Parece que 2024, ao menos aqui na região, quis se despedir com sol - sol não, um maçarico bico 8 na vertical, torrando tudo e todos que ousem se expor.
Se ontem relatei, com raiva, o festival de gente atafulhando-se nas estradas, chafurdando no barro, bebendo cerveja até azedar e ouvindo pancadões, hoje meu desgosto atingiu o paroxismo: sim, o verão faz o brasileiro entrar no cio e o sol propicia a busca de semelhantes para acasalar.Mas o desejo procriatório de tais espécies me irrita? Não exatamente, o que me tira do sério são seus rituais e danças de acasalamento.
"Senta, senta, senta, senta, senta" repetidos, como inspirado refrão, 948 vezes ao longo da música - minto, dos guinchos gravados que clamam por fêmeas - acompanhados sempre de um baixo sintético, cuja potência nos sons graves sempre desmonta peças e partes da lataria dos carros nos quais são instalados, e tocados em um volume que julgo ser possível ouví-los de Piracicaba - SP, isso sim é o que me irrita.
Mas está sol, é virada de ano e não só jovens nóias dedicam-se à busca do acasalamento: circunspectos adultos - em seus eternos uniformes de bermudas cargo, camisa sem mangas e sandálias Havaianas - também se dedicam, discretamente, a sacudirem suas enormes barrigas e insinuarem que "estão na pista pra negócio". Por óbvio que tais "amadurecidos" anseiam por uma "novinha", que os faça abandonar seu casamento de 20 anos, comprar um carro novo (velho), óculos escuros, correntes prateadas e desfilar nas melhores ruas de chão das redondezas exibindo a ambos - a novinha e os velhinhos (carro e motorista).
É tiro e queda, pois em questão de minutos - principalmente se um nóia der sobregiro em sua potente CG125 e fizer o escape dar tiros - legiões de periguetes se aproximarão, na intenção de escolherem quem de pior puderem encontrar. Sim, sempre o pior, ou não terão como engravidar, fazer os pais construírem um puxadinho pra ela, o nóia meter o pé no mundo e ela poder viver sozinha e sair quando quiser, dando pra quem quiser. Ah, claro: as pensões alimentícias se acumulam e ajudam muito no orçamento. Aliás, são o único orçamento.
Tais rituais de acasalamento, sempre aumentados no verão e carnaval, são reproduzidos desde a grande mutação genética do brasileiro, ocorrida em meados da virada dos anos 70 para os 80, do século passado, quando o cromossomo VNC (Vergonha Na Cara) evoluiu para as variantes TNA (Tô Nem Aí) e QSF (Que Se F*), dando origem a toda essa nova espécie.
É certo que a mutação não se deu, ainda, por completo pois muitos pais e mães de família ainda votam em Bolsonaro, aplaudem o mito, frequentam até mesmo igrejas e anseiam por um Lula na cadeia.
Mas sempre terão uma filha, galinha e grávida, a exigir o tal puxadinho e um filho nóia, que trabalha no nobre ofício de "vapor", para "aqueles minino" alí de baixo.
Assim, o Brasil cumpre sua sina de deixar entrar e sair os anos, sem que nada mude ou melhore na qualidade da população que o habita. O país pode até mudar, mas o povo, jamais.
Não perca tempo desejando entregar um mundo melhor para seus filhos.
Crie vergonha na cara e entregue filhos melhores ao mundo.
Walter Biancardine
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