E é hora da terapia, já que a angústia pré-natalina se apossou do meu ser, fazendo com que eu deseje adiantar o relógio - bem como o calendário - para meados de janeiro, ao menos.
Não, não quero saber de sinos badalando, árvores de Natal - até porque não tenho nenhuma - renas ou mesmo presentes, que só um amigo muito oculto (tão oculto que sequer conseguiria vê-lo por perto) traria para mim.
Do mesmo modo o Ano-Novo, atualmente, me repugna: mais um ano que se vai, menos um ano que tenho de vida - comemorar o quê?
Os finais de ano se transformaram, para mim, em dolorosa expectativa de uma aniquiladora explosão de lembranças, coisas mal-resolvidas, obrigação em ser gentil e sinto-me, na verdade, como se estivesse acorrentado a frente de uma bomba-relógio, que tudo destruirá na sequência de três detonações fatais: Natal, Ano Novo e aniversário - e eis a tríade do terror.
Desejo a todos um Feliz Natal e próspero Ano Novo, mas não os quero. Na realidade, sequer desejo o verão - a sempre suarenta e superpovoada estação de alucinados, cumprindo suas obrigações de gritarem e mostrarem ao mundo como são felizes e ricos.
O que quero é a paz do inverno, e seu frio que acorda minha alma.
Cobertores, café quente e livros são coisas que só podem ser verdadeiramente desfrutadas à sós, e sob temperaturas glaciais.
Suar é para adolescentes, e a introspecção trazida pela solidão exige o frio.
Anseio pelas águas de março, fechando o verão.
Walter Biancardine
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