terroristas, civis e fanatizados por delinquências islâmicas.

Não há lugar para hipócritas, que aplaudem um Corão, habitué na condenação à amputação das mãos dos ladrões enquanto, ao mesmo tempo, implantem em seu próprio país uma narco-ditadura, que os absolve, acolhe e estimula.

Não há lugar para criminosos que fingem esquecer a flagrante violação do Direito Internacional cometida por nações que invadem outras – vide Rússia X Ucrânia.

E o principal, que ninguém comenta: a esquerda evita, à todo custo, louvar o GOVERNO do Hamas. Isso, nunca. O que fazem é apelar ao sentimentalismo e chorar pelo povo (em tese) civil e inocente, mortos em tais entreveros. 

Indiferente à isso e exibindo as sequelas de seu alcoolismo, ignorância e contaminação pelo epicurismo esquerdista - que os faz viver numa realidade paralela - o cachaceiro chama de volta o embaixador do Brasil em Israel, ato extremamente grave e verdadeiro réquiem nas relações entre dois países.

Obviamente, Israel replicou chamando seu embaixador no Brasil de volta, acrescentando gravíssima advertência: "Não esqueceremos, não perdoaremos".

Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça.

Falta apenas lembrar a tais criminosos, travestidos de idiotas, do povo civil judeu morto, amputado, esquartejado, queimado pela fúria fanática de terroristas controlados pelos amigos do ladrão que nos governa.

Não venham, no futuro, reclamar: Netanyahu apenas age em legítima defesa, e o povo judeu também.

Repito e peço que lembrem-se das palavras da diplomacia israelense sobre a diarréia verbal de Lula: “Não esqueceremos e não perdoaremos”.


Walter Biancardine


Para mais detalhes, leia os links abaixo:

https://walterbiancardine.blogspot.com/2023/10/a-guerra-contra-deus-as-falsas-vozes-se.html

https://walterbiancardine.blogspot.com/2023/10/ouve-israel.html


VOCÊ QUER ENTENDER A ESQUERDA?

 


Um bom conselho aos jovens aspirantes a analistas políticos é que jamais tentem descobrir alguma lógica oculta, por trás das ações de partidos e líderes de esquerda: não há lógica. O que existe é a dialética, que os permite tirar proveito de toda e qualquer situação proveniente da aprovação – ou não aprovação – de suas propostas e teses. Cabe acrescentar que não se trata da dialética socrática e sim marxista, uma delinquência do pensamento grego.

No Brasil dos anos 60 e 70 vivemos a era do “sexo, drogas e rock and roll”, onde expoentes esquerdistas defendiam o amor livre, liberação das drogas e a derrubada dos “tabus” da moralidade cristã, por eles condenada como retrógrada e raiz de complexos, traumas e distúrbios psicológicos – academicamente amparados pelas teses de um ideólogo marxista que acabou ganhando notoriedade em outro ramo, o Dr. Siegmund Freud.

As consequências de tais propostas todos conhecemos: uma legião de filhos sem pai, de homens em idade produtiva inutilizados para o trabalho em consequência do uso de drogas, o surgimento do crime organizado – financiado pelos milhões do narcotráfico – e o naufrágio de valores e princípios tradicionais em qualquer povo ocidental: família, Deus, propriedade, pátria.

Desnecessário dizer que a esquerda lucrou, e muito, com suas propostas “avant garde”. Todos queriam essa “liberação geral”, o brasileiro – como disse Millôr Fernandes – tornou-se sueco com a mulher do próximo e mineiro com a dele próprio. E isso alavancou a popularidade vermelha, sobretudo no extrato mais jovem da população que, ao amadurecer (anos 80 e 90), terminou por entregar-lhes o Poder e plantar FHC, Lula e Dilma na Presidência da República.

Ora, qualquer pessoa dotada de um mínimo de senso questionaria a mudança radical de bandeiras políticas empregadas pela esquerda neste período: vivíamos então a era da “ética” na política, da “geração saúde” – teoricamente livre de drogas mas nada além de narcisistas contumazes – e a substituição dos conceitos morais por uma palavra – já citada acima – que tornou-se muito popular: a ética, além do “politicamente correto”. Vale lembrar que é muito mais aceitável socialmente a mudança de um conceito ético ou politicamente correto, que um padrão moral. 

Assim, todos se lembram dos inúmeros militantes que se elegeram defendendo as “mães solteiras”, os dependentes químicos e até – pasmem – o combate à criminalidade descontrolada nos grandes centros urbanos. O PT tornou-se o partido da “ética na política” e os anacrônicos valores morais foram substituídos pelo “politicamente correto” que, em sua ferocidade gentil excluía, relegava ao ostracismo e até – baseado em leis que eles próprios criaram – condenava à prisão todos os que não adotassem suas regras de linguagem (a “novilíngua da esquerda) ou de comportamento.

Em suma, lucraram defendendo a “puteirização” da sociedade e, depois, empunhando a bandeira da ética – diria Lulu Santos, “gente fina, elegante e sincera” – para combater os males que eles mesmos criaram.

Tal dialética delinquente concedeu à esquerda o dom de lucrar sempre, seja qual for o resultado de suas propostas: se o sexo livre é bom mas não permitido, lucram defendendo-o. Se, depois, uma horda de mães solteiras arrastam-se com seus filhos, lucram com “programas de apoio” e leis que as favoreçam. E se seus filhos tornam-se fronteiriços à marginalidade, lucram com a implantação de aulas de capoeira, bater tambor em lata, dança funk e futebol como forma de “afastá-los da criminalidade” – sempre sob o beneplácito dos chefes do tráfico nas favelas.

Neste exato momento, vivemos a vergonha de ter um presidente de esquerda, a mesma esquerda que usou os judeus como minorias, vítimas da opressão nazista, e que agora os aponta como - pasmem - nazistas genocidas, promotores do "holocausto" contra terroristas do Hamas. E a esquerda aplaude.

Como conseguem isso, perguntará o leitor, impressionado com tal mágica?

Basta que este mesmo leitor, tão atento em observar tais contradições inconciliáveis, note que os defensores do amor livre empregaram a mesma linguagem, os mesmos termos, expressões, vocabulários e entonações já definitivamente consagrados e vinculados à lembrança inconsciente daquela velha esquerda “boazinha” e defensora dos pobres e oprimidos. A linguagem é tudo, seja ela escrita, falada ou sugerida em cenas de TV.

Para provar o que digo – e que o bom Deus me perdoe – segue abaixo um texto que, antes de perceber o absurdo que propõe, remeterá o leitor a algo “bíblico”:

E eis que vos tenho dado o pensamento, para que decidais o que fazer e o que escolher; também vos dei a carne, para que dela tire teu sustento, teu caminhar e tuas delícias. Ora, por que vos daria um corpo se, dele, não fosse lícito empregá-lo no pão de cada dia ou nos momentos de desfrute, junto daquele que bem lhe aprouver?”

Qualquer um que leia o texto acima – antes de julgá-lo – o identificará com a Bíblia. Embora seja uma escancarada pregação de podridões (prostituição, masturbação, sexo com qualquer um), esta correlação já estará feita. E esta é a técnica amplamente utilizada pelos esquerdistas até hoje, seja em um linguajar mais acadêmico ou mesmo em algo mais acessível, tal como colunas de opinião em jornais ou – pior – nas matérias dos mesmos: adestramento pavloviano.

E os cérebros que acolhem amorosamente tais barbaridades já estão, de antemão, preparados e prontos para isso. Em outros artigos já escrevi sobre a incapacidade de enxergar o mundo real, causada pela plena implantação do epicurismo, da fuga para um mundo próprio e imaginário, levada à efeito pela grande mídia e pela cultura de massa (vide Olavo de Carvalho “O Jardim das Aflições”). Alienados, ansiosos pela palavra de um líder que não os deixe contaminar pelo mundo real, tais pessoas imediatamente identificam o “linguajar amigo” e o adotam automaticamente, pavlovianamente treinados tal como citei, desde a infância, à obediência ao “apito” do bom treinador.

O quão diabólico tudo isso nos parece é a exata medida do único objetivo da esquerda: o poder, custe o que custar, seja por qual meio for, imune à vergonha, remorsos ou quaisquer sentimentos humanos. Todo e qualquer esquerdista não passa de um indisfarçável hipócrita, que sacrificaria a própria mãe em prol de suas taras, complexos, ambições e idiossincrasias disfarçadas de "ideologia".

Na verdade, tal fato é co-morbidade inerente e, por isso, o conservadorismo jamais desenvolveu a sordidez estratégica marxista, já que reflete apenas o resultado – não o ideal – de milênios da evolução humana em sociedade.

Aos jovens analistas políticos, termino repetindo o conselho de jamais tentar encaixar as ações esquerdistas dentro do pensamento humano tradicional: não especulem o que pretendem com tal ou qual proposição – independente do resultado, eles ganham.

Lembrem-se: a língua da serpente é bífida, bipartida, dois lados. O problema não é somente o que propõem, mas o simples fato de proporem algo.


Walter Biancardine



quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

SÓ DEUS ME SALVARÁ DO AMOR

 


Já quebrei metade dos ossos de meu corpo, e me acostumei a isso.

Perdi meu pai, perdi minha mãe, perdi minha irmã, perdi meu mestre, mal vejo meu filho e me acostumei a isso.

Perdi empregos, perdi minha casa, perdi família, perdi amigos, perdi minhas referências, hábitos, história de vida, e me acostumei a isso.

Perdi ilusões, esperanças, forças, ânimo, e me acostumei também a isso.

A tudo me acostumei, improvisei, adaptei, superei.

Muito me irrita quando percebo-me um sobrevivente, calejado (calcinado?) pela vigorosa surra das consequências de meus erros, a vagar em doloroso prazer por lembranças da cumplicidade que se foi, por sentimentos e desejos que se recusam a morrer.

Se tudo a minha volta morreu, por que esta condenação sentimental insiste?

Por isso busco a misericórdia Divina, desesperadamente ansioso por merecer o purgatório, já que "in inferno, nulla est redemptio".

Só Deus me salvará de um amor imortal.


Walter Biancardine



quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

A DITADURA MAL COMEÇOU



Em sua cegueira de rinoceronte, tanto a mídia e analistas políticos "didireita" quanto conservadores rasgam-se em indignação pudica com a operação da Polícia Federal, que prendeu auxiliares e colaboradores de Bolsonaro e que – tudo indica – acabará por encarcerar o ex presidente, alvo primeiro e principal.

Mais que a prisão de tais colaboradores, a desmoralização que os togados imaginam produzir sobre suas reputações é o que interessa e, para tanto, não se curvam sequer em pisotear oficiais generais das Forças Armadas, pois muito bem sabem que a mesma encontra-se totalmente manietada por um Alto Comando positivista – verdadeiros irmãos de sangue filosóficos da Juristocracia tupiniquim.

Mas tais feitos são apenas o aperitivo do lauto banquete idealizado pela tirania narco-jurídica que tomou o poder: neste ponto unem-se aos narco-comunistas do Foro de São Paulo – PT, PDT e até um PSOL de contrapeso – para salivarem em sua ânsia de devorarem o peixe grande, Jair Messias, o Bolsonaro. É preciso eliminá-lo (como já tentaram fisicamente), tirá-lo de circulação, cortar sua língua e enterrá-la na mesma cova onde repousa Olavo de Carvalho – o pai do renascimento conservador no Brasil – para que nenhuns gemidos de insatisfação sejam jamais ouvidos novamente em nosso 1984, mais conhecido como Brasil.

No meio de tais arreganhos ditatoriais explícitos, ainda somos obrigados a ver que os tais analistas, novatos e citados acima, não percebem que se tal prisão acontecer, será a verdadeira proclamação oficial de uma autocracia ditatorial, suprema e absoluta, que o STF esfregará na cara da nação, ostentando publicamente ter sob seus sapatos dois presidentes da República reféns de suas constituições pessoais e imaginárias, sempre dependentes do bel-prazer dos juristocratas – puro arbítrio absolutista.

Cabe lembrar que cada um dos presidentes – o ladrão de nove dedos e Bolsonaro – representam lados opostos do espectro político, que serão submissos à uma quase divindade iluminista e à sua misericórdia togada – sublime, superior à questiúnculas ideológicas. Sim, porque o STF é superior às reles ideologias, superior aos ideais e valores populares, superior mesmo à Constituição, já que a mesma depende atualmente do humor e estado de espírito de cada um dos onze imortais entronizados no Panteão das Excrescências Morais.

Sequer Hitler ou Mussolini tiveram tal atrevimento – prender um ex presidente sem culpa ou, sequer, processo; pisotear a Constituição pelo simples capricho de não escrever nenhuma nova e fazer valer seus impulsos – mas tal é o resultado de nossa omissão: a audácia dos canalhas se alimenta da covardia dos fracos.

Que falta nos faz Olavo de Carvalho…


Walter Biancardine



segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

EPICURO: O DELINQUENTE QUE ME SEDUZIU


Recentemente dei-me conta do estágio terminal de epicurismo contido em minha obsessão pelo passado. Era meu esconderijo, minha fuga, zona de conforto psíquico, um verdadeiro jardim de Epicuro.

Pus-me a pensar: curioso como, por vezes, nos abrigamos sob o pensamento de filósofos (?) que abominamos. Seriam minhas idiossincrasias um caso clássico de paralaxe cognitiva?

Vejamos:

Em seu livro "O Jardim das Aflições", Olavo de Carvalho discorre sobre a profunda e preocupante impressão que sofrera ter assistido uma conferência de José Américo Mota Peçanha, nos anos 80, versando - e elevando aos píncaros filosóficos - Epicuro e seu pensamento, diante de uma plateia universitária, indefesa e ignorante.

Louvando o escapismo, a fuga aos "jardins de Epicuro, poderia nos permitir encontrar conforto em nossas lembranças e sonhos, negando a realidade ostensivamente - para Epicuro, a realidade era insolúvel, incompreensível e insuportável, por isso deveríamos nos refugiar em um mundo próprio.

Tal pensamento é a antítese da filosofia, pois abstém-se da busca pela verdade primeira e aliena-se em delírios - verdadeira delinquência filosófica que, até nos dias de hoje rende frutos (quem não se lembra de Xuxa repetindo, incessantemente, na cabeça dos "baixinhos": "basta querer para poder!"?

O pensamento epicuriano foi devidamente absorvido pelas esquerdas, em seu desejo de construção de um mundo próprio, uma realidade paralela, e nela vivem até hoje. Esta é a razão da impossibilidade de debate com um esquerdista, pois vive em outra dimensão mental.

Para meu espanto, descobri-me criando um mundo próprio - meu jardim particular epicurista - ao esconder-me e proteger-me no passado obsessivo que me persegue, e que já foi até objeto de livro versando sobre o mesmo tema: "Pretérito Perfeito".

Quando acreditamos em uma coisa mas agimos de modo diverso em nossa vida pessoal, tal patologia é denominada "paralaxe cognitiva", termo criado por meu professor Olavo de Carvalho.

Por isso insisto nos benefícios da meditação em solidão: até nossas verdades mais pútridas acabam por vir à tona.


Walter Biancardine